sexta-feira, março 06, 2020

PEARL BUCK, AMY LOWELL, BRIGITTE CARNOCHAN, INES LEMPEK & ADRIANA DE HOLANDA


TODO DIA É DIA DA MULHER – UMA DE VERA COM OUTRA ROSA: Vera ia e vinha nem aí pros fius e psius. Na dela, jeitosa e impunemente: sorria o Sol, animava a passarinhada, a cidade se alvoroçava toda. Havia quem não simpatizasse: as invejosas acusavam-na de Bruxa das Pancs: Olhela, já vai toda amostrada! Os rejeitados resmungavam: Eita, lá vai toda cu doce, vixe, que maldição! Quem nunca sonhou tê-la por posse exclusiva ainda não nasceu ou tinha morrido antes dela desabrochar pra vida. Inacessível para os dali, os desocupados faziam de tudo para chegar junto, desafiavam sua inteligência. E ela, toda Rosa Parks: Eu gostaria de ser lembrada como uma pessoa que queria ser livre… para que outros também pudessem ser livres. Acredito que estamos aqui no planeta Terra para viver, crescer e fazer o possível para tornar este mundo um lugar melhor para que todas as pessoas desfrutem de liberdade. Ô minha filha, em que planeta você vive, hem? Essa parece mais que vive no mundo da Lua, só sendo! E as más línguas: Metida, ela se acha toda tuda! DUAS, PASSANDO NA CARA: Como sempre, os incultos amundiçados na maior refrega, maior discórdia: cada um, por si, dono da razão. E lá vão tirar a limpo o assunto com o doutor Zé Gulu que, invariavelmente, chama a turma na grande: Tá! E como você quer ser lembrado? Eu? Sim. Ah, depois que eu morrer quero lá saber o que vão pensar de mim, doutor! E você? Ah, se vivo sou enjeitado, depois de morto podem se lascar. Cada um dava seu parecer: depois de bater as botas, babau. Que se danem! E o senhor? O doutor Zé Gulu ajustou os ósculos com o indicador no pau da venta, pigarreou e sapecou: Como dizia Ayn Rand, O mundo que você anseia pode ser conquistado. Existe, é real, é possível, é seu. E saiu, assim, na sua, sem mais nem menos. Hem? Quem foi que ele falou? Sei lá, entendi patavina. Nunca entendo o que ele diz. Ah, mas é doutor Zé Gulu, meu! Ah, tá. Os presentes, então, entreolharam-se e anuíram: Esse doutor é meio biruta, né? Abilolado demais. Num diz coisa com isso ou aquilo. Oxe, bote doidice, leu demais dá nisso: endoida! Eu, hem? TRÊS: APRENDER O QUE NÃO SABE - Rapaz, eu já passei da idade de aprender. Escola é coisa pra essa meninada ter jeito de gente, tudo uns maleducados, sem modos. Pois é, eu mesmo fui pra escola, decorei que só e esqueci tudo. Num é que eu também: de que adiantou levar palmatória, decorar tabuada, os tempos dos verbos, não vi serventia até hoje! A minha professora era carrasca! Ah, não era pior que a minha: chata e cricri. E os livros? Nunca gostei disso, coisa de ler é pra baitola ou aluado. E a gente mesmo assim passava de ano, sabendo de tudo. Hoje os tempos são outros, valeu de nada, aprendi com a vida, essa a melhor escola. Pois digo eu: se eu descobrisse quem inventou estudo, eu mandava matar na hora! Nessa hora aparece a imagem de Amy Lowell na tevê e o locutor dizendo: Os livros são mais do que livros, eles são a vida, o coração e o núcleo dos séculos passados, a razão pela qual os homens trabalharam e morreram, a essência e a quintessência de suas vidas. Eita, que é isso aí na tevê? Sei lá. Eu vi mas não enxerguei. Nem eu. Isso é lá conversa pra boi dormir, ora. É. Vamos tomar a ideira que está ficando tarde. Vambora. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Ela trabalhava agora o dia inteiro e a criança ficava dormindo, no chão, em cima de um velha coberta acolchoada. Quando chorava, a mulher interrompia o trabalho, descobria o seio e sentava-se no chão para o amamentar. O sol caia sobre ambos, o sol tardio dos fins de Outono que conserva o ardor do Verão até que o frio do Inverno o afugenta, e sob os seus raios, a mulher e a criança, tão morenas como a gleba, pareciam duas estátuas de terra. A poeira dos campos polvilhava os cabelos da mulher e a macia cabeça negra do menino. Mas do grande seio da mulher, fluía, branco como a neve, o leite que alimentava a criança, e enquanto um era sugado do outro manava leite como de uma fonte. E ela deixava-o correr. Havia leite de sobra para o menino, por mais insaciável que ele fosse, chegando até para muitas crianças; e, orgulhosa da sua abundância, O-lan deixava-o correr descuidada. E tinha cada vez mais. Às vezes levantava o peito e deixava o leite correr para o chão, para não sujar a roupa, e perdia-se na terra, formando no chão uma mancha mais escura, mole e untuosa. O menino estava gordo, sadio, e absorvia a vida inesgotável que a mãe lhe dava. [...] Havia um sinistro presságio na estranha serenidade daqueles dias em que a terra os abandonava. Só para a petiza não havia receios. Tinha à sua disposição os dois robustos seios da mãe, que até aí chegavam bem para satisfazê-la. [...]. Trechos extraídos da obra Terra bendita (Livros do Brasil, 1956), da escritora e sinologista Prêmio Nobel de Literatura de 1938, Pearl Buck (1892-1973). Veja mais aqui.

