quarta-feira, junho 27, 2018

GUIMARÃES ROSA, LEFEBVRE, GERARDO MOURÃO, GOLDMANN, VERA CHAVES, VLADO, ALAGOINHANDUBA, ZEZÉ MOTTA & MAIRA FREITAS


O QUE SERÁ DO QUE SEMPRE FOI – Imagem: arte da pintora, fotógrafa, gravurista e xilogravurista Vera Chaves Barcellos. - Alagoinhanduba não saiu na manchete do jornal! Nunca, nem poderia, a mesma vida besta de sempre. Tirante certa vez as acrobacias dum comboio de OVNIs, capitaneado pelo Padre Bidião e seguido por seus nove clones e beatas mil na maior das farras, e o encerramento ruidoso do Big Shit Bôbras com toda população furiosa no maior linchamento por sobre catabís e pés na bunda, nada mais passou além de boatos e fuxicaria na maior normalidade. Bem que podia, é que uns dias chovem, outros mais e sempre sim, apesar do império do sol que, invariavelmente, é deposto da sua soberania por chuvadas adventícias. Do contrário, como dizem as más línguas, entre uma casa e outra um corno pede penico e tudo termina bem. Ali todos amam a terra e a corroem como britadeiras predatórias e prosperam, falem e se dizem amigos na hora da fartura e da miséria, apesar de falarem mal uns dos outros, bastando virar as costas e logo, então, passar o ausente pra banda dos desafetos com uma punhalada nas costelas – a menos que acertem na titela -, do tipo inimigo público número 1. Não há quem não veja por conta própria atos de caridade festiva aos abraços, perdigotos e flatulências em pleno meio dia, quase todo dia da semana. Tapinhas nas costas, pulhas e risadagens fazem o repertório das saudações diárias, e isso faz aquela do que foi e o que não é, o que há de muvuca e de perdição, é coisa pouca, pois, se tivesse de escolher entre a vida e a morte, por mais não se saberia da lida trôpega, o batalhão de invejosos que mutuamente não se suportam, as intrigas frequentes pelas insuportáveis vaidades e hipocrisias, quanta mesquinharia, meu Deus, entre professores sabichões, bestas quadradas e vilões, tirante uma grande percentagem quase maioria de sem-vergonhas com todas as regras higiênicas e morais, afora as pilantragens e fanfarronices usuais, uma solução para tudo no meio duma gambiarra que não passa de uma leviandade, e nem se atrevem a dizer na cara, porque sequer sabem o que é de João, o que é de Zé, se Maria e Zefinha não se entendem mais, o amor e seus desatinos no peito com o eco das paixões não perdendo por esperar. Todo mundo lá quer o saco do Papai Noel, vez que há um espírito natalino todo final de semana, quando na segunda haja guerra com peido-de-véia pra cima e pra baixo, pé-na-goela, golpe baixo e rasteiras, pra render na sabedoria popular do pé na cova, a abjeção ao parasita de plantão e um monte de aborrecimentos que deles procedem e que afinal são todos que não se reconhecem como tais. Mas, quem não, né, ainda se encontram com seus janeiros, setembros e maios, uma só brecha e o irrenunciável atiça os confins de trilhas opostas, se ofendem, arengam, fazem as pazes, enquanto as facas afiadas do tempo vão pras vésperas das saudades agudas, no meio dos rumores das fontes e cada um arrimo dum e doutro, na maior torcida de araque, até onde se pode ver a visão e as vendas da ignorância, a surdez pelos gritos do compadrio aos pipocos de pistolas, as mordaças das evacuações orais por conta de que ninguém é besta de meter a língua nos dentes e acabar mudo de pai e mãe, o paladar pras bufadas dos maiorais sem poder regurgitar o que está saindo pelo ladrão de tão indigesto, o olfato sem distinguir dos perfumes e catingas porque vale mesmo a ocasião, o tato e a confusão das superfícies e texturas por conta dos cheleleus e suas paparicadas na maior da caboetagem, o raso e as funduras nem aí que está bom demais, as paredes e grades pra quem não tem simancol de respeitar carteirada, as rezas e novenas pros calabouços e grilhões do coração, porque tudo que vai pra lá volta pra cá e amanhã será outra coisa e ninguém está bestando de cuspir pra cima e não sair de baixo, porque o que vem de cima não escolhe vítima e Alagoinhanduba passa noite e passa dia é a mesma de sempre desde sempre, haja o que houver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora e atriz Zezé Motta: Missão & 45 anos na ABL; a pianista e cantora Maira Freitas: Nua & Êta; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Como o valor de uso, a solidariedade consciente e deliberada entre os homens é relegada ao domínio privado das relações de família ou de amizade; nas relações inter-humanas gerais e notadamente nas econômicas, pelo contrário, a função de uma e de outra tornou-se implícita, obscurecida pelos únicos fatores que fazem agir o egoísmo do Homo-oeconomicus, que administra racionalmente um mundo abstrato e puramente quantitativo de valores de troca. [...]. Trecho extraído da obra Dialética e Cultura (Paz e Terra, 1991), do filósofo e sociólogo francês Lucien Goldmann (1913-1970). Veja mais aqui, aqui e aqui.

