terça-feira, agosto 18, 2020

MARYSE CONDÉ, GREENAWAY, MIRANDA JULY, RUY GAMEIRO, BIGAS LUNA, NÊNIA DE ABRIL & CINEMA PERNAMBUCANO


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... DE DORES & ADEUSES - A cada dia entoar a Nênia de Abril e conto meus mortos ao amanhecer, são tantos, aos milhares, sem que possa velá-los ou sepultá-los, nem aceno de adeus. O meu e o choro dos meus jorram por todos os lugares dos tantos Brasis. Só a frase de Peter Greenaway e o meu desconsolo: As despedidas podem ser belas e desprezíveis. Dizer adeus a quem é amado é muito complicado. Uma mão não pode escrever sobre si mesma. O que dói é não ter esperanças, nenhuma medida preventiva, nem providências: e daí? O noticiário com todas as manchetes escusas, disfarces e orquestrações, é tudo muito pior. Maryse Condé me dá o tom da desgraça: A verdade sempre chega tarde demais porque anda mais devagar que as mentiras. A verdade rasteja no ritmo de um caracol. Enquanto isso tribunais omissos quando não coniventes, parlamento festejando suas manobras, governante piadista às gargalhadas e a pátria em ruínas serve apenas para o descanso de sepulturas. De novo, o mesmo filme.

DUAS CENAS QUANTAS MESMAS EM OUTROS FILMES – Adoro cinema e voo: o escurinho privado, a intimidade tenta imitar a cena: sonho alisando a perna lisa da mulher amada que abriga a minha aflição solitária no deserto do real: são outras cenas que me invadem além da minha imaginação por todo planeta, ou pelos muitos e tantos Brasis. Diante do meu desassossego, a ausência dela me fala Miranda July: Olhe para o céu: isso é para você. Olhe para o rosto de cada pessoa ao passar por elas na rua: esses rostos são para você. E a própria rua, e o solo sob a rua, e a bola de fogo sob o solo: todas essas coisas são para você. Recolho lembranças e projeções, dos muitos filmes as mesmas cenas devoradas.

TRÊS ACENOS TRIBUTANDO MEUS MORTOS – O primeiro, um aceno solidário: sei que muitos se foram quando eu poderia ter ido junto e arrastado todas as recordações dos sonhos de luta por um país melhor para todos nós. O segundo, um aceno de teimosia: mesmo derrotados, persisto em nome do que há de mais sagrado em viver e deixar viver, guardando comigo o que disse Bigas Luna: O êxito é um dos melhores caminhos para a infelicidade. O terceiro, um aceno de paz com a homenagem para os meus que se foram, como o Monumento aos Mortos, do escultor português Ruy Roque Gameiro (1906-1935). Saúdo os que escaparam e os que resistem, precisamos manter a chama acesa e agora mais do que nunca. Até mais ver.

ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA
O drama Era uma vez eu, Verônica (2012), dirigido por Marcelo Gomes, conta a história de uma jovem em fase de transição, que mora com o pai e acabou de se formar em medicina, quando se dedica à vida profissional num hospital público, suas condições precárias e o cotidiano agitado e cansativo.
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CINEMA PERNAMBUCANO
Um sítio interativo e colaborativo que serve de base de dados online e gratuita do Cinema Pernambucano, concebido, dirigido e organizado por Germana Pereira e Isabela Cribari, disponibiliza a cronologia da história, passando pela filmografia da década de 1920 até a produção contemporânea, com um acervo de mais 400 filmes cadastrados entre curtas, médias e longas metragens nos mais diversos gêneros cinematográficos. Veja mais aqui e aqui.