terça-feira, julho 07, 2020

CLAUDE SIMON, DORIS SALCEDO, TILA CHITUNDA & ALFAZEMA DE SABRINA FIDALGO



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: SER MELHOR QUE ANTES - A cada dia, a reinvenção de mim mesmo. Ao acordar, sou outro que sempre fui e não mais, tentando ser melhor nas relações, no trabalho, enfim, na vida. Sempre me pego fazendo coisas impensadas e, depois de rever, poderiam ter sido evitadas, apesar de não terem causado dano algum, acho. Como vou pela intuição, muitas vezes acerto; outras, nem tanto. Quando vou ver, hora de refazer a destroçada, valendo-me de William Faulkner: Não se incomode apenas para ser melhor do que seus contemporâneos ou predecessores. Tente ser melhor do que a si mesmo. Não fui, não sou nem nunca pensei ou quis ser melhor que outrem ou quem quer que seja. Basta a batalha comigo para que seja melhor que antes.

DUAS: COMO O MUNDO DÁ VOLTAS – Ainda ontem um poderio determinado, hoje não mais: sombras de Goya. O mando eterno, pensam; olvidam do efêmero. Frida Kahlo que o diga: Nada é absoluto. Tudo muda, tudo se move, tudo gira, tudo voa e desaparece. Cada tictac é um segundo da vida que passa, foge, e não se repete. E há nele tanta intensidade, tanto interesse, que o problema é só sabê-lo viver. Que cada um o resolva como puder. Para mim todo amanhã é agora; depois de amanhã, nunca mais.

TRÊS: O PATRIOTISMO BESTA QUADRADA DO BIRITOALDO – Escapulia trocando as pernas altas horas da noite, furtivamente decilitrado, quando foi instado por uma batida da patrulha. Queimou ruim ao ser encarcado: Sou bandido não! Um dos policiais tentou explicar da necessidade de isolamento social e utilização de máscara por conta da pandemia, ele se fazendo de mouco, assomando-se nos gestos ao ser tratado por cidadão pela autoridade: Cidadão uma porra! Calma, senhor. Sou o maior empeleiteiro da freguesia. Ao ser humano requer cidadania, meu senhor. Cidadania é pra zé-ruela, sou patriota e estou nos meus direitos! Como não houve como contê-lo, foi recolhido à delegacia. Lá, o delegado que se achava poeta naquela noite, tascou Maupassant na lata dele: Se a guerra é uma coisa horrível, não seria o patriotismo a ideia-mãe que a nutre? Biritoaldo olhou pros lados, cuspiu no chão, encarou o casacudo e bafejou: Essa ladainha eu não entendo não, sei que estou nos meus direitos. Recolhe esse aí pra ele esfriar o quengo, soldado! Dia seguinte, pelas 11, saiu ele com a cara mais lisa para se trancar no departamento da vergonha. Uma semana depois de escondido sem dar as caras, lá ia todo murcho, com o rabinho entre as pernas: E aí, Birito, onde tu tava, desgraçado? Tava comendo merda! Ora, só sendo, tu só faz bosta mesmo, num é? Foi-se, lá com ele, remoendo tudo. Autran Dourado que o diga: Ninguém sabe o que se passa dentro de ninguém, somos muralhas uns para os outros. Até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Para mim, o grande desafio é sempre o mesmo: como começar uma frase, como a continuar, como a completar. Pensamento do escritor francês Claude Simon (1913-2005), premio Nobel de Literatura de 1985. Ele é autor da obra La Bataille de Pharsale (Minuit, 1969), da qual recolhi o trecho: [...] Após o qual cada um dos fantasmas sai do escritório e O. faz uma cruz na frente de um nome em uma lista... primus ex dextro hornu procucurrit - o primeiro que ele lançou da ala direita - milicianos e milícias circenses centum et viginti voluntarii ejusdem centuriae sunt prosecuti - e cento e vinte soldados de elite, voluntários do mesmo centurião correu para o seu / Plutarco e Lucain confirma o fato; cf. Plutarco, Ces., XLIV; Pomp., LXXI: "O primeiro, Crastinus, sai da corrida, arrastando para trás os cento e vinte homens que ele comandava"; e Lucain, Phars., VII, 470-473: "Que os deuses não te dêem a morte, que é o castigo reservado a todos, mas, após o seu destino fatal, o sentimento da sua morte, Crastinus, você, cujo mortos brandiam a lança que travava o combate e os primeiros tingiram a Tessália com sangue romano [...]. Sobre sua trajetória, encontrei o documentário Os Homens-livro: Claude Simon de Roland (1988), dirigido por Roland Allard.

