sexta-feira, junho 29, 2018

SCORZA, SEFÉRIS, ACKERMAN, NÓVOA, EDUARDO VIEIRA DA CUNHA, LEILA PINHEIRO, MULHERES DE LUTA & SOMOS TODOS GENÉSIO


AH, DANAÇÃO, TUDO DE CABEÇA PRA BAIXO! – Imagem: arte do fotógrafo, pintor e desenhista Eduardo Vieira da Cunha. - A maior torcida, foguetório, bandeira tremulante, um a zero. É hoje! O frevo nos requebros e a roupa velha avoando solta, a pinga goela adentro esquenta o tampão! É agora ou nunca! Sai-te porqueira que vou me vingar! Hoje eu tiro a barriga da miséria! E o xote no bate coxa levanta poeira de rastapé, maior zoadeiro da emoção, há só felicidade. Não tem tempo ruim, dois a zero, orgulho no peito de quem nunca ganhou, o revide contra a entressafra e atribulações, a venta empinada pra quem só cabeça baixa o tempo todo. Afredo não se contendo, puxa na desafinação: Eu sou Brasil, orgulho de ser brasileiro! Bota tua mola, corno! Corno é seu pai, fidaputa! Insultos, ameaças - qual é, meu! -, o Brasil ganhando e a gente se estranhando? Ora, ora. Bora forrozar que o negócio tá bão demais! E o pão mais caro a cada dia, a verdura custando os olhos da cara, as compras pra feira pela hora da morte, a passagem do cata-corno subindo inflação; escola imprestável não tem pra filharada; saúde é doença nas portas da morte; a violência com o bafo de coisa ruim por perto, invocando ditadura pra tudo ajeitar. - Se a coisa é só roubo, o que sobra pra gente é o quê? A lei da corrupção. Só matando tudinho, aí sim! Tá doido, melhor uma bomba pra começar tudo de novo! Ah, eu só quero é me arrumar, os outros que se explodam! Deixa de conversa mole que o Brasil tá ganhando pra ser hexacampeão, gente! Essa coisa de comunista não é comigo não! Hoje vou de amarelinha, o ouro da minha nação! Só quero é ser feliz! E Robimagaiver sapeca no pandeiro a maior batucada; Zé-Corninho alinha o circuito das chifradas batendo a zabumba, teibei! Zé Bilola se enrola no fole da sanfona, pra lá e pra cá; num cabo de aço Rolivânio arenga com Penisvaldo pelo telengotendo do triângulo, é meu, é meu; Varnilza arma o barraco pra descer do tamanco com Quiba e Ximênia, enquanto outras misturam unhas, penteados e rasgação de verbo; o fedor do sovaco incensa o pencó, e a coisa festeira tem sustança pra durar. Qual que é? Simbora que tem muito baião pra comer hora até amanhã de manhã! Quem dança faz a quadrilha em um só cordão, abraço e leseira formam o maior cambão, e as desgraças de ontem só no depois da maior das ressacas, volta tudo ao normal como passa e passou aquela foto encardida no fundo das gavetas. O colorido, dançou. Aí Doro se vira: - Ô doutor Zé Gulu, que crise é essa, hem? Ah, uma tragédia nacional: falta mesmo é vergonha na cara e tudo o mais. Eita! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora e compositora Leila Pinheiro: do Brasil, Um pouco de tudo, Isso é bossa nova & Bênção Bossa Nova & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui & aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Em minhas viagens, tenho visto formas da terra e animais extraordinários, todavia, nada é mais surpreendente e assombroso do que os seres humanos. Nós não somos diferentes nem distintos dos outros animais, não somos deuses que possuem o direito de destruir nosso mundo ou outros, mas somos criaturas raras e extraordinárias em evolução neste planeta. Somos impressionantes explosões de sonho e matéria. Nossas mentes são tão complexas quanto o Grand Canyon. Nossas necessidades, tão persistentes quanto a quentura no inverno. Nossos desejos, tão densos e voluptuosos quanto os oceanos. Nós somos prodígios naturais. [...]. Trecho extraído da obra Uma história natural do amor (Bertrand Brasil, 1997), da escritora e naturalista estadunidense Diane Ackerman. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A ESCOLA & A VIDA – [...] as escolas não estão, nem nunca estiveram, organizadas de forma a criar narrativas poderosas e inspiradoras. As escolas [...] não se fixam, contudo, numa única posição. Podem mover-se para cima, para baixo e para os lados, de modo a que, em diferentes momentos e em diferentes sítios, reflitam este aspecto e não aquele. Todavia, mostram sempre algo que está lá, não um produto da invenção das escolas, mas sim um produto da sociedade que as financia e que as usa para diferentes objetivos. [...] Nós somos os criadores de mundos e tecedores de mundos. É isto que faz de nós espertos e estúpidos; morais e imorais; tolerantes e preconceituosos. É isto que faz de nós humanos. Será possível contar esta narrativa aos nossos jovens na escola, fazer com que investiguem como desenvolvemos a nossa humanidade através do domínio dos códigos com os quais nos dirigimos ao mundo, fazer com que entendam o que acontece quando perdemos o controlo das nossas invenções? Esta poderá ser a maior narrativa jamais contada. Na escola [...]. Trechos extraídos de O espaço público da educação: imagens, narrativas e dilemas (Gulbenkian, 2001), do professor e educador português António Nóvoa. Veja mais aqui.

