segunda-feira, julho 14, 2025

SAMANTA SCHWEBLIN, NANCY FRASER, PAULA ESPAÑA & PINTANDO NAS PRAÇAS DE PERNAMBUCO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som de Monte A (2006), Without Sinking (Touch, 2009), Leyfðu Ljósinu (Touch, 2012) e Saman (Touch, 2014), da musicista, violoncelista e compositira islandesa Hildur Guðnadóttir (Hildur Ingveldar Guðnadóttir).

 

O que de pai, amigos, vida, a mulher... - Zeladim sempre foi um cara de sorte! Desde a mais tenra idade brincava com fogo aprontando das suas, escapando dos flagras às sonsas escapulidas. Pudera, o pai era um tanto prestigiado, o que lhe valia alguns privilégios dos compadrios às regalias vantajosas. Isso sem contar a proteção dum amigo do peito à toda prova, que o acudia sem pestanejar! Eis que, no mais que de repente, o pai teve um piripaque e, vitimado por um sopapo cardíaco, bateu as botas. E mal caíra a ficha do luto, o inseparável amigo se esborrachou todo numa barruada feia no trânsito. Danou-se tudo agora! Foi então que viu a sua estrela na testa escorregando e amoitando-se noutro lugar pouco recomendável. E agora? Lá ia ele triste, chutando lata, mãos nos bolsos, sem perspectiva. Dava de bico do pé na vida ingrata quando, aos pontapés nas tranqueiras espalhadas pelo chão, um bregueço saiu colorindo no meio duma fumaça azulada que o envolveu todo. Vixe! Arregalou os olhos e se viu diante de um gênio holográfico apressado e pronto pra atender seus 3 pedidos. Hem? Bora, logo! O quê? Vai, pede logo. E nessa lengalenga recusou todos: Quero tudo! Como? Tuuuuudo! O djinn cerrou o cenho, fechou a cara, esbravejou, olhou dos lados, coçou o cocuruto e teve uma ideia: Toma! Entregou-lhe então um estojo empoeirado, parecia coisa do arco da velha. Isso é tudo? Toma, porra! Recuou: Que droga é 9? Pegue! Ah, não! Aí o abantesma explicou: Vai, pega logo: é como se fosse um cachorro portátil. Cachorro? Ué, não é o melhor amigo do homem e, ainda por cima, esse não late, não lambe, não balança o rabo e é a última tecnologia inventada, é só controlar qualquer função, um dispositivo de operação à distância, dê graças ao Nikola Tesla. Oxe, cadê! Ah, tenho mais o que fazer! E num estalo de dedos foi-se deixando-o desesperado. Aí Zeladim segurou as pontas, conteve-se e ficou conferindo direitinho: era um troço imprestável, cheio duns pitocos embutidos. Isso é uma porqueira! Apertou, experimentou, fincou o dedo no negócio e, do nada, apareceu uma tevê gigante! Tudo pelo telecomando! Hummmm... Foi gostando: tinha tudo que quisesse, bastava apertar e escolher. Mesmo? Fez o teste e saiu encarcando o polegar no brebote, metendo o dedo pra cima e as coisas aparecendo e logo se transformavam ao seu redor: comida pra encher a pança, bebida pra molhar o bico, até um foguetáxi pra ir pronde quisesse. Foi gostando: Eita! Num sou Aladim, mas tenho a verdadeira lâmpada maravilhosa! Foi pressionando ali, clicando acolá, viu-se detentor de poderes ilimitados: Vou ser o rei de Magreb. E diante de si todo tipo de cacarecos, bagulhos, bugingangas, trecos, joças, tudo ali ao dispor. Pense num cara espaventoso! Aí viu passar na tela a sua Galateia virtual. É ela! Voltou as imagens, deu pausa, enquadrou, ampliou a imagem da face, depois o corpo inteiro. Hummm... Ah, precisa duma turbinada! E caprichou no engenho: os olhos safados, a cútis de cetim, a boca de grandes lábios, o decote da vizinha – que glamourosos par de seios no decote, meu! -, os quadris da professora – que arte esteatopígica! -, as coxas colossais, o molejo das modelos na passarela. Depois de todo ajeitado, ele chamou na grande: Venha, minha escrava, dá aqui pro papai, vai! Ela saltou fora da tela e ali, diante dele, ao vivo e em cores, fitou com desdém e já ia se virando: Esse seu trono aí é muito frágil pra rainha aqui, viu? Ué, mas fui eu quem inventou você. Hem? Ela com uma olhadela desconfiada já ia saindo, deu-lhe as costas e seguiu, nem aí. Ele não caiu na real e nem deu tempo encará-la direito. Ei! Ei! Eiiiiii! Ela dobrou a esquina e já era. Cadê-la? Solitário resmungava: Logo hoje, merecia meu presente! Moral da história: o melhor do dia do homem é saber que todo dia é dia da mulher. Até mais ver.

