PRECISO FICAR ZEN DIANTE DE TANTO PIPOCO,
GENTE! - UMA: E DAÍ, QUAL QUE É, HEM? – Só escuto
notícia do povo enchendo a rua de pernas, fofocas e pacutias, mangação de
pirangueiros e intrusos, afora muito blábláblá. Ô povo converseiro! Ouvi dizer
que ninguém aguenta mais devotar diante das imagens dos padroeiros, nem só
conversar com as paredes, rádio e tevês ligadas, motores roncando e nenhum pé
de gente por perto para peiticar ou se estranhar, como de costume. Isso é sinal
de vida, o silêncio é um túmulo enlouquecedor. Com isso o termômetro da
mortandade sobe todo dia e o Coisonário quer a todos feito um formigueiro no
consumo, assim morre logo tudo duma vez por todas, porque a coisa está feia! A
cara-de-pau de santarrão cospe o desdém: E daí? Digo eu: Deus te guie, zelação!
Comigo os meus sentimentos são pelas palavras de Matilde Camus: A todos os meus
compatriotas, do presente e do futuro com a felicidade de ter nascido nesta
bela terra que é apaixonadamente amada... À vida que faz parte do tempo e a todos os meus, aqueles que a formam e
aqueles que formaram o tempo da minha vida. É assim, sujeito paisano feito eu, asa quebrada, nordestino da gema
embaixo de insolação, fadiga e mormaço meridional da entressafra canavieira
falida, só minha afeição e ternura solidária por todos que sofrem enfermos e os
que temem pelo pior neste meu imenso Brasilzão! Vamos sempre juntos! DOIS: EU CÁ COM MEUS BOTÕES - Na
clausura, faço o que posso: converso com o papel em branco, livro aberto,
revistas escancaradas, arquivos no computador, violão mudo, cadernos, resmas,
canetas e guardanapos. Pura doidice! Tento até ressuscitar os amigos invisíveis
da infância que esqueci e na maior interlocução com a tuia de personagem que
inventei para as minhas lorotas. Bote aluamento no pedaço. Na verdade estou
naquela do Carlos Scliar: Antes de mais nada, eu queria deixar bem
claro que estou biruta. A-há! Desde nascença que não bato bem da
bola, gente! E como bom estúpido amalucado, valho-me de Aristóteles: Nunca existiu
uma grande inteligência sem uma veia de loucura. Háháháhá! É demais para
mim, menos. Sou mais iconoclasta, parelha com a genial Marguerite Yourcenar: Creio
que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino.
Rir da própria desgraça também faz um bem danado, visse? TRÊS: NUNCA CURTIRAM JAZZ, MAS IMPROVISAM NA GAMBIARRA – Do
noticiário só sobra uma constatação: estão batendo cabeça e não sabem o que
fazer porque não entendem patavina do riscado! De mesmo, só sobra bulhufas! Se
o país vai pela contramão de tudo, é que o piloto dirige pessimamente na sua
grossura com a patetada zonza, ao que parece, só para ver a gente com o coração
na mão ou bater as botas de vez num colapso! Puft! Ainda bem que existe
esperança, jazz e Ernesto Sábato: A esperança não será a prova de um sentido
oculto da existência, uma coisa que merece que se lute por ela? Aí ele
conversa comigo em tom de maior intimidade: Minha
cabeça é um labirinto escuro. Às vezes, há relâmpagos que iluminam alguns
corredores. Eu nunca termino de saber por que faço certas coisas. Viver
consiste em construir memórias futuras. Num estou dizendo, ora, pensei que
era só eu com esse endoidecimento labiríntico de perder a razão por excesso de
emoção. Ainda bem que o Miles Davis me absolve: Ninguém é obrigado a ter
colhido algodão para tocar jazz. Só escuto, tocar não sei: o hábito não faz
o Miles. Vou escapulir por ali para ver se pego ainda a lindeza do nascer do Sol,
visse? Até amanhã. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: Não me
vingo, aproveito a deixa. Não sofro, improviso. Não fico solteira, entro em
temporada. Não vivo, ensaio. Não morro, fecho a cortina.