A TUMBA DO RELÂMPAGO – [...] um livro ou jornal era papel de embrulho mas a partir daquele momento comecei a ver os dois como se fossem armazéns, como se fossem silos de amor onde os homens mais sábios guardaram suas ideias para que nos alimentássemos delas, porque as ideias são o melhor pão para quem tem fome [...] - Foi por isso que toquei fogo neles! Porque não quero o futuro do passado, mas o futuro do futuro. Aquele que eu possa escolher com meu erro e minha dor. [...] - Nosso empreendimento só depende de nossa coragem! Daqui por diante, ninguém mais decidirá por nós! Existimos! Somos homens, não somos sombras tecidas por uma sombra! [...] Outro relâmpago iluminou a cabina. Fora assim, Ledesma pensou, que por um instante o inesquecível fulgor de um relâmpago havia brilhado na escuridão, iluminando a história dos camponeses. Fracassamos! A esperança durou menos do que esse relâmpago que já se convertera em cinza e treva. E chorou novamente. Porque sobre a lápide daquela sublevação ninguém gravaria nenhum epitáfio. Mão nenhuma depositaria uma flor na tumba daquele relâmpago. [...]. Trechos do romance A tumba do relâmpago (Bertrand Brasil, 2000), do romancista e poeta peruano Manuel Scorza (1928-1983). Veja mais aqui.

SÃO ASSIM OS TÚMULOSSão assim os túmulos. Cheios de flores, no princípio, / com a chama do pesar acesa por sobre a sua alvura. / E tudo quanto a vida inventa de consolo – as mãos caídas, / a cabeça baixa, a fonte dos lamentos – / acompanha as horas pétreas dos que jazem. / Depois, sob o sol indiferente, os passos vão-se embora / para que cada qual possa viver / a sua própria morte. / São assim os túmulos. / E das sombras da noite, com um sorriso mau, / eis que a velha aparece. / Juntando os dedos, ela apaga a chama / e recolhe as flores para seu amante. Poema do poeta simbolista grego da geração neogrega de 1930, Giórgos Seferiádhis ou simplesmente Giórgos Seféris (1900-1971). Veja mais aqui.

POR ONDE CRUZAM AS MULHERES DE LUTA EM MIM
Performance Por onde cruzam as “mulheres de luta” em mim, das bailarinas Alexandra Castilhos e Samira Abdalah, investigando imagens e ressonâncias sobre mulheres de luta e suas reverberações no corpo dançado em relação com o espaço.
Mostra de Pesquisa em Educação & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte do fotógrafo, pintor e desenhista Eduardo Vieira da Cunha.
&
Pescaria ineivada, As sete cartas de Agostinho da Silva, A vida de Lou Andres-Salomé, a música de Arrigo Barnabé & a arte de Indre Vilke aqui.
&
Entre versos & vida, Tao Te King de Lao Tsé, Terra Ulro de Czeslaw Milosz, a música de Eliane Elias & a arte de Luciah Lopez aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
SOMOS TODOS GENÉSIO
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.
 

quinta-feira, junho 28, 2018

PIRANDELLO, MORIN, MARCUSE, BRUNO TOLENTINO, KIESLOWSKI, CALIMÉRIO SOARES & TERESA POESTER


MEU CORAÇÃO CHOVE LÁ FORA – Imagem: arte da professora e artista visual Teresa Poester. - Chove lá fora e meu coração é véspera do estio, uma vez e nada mais. Transido de frio, expôs-se ao fogo e, entre as áureas labaredas do amor, aprendeu o milagre das cinzas ao vento pelos aflogísticos vitais, pra revivescência improvável na finitude, o calor das paixões. Enterrou-se ao chão para aprender, nos giros de si e ao redor de tudo, a roda-viva dos labirintos com todos os caminhos que brotam da semente pra raiz a nascer na terra, fiapo de vida a ascender por galhos e frondoso até ser levado às alturas do tempo aos confins do porvir, quando tudo é nada e apenas sou o que sou entre simulacros e azáfamas. E se ao mormaço a esperança envergo, dou-me à resistência por salvação, diante do solo que sumiu na primeira esquina que não há mais por tantas multiplicadas nos espelhos do dia, a me confundir das memórias dos talhos. E se queimo na insolação, dou-me carne retalhada pelo agreste pedregoso de todas as arranhuras e tocaias, sobrevivente da hora, até saber novamente da chuva lá fora e meu coração estiado na solidão, aprendeu viver aos ventos que vão e voltam entre folhas e flores que caem e sou eu levitando sem direção, até pousar quase longe de onde jamais soubera haver por destino, errâncias e sucumbências de nunca escapar. E levado intruso pelos declives líquidos que dão nas poças esborradas por nesgas e valas até às corredeiras pros leitos chegar à fonte e beber da água cristalina para matar a sede de milênios pelos poros. Depois tomado pelo regato aos caudais e cascatas e mergulhar no mar, o batismo das profundezas abissais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do musicista e compositor erudito Calimério Soares (1941-2011): Lamento & Dança, Momentos nordestinos, Suíte Juvenil & Suíte Antiga & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] precisamos saber que não há sociedade harmoniosa, funcional, em que o individual e o social se ajustem perfeitamente um ao outro, e cujo produto natural seja a felicidade. É preciso saber, o que é ainda pior, que o mal se oculta na ideia de salvação social. [...]. Pensamento extraído da obra Para sair do século XX (Nova Fronteira, 1986) do antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, que em outra obra Introdução ao pensamento Complexo (Instituto Piaget, 2008), expressa que: [...] creio profundamente que quando menos um pensamento for mutilador, menos mutilará os humanos. É preciso lembrar os estragos que as visões simplificadoras fizeram, não apenas no mundo intelectual, mas na vida. Muitos dos sofrimentos que milhões de seres suportam resultam dos efeitos do pensamento parcelar e unidimensional. [...]. Veja mais aqui.

