quarta-feira, maio 06, 2015

TAGORE, FREUD, ARTAUD, COSTA-GAVRAS, VAN GOGH, FÁTIMA GUEDES, TAHAN & LIA RODRIGUES.

Imagem: Semeador com o por do sol (1888), Otterlo, Kröller- Müller Museum, do pintor pós-impressionista neerlandês Vincent van Gogh (1853-1890). Veja mais aqui.

Quero que você me venha de manhã
Plantar a luz do sol
Com sua fonte a minar
E em mim se escorrer
E aguando esta ternura
A gente dê vontade de nascer:
Beijar-lhe o ventre
E ver a vida a rolar
Vai ser demais!
O tempo vai ruir pra nós
Desexistir
Incendiar o corpo
A voz
A sede saciar na foz
Assim
Sedento
A diluir-se em flor
Pelos confins
Em você onde sou eu
Será promessa inteira do querer?
Amor,
Que vai ser de mim
Se um dia essa vontade de viver
Perder o amor de vista
E esquecer
Angústia de não ter raiz?
O ar desvencilhar-se do nariz?
Será de mim,
O que será do meu coração?
Será de mim...
(Fonte, letra & música de Luiz Alberto Machado)


Ouvindo álbum Muito intensa (1999), da cantora e compositora Fátima Guedes, reunindo suas parcerias com Joyce, Djavan, Nei Lopes, Adriana Calcanhoto e Ivan Lins.


PROGRAMA BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do Programa Brincarte do Nitolino, nos horários das 10hs e das 15hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação de Ísis Corrêa Naves. Para conferir online, clique aqui ou aqui.

MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO – O livro Mal-estar na civilização (1930 – Imago, 1996), do médico neurologista e criador da Psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), trata a respeito de temas como o mundo humano e sua vida mental, a religião é uma ilusão, o princípio do prazer e o princípio da realidade, sentimento oceânico: unidade com o universo, medidas paliativas: derivativos poderosos, satisfações substitutivas e substancias tóxicas; felicidade e infelicidade, a técnica da arte de viver, as influencias do desenvolvimento da civilização, o homem primevo e o trabalho, Eros e Ananke, Homo homini lúpus, conceito de Narcisismo, a libido narcísica e a libido objetal, neuroses traumáticas e psicoses, neuroses de transferência, a civilização e o sentimento de culpa: a inibição da agressividade, o ego e o superego, o desamparo e a dependência do outro, as premências egoístas e altruístas, o superego cultural ou da civilização, a ética e o superego cultural: os homens, os juízos e as ilusões, entre outros assuntos. Da obra destaco os trechos: A vida, tal como a encontramos, é árdua demais para nós, proporciona-nos muitos sofrimentos, decepções e tarefas impossíveis. A fim de suportá-la, não podemos dispensar as medidas paliativas [...] Esforçam-se para obter felicidade; querem ser felizes e assim permanecer. Essa empresa apresenta dois aspectos: uma meta positiva e uma meta negativa. Por um lado, visa a uma ausência de sofrimento e de desprazer; por outro, à experiência de intensos sentimentos de prazer [...] todas as normas do universo são-lhe contrárias. Ficamos inclinados a dizer que a intenção de que o homem seja ‘feliz’ não se acha incluída no plano da ‘Criação’ [...] Considera a realidade como a única inimiga e a fonte de todo sofrimento, co9m a qual é impossível viver, de maneira que, se quisermos ser de algum modo felizes, temos de romper todas as relações com ela. [...] A religião restringe esse jogo de escolha e adaptação, desde que impõe igualmente a todos o seu próprio caminho para aquisição da felicidade e dá proteção contra o sofrimento. Sua técnica consiste em depreciar o valor da vida e deformar o quadro do mundo real de maneira delirante – maneira que pressupõe uma intimidação da inteligência. A esse preço, por fixa-las à força num estado de infantilismo psicológico e por arrastá-las a um delírio de massa, a religião consegue poupar a muitas pessoas uma neurose individual. Dificilmente, porém, algo mais. [...] descreve a soma integral das realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a dois intuitos, a saber: o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar os seus relacionamentos mútuos [...] Reconhecemos como culturais todas as atividades e recursos úteis aos homens, por lhes tornarem a terra proveitosa, por protegerem-nos contra a violência das forças da natureza, e assim por diante [...] O homem, por assim dizer, tornou-se uma espécie de ‘Deus de prótese’. Quando faz uso de todos os seus órgãos auxiliares, ele é verdadeiramente magnifico; esses órgãos, porém, não cresceram nele e, às vezes, ainda lhe causam muitas dificuldades [...] as frustrações da vida sexual são precisamente aquelas que as pessoas conhecidas como neuróticas não podem tolerar. O neurótico cria, em seus sintomas, satisfações substitutivas para si, e estas ou lhe causam sofrimento em si próprias, ou se lhe tornam fontes de sofrimento pela criação de dificuldades em seus relacionamentos com o meio ambiente a sociedade a que pertence [...] A civilização, porém, exige outros sacrifícios, além da satisfação sexual [...] O homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança [...] Veja mais aqui e aqui.