A CIDADE & O DIREITO À VIDA – [...] a cidade, obra e ato perpétuos, dá lugar a instituições específicas: municipais. As instituições mais gerais, as que dependem do Estado, da realidade e da ideologia dominante, têm sua sede na cidade política, militar, religiosa. Elas aí coexistem com as instituições propriamente urbanas, administrativas, culturais. [...] O direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O direito à obra (à atividade participante) e o direito à apropriação (bem distinto à propriedade) estão implicados no direito à cidade. [...]. Trechos extraídos da obra A natureza e o domínio da natureza (Paz e Terra, 1969), do filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre (1901-1991), que em outra obra Uma revolução cultural não pode desenrolar-se fora do campo política (Revista Triunfo – Editorial O Século, 1970), expressou que: [...] Trata-se de problemas urbanos, talvez isso se deva ao fato de ser na cidade – mais do que na indústria, como força econômica – que descobriremos, que revelaremos, as condições desta apropriação, pelo ser humano, da sua própria vida, dos seus próprios desejos, do tempo e do espaço em seu redor. [...].

A TERCEIRA MARGEM DO RIO - [...] Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho. Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa. No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava. [...]. Trecho extraído do conto A terceira margem do rio, recolhido da coleção Ficção Completa (Nova Aguilar, 1994), do escritor, médico e diplomata João Guimarães Rosa (1908-1967). Veja mais aqui e aqui.

UM POETA - Hás de testemunhar ruínas / antes de existirem ruínas: / engenheiro de troços e destroços / empreitaras demolições — / desmoronaste muros. / Profeta — risca riscaste riscarás / roteiros de pássaros no ar — e riscas / calendários passados e futuros — riscas / a arquitetura dos escombros / antes durante e depois deles / os tempos ouvem ouviram e ouvirão / esses passos de pedra / que pisam pisaram pisarão / rosa, lírio, jasmim e às vezes / ovelhas imoladas. / Maios, janeiros, setembros e os outros meses / meses azuis e meses pluviais / te saúdam à beira das falésias à beira-mar à beira-rio / à beira-abismos à beira séculos: / piloto do naufrágio / governador dos tempos tetrarca dos milênios / arquivista — tabelião das eras / só os dias, poeta, e as noites, te conhecem / sabem teu nome / e nenhum outro nome. Poema do poeta, jornalista, tradutor e biógrafo Gerardo Mello Mourão (1917-2007). Veja mais aqui e aqui.

VLADO 30 ANOS DEPOIS
O documentário Vlado - 30 Anos Depois (2005), dirigido pelo cineasta, roteirista e escritor João Batista de Andrade, oriundo do livro homônimo escrito pelo diretor, conta a história do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, que foi torturado e assassinado na prisão, em 1975 durante o regime militar brasileiro, com os depoimentos e memória das pessoas que conviveram com ele.


O Seminário de Grupos de Pesquisa sobre Crianças e Infâncias (GRUPECI) & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte da pintora, fotógrafa, gravurista e xilogravurista Vera Chaves Barcellos.
&
As muitas e tantas de Alagoinhanduba aqui, aqui & aqui.
&
Ela acolheu meu desterro, a literatura de Vidiadhar Naipaul, a música de Keith Jarret, Sueli Costa, Eumir Deodato & Rita Lee, a arte de Ewa Ludwiczak & Luciah Lopez aqui.
&
O amanhã de ontem pra hoje, a literatura de Guimarães Rosa, o cinema de Krzysztof Kieslowski, a arte de Tarsila do Amaral & a música de Marcus Viana aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.