 

Octavia Butler: Há um tempo para o silêncio. Um tempo para deixar ir e permitir que as pessoas se lancem em seu próprio destino. E um tempo para se preparar para juntar os cacos quando tudo acabar... Veja mais aqui & aqui.

Espido Freire: Numa época como a atual, em que nossos olhos mal pousam em um tema antes de saltar para outro, mais escandaloso, mais impactante, os livros precisam recuperar seu ritmo lento, a necessidade de transcendência essencial à reflexão e ao aprendizado para dar um mínimo de sentido à sociedade moderna... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

Deborah Colker: Saber gritar e calar, agir e esperar, lutar e aceitar. Superação é inteligência, apropriação, conhecimento, disciplina. Superar é curar!... Veja mais aqui & aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

DESERTO - A paisagem ondulante e antiga, as falhas da terra \ e a história de um mundo entrou em colapso. \ Nunca houve ninguém aqui, por isso não há tragédia nas tuas palavras. \ É por isso que o vento cai. \ no rachinho da sua voz. \ Animais mal desenfreados voam \ com asas de morcego no barro e na rocha. \ Tudo isso não era nada. \ E nada era tudo: cordilheiras, geleiras, fundo de água \ petrificado com o sol. Perseguição da morte \ A vida e vice-versa. Falamos sobre essas coisas e outras \ na intimidade do carro, tão longe da sua boca \ - Há o meu. \ Onde havia amor antes.

POEMA 16 - Na selva, naquela noite \ Ele tomou o suco de uma planta \ mais amargo que vinho e concentrado \ Como medicamento ou veneno \ E depois de beber, eu sabia\ Que fui eu que escalou diante dos meus olhos \ Enquanto outros cantavam \ Era eu. \ Aquele que subiu como um emaranhado \ Pelo tronco de uma árvore \ E fui eu que descia mais tarde. \ E depois subi. \ todos os tempos necessários, isto é, \ Durante o tempo total da minha vida. \ É difícil dizer-lhes. \ O esforço com que abraçou essa crosta \ Colocando as unhas que a esmagaram. \ Minhas garras eram fortes como os gatos. \ Mas quando eu caí eu me tornei luz, e eu reformulei \ Sedoso, no chão. \ Era o início da manhã. \ Quando essa bebida deu o seu efeito \ E eu adormeci. \ Por muitos dias \ As imagens daquela noite \ Eles são deixados no meu coração. \ Eles fizeram isso doce como as pérolas \ que brotam no ramo e se desfazem \ Na boca sagrada da vida \ Depois de cada inverno.

Poemas da escritora, periodista e psicóloga argentina Paula Jiménez España, autora de obras como Ser feliz en Baltimore (2001), Formas, libro y cd (2002), La casa en la avenida (2004), La mala vida (2007), Ni jota (2008), Espacios Naturales (2009) La vuelta (2013) y la plaquete Las cosechadoras de flores (2014), além de Pollera pantalón / Cuentos de género (2012), Aventuras de Eva en el planeta (2005) e La calle de las alegrías (2006), entre outros. No livro La suerte (Caleta Olivia, 2021), ela expressa que: […] Se considerarmos a afinidade entre dissidência e esoterismo, acredito que deste lado, do lado da magia e da poesia, continuamos sendo aqueles que cultivaram uma sensibilidade mais refinada, nascida da experiência da exclusão e da vulnerabilidade. A resistência nos lançou ao deslumbramento. [...]. Trata-se de um livro de revelações com quatorze cartas em que cada poema abraçando o mistério e se tornando oracular, trabalhando com a palavra poética e a memória poética, acrescentando que: [...] Minha obra é caminhar, e eu obedeço, e quem lê sente a própria qualidade da volta do destino e do tempo simultâneo com suas derivas circulares, o alto que é baixo, o dentro que é fora, o passado que é presente e futuro. Sou eu quem lê ou quem é lido? [...].

 

O BEM & O MAL – [...] A loucura assusta você, distrai você, mas é preciso encará-la com cuidado. [...]. Trecho extraído da obra El buen mal (Randon House, 2025), da premiada escritora argentina Samanta Schweblin, que no seu livro Kentukis (Fósforo, 2021) ela expressa que: [...] A inartista. Ninguém, para ninguém, e nunca nada. A resistência a qualquer tipo de concretude. Seu corpo se interpunha entre as coisas, protegendo-a do risco de jamais alcançar qualquer coisa. [...] Regulamentação não tem nada a ver com estabelecer padrões; significa estabelecer regras que funcionem em favor de alguns. [...]. Na sua publicação Fever Dream (Riverhead, 2017) ela expressou: [...] Às vezes, eu me assentei a pensar que os problemas de todos os dias podem ser para mim um pouco mais terrível do que para o resto da gente [...] Há um limite para a quantidade de buscas que você pode fazer. Ou um cavalo está lá ou não. [...]. Veja mais aqui & aqui.