A POESIA DE AMMY LOWELL
OPALA: És gelo e fogo, / Teu toque queima minhas mãos como a neve. / És frio e chama. / És o carmesim da amarílis. / O prateado das magnólias tocadas pela lua. / Quando estou contigo / Meu coração é um tanque gelado / Cintilando com tochas agitadas.
DÉCADA: Quando vieste, tu eras igual ao vinho e ao mel / E teu gosto incendiou minha boca com sua doçura. / Agora tu és como o pão manhã, / Suave e agradável. / Apenas te degusto, já que conheço teu sabor / Embora eu esteja completamente saciada.
UMA OFERENDA QUEIMADA: Porque não havia vento, / O fumo das tuas cartas pairou no ar / Por muito tempo; / E a sua forma / Era a forma do teu rosto, / Minha Amada.
AMMY LOWELL – Poema da poeta estadunidense Amy Lowell (1874-1925), condecorada postumamente com o Prêmio Pulitzer de Poesia, em 1926. Ela foi integrante do Movimento Imagista de Ezra Pound.
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POEMAS DE INES LEMPECK
MARESIA: quando sua maré enche / esvazia-se de certezas / ventania que devassa / em cada célula / uma interrogação / e quando troca de lua / se enche de estranhamentos / quando sua maré baixa / a onda reversa / deixa na superfície da pele / minúsculos sobreviventes / resquícios da viração / então na calmaria respira / afrouxa o nó dos sustos / esvazia os poros de medos / faz preenchimento de desejos / sem prazos nem validades.
FLOR DA PELE: Abre-te sol / no verão tropical / gringos na praia / purpurina no metrô / ombro vermelho / calor à flor da pele / corpo molhado / flor no chão / pedras na calçada.
III - o dia segue / os sonhos passam / acima dos ombros / voando como nuvens / num entra e sai / pelas orelhas atentas / suprema vertigem / olhares de horizonte.
IV - Há também / o tsunami do bem / sol e mar / alquimia intensa / num eterno poetar.
V - Travessa na mão / livros na sacola / pés no chão / poemas na imaginação.
INES LEMPECK – Poema da poeta e psicóloga Ines Lempek, especialista em Psicanálise e Cultura pela UnB, participando de antologias, oficinas, revistas literárias e blogs. Ela é autora do livro de poemas O avesso do clima (Bestiário, 2019).

A ARTE DE BRIGITTE CARNOCHAN
Muitas das minhas lembranças mais claras são sobre comida pós-guerra - como tomates crescendo na horta comunitária que meu avô recuperou após a guerra. Havia também morangos naquele jardim que amadureciam no meu aniversário e galinhas no quintal e o vendedor de batatas chegando nna rua com seu carrinho, e as lembranças de finalmente ter idade suficiente e levar um balde para a loja onde estávamos alinhados para receber a ração de leite. Em minha memória, parece haver uma abundância de comida, mas, de fato, era racionamento severo e muitas pessoas com muita fome, como em outras partes da Europa e do Reino Unido.
BRIGITTE CARNOCHAN - A arte da artista visual estadunidense Brigitte Carnochan que produz uma grande variedade de trabalhos fotográficos desde o final dos anos 90, começando com a investigação dos gêneros clássicos de flores e nus. Sua arte frequentemente combina elementos de pintura que os impregnam com uma luz semi-espiritual. Mais recentemente, seu trabalho investigou as complexidades ocultas de sua própria família, com um pai que estava no exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Suas fotografias usaram elementos de seu passado para criar colagens de fotos que são mapas de memórias. Veja mais aqui.

TODO DIA É DIA DA MULHER PERNAMBUCANA
Imagem: Mameluca woman, do pintor e desenhista holandês Albert Eckhout (1610-1665).
MEMÓRIA: Adriana de Holanda (1542-1645), colonizadora de Pernambuco que, juntamente com seu marido Christoph Lins, estabeleceu-se em Porto Calvo, na região onde hoje é o estado de Alagoas, fundando sete engenhos de cana-de-açúcar e vivendo por mais de cem anos de idade.
A música do instrumentista, cantor e compositor Dominguinhos (José Domingos de Morais – 1941-2013), o documentário Dominguinhos (2014) & Veredas Nordestinas (Continental, 1989), o dvd Ao vivo em Nova Jerusalém (Globo Nordeste, 2009) e cd/DVD Iluminado (Biscoito Fino, 2010) aqui e aqui.
Desmanchando o nordeste em poesia, do poeta popular Manoel Bentevi (1911-1999) aqui e aqui.
A guerrilheira perfumada: crônicas do amor diário, do jornalista e escritor Ronildo Maia Leite (1930-2009) aqui & aqui
As prosas de Izabel Marques aqui & aqui.
Água, Vida Água, do poeta e ativista cultural João de Castro aqui.
Circo Itinerante aqui.
As Tribos de Águas Belas aqui & aqui.
&
OFICINAS ABI
Veja detalhes das oficinas da ABI aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.