MEU CORAÇÃO CHOVE LÁ FORA – Imagem: arte da
professora e artista visual Teresa Poester. - Chove lá fora e meu coração é véspera do estio, uma vez e
nada mais. Transido de frio, expôs-se ao fogo e, entre as áureas labaredas do
amor, aprendeu o milagre das cinzas ao vento pelos aflogísticos vitais, pra revivescência
improvável na finitude, o calor das paixões. Enterrou-se ao chão para aprender,
nos giros de si e ao redor de tudo, a roda-viva dos labirintos com todos os
caminhos que brotam da semente pra raiz a nascer na terra, fiapo de vida a
ascender por galhos e frondoso até ser levado às alturas do tempo aos confins
do porvir, quando tudo é nada e apenas sou o que sou entre simulacros e azáfamas.
E se ao mormaço a esperança envergo, dou-me à resistência por salvação, diante
do solo que sumiu na primeira esquina que não há mais por tantas multiplicadas
nos espelhos do dia, a me confundir das memórias dos talhos. E se queimo na
insolação, dou-me carne retalhada pelo agreste pedregoso de todas as arranhuras
e tocaias, sobrevivente da hora, até saber novamente da chuva lá fora e meu
coração estiado na solidão, aprendeu viver aos ventos que vão e voltam entre
folhas e flores que caem e sou eu levitando sem direção, até pousar quase longe
de onde jamais soubera haver por destino, errâncias e sucumbências de nunca escapar.
E levado intruso pelos declives líquidos que dão nas poças esborradas por
nesgas e valas até às corredeiras pros leitos chegar à fonte e beber da água
cristalina para matar a sede de milênios pelos poros. Depois tomado pelo regato
aos caudais e cascatas e mergulhar no mar, o batismo das profundezas abissais. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do musicista e compositor erudito Calimério Soares (1941-2011): Lamento & Dança, Momentos nordestinos,
Suíte Juvenil & Suíte Antiga & muito mais nos mais de 2 milhões de
acessos ao blog & nos 35
Anos de Arte Cidadã. Para
conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] precisamos saber que não há sociedade
harmoniosa, funcional, em que o individual e o social se ajustem perfeitamente
um ao outro, e cujo produto natural seja a felicidade. É preciso saber, o que é
ainda pior, que o mal se oculta na ideia de salvação social. [...]. Pensamento extraído da obra Para sair do século XX (Nova Fronteira, 1986) do
antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, que em outra obra Introdução ao pensamento Complexo (Instituto Piaget, 2008),
expressa que: [...] creio profundamente
que quando menos um pensamento for mutilador, menos mutilará os humanos. É
preciso lembrar os estragos que as visões simplificadoras fizeram, não apenas
no mundo intelectual, mas na vida. Muitos dos sofrimentos que milhões de seres
suportam resultam dos efeitos do pensamento parcelar e unidimensional.
[...]. Veja mais aqui.
CULTURA & SOCIEDADE - [...] cultura
é mais do que uma mera ideologia. Em vista dos objetivos que a civilização
ocidental declara e da pretensão de realizá-los, definiríamos Cultura como
processo de humanização
(Humanisierung) caracterizado pelo esforço coletivo para conservar a
vida humana, para pacificar a luta pela existência ou mantê-la dentro de
limites controláveis, para consolidar uma organização produtiva da sociedade,
para desenvolver as capacidades intelectuais dos homens e para diminuir e
sublimar a agressão, a violência e a miséria [...]. Trecho extraído da obra
Cultura e sociedade (Paz e Terra,
1998), do sociólogo e filosofo alemão pertencente à Escola de Frankfurt, Herbert
Marcuse (1898-1979). Veja mais aqui.
A SENHORA FROLA E O SENHOR PONZA – [...] Compreende-se que uma filha, casando, deixe
a casa da mãe para ir viver com o marido. Mesmo que seja numa outra cidade; mas
que esta mãe, depois, não podendo suportar a ausência da filha, abandone a sua
cidade, a sua casa, e vá procurá-la, e que, na cidade onde tanto ela como a filha
são forasteiras, vá morar numa casa à parte, é o que se não compreende muito
facilmente; ou, então, deve-se admitir que, entre a sogra e o genro, existe uma
incompatibilidade tão grande que torna realmente impossível a convivência,
ainda mesmo nestas condições. [...] Não
pode ser outra coisa. Do contrário, como explicar todos os cuidados, todas as
atenções que ele lhe dispensa, a ela, sua sogra, dada a hipótese de que ele
ainda acredite que é, de fato, uma segunda esposa a que possui? Não se sentiria
obrigado a ser tão atencioso para com uma mulher que, a ser assim, teria
deixado de ser sua sogra, não é verdade? E não é para provar – note-se bem! – que
o louco é ele, que a Senhora Frola diz isto tudo; é, de preferência, para se
convencer, a si mesma, de que as suas suspeitas são fundadas. [...] e toda vez que ambos se encontram,
casualmente, na rua, com a maior cordialidade, continuam andando juntos; ele
lhe dá a direita e, se ela se cansa, lhe estende o braço e vão assim, juntos,
entre o despeito surdo e o espanto e a consternação do povo, que os estuda, os
examina, os observa, e, nada! Ainda não consegue, de modo algum, compreender
qual dos dois é o louco, onde está o fantasma, e onde a realidade... [...].