CULTURA & SOCIEDADE - [...] cultura é mais do que uma mera ideologia. Em vista dos objetivos que a civilização ocidental declara e da pretensão de realizá-los, definiríamos Cultura como processo de humanização (Humanisierung) caracterizado pelo esforço coletivo para conservar a vida humana, para pacificar a luta pela existência ou mantê-la dentro de limites controláveis, para consolidar uma organização produtiva da sociedade, para desenvolver as capacidades intelectuais dos homens e para diminuir e sublimar a agressão, a violência e a miséria [...]. Trecho extraído da obra Cultura e sociedade (Paz e Terra, 1998), do sociólogo e filosofo alemão pertencente à Escola de Frankfurt, Herbert Marcuse (1898-1979). Veja mais aqui.

A SENHORA FROLA E O SENHOR PONZA – [...] Compreende-se que uma filha, casando, deixe a casa da mãe para ir viver com o marido. Mesmo que seja numa outra cidade; mas que esta mãe, depois, não podendo suportar a ausência da filha, abandone a sua cidade, a sua casa, e vá procurá-la, e que, na cidade onde tanto ela como a filha são forasteiras, vá morar numa casa à parte, é o que se não compreende muito facilmente; ou, então, deve-se admitir que, entre a sogra e o genro, existe uma incompatibilidade tão grande que torna realmente impossível a convivência, ainda mesmo nestas condições. [...] Não pode ser outra coisa. Do contrário, como explicar todos os cuidados, todas as atenções que ele lhe dispensa, a ela, sua sogra, dada a hipótese de que ele ainda acredite que é, de fato, uma segunda esposa a que possui? Não se sentiria obrigado a ser tão atencioso para com uma mulher que, a ser assim, teria deixado de ser sua sogra, não é verdade? E não é para provar – note-se bem! – que o louco é ele, que a Senhora Frola diz isto tudo; é, de preferência, para se convencer, a si mesma, de que as suas suspeitas são fundadas. [...] e toda vez que ambos se encontram, casualmente, na rua, com a maior cordialidade, continuam andando juntos; ele lhe dá a direita e, se ela se cansa, lhe estende o braço e vão assim, juntos, entre o despeito surdo e o espanto e a consternação do povo, que os estuda, os examina, os observa, e, nada! Ainda não consegue, de modo algum, compreender qual dos dois é o louco, onde está o fantasma, e onde a realidade... [...]. Conto extraído da obra Contos (Relógio D’Água, 2012), do dramaturgo, poeta, romancista siciliano e Prêmio Nobel de Literatura de 1934, Luigi Pirandello (1867 – 1936). Veja mais aqui.

E LHE CANTEI ENTÃO ESTE ACALANTO - Dorme, Minotauro, Mouro / da mais amarga Veneza, / mudo amor na correnteza / do balbucio, homem-touro / tossindo no labirinto / da névoa e da solidão, / cala o instinto e o indistinto / e dorme, descansa, irmão! / Não existes, não existo, / nada existe neste mundo / aquém ou além do fundo / da linguagem. É tudo um misto / de silêncio e de ruído / no coração de quem sofre / preso num malentendido / como um inseto num cofre. / Perdoa-te… Nada ganhas / com dar e redar teus nós / na teia da velha aranha / retendo e perdendo a voz / no pescoço que partiste: / a garganta bipartida / entre a elegia do triste / e o último sopro da vida / não te vai dizer mais nada. / Tudo o que pôde foi dito. / No silêncio, na calada / da noite, escuta o infinito / para além da grade, tua / e dos outros prisioneiros / entre a linguagem e a luta. / Os últimos e os primeiros / tampouco entenderam Aquele / que ia morrer e lhes disse / que este universo era Dele / e o resto tudo crendice. / Nem tudo é só desperdício. / Tudo e nada nesta vida / se confundem, fim e início, / chegada como partida / trocam-se em pura ruína / mas o verme engole a aranha, / believe it or not! A sina / que escolhestes não se ganha / sem um sacrifício imenso, / mas que vale mais que a cena / em que por causa de um lenço / Otelo mata Desdêmona / ou o velho rei Lear, / louco e só, só pelo e osso, / vê e não vê balançar / Cordélia pelo pescoço. / Se o amor não aprende a língua / do ser amado, esse amor / é um louco morrendo à míngua / do que seja, ou do que for… / Deixa-te embalar, amigo, / como eu me deixo cantar / este acalanto e te digo, / te juro que o verbo amar / só Deus conjuga contigo. Poema do poeta Bruno Tolentino (1940-2007). Veja mais aqui.

