Ao som da Fantasia Sul América
para violino solo (2022), do compositor Cláudio Santoro; do Canto dos
Aroe (2021), do compositor Roberto Victorio; e Gestures – for solo
violin (2022), de Arthur Kampela, todos na interpretação da premiada violinista
e professora Mariana Isdebski Salles, autora dos livros Ciência na
Arte - Arte na Ciência (Paka-Tatu, 2021) e Arcadas e golpes de arco (Thesaurus, 1998). Em parceria
com a pianista Laís de Souza Brasil, lançou o cd Sonatas (ABM Digistal),
do compositor Claudio Santoro; e, em parceria com o violoncelista Marcelo
Salles, lançou o cd Mosaico (2005) e Mosaico II (2008), com peças
para duo de violino e violoncelo de compositores brasileiros; e com o Deuxiéme
Trio de Villa-Lobos, gravou o cd Fantasia para violino, violoncelo e piano
de Franck Bridge e Trio de Michael Colina (2008). Veja mais aqui e aqui.
O BANQUETE & O PRECIPÍCIO (PISCAR DE OLHOS,
A HESITAÇÃO E O ABISSAL)... - Quem não náufrago sobrevivente na roda-viva: apatetados
metazoários, ruminantes do intelecto solitário, os Ocos de Eliot... Dá-se volta por cima até baixar a poeira porque nada se resolveu ou, se resolvido, nada deu fé. Só sortudo fora dessa! Pros do
lado de cá a indagação
de Lukáscs no pé do ouvido: Um estado de ânimo de permanente desespero com a situação
mundial... quem nos salva da civilização ocidental?... Isso para quem nunca arregou
da parada - mesmo que escorregasse pelo corredor
público e desse num túnel sem saída como buraco sem fundo: tudo ruindo e o
vexame diante do covil com toda contrafação no pé da venta – tem-se a impressão
de que não passa de um impostor no buruçú do caos espaçado, valendo-se das
sobras feito rufião aos gemidos na quase beatitude. É mesmo? Quem o faminto glutão
engolindo tudo? Ah! É só deslembrar da morte esticando seus braços elásticos com
as lâminas afiadas do tempo. É mesmo? Coisa besta, sai na urina. Ah, não, como
escapar aos seus golpes letais, sem poder fazer nada, um gesto insólito, como dar
de ombros, nada a ver, e tudo apodrecendo na chuvada da Ilha das Moscas de Golding. Sim, com Pampineia, Griselda de Vivaldi, Galeotto, meio mundo
de gente, a discutir o que sobrou da Justiça, da Esperança, da Razão, levando
lero da parábola dos anéis, os dedos que se foram, a ameaça da peste, da fome, dos
monstros invisíveis e não sei lá o que mais, escorregando pelas dez jornadas de
Boccaccio nas cenas de Pasolini. Danou-se! Leseira, sai nas
coxas. Ah, tá! E do nada surgisse Anne Lamott: A esperança começa na
escuridão, a teimosa esperança de que, se você simplesmente se levantar e
tentar fazer a coisa certa, a manhã chegará. Você espera, observa e trabalha:
você não desiste... E mais o patético escabroso das
estranhas pelo intolerável soando nos tímpanos de forma ensurdecedora,
inoculando o cinismo quase pueril. Como seria a morte? Ixe! Fogo pelando, água
da muita, veneno cruel no que é fato e o que é valor, assim por diante - o
desejável é seguir a lógica do xadrez dando conta do revogável. Vixe! Tem também
o refutável e tudo o que foi violado, afora o protocolar considerado no acordo
tácito, na ausência de domínio, tudo por conta de uma suposta isonomia. E é? Ousa-se,
ataca-se até que um seja devidamente anulado com a última pá de cal. Aí, tá
certo! E sacar Agneta Pleijel: Na batalha entre você e o mundo, fique do lado do
mundo... Sacou? Dizem que o homem simples
morreu na resiliência, chega dava gosto vê-lo romper a redoma e dormir com um
olho só, avalie. Foi esfolado todo, quanta mofa. A desforra ficou nos galhos
retorcidos da indiferença, intrusos fizeram a festa, quão leigos no ludíbrio
das palavras e intenções, armadilhas sentimentais – será que vai nascer outro? A
missão logo à tona, qual? Ah, o que mentem palavras, gestos e intenções, só equívocos.
