sábado, agosto 04, 2012

MONIQUE WITTIG, FRANK HERBERT, MICHAEL MCCLURE, ATHOS BULCÃO, MARILYN, HUNDERTWASSER, VIEIRA, JOÃO CARLOS TEIXEIRA GOMES

 

A arte do escultor e pintor Athos Bulcão (1918-2008).

 


PARÊNTESIS LUXURIOSOS - I - (entre eu e eu, um homem e um animal. Um homem que se inicia, ilumina, transcende e comunga imanente com tudo e todas as coisas. Um animal lobo sedento e insaciável, soturno e insone. Quando equilibra o ser, domando e apascentando a fera indômita de si próprio, o eflúvio místico da sabedoria se insinua e eis que, na calmaria dos sentidos, surge do inopinado uma mulher linda e nua, olhos manhosos, rosto belo, boca sedutora, cabelos sedosos ao ombro, seios de fruta deliciosa, braços convidativos, ancas arredondadas, ventre palpitante, coxas e pernas bem delineadas. Esconde-se, então, o homem e se pronuncia o animal indomável que arde perante a imagem carnal mais cobiçada, até alcançar o lado extremo do prazer que ela proporciona. É nisso que assimilo Zaratustra, no momento em que "o homem é uma corda atada entre o animal e o além do homem, uma corda sobre o abismo". E essa rede abissal se forma desde remota infância, menininho miúdo, bolinha risonha, arrodeado e paparicado por mulheres e por todos os lados: tias, primas, sobrinhas, madrinhas, afilhadas, enteadas, vizinhas. Tudo cheirando meu ventre miúdo e acendendo minha incipiente satisfação. Havia até uma delas que cochilava com meu pingulizinho na boca de manhã, ou de tarde, ou de noite. Eu quietinho, nem chorava. Só esperneava com fome ou por falta de uma mulher ao meu lado. Assim fui crescendo, deitando no chão só para ver o segredo embaixo das saias. Minha tia se aperreava quando saía do banheiro enrolada numa toalha que eu me escondia embaixo. Aprontava das muitas. Fechadura de portas de quarto de fêmea, era o meu predileto passatempo. Até meus quatro anos quando conheci a professora peituda e bunduda, dela nascia meu gosto felliniano pelas desproporções, a ponto de colocar um espelhinho no sapato só para flagrar suas intimidades. Quanto mais peituda, mais se acentuava minha paixão infantil. Mesmo, e uma coisa curiosa ocorreu alguns anos atrás quando uma amiga minha, Cleonice, uma daquelas pessoas que a gente tem afinidade parecendo mais que já foi íntima da gente noutra encarnação, e eu gozava de sua estreita amizade.; até o dia em que, anos e anos no meio de tantas e tantas transparências confidenciais trocadas na maior cumplicidade de amigos, entreguei minha fantasia sexual: volumosos seios e carnes excedentes. Ao término do almoço no restaurante, ela saiu muda, acompanhando meu palavreado, eu nem me tocando que algo havia desgostado nela. Não havia como eu perceber que a anatomia que havia descrito, batia de cara com o seu ser. Eu não possuía essa maledicência. Não, Cleo, eu nunca cantei uma mulher. Minha timidez nunca permitiu e nunca, jamais fui possuído por tal ousadia. Sempre usei de outras mais sutis alternativas - abordagens com uma olhada tímida e persistente, provocando esbarrar na pessoa, deixando a coisa fluir com naturalidade, em tempo algum com uma cantada - para conseguir as mulheres que me deram a graça dos meus braços e provando de meu corpo. Cleo não entendera isso, e eu perdera uma linda amizade. Mas eu não vou aqui fazer um relato como a da Thérèse Philosophe, muito menos um diário como o de Kierkegaard porque voo pelo que persuade a não amar apenas uma, mas muitas e que deus fique com o céu, que eu fico com ela, nem uma pregação do hedonismo sofista de que nada é mais importante que o prazer. Não. Devo dizer que sempre ambicionei encontrar o Eldorado, não pela busca da riqueza ou outros louros, mas pela justiça e equidade social.; sempre procurei Canãa nalgum lugar, alhures; sempre invoquei Shangri-lá, a Cidade do Sol de Campanela, a L"an 2440 de Mercier, a Nova Atlântida de Francis Bacon, a Utopia de Thomas Moore, e todos esses lugares inatingíveis, só foram reunidos para mim, no corpo de uma mulher. Esta sim, a minha busca real, onde sou todo em minha pequenez; inteiro com meus pedaços; forte com as minhas fraquezas; adulto com minhas infantilidades; perfeito com todas as minhas imperfeições. Nela eu me completo com a sua compreensão e com a minha descarga animal da tensão biológica como a chuva que cai do espírito do universo para fertilizar a terra. É nela que me realizo, considerando o que mencionara Jung que "o animal humano sempre viceja quando não é premido pela dura necessidade" e aprendendo com ele que "é no coração onde reside todo drama e toda excentricidade". E a quem nascera com o coração capaz de amar a mulher, restaria não só a sede da volubilidade erroneamente detectada, mas a de amá-las todas, fielmente, em sua beleza e em sua razão de ser. Parece que foi Vinícuis de Moraes quem dissera que amava muitas mulheres mas que era fiel a cada uma. É neste sentido que deixo a minha imaginação viajar ao doce enleio do jeito feminino...).... ©Luiz Alberto Machado. Direitos Reservados. Veja mais aqui e aqui,