O JARDINEIRO DO AMOR – O livro O jardinheiro do amor (Thesaurus, 1983), do poeta e músico indiano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Rabindranath Tagore (1861-1941), reúne os poemas originalmente escritor em bengali oriundos de sua máxima elevação espiritual e dulcíssimo sentimento humano, por meio de ritmo melodioso de suas frases e singeleza de suas imagens. Do livro destaco o poema LVII: Colocorás, formosa minha, tua grinalda de flores recém colhidas, em meu pescoço? Porém, antes de fazê-lo, deves saber que a grinalda que eu entrelacei é para muitas; para aquelas que se descobrem somente com olhares rápidos; que moram em terras inexploradas ou vivem nas canções dos poetas. É muito tarde para que me peças o coração em troca do teu. Houve um momento em que minha vida era igual a um botão de flor que trazia todo perfume oculto em seu coração. Agora, transbordou, por todas as bandas da vida. Quem conhecerá o feitiço capaz de concentrá-lo e encerrá-lo outra vez? Meu coração não me pertence; não posso entrega-lo a uma só; a tantas eu já o dei... Veja mais aqui.

O HOMEM QUE CALCULAVA – O livro O homem que calculava: aventuras de um singular calculista persa (Record, 1987), do escritor, pedagogo e matemático brasileiro Malba Tahan (1895-1974), conta a história das aventuras e proezas matemáticas do calculista persa Beremiz Samir, na Bagdá do século XIII, explicando de modo extraordinários os diversos problemas da matemática, incluindo lendas e histórias pitorescas. Da obra destaco o trecho inicial: Em nome de Alá, Clemente e Misericordioso! Voltava eu, certa vez, ao passo lento do meu camelo, pela estrada de Bagdá, de uma excursão à famosa cidade de Samarra, nas margens do Tigre, quando avistei, sentado numa pedra, um viajante, modestamente vestido, que parecia repousar das fadigas de alguma viajem. Dispunha-me a dirigir ao desconhecido sala trivial dos caminhantes quando, com grande surpresa, o vi levantar-se e pronunciar vagarosamente: - Um milhão, quatrocentos e vinte e três mil, setecentos e quarenta e cinco! Sentou-se em seguida e quedou em silêncio, a cabeça apoiada nas mãos, como se estivesse absorto em profunda meditação. Parei a pequena distância e pus-me a observá-lo, como faria diante de um monumento histórico dos tempos lendários. Momentos depois o homem levantou-se novamente e, com voz clara e pausada, enunciou outro número igualmente fabuloso: - Dois milhões, trezentos e vinte e um mil, oitocentos e sessenta e seis! E assim, várias vezes, o esquisito viajante pôs-se de pé, disse em voz alta um número de vários milhões, sentando-se em seguida, na pedra tosca do caminho. Sem poder refrear a curiosidade que me espicaçava, aproximei-me do desconhecido e, depois de saudá-lo em nome de Allah (com Ele a oração e a glória), perguntei-lhe a significação daqueles números que só poderiam figurar em gigantescas proporções. - Forasteiro – respondeu o Homem que Calculava -, não censuro a curiosidade que te levou a perturbar a marcha de meus cálculos e a serenidade de meus pensamentos. E já que soubesse ser delicado no falar e no pedir, vou atender ao teu desejo. Para tanto preciso, porém, contar-te a história de minha vida! E narrou o seguinte [...]. Veja mais aqui.

ESCRITOS DE UM LOUCO – O livro Escritos de um louco (1945), do poeta, ator, dramaturgo e diretor de teatro francês Antonin Artaud (1896-1948), reúne narrativas de viagem iniciadas em 1936 pelo autor, englobando cartas e escritos diversos, entre os quais destaco Van Gogh: o Suicidado Pela Sociedade: Pode-se falar da boa saúde mental de van Gogh, que em toda sua vida apenas assou uma das mãos e, fora disso, limitou-se a cortar a orelha esquerda numa ocasião. Num mundo no qual diariamente comem vagina assada com molho verde ou sexo de recém-nascido flagelado e triturado, assim que sai do sexo materno. E isso não é uma imagem, mas sim um fato abundante e cotidianamente repetido e praticado no mundo todo. E assim é que a vida atual, por mais delirante que possa parecer esta afirmação, mantém sua velha atmosfera de depravação, anarquia, desordem, delírio, perturbação, loucura crônica, inércia burguesa, anomalia psíquica (pois não é o homem, mas sim o mundo que se tornou anormal), proposital desonestidade e notória hipocrisia, absoluto desprezo por tudo que tem uma linhagem e reivindicação de uma ordem inteiramente baseada no cumprimento de uma primitiva injustiça; em suma, de crime organizado. Isso vai mal porque a consciência enferma mostra o máximo interesse, nesse momento, em não recuperar-se da sua enfermidade. [...] Veja mais aqui.