SETE MULHERES DE DIFERENTES IDADES
O documentário curta-metragem Sete Mulheres de Diferentes Idades (Siedem kobiet w róznym wieku, 1978), do premiadíssimo cineasta polonês Krzysztof Kieslowski (1941-1996), traz a cidade de Lodz que possui uma tradicional escola de cinema e foi lá que grandes cineastas estudaram. Como trabalho de conclusão de seu curso nessa instituição, Kieslowski decidiu homenagear a cidade, produzindo Da Cidade de Lodz (1968). Trata-se de um relato sobre as tradições e cultura de Lodz, suas potencialidades e desenvolvimento, a exemplo de uma fábrica têxtil onde todas as funcionárias são mulheres, representando a força feminina do local, algo explicitado na cena onde Kieslowski, após mostrar o esforço das senhoras, corta para homens fazendo nada. Destaca também a influência da música sobre a cultura local, ressaltando como os habitantes ficam ansiosos pelos festivais musicais e apresentações da orquestra local. Cada dia da semana é representado por uma bailarina começando com uma garotinha e terminando com uma velha professora. Veja mais aqui.
Simpósio Internacional de Educação e Comunicação (SIMEDUC) & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte da professora e artista visual Teresa Poester.
&
Versos à flor da pele na prosa de um poema, o cinema de Jean-Luc Godard, a escultura de Bertel Thorvaldsen, a música de Sharon Corr & a arte de Luciah Lopez & Elke Lubitz aqui.
&
Da semente ao fruto, a vida, Dinheiro de Axel Capriles, o teatro de Luigi Pirandello, a música de Yuja Wang & a arte de Andrea Medjesi-Jones aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.


quarta-feira, junho 27, 2018

GUIMARÃES ROSA, LEFEBVRE, GERARDO MOURÃO, GOLDMANN, VERA CHAVES, VLADO, ALAGOINHANDUBA, ZEZÉ MOTTA & MAIRA FREITAS


O QUE SERÁ DO QUE SEMPRE FOI – Imagem: arte da pintora, fotógrafa, gravurista e xilogravurista Vera Chaves Barcellos. - Alagoinhanduba não saiu na manchete do jornal! Nunca, nem poderia, a mesma vida besta de sempre. Tirante certa vez as acrobacias dum comboio de OVNIs, capitaneado pelo Padre Bidião e seguido por seus nove clones e beatas mil na maior das farras, e o encerramento ruidoso do Big Shit Bôbras com toda população furiosa no maior linchamento por sobre catabís e pés na bunda, nada mais passou além de boatos e fuxicaria na maior normalidade. Bem que podia, é que uns dias chovem, outros mais e sempre sim, apesar do império do sol que, invariavelmente, é deposto da sua soberania por chuvadas adventícias. Do contrário, como dizem as más línguas, entre uma casa e outra um corno pede penico e tudo termina bem. Ali todos amam a terra e a corroem como britadeiras predatórias e prosperam, falem e se dizem amigos na hora da fartura e da miséria, apesar de falarem mal uns dos outros, bastando virar as costas e logo, então, passar o ausente pra banda dos desafetos com uma punhalada nas costelas – a menos que acertem na titela -, do tipo inimigo público número 1. Não há quem não veja por conta própria atos de caridade festiva aos abraços, perdigotos e flatulências em pleno meio dia, quase todo dia da semana. Tapinhas nas costas, pulhas e risadagens fazem o repertório das saudações diárias, e isso faz aquela do que foi e o que não é, o que há de muvuca e de perdição, é coisa pouca, pois, se tivesse de escolher entre a vida e a morte, por mais não se saberia da lida trôpega, o batalhão de invejosos que mutuamente não se suportam, as intrigas frequentes pelas insuportáveis vaidades e hipocrisias, quanta mesquinharia, meu Deus, entre professores sabichões, bestas quadradas e vilões, tirante uma grande percentagem quase maioria de sem-vergonhas com todas as regras higiênicas e morais, afora as pilantragens e fanfarronices usuais, uma solução para tudo no meio duma gambiarra que não passa de uma leviandade, e nem se atrevem a dizer na cara, porque sequer sabem o que é de João, o que é de Zé, se Maria e Zefinha não se entendem mais, o amor e seus desatinos no peito com o eco das paixões não perdendo por esperar. Todo mundo lá quer o saco do Papai Noel, vez que há um espírito natalino todo final de semana, quando na segunda haja guerra com peido-de-véia pra cima e pra baixo, pé-na-goela, golpe baixo e rasteiras, pra render na sabedoria popular do pé na cova, a abjeção ao parasita de plantão e um monte de aborrecimentos que deles procedem e que afinal são todos que não se reconhecem como tais. Mas, quem não, né, ainda se encontram com seus janeiros, setembros e maios, uma só brecha e o irrenunciável atiça os confins de trilhas opostas, se ofendem, arengam, fazem as pazes, enquanto as facas afiadas do tempo vão pras vésperas das saudades agudas, no meio dos rumores das fontes e cada um arrimo dum e doutro, na maior torcida de araque, até onde se pode ver a visão e as vendas da ignorância, a surdez pelos gritos do compadrio aos pipocos de pistolas, as mordaças das evacuações orais por conta de que ninguém é besta de meter a língua nos dentes e acabar mudo de pai e mãe, o paladar pras bufadas dos maiorais sem poder regurgitar o que está saindo pelo ladrão de tão indigesto, o olfato sem distinguir dos perfumes e catingas porque vale mesmo a ocasião, o tato e a confusão das superfícies e texturas por conta dos cheleleus e suas paparicadas na maior da caboetagem, o raso e as funduras nem aí que está bom demais, as paredes e grades pra quem não tem simancol de respeitar carteirada, as rezas e novenas pros calabouços e grilhões do coração, porque tudo que vai pra lá volta pra cá e amanhã será outra coisa e ninguém está bestando de cuspir pra cima e não sair de baixo, porque o que vem de cima não escolhe vítima e Alagoinhanduba passa noite e passa dia é a mesma de sempre desde sempre, haja o que houver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora e atriz Zezé Motta: Missão & 45 anos na ABL; a pianista e cantora Maira Freitas: Nua & Êta; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Como o valor de uso, a solidariedade consciente e deliberada entre os homens é relegada ao domínio privado das relações de família ou de amizade; nas relações inter-humanas gerais e notadamente nas econômicas, pelo contrário, a função de uma e de outra tornou-se implícita, obscurecida pelos únicos fatores que fazem agir o egoísmo do Homo-oeconomicus, que administra racionalmente um mundo abstrato e puramente quantitativo de valores de troca. [...]. Trecho extraído da obra Dialética e Cultura (Paz e Terra, 1991), do filósofo e sociólogo francês Lucien Goldmann (1913-1970). Veja mais aqui, aqui e aqui.

