segunda-feira, abril 27, 2020

BAUMAN, KRISTEVA, BISHOP, ETHEL SMYTH, KÄTHE KOLLWITZ, CORETTA KING, MÔNICA FEIJÓ, REGINA CARVALHO & BELL PUÃ


NÃO SEI COMO, MAS A GENTE VAI! – UMA: AB JOVE PRINCIPIUM – Aí o dedo mindinho do pé esquerdo falou pro do pé direito: Tamofu! Rapaz, que é que é isso? Abyssus abyssum invocat! Lascou, deixa de pantim, desenrola a língua, vai! Osmose de golpes dentro da cilada do espichado embuste dos ardis que quem souber morre inturido - coisa deles encasacados da gente só boiando sem ter em que se agarrar! Assim não dá. Esclarece Livia Garcia-Roza: A cada encontro, um desencontro; e continuamos a nos lançar na falta que nos rodeia. Ora, esse papo está tão qualquer coisa que parece mais Mário de Sá-Carneiro: Eu não sou eu nem sou outro, sou qualquer coisa de intermédio. Perdi-me dentro de mim, porque eu era labirinto. Tamofu! Dá para ser mais claro aí, ó meu? Morri tantas vezes, bandido de faroeste: mocinho chega, nem se dá ao trabalho de armar pontaria, atira de olho fechado e a bala me pega no toitiço, eu na lona, assim desde sempre. Ah, tenho mais que fazer do que ficar remoendo filosofias, carburando ideias, sai-te! O galo cego sempre morre de cauda vazada! Birutou, só sendo! Até, até. DUAS: DOIS BIRITADOS NA QUARENTENA – Já louvei o santo, ligaí. Duzentos. Quanto tá? Quatrocentos? Peraí, ou um ou outro, ora! Oitocentos. Que conta é essa, meu? Tá subindo. Olha direito. Dez mil e... Quanto? Cinquenta mil. Danou-se! Quanto mesmo é que está, hem? Ora, vamos tomar logo essa senão, pelo jeito, pega a gente também. Nada, isso é lá pelas capitais, pelo mundo, aqui tenho o corpo fechado. Meu irmão disse que evangélico não pega! Sei não. Num era só sexagenários? Teve fraqueza, pega até no peido, isso menino, mulher, gente, bicho que for! Eita, assim não dá! Parece que o negócio é sério mesmo. será? Vamos dormir, já estou para lá de cheio dos quequeos! Não arregue! Estou todo estropiado, trocando as pernas. Segura a onda, meu! Já dizia Torquato Tasso: O sono é o doce consolador dos homens. Dá-lhes repouso e o esquecimento de seus pesares. Qual é, meu? Vamos lá, é melhor, assim se chegar perto nem vai dá pra sentir. Estou fora! É dormindo é melhor que acordado, sofre menos. Vambora. Acorda! Que foi? O Coiso tá fazendo pronunciamento. Que nada... vamos dormir que é melhor. Vôte! TRÊS: A OBSCENIDADE DO COISO NA CAVERNA DE PLATÃOObscenidade, de novo? Sim, a patetada do Planalto toda reunida e engalanada (!?!): lá vem bomba! Nada, só piadas de mau gosto. Vai lá. Ora, parece mais aquela do Nelson Rodrigues: Nunca o brasileiro foi tão obsceno. Vivemos numa fase ginecológica. Como assim? Explico com Herbert Marcuse: Obscena não é a foto de uma mulher nua com seus pelos púbicos à mostra, mas a de um general fardado exibindo suas medalhas ganhas numa guerra agressora. Vixe! A casa está caindo. Nada, o que ele tá falando? Em cadeia nacional, dor de corno pela traição mútua deles mesmos, umbigo de desgoverno, empáfia do poder de imbróglios, suntuosidade sobre as ruínas da democracia. Em memória aos mortos desassistidos e os que se encontram internados e outros que esperam internação agonizando noitedia, sou poeta pela primeira vez na vida: Somos todos nós! Vou ali buscar um tantinho de paciência que a minha já foi pro beleleu! Beijabrações & até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: A homofobia é como racismo, anti-semitismo e outras formas de fanatismo, na medida em que busca desumanizar um grande grupo de pessoas, negar sua humanidade, sua dignidade e personalidade. Isso prepara o terreno para mais repressão e violência que se espalham com muita facilidade para vitimar o próximo grupo minoritário. Acredito que todos que acreditam em liberdade, tolerância e direitos humanos têm a responsabilidade de se opor ao fanatismo e ao preconceito. Pensamento da escritora e ativista Coretta King (1927-2006), que atuou na defesa das mulheres e dos negros em todo mundo, viuva do ativista Martin Luther King Júnior. Ela fundou o Centro King, em 1968, para promover a igualdade racial, desempenhando proeminente papel após o assassinato do seu marido, tornando-se ativa no Movimento das Mulheres e nos direitos LGBT.