 


DITOS & DESDITOS - Não há males na Natureza, há apenas males do Homem. O teu direito de janela – o teu dever de árvore. Homens e mulheres criativos, tens o direito de enfeitar a teu gosto, e tão longe quanto teu. Devemos, finalmente, acabar com o fato de as pessoas se mudarem para seus aposentos como galinhas e coelhos em seus galinheiros. A linha reta é ímpia e imoral. Pensamento do artista austríaco Friedensreich Hundertwasser (Friedrich Stowasser – 1928-2000).

 

ALGUÉM FALOU: Estou com fogo entre os dentes e ainda nada além da minha página em branco. É bem possível que uma obra de literatura funcione como uma máquina de guerra em sua época. Pensamento da escritora francesa Monique Wittig (1935-2003), autora das obras L'opoponax (1964) e Les Guérillères (1969), entre outras.

 

OUTRA QUE FALOU... - A vida é o que acontece conosco enquanto estamos ocupados fazendo planos... Pensamento da atriz estadunidense Marilyn Monroe (Norma Jeane Mortenson – 1926-1962). Veja mais aqui,

 

A POESIA – [...] Em todos os tempos, a poesia será sempre um lance de dados, um jogo de azar entre paixão e razão. por isso, a linha em que elas se inserem será permanente mesmo diante de eventual desfavor crítico, para além das alternativas, que definem, hoje como ontem, o sentido dinâmico da criação. [...]. Trecho extraído da obra A tempestade engarrafada – ensaios (EGBA, 1995), do escritor, jornalista e professor João Carlos Teixeira GomesVeja mais aqui e aqui.

 

ENGENHO – [...] Que coisa já na confusão deste mundo mais semelhante ao inferno, que qualquer desses vossos engenhos? Por isso foi tão bem recebida aquela bela e discreta definição de quem chamou a um engenho de açúcar doce inferno [...] as caldeiras ou lagos ferventes vomitando espumas, exalando nuvens de vapores, o ruído das rodas, das cadeias, da gente toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mesmo tempo, sem momentos de trégua, nem de descanso; quem vir enfim toda a máquina, não poderá duvidar que é uma semelhança do inferno [...]. Trecho do Sermão XIV extraído de Os Sermões do Padre Antônio Vieira (1608-1697). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

DUNE – [...] Em tempos, os homens entregavam o pensamento às máquinas, na esperança de que isso os libertasse. Mas só permitiu que outros homens com máquinas os escravizassem [...] O mistério da vida não é um problema para resolver, mas uma realidade para experimentar. [...] Nas profundezas do inconsciente humano há uma necessidade generalizada de um universo lógico que faça sentido. Mas o universo real está sempre um passo além da lógica. [...]. Trechos extraídos da obra Dune (Ace, 1990), do escritor e jornalista estadunidense Frank Herbert (1920-1986).

 