Nada, já dizia Péter Szondi: No seu lugar, uma época para a qual a originalidade é
tudo reconhecer somente a cópia... Por pior
que seja a súbita captura da esfinge há sempre a habituada potência da resposta estremecida,
enganchada, exprimindo a miséria e a perigosa verdade para se salvar da tolice
e ter o que bem possa merecer. É só uma primeira tábua em que possa se agarrar do insondável. Contudo, há de levar em
consideração as armas em
mãos inescrupulosas, a fome devorando, o monstro metendo medo, a desgraça irremediável, a sinceridade e a
mentira alheia, quão falso e
demasiado: o mundo saiu dos trilhos faz tempo. Mãos não se tocam, lábios não se
beijam, braços não abraçam, pernas não se enroscam, pés não caminham, olhares não
se veem, dengos não se procuram nem se satisfazem, corações não amam. Que raça é esta, hem? Nem sempre a união faz a força, às vezes rompe, opõe e dá num escambau cabeludo. Sobra o cuspe na cara: somos nossos próprios inimigos, uns aos outros, todos. Onde a
obrigação de viver, a comida,
a direção, só ódio e morte. Agora só na outra, meu. Viva! A vida é arte: vamos
vidartear! Até mais
ver.
TRÊS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
POETA
- O antigo rito me possui \ Várias noites sem dormir \ depois que o rio de
sangue cai \ Eu me afogo nele e renasço \ novo como uma moeda redonda \ como um
sonho \ perfeito em minha dor \ lembrando apenas o suficiente do passado \ para
construir a \ teia de aranha \ com a qual cubro minha cama de solteira.
EI
- Novo amante: \ Quero te explicar bem que entre os seus olhos \ e os meus
olhos \ só existe desejo. \Que sua pele branca às vezes escurece \ porque quem
me marcou ainda está aqui. \ Gostaria de dizer seu nome e não posso \ porque
quando abro a boca lembro de \ uma cama diferente, \ outros lábios bebendo meus
seios. \ E quando eu choro \ e te agarro com tanta força \ eu não fico feliz,
amor. \ É uma chama. II - Ok, \ estou preso, ciumento, inconstante \ e cheio de
tesão \ O que você esperava? \ Que ele tinha olhos, \ glândulas, \ cérebro,
trinta e três anos \ e agia \ como um cipreste no cemitério? III - Disseram que
um poema \ deveria ser menos pessoal; \ Que falar de você ou de mim \ é coisa
de mulher. \ O que não é sério. \ Felizmente ou infelizmente \ ainda faço o que
quero. \ Talvez um dia eu use outros métodos \ e fale de forma abstrata. \ Agora
só sei que se algo for dito \ deve ser sobre um assunto conhecido. \ Só sou
honesto - e isso basta - \ quando falo das minhas próprias misérias e alegrias \
posso dizer que gosto de morangos, \ por exemplo, \ e que \ não gosto de
algumas pessoas porque são hipócritas, cruéis \ ou simplesmente porque são
estúpidas. \ Que não pedi para viver \ e que morrer não é algo que me atrai \ exceto
quando estou deprimido. \ Que sou feito \ acima de tudo \ de palavras. \ Que
para me expressar \ uso tinta e papel à minha maneira. \ Eu não posso evitar. \
Não importa o quanto eu tente, \ não escreverei um ensaio \ sobre a teoria dos
conjuntos. \ Talvez mais tarde \ eu encontre outras formas de me expressar. \ Mas
isso não importa para mim agora; \ Hoje vivo aqui e neste momento \ e sou eu \ e
atuo como tal. \ De resto, lamento não ter agradado a todos. \ Acho que basta
olhar para mim \ e tentar me aceitar \ com ossos, músculos, \ desejos e
tristezas. \ E olhar pela porta e ver o mundo passar \ e dizer bom dia. Aqui
estou eu. \ Mesmo que eles não gostem. \ Ver.
VAMOS
VIVER VALÉRIA - Esqueçamos as coisas que dizem \ até aqueles que chegaram de
barco \ do Adriático \ das Cíclades \ de Rodes. \Suas línguas viperinas \ , que
poderiam muito bem ser melhor utilizadas em casos amorosos, \sibilaram o mal do
cume do Citoro. \ Não, eles não ousam dizer seu nome, \ apenas sussurraram o
meu \Sentem medo, \ são hipócritas, \ mentem com putinhas magrinhas, \ vão
embora sem pagar o que é justo, que não é muito. \ Vamos viver Valéria, \ depois
de milhares de anos \ haverá um poeta diferente \ que nos ensinará o nosso amor
\ e criará outra Carmem \ que sonhará cheia de paixão \ Iremos longe \ Valéria \
nossa cama \ serão as estrelas.