 

OUTROS DITOS

Ser poeta é um dos empregos mais insalubres: não há horários regulares e muitas tentações!...

Pensamento da poeta estadunidense Elizabeth Bishop (1911-1979). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

PODERES DO HORROR, DE JULIA KRISTEVA

[...] Junto com a tontura que turva a vista, a náusea me faz hesitar diante daquele creme de leite, me separa da mãe e do pai que o oferecem. "Eu" não quero nada daquele elemento, sinal do seu desejo; "Eu" não quero ouvir, "Eu" não o assimilo. "Eu" o expulso. Mas como a comida não é um "outro" para "mim", que sou apenas no desejo deles, eu me expulso, eu me cuspo, eu me abjeto com o mesmo movimento pelo qual "eu" pretendo me estabelecer. Esse detalhe, talvez insignificante, mas que eles descobrem, enfatizam, avaliam, essa ninharia me vira do avesso, as entranhas se espalhando; é assim que eles veem o "eu" em processo de se tornar um outro às custas da minha própria morte. Durante esse curso eu sou que "eu" me torno, eu dou à luz a mim mesmo em meio à violência dos soluços, do vômito. Protesto mudo do sintoma, estilhaçando a violência de uma convulsão que, certamente, se inscreve num sistema simbólico, mas no qual, sem querer nem poder integrar-se para lhe responder, abjeta. Abjeta. [...] O fóbico não tem outro objeto senão o abjeto. Mas essa palavra, "medo" — uma névoa fluida, uma viscosidade elusiva —, mal surge, se esvai como uma miragem e permeia todas as palavras da língua com a inexistência, com um brilho alucinatório e fantasmagórico. Assim, o medo tendo sido colocado entre parênteses, o discurso só parecerá sustentável se confrontar incessantemente essa alteridade, um fardo ao mesmo tempo repulsivo e repelido, um poço profundo de memória inacessível e íntimo: o abjeto. [...] A abjeção está acima de toda ambiguidade. Porque, ao mesmo tempo em que libera um domínio, não isola radicalmente o sujeito daquilo que o ameaça — pelo contrário, a abjeção o reconhece em perigo perpétuo. [...] Quando o céu estrelado, uma vista de mar aberto ou um vitral que lança raios púrpura me fascinam, há um conjunto de significados, de cores, de palavras, de carícias; há toques leves, aromas, suspiros, cadências que surgem, me envolvem, me transportam e me arrastam para além das coisas que vejo, ouço ou penso. O objeto "sublime" se dissolve nos êxtases de uma memória sem fundo. É uma tal memória que, de ponto de parada em ponto de parada, de lembrança em lembrança, de amor em amor, transfere esse objeto para o ponto refulgente do deslumbramento em que me perco para ser. [...] O limpo e apropriado (no sentido de incorporado e incorporável) torna-se imundo, o desejado transforma-se em banido, o fascínio em vergonha. Então, o tempo esquecido surge de repente e condensa num relâmpago, uma operação que, se pensada, envolveria a aproximação dos dois termos opostos, mas que, por conta desse relâmpago, é descarregada como um trovão. O tempo da abjeção é duplo: um tempo de esquecimento e trovão, de infinito velado e o momento em que a revelação irrompe. [...].

Trechos extraídos da obra Powers of Horror: An Essay on Abjection - European Perspectives: a Series in Social Thought & Cultural Ctiticism (Columbia University Press,1982), da escritora, professora e psicanalista búlgara Julia Kristeva. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

A RIQUEZA DE POUCOS BENEFICIA TODOS NÓS?