Conto extraído da obra Contos
(Relógio D’Água, 2012), do dramaturgo, poeta, romancista siciliano e Prêmio
Nobel de Literatura de 1934, Luigi Pirandello (1867 – 1936). Veja mais
aqui.
E LHE CANTEI ENTÃO ESTE ACALANTO - Dorme, Minotauro, Mouro / da mais amarga
Veneza, / mudo amor na correnteza / do balbucio, homem-touro / tossindo no
labirinto / da névoa e da solidão, / cala o instinto e o indistinto / e dorme,
descansa, irmão! / Não existes, não existo, / nada existe neste mundo / aquém
ou além do fundo / da linguagem. É tudo um misto / de silêncio e de ruído / no
coração de quem sofre / preso num malentendido / como um inseto num cofre. /
Perdoa-te… Nada ganhas / com dar e redar teus nós / na teia da velha aranha /
retendo e perdendo a voz / no pescoço que partiste: / a garganta bipartida /
entre a elegia do triste / e o último sopro da vida / não te vai dizer mais
nada. / Tudo o que pôde foi dito. / No silêncio, na calada / da noite, escuta o
infinito / para além da grade, tua / e dos outros prisioneiros / entre a
linguagem e a luta. / Os últimos e os primeiros / tampouco entenderam Aquele /
que ia morrer e lhes disse / que este universo era Dele / e o resto tudo
crendice. / Nem tudo é só desperdício. / Tudo e nada nesta vida / se confundem,
fim e início, / chegada como partida / trocam-se em pura ruína / mas o verme
engole a aranha, / believe it or not!
A sina / que escolhestes não se ganha / sem um sacrifício imenso, / mas que
vale mais que a cena / em que por causa de um lenço / Otelo mata Desdêmona / ou
o velho rei Lear, / louco e só, só pelo e osso, / vê e não vê balançar /
Cordélia pelo pescoço. / Se o amor não aprende a língua / do ser amado, esse
amor / é um louco morrendo à míngua / do que seja, ou do que for… / Deixa-te
embalar, amigo, / como eu me deixo cantar / este acalanto e te digo, / te juro
que o verbo amar / só Deus conjuga contigo. Poema do poeta Bruno Tolentino (1940-2007). Veja mais
aqui.
SETE MULHERES DE DIFERENTES IDADES
O
documentário curta-metragem Sete Mulheres
de Diferentes Idades (Siedem kobiet w róznym wieku, 1978), do premiadíssimo cineasta
polonês Krzysztof Kieslowski (1941-1996), traz a cidade de Lodz que possui
uma tradicional escola de cinema e foi lá que grandes cineastas estudaram. Como
trabalho de conclusão de seu curso nessa instituição, Kieslowski decidiu
homenagear a cidade, produzindo Da Cidade de Lodz (1968). Trata-se de um relato sobre
as tradições e cultura de Lodz, suas potencialidades e desenvolvimento, a
exemplo de uma fábrica têxtil onde todas as funcionárias são mulheres,
representando a força feminina do local, algo explicitado na cena onde
Kieslowski, após mostrar o esforço das senhoras, corta para homens fazendo
nada. Destaca também a influência da música sobre a cultura local, ressaltando
como os habitantes ficam ansiosos pelos festivais musicais e apresentações da
orquestra local. Cada dia da semana é representado por uma bailarina começando
com uma garotinha e terminando com uma velha professora. Veja mais aqui.
&
A arte da professora e artista visual Teresa Poester.
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Versos à flor da pele na prosa de um poema, o cinema de Jean-Luc Godard, a escultura de Bertel Thorvaldsen, a música de Sharon Corr & a arte de Luciah Lopez &
Elke Lubitz aqui.
&
Da semente ao fruto, a vida, Dinheiro de Axel Capriles, o teatro de Luigi
Pirandello, a música de Yuja Wang & a arte de Andrea Medjesi-Jones aqui.
APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São
Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.