Poemas da premiada escritora e jornalista guatemalteca Ana
María Rodas. Veja mais aqui.
ESCREVER
COM A ALMA – [...] Escreva o que te
perturba, o que você teme, o que você não tem vontade de falar. Esteja disposto a
ser dividido. [...] Somos importantes e nossas vidas são importantes,
magníficas mesmo, e seus detalhes merecem ser registrados. É assim que os
escritores devem pensar, é assim que devemos sentar-nos com a caneta na mão. Nós estávamos aqui; somos seres humanos; é assim que
vivíamos. Que fique claro, a terra passou diante de nós. Nossos detalhes são
importantes. Caso contrário, se não estiverem, podemos
lançar uma bomba e isso não importa... Registrar os detalhes de nossas vidas é
uma postura contra as bombas com sua capacidade de matar em massa, contra o
excesso de velocidade e eficiência. Um escritor deve dizer sim à vida, a tudo
na vida: aos copos de água, ao Kemp's meio a meio, ao ketchup no balcão. Não é tarefa do
escritor dizer: “É estúpido viver numa cidade pequena ou comer num café quando
se pode comer macrobióticos em casa”. A nossa tarefa é dizer um santo sim às
coisas reais da nossa vida tal como elas existem – a verdade real de quem
somos: vários quilos acima do peso, a rua cinzenta e fria lá fora, o enfeite de
Natal na vitrine, o escritor judeu no cabine laranja em frente à amiga loira que
tem filhos negros. Devemos nos tornar escritores que aceitam
as coisas como elas são, passam a amar os detalhes e avançam com um sim nos
lábios para que não haja mais nãos no mundo, nãos que invalidem a vida e
impeçam que esses detalhes continuem. [...] Se você não tem medo das vozes dentro de
você, não terá medo das críticas externas. [...] Escrevo porque estou sozinho e ando
sozinho pelo mundo. Ninguém vai saber o que passou por mim...
Escrevo porque há histórias que as pessoas esqueceram de contar, porque sou uma
mulher tentando se destacar na minha vida... Escrevo por mágoa e como fazer
magoar OK; como me fortalecer e voltar para casa, e esse pode ser o único lar
verdadeiro que terei. [...] Brinque. Mergulhe no absurdo e escreva. Arrisque-se. Você terá sucesso se
não tiver medo do fracasso. [...]. Trechos da obra Writing Down the Bones: Freeing the
Writer Within (Shambhala, 2005), da escritora e pintora estadunidense Natalie Goldberg. Veja
mais aqui.
A MULHER, ENFRENTANDO A VIOLÊNCIA - [...] Como isolar o conceito de gênero? Não se
deve isolá-lo de seu contexto econômico, social e político. Aliás, eu utilizo
cada vez menos esse conceito, porque gênero é um conceito a-político,
a-histórico e bastante palatável. Tão palatável, que o Banco Mundial só
financia projetos com recorte de gênero. Se fizermos referência à “ordem
patriarcal de gênero”, os projetos, certamente, não serão contemplados com as
verbas solicitadas. Mas o patriarcado está aí, presente em todas as relações
humanas. Chegamos ao paradoxo de os homens sustentarem a existência do
patriarcado e a maioria das feministas mulheres a negarem. [...] É óbvio que não existe ninguém
que consiga ficar neutro diante de uma contenda. Tenho minha posição, pública e
notória, mas não tenho filiação, porque não quero perder minha liberdade de
pensamento. [...] Estamos entupidos de cristianismo e isso representa
uma face do fundamentalismo. Odeio fundamentalismos. [...] Não há sequer
uma totalidade social; mas tão somente caos. Não gosto do pensamento
pós-moderno, porque é fragmentário e projeta essa fragmentação na realidade,
quando, para mim, a sociedade é uma totalidade, e a crença nisso me fez
progredir teoricamente. No Brasil, sou considerada a teórica feminista, o que
não significa que não sei pensar em políticas públicas, nem tampouco que não
existam outras estudiosas do tema, criando teorias. Estudo o tema violência com
a finalidade de lançar políticas públicas para as mulheres, oferecendo-as aos
governantes, cujos meios para sua implementação estão ao seu alcance. [...]
Logo, não sou apenas teórica, gosto também de pensar nas práticas, embora
não me vincule a nenhum movimento, mantendo muito boas relações com todos eles.