Pensamento da ensaísta, tradutora e crítica de teatro Barbara Heliodora (1923-2015), que escreveu críticas nos mais
importantes veículos de comunicação, dirigiu o Serviço Nacional de Teatro
(SNT), foi professora de História do Teatro no Conservatório Nacional de Teatro
e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela inspirou a comédia
Barbara não lhe adora (1999), de Henrique Tavares. Em uma entrevista, ela
assinalou: [...] É porque eles não sabem
o que eu penso. Na maioria das vezes é exatamente o que eu penso, mas muitas
coisas eu procuro dizer sem chegar ao delírio, porque a minha vontade era dizer
assim: “Mas isso é uma estupidez, uma coisa horrorosa.” Algumas coisas me
irritam, aí eu paro e só escrevo no dia seguinte. Não escrevo com raiva. Talvez
eu faça um pouco menos de cerimônia. Se uma pessoa faz uma coisa que está toda
errada e você, para ser bonzinho, diz que é ótimo, ela vai piorar cada vez
mais. O ideal seria se todos tivessem um amigo que dissesse: “Isso está um
horror, não está pronto, está uma porcaria.” Há muita autoindulgência. É
preciso que se diga a verdade, mas a minha verdade não é de papa. [...]. Veja
mais aqui.
OUTROS
DITOS
Os livros são finitos,
os encontros sexuais são finitos, mas o desejo de ler e foder é infinito; ele
supera nossas próprias mortes, nossos medos, nossas esperanças de paz... Que
pessoas distorcidas somos! Como parecemos simples, ou pelo menos fingimos ser
diante dos outros, e como somos distorcidos lá no fundo. Como somos
insignificantes e como nos contorcemos espetacularmente diante dos nossos
próprios olhos e dos olhos dos outros... E tudo para quê? Para esconder o quê?
Para fazer as pessoas acreditarem em quê?... A história secreta é aquela que nunca
conheceremos, embora a vivamos dia após dia, pensando que estamos vivos,
pensando que temos tudo sob controle e que as coisas que ignoramos não
importam... Você tem que saber olhar mesmo que não saiba o que está procurando...
Pensamento do escritor chileno Roberto Bolaño Ávalos (1953-2003). Veja mais aqui & aqui.
ENSINANDO
A TRANSGREDIR, DE BELL HOOKS
[...]
Também existem momentos em que a experiência
pessoal nos impede de alcançar o topo da montanha, e então a deixamos de lado, pois
seu peso é muito grande. E às vezes é difícil alcançar o topo da montanha com
todos os nossos recursos factuais e confessionais; então estamos todos juntos
ali, tateando, sentindo as limitações do conhecimento, ansiando juntos,
procurando um meio de chegar àquele ponto mais alto. Até esse anseio é um modo
de conhecimento [...] Achar a própria voz não é somente o
ato de contar as próprias experiências. É usar estrategicamente esse ato de
contar – achar a própria voz para também poder falar livremente sobre outros
assuntos. É disso que muitos professores universitários têm medo. Tive um
momento difícil no semestre passado no City College, no meu seminário sobre
Escritoras Negras. Na última aula, falei com os alunos sobre a contribuição que
cada um deles havia dado à sala; mas, quando falaram, eles me mostraram que
nosso curso os tinha deixado com medo de fazer outros cursos. Confessaram:
“Você nos ensinou a pensar criticamente, a desafiar e a confrontar, e nos
encorajou a ter voz. Mas como podemos fazer outros cursos? Nesses cursos,
ninguém quer que nós tenhamos voz!”. Essa é a tragédia de uma educação que não
promove a liberdade [...].
Trechos extraídos da obra Ensinando a
transgredir: a educação como prática da liberdade (Martins Fontes,
2013), da escritora, artista professora e ativista feminista e antirracista
estadunidense Bell Hooks (Gloria Jean Watkins – 1952-2021). Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
OS
MÍMICOS, DE NAIPAUL
[...]
À medida que
escrevo, modifica-se minha atitude em relação a meus próprios atos. [...] Normalmente eu os encarava como abstrações,
caprichos, atos arbitrários que por algum motivo haviam escapado de meu
controle. Mas agora, com a consciência do tempo perdido, lamentando as
oportunidades desperdiçadas, começo a questionar esta atitude. Duvido que
qualquer ato, acima de um certo nível, seja inteiramente arbitrário, caprichoso
ou desonesto. Agora questiono a ideia de que a personalidade seja fabricada
pela visão dos outros. A personalidade é um todo íntegro. É una e indivisível. [...] Fui eu que criei este isolamento, esta mágoa
complexa, esta excitação específica. [...].