A CIDADE & O DIREITO À VIDA – [...] a cidade, obra e ato perpétuos, dá lugar a instituições específicas: municipais. As instituições mais gerais, as que dependem do Estado, da realidade e da ideologia dominante, têm sua sede na cidade política, militar, religiosa. Elas aí coexistem com as instituições propriamente urbanas, administrativas, culturais. [...] O direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O direito à obra (à atividade participante) e o direito à apropriação (bem distinto à propriedade) estão implicados no direito à cidade. [...]. Trechos extraídos da obra A natureza e o domínio da natureza (Paz e Terra, 1969), do filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre (1901-1991), que em outra obra Uma revolução cultural não pode desenrolar-se fora do campo política (Revista Triunfo – Editorial O Século, 1970), expressou que: [...] Trata-se de problemas urbanos, talvez isso se deva ao fato de ser na cidade – mais do que na indústria, como força econômica – que descobriremos, que revelaremos, as condições desta apropriação, pelo ser humano, da sua própria vida, dos seus próprios desejos, do tempo e do espaço em seu redor. [...].

A TERCEIRA MARGEM DO RIO - [...] Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho. Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa. No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava. [...]. Trecho extraído do conto A terceira margem do rio, recolhido da coleção Ficção Completa (Nova Aguilar, 1994), do escritor, médico e diplomata João Guimarães Rosa (1908-1967). Veja mais aqui e aqui.

UM POETA - Hás de testemunhar ruínas / antes de existirem ruínas: / engenheiro de troços e destroços / empreitaras demolições — / desmoronaste muros. / Profeta — risca riscaste riscarás / roteiros de pássaros no ar — e riscas / calendários passados e futuros — riscas / a arquitetura dos escombros / antes durante e depois deles / os tempos ouvem ouviram e ouvirão / esses passos de pedra / que pisam pisaram pisarão / rosa, lírio, jasmim e às vezes / ovelhas imoladas. / Maios, janeiros, setembros e os outros meses / meses azuis e meses pluviais / te saúdam à beira das falésias à beira-mar à beira-rio / à beira-abismos à beira séculos: / piloto do naufrágio / governador dos tempos tetrarca dos milênios / arquivista — tabelião das eras / só os dias, poeta, e as noites, te conhecem / sabem teu nome / e nenhum outro nome. Poema do poeta, jornalista, tradutor e biógrafo Gerardo Mello Mourão (1917-2007). Veja mais aqui e aqui.

VLADO 30 ANOS DEPOIS
O documentário Vlado - 30 Anos Depois (2005), dirigido pelo cineasta, roteirista e escritor João Batista de Andrade, oriundo do livro homônimo escrito pelo diretor, conta a história do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, que foi torturado e assassinado na prisão, em 1975 durante o regime militar brasileiro, com os depoimentos e memória das pessoas que conviveram com ele.


O Seminário de Grupos de Pesquisa sobre Crianças e Infâncias (GRUPECI) & muito mais na Agenda aqui.
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A arte da pintora, fotógrafa, gravurista e xilogravurista Vera Chaves Barcellos.
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As muitas e tantas de Alagoinhanduba aqui, aqui & aqui.
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Ela acolheu meu desterro, a literatura de Vidiadhar Naipaul, a música de Keith Jarret, Sueli Costa, Eumir Deodato & Rita Lee, a arte de Ewa Ludwiczak & Luciah Lopez aqui.
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O amanhã de ontem pra hoje, a literatura de Guimarães Rosa, o cinema de Krzysztof Kieslowski, a arte de Tarsila do Amaral & a música de Marcus Viana aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
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terça-feira, junho 26, 2018