ALFAZEMA, DE SABRINA FIDALGO
[...] Trata do dilema da foliã Flaviana (Shirley Cruz) que tenta se livrar de um amante (Victor Albuquerque) da noite anterior que se recusa a sair debaixo de seu chuveiro. O filme é uma comédia que se utiliza da metalinguagem do cinema para rir de si mesmo [...]
ALFAZEMA – O premiado curta-metragem de ficção, Alfazema (2019), é a segunda parte da Trilogia do Carnaval, da cineasta Sabrina Fidalgo, iniciado com o também premiado média-metragem Rainha (2016). Ela iniciou sua carreira com o curta-documentário Sonar 2006 - Special Report (2006) e, sobre si mesma, ela se define: Sou uma artista, mulher, negra, brasileira, latino-americana que escolheu o cinema nos papéis de diretora, roteirista e atriz/performer para se expressar. Na verdade eu me expresso de várias maneiras artisticamente. Sou desenhista autodidata e também tenho muita vontade de focar nas artes-plásticas. Amo música, tanto que tenho como hobby a pesquisa musical e sou DJ nas horas vagas. Na verdade eu tenho muitas referências e paixões e em vários momentos artísticos, escolhi o cinema, dentre outros motivos, porque é um lugar no qual posso estar diretamente envolvida com tudo o que eu gosto: música, artes plásticas, interpretação, fotografia e o próprio cinema em si. Foi um processo até chegar a essa conclusão. Mas o amor pelo cinema eu cultivo desde criança. Veja mais aqui.

A ARTE DE DORIS SALCEDO
Centrei toda minha obra na violência política. No início de cada trabalho há um testemunho. Então todas as obras, todas as instalações que faço estão relacionadas a isso. Parto sempre de um testemunho real e em cima disso vou construindo algo que já não é tão precisamente sobre essa vítima, mas que leva a uma memória que é algo um pouco mais amplo sobre esse tipo de eventos.
DORIS SALCEDO - A arte da artista colombiana Doris Salcedo, que trabalha com instalações que envolvem esculturas com objetos cotidianos, como móveis de madeira e peças de vestuário, esculturas de memória, unindo o passado ao presente. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
A arte da diretora, roteirista, produtora de cinema e TV, Tila Chitunda (Alice Chitunda), que é autora de dos documentários Fotográfica (2016), Nome de Batismo: Alice (2017) e Nome de Batismo: Frances (2019), afora desenvolver projetos, entre eles Mulheres no Cinema – Encontro e Ciclo de Formação (2018) e de ter atuado como produtora do documentário Pernambucanos (2007), entre outros.
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A música de Lenine aqui.
A obra do escritor Pelópidas Soares (1922-2007) aqui.
Pontes imaginárias sob o céu do manguetown: influências do Mangue Beach sobre as políticas públicas no entorno do Rio Capibaribe – uma análise do circuito da Poesia e do Carnaval Multicultural, do geógrafo doutorando pela UFRJ, David Tavares Barbosa aqui.
A poesia de poeta e professor Admmauro Gommes aqui.
Os mortos de Sincorá aqui.
Proezas do Biritoaldo aqui.
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Jaqueira aqui & aqui.