AMEM – O filme Amen (2002), do cineasta grego Costa-Gavras, é baseado na peça teatral The Deputy, a Christian Tragedy (1963), de Rolf Hochhuth, contando a história de um oficial SS que desenvolve o processo para erradicar a tifo e descobre que o mesmo é usado para extermínio de judeus, razão pela qual tenta avisar ao Papa Pio XII sobre as câmaras de gás, não recebendo nenhuma manifestação do Vaticano. Traz uma analise acerca das ligações entre o Vaticano a Alemanha nazista, causando polêmicas, inclusive, pelo pôster do filme criado pelo fotógrafo italiano Oliviero Toscani. E como sempre fui apreciador da obra deste grande cineasta, desde Z, Estado de Sítio e outros grandes filmes, verdadeiros documentários denunciantes das mais diversas mazelas humanas, registrando até que ponto vai a capacidade humana de fabricar o descaso, a desfaçatez e a crueldade. Veja mais aqui, aqui e aqui.


IMAGEM DO DIA
Espetáculo Aquilo de que fomos feitos (2000), da Cia de Dança Lia Rodrigues (RJ) – Premio de Melhor Coreografia e Melhor Trilha Sonora (Rio Dança, 2000) e Prêmio Herald Angel (Fringe Festival – Edimburg, 2002).


Veja mais sobre:
O sisifismo da semana, Tempo e antitempo na ficção de Luiz Toledo Machado, Quingumbo & a poesia norte-americana, Tempo & literatura de Raúl H. Castagnino, Händel & Meghan Lindsay, a música de Paulinho da Costa, a pintura de Mary Addison Hackett & Steve Hester, Alain Bonnefoit & Robert Rauschenberg, a arte de Nina Moraes & Trampo aqui.

E mais:
Brincar para aprender aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
Canto a mim mesmo de Walt Whitman aqui.
Brincarte do Nitolino, A forma fêmea de Walt Whitman, O rapto de Perséfone & Gian Lorenzo Bernini, a música de Richard Strauss & Diana Damrau, Evolução do Teatro de Francis Fergusson, o cinema de Reinaud Victor & Sandrine Bonnaire, a pintura de Alessandro Bronzino & a charge de Charb aqui.
A desgraça de um é a risada de outro, a música de Gonzaguinha, a pintura de Rosie Scribblah & Milton Dacosta, a arte de Jean-Michel Basquiat & Nitolino no Reino Encantado de Todas as Coisas aqui.
Dos gostos e desgostos da vida, a pintura de Claude Monet, a escultura de Ewald Mataré, a fotografia de Chris Maher, a arte de Marlina Vera & Quanto mais a gente vive, mais se enrola nas voltas do tempo aqui.
A República no reino do Fecamepa: lições de ontem e de hoje pro que não é, A República de Platão & Cícero, O príncipe de Nicolau Maquiavel, O espírito das leis de Montesquieu, O contrato social de Jean-Jacques Rousseau, História da consciência de classe de Georg Lukács, Escitos & ensaios de Norbert Elias, Ética pós-moderna de Zygmunt Bauman & Revolução burguesa no Brasil de F aqui.
Abram alas pra revolta passar que os invísiveis apareceram, Neurofilosofia & Neurociência Cognitiva, a pintura de Amadeo de Souza-Cardoso & a fotografia de Debora Klempous aqui.
As escolhas entre erros e acertos, a música de Laura Canabrava, a escultura de Armand Pierre Fernandez, a pintura de Alexandra Nechita & a arte de Raceanu Adrian aqui.
Das vésperas & crástinos na festa do amor, o cinema de Peter Greenaway & Helen Mirren, a pintura de Dalu Zhao, a arte de Luciah Lopez, A Notícia & Jamilton Barbosa Correia aqui.
O melhor do dia do homem é saber que todo dia é dia da mulher, a xilogravura de Gilvan Samico & a arte de Francisco Milani aqui.
O mundo todo cabe em um ato de paz, a pintura de René Magritte, a arte de Paul Vilinski, a música de Cláudio Nucci & a escultura de Ricardo Brennand aqui.
Fecamepa – quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
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