AKHMÁTOVA, SÁBATO, POSTMAN , GILBERTO GIL, VICO, IMOGEM CUNNINGHAM, VIOLETTE & CLAUDE CHABROL


MADAME PUXENCOLHE – Imagem: arte da fotógrafa estadunidense Imogem Cunningham (1883-1976) - A madame acordou infeliz. Nada faltava, o mundo ao seu gosto, a vida ideal. Mas, estava infeliz. O prazer da solidão, a angústia de tudo nos conformes. Olhou do lado, todo conforto! Pensou em mudar as persianas, depois de tantas, convenceu-se: melhor não há. Ah, mudar o teto, esse o último escolhido entre centenas de outros, não, não. Podia trocar a cama e todos os utensílios do quarto, quantos não foram testados e usados, não. Ah, melhor outro cenário: uma paradisíaca vista pro mar: não há mais bonito depois de tantas moradias nos quatro cantos do mundo. Foi pro guarda roupa infinito: todas as vestes glamorosas e até as que não sabia possuir, nada mais, por enquanto. Foi pro espelho: cabelos de um lado pro outro, o penteado ideal: e se ficasse careca? Não, não. As faces, quantas plásticas, nada mais por mudar: lábios, nariz, os olhos, nenhum ruga, a maquiagem, não, nada, tudo ao seu gosto. O corpo conferido: e se diminuísse aqui ou aumentasse ali, tudo de novo e outra vez; não, estava no que ela queira, por enquanto. A casa, os empregados entre tantos substituídos, mordomos, governantes, serviçais, todos escolhidos a dedo a qualquer mínima destoada, adorava ser sinhazinha, mandona, servida. Os jardins, os cômodos, os automóveis, iates, aeronaves, os cartões de crédito, a vizinhança, os móveis, as obras de arte, os prazeres da estima, os cantos e recantos entre zis moradias, a cortesia dos ao redor, nada por mudar. E a madame infeliz. O céu, o sol, quantos enquadrados entre a harmonia de nuances, texturas, tonalidades e a madame infeliz. Assim a manhã: esse o lugar dos seus sonhos, enfim, e a madame infeliz. Será que enlouquecera? Pior, está envelhecendo, não, só sendo. Ora, alguma coisa roubava sua satisfação. A tarde, o desjejum, as amigas, os telefonemas: cabelereiros, manicures, ginástica, cinema, café e conversa em dia, requintes, o ápice da elegância, o poder, as posses, e a madame infeliz. Será que enlouquecera mesmo? Quantas extravagâncias, adorava excentricidades e mais o quê. Até isso agora a fazia infeliz. Já anoitecia e o tédio levou a perceber que ainda não havia feito: Paris, Quinta Avenida, os Alpes, todas as maravilhas, os amantes ocasionais, os casamentos desfeitos, as lembranças oníricas e a madame infeliz. Revistas, passeios, viagens, entretenimentos e ela infeliz. Tinha de fazer alguma coisa, motorista vai ali, volta, não, pra lá, direita, esquerda, gira: estou de saco cheio. Não devia ter dito e disse entre semáforos, viadutos, retornos. Nas proximidades de um supermercado, descobriu nunca ter ido. Ah, isso! Animou-se. Entra aí, pare e me espere. Pela primeira vez seguiu sem saber pra onde, pegou um carrinho entre gôndolas, gostou de se sentir só, escolhendo, dispensando, simpatias e ascos, desistiu de bebidas, comidas, de tudo. Um lixo. Foi pro caixa, nada pra pagar nem levar. Não queria nada. Queria saber quanto o passeio, pelo menos, abriu a carteira, nada para pagar, nada? E ficou mais infeliz. Saiu, dirigiu-se ao estacionamento e ordenou abrisse a mala do carro. Ao vê-la aberta e agora? Nada para fazer. De repente, começou a brincar de abre e fecha: puxa e encolhe, couro de pica. E repetia, abria e fechava, puxa e encolhe, couro de pica. E mais repetiu até gritar. Eis que notou alguém nas imediações assistindo a tudo. Envergonhou-se, fechou a mala com raiva, abriu a porta, acomodou-se e ordenou ao motorista que zarpasse e já, não antes passar pelo transeunte que havia testemunhado sua brincadeira. Ao se aproximar, ela baixou o vidro e gritou pra ele: puxa e encolhe, couro pica! E foi-se. Ah, a madame, finalmente, estava feliz. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor cultural Gilberto Gil: Live Festival Montreux, MTV Unplugged, Gilbertos Samba ao Vivo & Kaya n’Agadaya Vivo & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Pois foram os próprios homens que fizeram este mundo de nações (que foi o primeiro princípio incontestável desta Ciência, desde que nos desesperamos de encontrá-la nos filósofos e nos filólogos); mas este mundo, sem dúvida, saiu de uma mente frequentemente diversa e, às vezes, de todo contrária e sempre superior a estes fins particulares que os homens se haviam proposto; desses fins restritos, feitos em parte para servir a fins mais amplos, se serviram sempre para conservar a humana geração nesta terra. Por isso, querem os homens usar a libido bestial e dissipar seus benefícios, e fazem a castidade dos matrimônios, onde surgem as famílias; querem os pais exercerem desmedidamente os impérios paternos sobre os clientes, e sujeitá-los aos impérios civis, donde surgem as cidades; querem as ordens reinantes dos nobres abusar da liberdade senhorial sobre os plebeus, e tornam-se escravos das leis, que fazem a liberdade popular; querem os povos livres livrar-se do freio de suas leis, e seguem sujeitos aos monarcas; pois querem os monarcas, com todos os vícios que lhe assegurem a dissolução, aviltar seus súditos, e os dispõe a aceitar a escravidão de nações mais fortes; querem as nações dissiparem a si próprias, e vão salvar seus restos nas solidões, donde, como fênix, novamente ressurgem. O que fez tudo isso foi na verdade, a mente, pois que fizeram-no com inteligência; não é questão de destino, porque o fizeram com livre escolha; nem foi acaso, pois que com perpetuidade, sempre assim fazendo, chegaram às mesmas coisas. Assim pois, de fato, é refutado Epicuro, que defende o acaso, e seus seguidores, Hobbes e Maquiavel; é também refutado Zenão, e, com ele, Spinoza, que defendem o destino: ao contrário, foram confirmados os filósofos políticos, de que é príncipe o divino Platão, que estabelece como reguladora das coisas humanas a providência.[...]. Pensamento extraído da obra A ciência nova (Record, 1999), do filósofo e historiador italiano Giambattista Vico (1668-1744). Veja mais aqui.