Não me agrada nada, nada, esta divisão: feminismo acadêmico versus feminismo
militante. No Brasil, a academia abriu, sem resistência digna de nota, suas
portas à temática de gênero e, ademais, há um trânsito fácil entre acadêmicas e
militantes, sem contar o fato de que muitas militantes são também acadêmicas
ou, pelo menos, leem e discutem suas leituras, não sendo, por conseguinte,
apenas militantes. [...] É claro que o espaço doméstico é eminentemente
feminino, mas não é o espaço da privacidade. É o espaço do trabalho não
reconhecido, do trabalho não pago, do trabalho doméstico. E por que razão não é
o espaço da privacidade? Porque vige um regime social, político e econômico
androcêntrico ou patriarcal ou viriarcal. Em outros termos, vivemos sob o
patriarcado. [...] O homem cuidava da chácara, era caseiro, e a
mulher era empregada doméstica. Quando ela se referia a relações sexuais com
seu marido, sua linguagem relativa a seu marido era a seguinte: “quando ele
quer me usar...”. Era essa a linguagem utilizada, nunca me esqueci; e já ouvi
essa expressão sendo utilizada por muitas mulheres do Nordeste, que moram aqui,
em São Paulo, de paulistas e de mulheres de outros recantos do país. Ou seja,
elas se consideram objetos para o uso e o abuso do seu amo e senhor. [...] Hoje, já existe uma jurisprudência de cerca
de mil e quinhentos casos. É, sem dúvida, importantíssima esta terceira
permissiva penal para o aborto. Há muitas pessoas lutando para a aprovação da
súmula vinculante, não apenas para poupar trabalho. O juiz de primeira
instância é aquele que vai para o interior e não vê mais nada, não tem
universidade na cidade onde atua, ele não dá aula, não estuda. Se há um
conflito entre um artigo de qualquer código comercial, tributário, penal,
civil, ou qualquer outra lei isolada, de uma parte, e, de outra parte, a
Constituição, é obvio que prevalece a Constituição, pois é a Lei Magna do país.
Mas os juízes não estudam mais, então não percebem que estamos em outro mundo,
que a Constituição acabou por derrubar vários artigos do Código Civil e eles
não podem atuar segundo aqueles artigos. [...] Nós não temos como estar apenas fora do gênero, nem nós
mulheres, nem os homens. Como ficar fora do gênero? Isso é impossível. O que
nós podemos é lidar com todas as matrizes que nós conhecemos, simultaneamente.
Então, a minha maneira de criar, porque eu não sou nenhum gênio, é: eu leio um
livro, absorvo aquilo que me parece interessante, e tento avançar. Tento
avançar um pouco – a ciência avança milimetricamente. Uma grande descoberta é
fruto do acaso, porque ninguém é tão inteligente para ter uma ideia brilhante
por semana. Então, vou fazendo o que eu posso, que é caminhar assim na criação,
milimetricamente. [...]. Trechos da
entrevista concedida pela socióloga Heleieth Saffioti (1934-2010),
extraída da publicação Heleieth
Saffioti, uma pioneira dos estudos feministas no Brasil (Estudos Feministas - UFSC, 2011) de
Luzinete Simões Minella. Veja mais aqui, aqui e aqui.
HOMENS & CARANGUEJOS, DE JOSUÉ DE CASTRO
[...] Da evasão daquela paisagem humana parada e monótona.
Desejo imperioso de sair de tudo. De sair de dentro de si mesmo. De sair do
círculo fechado da família. Do ciclo do caranguejo. Da cidade do Recife. Um
desejo desesperado de arrebentar com todas as amarras que o ligam à lama pegajosa
do vale do Capibaribe e às folhas viscosas do mangue. Sair vagando pelo mundo
afora com os navios que passam ao largo da costa, soltando com indiferença um
arrogante penacho de fumo por suas longas e grossas chaminés [...].
Trecho extraído da obra Homens e caranguejos (Bertrand
Brasil, 2003), do médico, professor catedrático, pensador, ativista
político e embaixador do Brasil na ONU, Josué de Castro (1908-1973).
Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e
aqui.
UM OFERECIMENTO: SANTOS MELO LICITAÇÕES
Veja detalhes aqui.
&
Tem mais:
Curso: Arte supera timidez aqui.
Poemagens & outras versagens aqui.
Diário TTTTT aqui.
Cantarau Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil: O lobisomem Zonzo aqui.
&
Faça seu TCC sem traumas – consultas e curso aqui.