Trechos da obra Os
mímicos (Companhia das Letras, 2001), do escritor britânico nascido em
Trinidad e Tobago, Prêmio Nobel de 2001, Vidiadhar Surajprasad Naipaul
(1932-2018). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
A ARTE TEATRAL DE AIREN WORMHOUDT

Vivermos encarcerados nos nossos apartamentos
e casas e entre grades criadas pelos nossos próprios medos, parece ser condição
"natural" da contemporaneidade, sobretudo nas grandes metrópoles [...] questionadas
sobre o fenômeno da violência, as pessoas recorreram aos estereótipos enquanto
estratégia heurística. Assim é que, enquanto avaros mentais, dentre as informações
pedidas pelo instrumento, os indivíduos informaram os sinais considerados
relevantes para ambos os perfis (agressor e vítima). De fato, o "Monstro
Cognitivo" tornou-se uma opção para um julgamento social, de sorte a
justificar as relações intergrupais. Ou seja, para defender a identidade
positiva do seu grupo (vítimas), as pessoas construíram uma imagem mais
positiva desse mesmo grupo em contraposição ao grupo dos agressores. Portanto,
a análise dos resultados indicou algumas questões: • A opção pelo sexo feminino
enquanto vítima estaria pautada nas crenças de que as mulheres são mais frágeis
e, portanto, mais vulneráveis a esses tipos de delito? • A exposição à
violência levaria as pessoas a acreditarem que eventos violentos podem
acontecer em qualquer horário? • O que estaria influenciando as pessoas quando
estas optam pelo Sequestro e pelo Furto como crimes mais frequentes? [...].
AIREN WORMHOUDT - Trechos do artigo Violência urbana: estereótipo do agressor e da vítima (Psicólogo
Informação, 2006), da atriz, psicóloga, dramaturga, roteirista, mímica, arte
terapeuta e pós-graduando em dramaturgia, Airen Wormhoudt, fundadora Cia. Ellas En(Cena), criou o projeto
MimeWeb e é autora de peças teatrais e dos livros coautora na obra Diz(Amor)
com Zédú Neves. Ela realiza workshops e consultorias artísticas para coletivos
de artes, bem como, escreve roteiros para audiovisual, desenvolve pesquisas
unindo a mímica e a dramaturgia como instrumento na formação de plateias e democratização
artística. Veja mais aqui.
A FOTOGRAFIA DE HELEN LEVITT
Apenas o que você vê. Se fosse fácil falar sobre isso, eu
seria um escritor. Como sou inarticulada, me expresso com imagens.
HELEN LEVITT - A arte da fotógrafa estadunidense Helen Levitt (1913-2009), a mais
célebre e menos conhecida de seu tempo.
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A ARTE DE IZABEL LIVISKI
A arte
da fotógrafa, fotojornalista, professorae socióloga Izabel Liviski, editora da coluna InContros e coeditora da Revista
ContemporArtes, articulista que, atualmente, pesquisa questões ligadas a temas
sociais, como presídios, comunidades socialmente vulneráveis, direitos humanos
e inclusão visual. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
Pernambuco tem uma história forte no teatro nacional e não se colocou de
maneira subserviente às demandas estéticas e temáticas que vinham de fora. Foi,
antes de tudo, um processo de trocas, de disputas, e fazemos parte do momento
de consolidação da Modernidade nos palcos nacionais.
A arte do
jornalista e pesquisador da história do teatro pernambucano, Leidson Ferraz, autor das obras O Teatro no Recife dos Anos 50 – Tentativas
de Reafirmação da Modernidade, O teatro para crianças no Recife: 60 anos de
história no século XX e Um teatro quase esquecido: painel das décadas de 193 e
1940.
A poesia
de Janice Japiassu aqui.
Sindicalismo X repressão – a história de Zé Eduardo,
o líder do maior sindicato de camponeses do Brasil, de
Paulo Profeta aqui.
Festival
de Arte do Engenho Paul aqui & aqui.
A beleza
de Dudinha – Eduarda
Garcia Viana Menezes aqui.
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