ESCOLA & APRENDIZAGEM - [...] Para que a escola tenha algum sentido, os jovens, seus pais e professores precisam ter um deus a quem servir, ou, ainda melhor, vários deuses. Se não têm nenhum, a escola é inútil. O famoso aforismo de Nietzsche é pertinente aqui: ‘Quem tem um porquê para viver pode suportar bem um como.’ Isto se aplica tanto à aprendizagem como à vida. Para dizê-lo com simplicidade, não há meio mais seguro de pôr fim à escola do que não lhe atribuir um fim [...] o deus da Utilidade Econômica é impotente para criar razões para a escolaridade. Pondo de lado sua pressuposição de que educação e produtividade andam de mãos dadas, sua promessa de prover emprego interessante é, como tudo o mais, exagerada. Não há dados sólidos para acreditar que empregos bem renumerados e estimulantes estarão à disposição da maioria dos estudantes após a formatura [...]. Se soubéssemos, por exemplo, que todos os nossos estudantes desejavam ser executivos de grandes empresas, nós os treinaríamos para bons leitores de memorandos, relatórios trimestrais e cotações de papéis na Bolsa e não inquietaríamos a cabeça deles com poesia, ciência, história? Eu penso que não. Toda gente que pensa, pensa que não. A competência especializada ó pode vir por meio de uma competência mais generalizada; isto quer dizer que a utilidade econômica é um subproduto de uma boa educação. Qualquer educação voltada principalmente para a utilidade econômica é limitada demais para ser útil, e, de qualquer modo, amesquinha tanto o mundo que acaba zombando de nossa humanidade. No mínimo, amesquinha a ideia do que é bom aluno. [...] virtuoso é quem compra coisas, pecador é quem não compra. A semelhança entre este deus e o deus da Utilidade Econômica é flagrante, mas com esta diferença: este último postula que você é o que você faz para ganhar a vida, aquele diz que você é o que você acumula. [...]. Trechos extraídos da obra O fim da educação: redefinindo o valor da escola (Graphia, 2002), do professor crítico social e teórico da comunicação estadunidense Neil Postman. Veja mais aqui.

HEROIS & TUMBAS – [...] Uma energia atroz me possuía, eu me sentia uma mistura de força cósmica, de ódio e de indizível tristeza. Rindo e chorando, abrindo os braços, com essa teatralidade que temos quando adolescentes, gritei várias vezes ao alto, desafiando a Deus que me aniquilasse com seus raios, se é que existia. [...] Sim, mas podia ser um Deus imperfeito. Um Deus que não consegue controlar muito bem as coisas, que não consegue impedir os terremotos. Ou um Deus que dorme e tem pesadelos ou acessos de loucura: seriam as pestes, as catástrofes [...]. Trecho extraído da obra Sobre heróis e tumbas (Sudamericana, 1977), do escritor e artista plástico argentino Ernesto Sábato (1911-2011), romance que conta a devastadora paixão de Martin por Alejandra, o nascimento traumático de uma nação e a história da Seita Sagrada dos Cegos, decompondo o ciúme corrosivo de Martín, as pulsões incestuosas de Fernando, a radiografia da demência da família Olmos e o ódio fratricida dos caudilhos na luta pela emancipação da pátria. Veja mais aqui, aqui e aqui.

