segunda-feira, janeiro 09, 2023

RADUAN NASSAR, MARÍA FERNANDA AMPUERO, ERIN HILL & ISA PONTUAL

 

Ao som dos álbuns Frost As Desired (Gridley, 2002), Girl Inventor (Gridley, 2012) e Christmas Harp (Goldenlane, 2016), da harpista, compositora, cantora e atriz estadunidense Erin Hill.

 

TRÍPTICO DQP: - O pêndulo na roda do tempo... - O tempo passa e a cada passo o passado se refaz vivo: sou imigrante na cidade dos desumanos. Exorbito de tudo porque me refugiei no quarto escuro e era preciso que eu estivesse lá com paradeiro perdido nas paredes vivas, revelando silêncios que vazavam por meus poros no feixe das rotinas e mais vozerio difuso das visitas, os soluços e ressonâncias, como se motejassem da minha ausência. E não foi sem aviso que Raduan Nassar me advertiu: Misturo coisas quando falo, não desconheço esses desvios, são as palavras que me empurram, mas estou lúcido... Quantas vezes nem conto fiquei sozinho neste mundo pelas alturas, insetos e degraus, na minha vida pródiga de quem perdeu colheitas e mananciais, o que sou de incorrigível nas águas inflamáveis do tempo. Se tudo me mostra almas mofadas apodrecidas entre ossuários e carcaças, errabundo a cada passo me distancio cada vez mais da cidade e me permito ao menos romper a roda das dimensões porque outros sábados virão...

 


Apesar de doído, desesperança jamais... - Imagem: arte da desenhista, gravadora e pintora Isa Pontual. - Os pássaros chilreiam no que fora manhã quase tarde e a terra girou cada vez mais rápido no meu voo multívago pelo inverno quente, verão frio afora, quase nem dá pra ver a escatológica derrocada. Não tive meu contento ainda mais misericordioso sou pela confraria dos enjeitados e tendo que enfrentar a escória da cloaca infecta dos olhos atrofiados - cenho e sobrolho dos filhos de Caim, verdadeiras estátuas andantes, manequins de gelos móveis, sentimentos de gesso, o frio de ossos sepulcrais de mármore do Paternon, a casca dos insensíveis, a carapaça anêmica pros reveses no estigma da insônia, os que tanto querem e são secos no sono da memória, enquanto tudo definha e se precipita e sou jogado no granito ao norte da Guatemala. María Fernanda Ampuero me avisa: Voltar, todos sabem, é impossível. Depois dos abraços e das lágrimas vem o verdadeiro reencontro, estar frente a frente com eles quando já somos outros, enfrentá-los quando não sabemos quem são... Onde está agora aquele sentimento para ter perdido a fé na humanidade, outra vez seria lá longe como sempre quase invisível crueldade, mas que um dia pudesse maior que o desespero de jamais alcançar. Nada comedido sei a historia de cada um encomendando as horas...

 


A lâmina da paixão... - Imagem: arte da artista finlandesa Polina Kharlamova. - Saí de mim e fui dar uma volta, deambulante iterativo, pálin! Um cometa rasgou a galáxia com a velocidade de superluminais: era noite de Onã e o trem passou fumegante, a escuridão e o silêncio. De distante e misteriosa nuvem apareceu a Lua da Loba que saiu da rota e vagava como uma luz intraglomerada pelo espaço intergaláctico. Esfreguei as vistas e era ali a estrela Polaris como se fosse a irmã do lado, que me parecia severa quando não áspera desde a minha mais tenra idade, agora reaparecida como se tivesse sido ejetada pelo arroto gigantesco de um buraco negro supermassivo. Não cruzei os braços, nem virei as costas, estava surpreso, deveras. Ela havia chegado do inverno marciano pelas ondas gravitacionais com um zumbido do fundo do universo, pois estava na constelação de Ophiuchius e de lá pra cá viera trazendo às mãos uma opala marciana, um Cystisoma - uma pulga-de-areia marítima, um cristal alaranjado kyawthuita do Mogok de Mianmar, pianitas e outros cristais hexagonais vermelh0-escuros e outros rosados. Queria me impressionar e conseguiu, não pela parafernália que mostrou, mas por dizer que a neblina fantasmagórica são almas perdidas. Insistiu no relato e concluiu: Maktub. Mais disse Henrietta Swan Leavitt: Uma vez que as variáveis estão provavelmente quase à mesma distância da Terra, seus períodos estão aparentemente associados à emissão real de luz, conforme determinado por sua massa, densidade e brilho da superfície... Não entendi nada e me tomou de assalto ao expor o escaravelho no seu ventre nu. Era como se invadisse por meus gânglios e interstícios para me levar flutuante para a copa de uma árvore frondosa. Estava nua e convidativa, brincava com meu sexo como se fosse uma estrela quark só para me dizer Cecilia Payne-Gaposchkin: Sua recompensa será a ampliação do horizonte enquanto você sobe. E se você conseguir essa recompensa, você não fará outro... O que dizia era como se raspasse a pele com a pedra esfolando a carne para sangrar com as nossas diabruras versáteis. Estava dominado e traquinamos trocando o dia pela noite e sucessivamente, ouvindo-a dizer que era Masha Amini quando um fuselo voou e me ofertou as pétalas do prazer. Depois do gozo ressuscitava Anna Laura Costa para me dizer Alessando Manzoni: As palavras fazem um efeito na boca e outro nos ouvidos... E se desfez em minhas mãos para se tornar a réplica da amada Indrani do viúvo Tapas Sandilya, a Alma de Kokoschka. Com as minhas mãos vazias queria só revê-la não mais uma vez apenas, nada mais, e no calor da hora olhares recíprocos recitar o poema do Torquato Neto na música de Edu Lobo: Adeus, vou pra não voltar... Até mais ver.

 Vem aí o PGM TTTTT. Veja mais aqui