 

CAPITALISMO CANIBAL – [...] Um sistema econômico definido pela propriedade privada, a acumulação de valor “auto” expansivo, a alocação de mercado do excedente social e dos principais insumos para a produção de mercadorias, incluindo trabalho (duplamente) gratuito, é possibilitado por quatro condições de fundo cruciais, relacionadas, respectivamente, à reprodução social, à ecologia da Terra, ao poder político e às infusões contínuas de riqueza expropriada de povos racializados. [...] Ambos os "ex" contribuem para a acumulação, mas o fazem de maneiras diferentes. A exploração transfere valor ao capital sob o disfarce de uma livre troca contratual: em troca do uso de sua força de trabalho, os trabalhadores recebem salários que (supostamente) cobrem seus custos de vida; enquanto o capital se apropria de seu "tempo de trabalho excedente", ele (supostamente) paga pelo menos por seu "tempo de trabalho necessário". Na expropriação, por outro lado, os capitalistas dispensam todas essas sutilezas em favor do confisco bruto dos bens alheios, pelos quais pagam pouco ou nada; ao canalizar mão de obra, terras, minerais e/ou energia confiscados para as operações de suas empresas, reduzem seus custos de produção e aumentam seus lucros. Assim, longe de se excluírem, expropriação e exploração trabalham juntas. Trabalhadores assalariados duplamente livres transformam "matérias-primas" saqueadas em máquinas movidas a fontes de energia confiscadas. Seus salários são mantidos baixos pela disponibilidade de alimentos cultivados em terras roubadas por peões endividados e de bens de consumo produzidos em oficinas clandestinas por "outros" não livres ou dependentes, cujos próprios custos de reprodução não são totalmente remunerados. A expropriação, portanto, fundamenta a exploração e a torna lucrativa. Longe de se limitar aos primórdios do sistema, é uma característica inerente à sociedade capitalista, tão constitutiva e estruturalmente fundamentada quanto a exploração. [...]. Trechos estraídos da obra Cannibal Capitalism: How our System is Devouring Democracy, Care, and the Planet—and What We Can Do About It (Verso Books, 2022), da filósofa estadunidense Nancy Fraser, que no seu livro Feminism for the 99% (Verso, 2019), ela expressa que: […] Um feminismo verdadeiramente antirracista e anti-imperialista também deve ser anticapitalista. [...] A aliança do patriarcado e do capitalismo que quer que sejamos obedientes, submissos e quietos. [...]. Já no livro Capitalismo: Una conversación desde la Teoría Crítica (Ciências Sociales, 2019), ela comenta que: […] Se quisermos compreender a relativa ausência de crítica ao capitalismo nos últimos anos, devemos também considerar a ascensão espetacular do pensamento pós-estruturalista no final do século XX. Pelo menos no meio acadêmico americano, o pós-estruturalismo tornou-se a "oposição oficial" à filosofia moral e política liberal. E, no entanto, apesar de suas diferenças, esses oponentes manifestos compartilhavam algo fundamental: tanto o liberalismo quanto o pós-estruturalismo eram formas de escapar do problema da economia política e da própria economia social. Foi uma convergência de força extraordinária: um golpe, se preferir. [...]. Por fim, no seu livro The Old is Dying and the New Cannot Be Born: From Progressive Neoliberalism to Trump and Beyond (Verso, 2019), ela conclui que: […] O velho está morrendo e o novo não pode nascer; neste interregno uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

PINTANDO NAS PRAÇAS DE PERNAMBUCO

No próximo dia 16 de julho, a partir das 19h, na Biblioteca Fenelon Barreto – Palmares (PE), ocorrerá o lançamento do catálogo Pintando nas praças de Pernambuco, promovido pelo Instituto de Belas Artes Vale do Una (IbaValeUna), coroando a iniciativa do poeta e pintor Paulo Profeta. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

Veja mais sobre MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.

&

Diário TTTTT aqui.

Poemagens aqui.

Cantarau Tataritaritatá aqui.

Teatro Infantil: O lobisomem Zonzo aqui.

Faça seu TCC sem traumas – consultas e curso aqui.

VALUNA – Vale do Rio Una aqui.

&

Crônica de amor por ela aqui.