QUATRO POEMAS - CANÇÃO DE NINAR - Longe mata adentro, / Atravessando o remoinho, / Um chalé sem acalento, / Um lenhador bem pobrezinho. / O caçula reclamava por papá, – / De que forma fazê-lo parar? / Dorme, meu filhinho, dorme, / Eu sou uma mãe má. / Ouve cantar o passarinho / Que pousou nestes umbrais… / Foi dada uma cruzinha, / De presente, a teu pai. / A fome vem, a fome vai, / E fome em casa se aloja. / Que São Jorge / Livre e guarde teu papai. II - Torço as mãos sob o negro xale… / “Por que tanto te censuras?” / – Fiz que me ouvisse até deixá-lo / Embriagado de amargura. / Como esquecer? Ele saiu, cambaleando, / Nos lábios uma horrenda contorção… / Desci correndo, sem pegar no corrimão, / E no portão segurei ele pela manga. / Sufocada, eu gritei: “O que se deu / Foi brincadeira. Se tu fores, não agüento.” / Ele então com toda calma respondeu / E com frieza: “Não te exponhas tanto ao vento”. III -  Naquele tempo eu era hóspede na terra. / O nome que me deram de batismo – Anna, / Era doce aos ouvidos e aos lábios dos humanos. / Assim eu por milagre vi o júbilo terrestre / E, nem sequer contando vinte aniversários, / Eram tantas minhas festas quantos dias há no ano. / Obediente a certo ímpeto secreto, / Elegendo um desprendido pretendente, / O sol, apenas, eu amava, e as árvores. / Encontrei, certo verão, uma estrangeira / E àquela hora nas marés de águas quentes / Em que juntas nos banhávamos / Estranho pareceu-me o seu traje de banho / E mais estranhos os seus lábios e palavras – / Raras, como estrelas cadentes em setembro. / Delicada, ensinava-me a nadar / Com sua mão me apoiando por debaixo / O corpo inábil sobre as ansiosas ondas. / De repente estatelei naquelas águas azul-claras / Calmamente ela a mim se dirigiu, / E pareceu-me que a floresta com as frondes / Farfalhava, que a areia abria fendas / Ou que o fole de uma gaita, num assobio, / Anunciava a despedida, pois o sol ia se pondo. / Suas palavras, não podia me lembrar, / Caía a noite sombreando seu perfil, / O cabelo molhado circundando seu olhar, / Uma frestra que na boca entreabriu. / Como perante uma divina mensageira, / Supliquei para a menina: “Diz-me, / Para quê me surrupias a memória, / E sussurras-me ao ouvido, se a glória / De cantar o que ouvi, tu retiraste-a de mim?” / Só uma vez, eu passeando na vindima, / Enchi o meu de estimação cesto de vime / E, bronzeada, me sentei sobre o capim. / Pálpebras cerradas, os cabelos destrançava, / Lânguida estava e dos perfumes estafada / Que exalavam desde os figos azulados / E do hálito picante das silvestres hortelãs. / Do relicário da memória aproximou-se, / Essa delícia de palavras derramou, / E o cesto cheio eu lançando pelos ares / Para a terra me joguei como se fosse / Certo amado, a quem canta meu amor. REQUIEM: EM LUGAR DE UM PREFÁCIO - Nos anos desgraçados da iejóvtchina eu passei dezessete meses nas filas da prisão em Leningrado. Certa vez alguém me “identificou”. Então atrás de mim uma mulher de lábios azuis e que, é claro, nunca na vida ouviu falar meu nome, despertou do torpor, peculiar a todas nós, e me perguntou ao pé do ouvido (lá só aos sussurros se falava): – E isso, tu és capaz de descrever? E eu disse: – Sou. Então algo semelhante a um sorriso passou por aquilo, que algum dia foi seu rosto. [...]. Poemas da poeta acmeísta russa Anna Akhmátova (1889-1966). Veja mais aqui.

VIOLETTE NOZIÈRE
O drama Violette Nozière (1978), dirigido pelo cineasta francês Claude Chabrol (1930-2010), é inspirado na historia real da francesa Violette Nozière (1915-1966), que foi manchete da crônica judicial e criminal nos anos de 1933-34. Trata-se de uma jovem adolescente que se prostitui em segredo na década de 1930, fato ignorado pelos pais que acreditavam na criança brilhante que se tornou gradualmente rebelde. Em revolta contra o seu estilo de vida e mentalidade reduzidos, ela se apaixona por Jean Dabin, um jovem fisiculturista que vive praticamente graças a pequenos roubos na casa dos pais e ao benefício da prostituição ocasional. Enquanto isso, seus pais são informados pelo médico de Violette que ela tem sífilis. Ela consegue convencer mais ou menos sua mãe, ainda desconfiada, e seu pai, mais indulgente, do que de uma forma ou de outra, é virgem e deles que ela herdou a doença. Graças a esse pretexto, ela os leva a tomar uma droga que é realmente veneno. Seu pai morre, mas sua mãe foge e ela presa e acusada de assassinato. Para se defender, ela afirma que seu pai abusou dela. Condenada por envenenamento e parricídio, Violette Nozière é condenada à morte. Sua sentença foi gradualmente liberada com base em uma acusação que ela fez sobre o abuso dela por parte do pai. O destque do filme fica por conta da atuação da premiada atriz francesa Isabelle Ann Huppert.


O livro Borges & Eugénio & muito mais na Agenda aqui.
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As drogas e as campanhas antidrogas aqui.
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A arte da fotógrafa estadunidense Imogem Cunningham (1883-1976).
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Pelas ruas onde andei: Pra quem vem ou vai, mesmo caminho, diferentes vivências aqui.
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O plenilúnio do amor (ou os arquétipos de Luciah Lopez), a literatura de Jorge de Lima, a poesia de Ana Cristina Cesar, o pensamento de Ernest Hans Gombrich, O mundo da leitura de Marisa Lajolo, A mudança tecnológica de José de Mello Júnior, a arte de Wendy Arnold & Agostino Carracci, Literótica: O amor mais que de repente, A paixão de Aristóteles & As previsões do Doro para Touros aqui.
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Biritoaldo vai ao inferno, A música de Gilberto Gil & a arte de Tchello D’Barros aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.