PEIOTEI - Livre – sentidos claros – sentado na cadeira preta – De balanço – / paredes brancas refletindo a cor de nuvens / movendo sobre o sol. Intimidades! Os quartos / sem importância — mas como divisões de todo espaço / de toda hediondez e graça. Eu ouço / a música de mim e a anoto / sem esperar leitor. Eu passo fantasias como / Me são cantadas em Vozes-de-Circe. Eu vago / entre os povos de mim mesmo e sei de tudo / Que preciso saber. / EU SEI DE TUDO! EU PASSO PARA O QUARTO / uma cama dourada se põe a radiar a luz inteira / o ar enche de linhas e borrões de prata. / Eu rio pra mim mesmo. Sei de tudo / que há para saber. Eu vejo tudo que há / para sentir. Fiz as pazes com a dor / na minha barriga. A resposta / pro amor é minha voz. O tempo não existe! / Nem resposta nenhuma. Ao sentimento, meu sentir é a resposta. / À alegria, resposta é alegria sem sentir. / O quarto é um querubim de muitas cores / feito de ar e reluzentes tons. A dor no meu estômago / é quente e terna. Estou sorrindo. A dor / em mil pontadas, sem angústia. / A luz altera o quarto de amarelo a roxo! / O espaço amarronzado atrás da porta é o ouro / íntimo, silencioso e calmo. Terra natal / de Brahms. Sei tudo / que é preciso que eu saiba. Não há pressa. / Eu leio os sensos dos muros riscados, tetos pensos. / Estou à parte. Os olhos fecho em divindade e dor. / Solenemente eu pisco à insolente alegria. / Sorrio pra mim mesmo em movimentos. Andando / apresso o passo com cuidado. Preencho / o espaço com meu ser. Eu sei o segredo e os distintos / traços da fumaça que vem de minha boca. / Eu sou, sem atenção, parte de tudo. À parte / estou do que é triste e belo. Eu sei de tudo. / (VASTIDÃO / E dura intensidade — dentro de mim. Não mais / uma nuvem / mas carnal feito pedra. Como Herácles / de primevos vigor e substância. / Não temendo sequer o fim do encanto / mas aceitando. / As coisas belas não são pra nós, / mas miro. Estando entre elas. /E a coisa indígena. É à vera! / Aqui no apê é mais tribal minha mente.) / ESTÔMAGO!!! / O tempo não existe. Eis que visita um cara / que é deus das raposas / traz sujeira nas unhas de sua pata / recente do covil. / Sorrimos um ao outro em reconhecimento. / Estou livre do tempo. Aceito sem triunfo /— um fato. / Se fecho os olhos há clarões de luz. / Meus olhos já não focam, saltam. Eu vejo que tenho três pés. / Eu vi de uma só vez sete lugares! / Inclina o assoalho – o quarto oblíqua / coisas derretem / dentro de outras coisas. Clarões / de luz / e fusões. Eu espero / olhando a coisa física passar. / Estou numa mesa de tempo e espaço. /! ES-TÔMA-GO! / Escrevendo a música da vida / em versos. / Ouvindo os bons sons da guitarra / em cores. / Sentindo a carne a me tocar. / Enxergo o caos liberto das palavras / na página. / (suprema graça) / (O doce Yeats de esferais haxixes.) /Minha barriga e eu somos dois caras / unidos pela / vida. / ESTE É O PODEROSO CONHECIMENTO / sorrimos com ele. / Da janela eu olho pra melancolia azul-cinzenta / da lugubridade. / Tô aquecido. No dragão do espaço. / Eu fito as nuvens vendo /  suas convoluções brumosas. / Os turbilhões do vapor / Pequenarei as nuvens 'té que sumam. / Elas se tornam peixe e comem uma à outra. / E mudam como espíritos de Dante / a se tornar no céu mais alto imóvel garça / pra me desafiar. Poema do escritor, dramaturgo e compositor estadunidense Michael McClure (1932-2020). Veja mais aqui.



EITA, PORRA!
– Mandando ver na campanha, o Doro estava cheio das nove horas, castigando nos imbróglios num comício relâmpago, quando um macobeba insolente gritou lá no meio da mundiça:


- Aprume a cunversa, ocê, seu fidapeste, pruquê votá num corno dum canidato probe, é o mermo que pidi esmola pra dois.

Nessa hora, a cônjuge do amolestado candidato, Marcialita, estava toda ancha alisando sua mão de pilão e resmungando:

- Toma, cachorro, todo castigo pra corno é pouco!


E BOTE FÉ NA VERA!!! – A Vera Indignada estava injuriada com uma boataria mais sem graça que estava rolando adoidado pelas línguas maldizentes. É que a mesma, no apagar das luzes, resolveu depois duma manguaçada boa de esborrar o pote, se candidatar a vereadora. Não contava ela com a desfeita dum juiz eleitoral rejeitando a proposta. Não deu outra, ela deu uma de Andressa Mendonça, invadiu o gabinete do magistrado, sapecou sedução fatal e se enrolou numa foda ruidosa que virou escândalo pelos quatro cantos do mundo. Não deu outra, ela de nariz empinado arrotou soberba:

- Também, pudera, o pinto dele é menor e mais fino que dum japonês. Destá, eu sou eu e nenhum fidaputa deita desaforo na minha cara. Tenho dito!

E nem aí, mostrou os peitos...


COMO É QUE É? FODEU!!! – Quando o sol nasce todo dia, o cara já acorda atolado na merda do Fecamepa. O brabo é comer a merda dos outros no montura da sua própria bosta.


CARTESIANISMO DO FECAMEPA – Cago, logo, existo! Ué, também contribuo fabricando coprólitos pra merdaria toda, ora.


POIS É, TUD´IN RIBA?! – Se tem um cara chato da porra pior que dor de dente em noite de insônia, é um tal do fidapeste chato de galocha dum evangélico metido a Eric Cartman, explicando tintim por tintim, porque ele está coberto de razão.  Sai-te, sectário duma figa! No boga: é tchá, é tché, é tchu, e vá tomar no cu!





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