[...] o aumento da “riqueza total” caminha com um aprofundamento da desigualdade social [...] compromisso, aceitação de riscos, presteza para o autossacrifício; representa escolher um caminho incerto e não mapeado, árduo e acidentado, à espera de -e determinado a -partilhar a vida do outro. O amor pode ou não caminhar com a felicidade serena, mas quase nunca caminha com o conforto e a conveniência; ele jamais espera isso com confiança e menos ainda com certeza. [...] pode nosso desejo de desfrutar os prazeres da convivialidade, por mais “natural”, “endêmico” e “espontâneo” que ele seja, ser buscado dentro do tipo de sociedade hoje predominante, contornando-se a mediação do mercado e sem cair, consequentemente, na armadilha do utilitarismo? [...] Pessoas que são ricas estão ficando mais ricas apenas porque já são ricas. Pessoas que são pobres estão ficando mais pobres apenas porque já são pobres. Hoje a desigualdade continua a aprofundar-se pela ação de sua própria lógica e de seu momento. Ela não carece de nenhum auxílio ou estímulo a partir de fora – nenhum incentivo, pressão ou choque. A desigualdade social parece agora estar mais perto do que nunca de se transformar no primeiro moto-perpétuo da história – o qual seres humanos, depois de inumeráveis tentativas fracassadas, afinal conseguiram inventar e pôr em movimento [...].

Trechos extraídos da obra A riqueza de poucos beneficia todos nós? (Zahar, 2015), do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), no qual analisa as premissas que sustentam a convicção de que a riqueza de poucos beneficia todos nós, desvendando as falácias que se ocultam por trás dela, mostrando o individualismo do mundo de consumo é a ideologia que justifica o enriquecimento sem freios dos já muito ricos, apresentando como estratégia de vida o modelo das celebridades. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

A MÚSICA DE ETHEL SMYTH
A loucura é aterradora, posso assegurar-te isto, e vale a pena tê-la em conta; na sua lava encontro ainda a maior parte das coisas acerca das quais escrevo.
ETHEL SMYTH - Trecho da correspondência enviada pela escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941) para a escritora, compositora e sufragista britânica Ethel Smyth (1858-1944) que, apesar da oposição de seus pais, determinou-se em se tornar compositora frequentando o Conservatório de Leipzip. Ao longo da sua trajetória ela compôs cânticos, obras para piano, música de câmara, de orquestra e concertante, coros e óperas, dedicando-se, em seguida, à causa do sufrágio feminino. Ela é a autora da March of the Women, que se tornou no hino do movimento sufragista. Também publicou cerca de dez livros, a maioria de teor autobiográfico, teve diversos casos amorosos e, apesar do renome e talento, ela foi condenada a dois de prisão por engajar-se no movimento de emancipação feminina.
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A MÚSICA DE MÔNICA FEIJÓ
Meus trabalhos são distintos, porque canto como me sinto no momento, e sigo cantando a simplicidade e o cotidiano com minha personalidade. Eu digo que trabalho com world music, faço música do mundo, porque já visitei o eletrônico, o samba, o pop, o frevo, e não acho que essas mudanças possam me prejudicar, é a minha marca, a minha verdade.
MÔNICA FEIJÓ – A música da cantora, compositora, bailarina e atriz Mônica Feijó, que é formada em Artes Cênicas e estudou no Centro de Artes de Laranjeira (CAL), trabalhando em cinema, televisão e teatro. Reúne na sua carreira os álbuns Faces do Subúrbio (1998) Aurora 5365 (2000), Matalanamão (2001), Sambasala (2005), À vista (2011) e Frevo para ouvir deitado (2018), entre outros em que participou. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE KÄTHE KOLLWITZ
Eu pensei que era uma revolucionária e era apenas uma evolucionária. Passei por uma revolução e estou convencida de que não sou revolucionária. O artista geralmente é filho de seu tempo, principalmente se seus anos de formação caírem no período do socialismo inicial. Está tudo bem comigo que meu trabalho serve a um propósito. Quero ter um efeito no meu tempo, no qual os seres humanos estão tão confusos e precisam de ajuda.
KÄTHE KOLLWITZ - A arte da pintora, desenhista, gravurista e escultora alemã Käthe Kollwitz (1867-1945), que reflete em sua obra a eloquente visão das condições humanas da primeira metade do século XX, com traços do Naturalismo e do Expressionista, trazendo a classe operária, a fome, a guerra e a pobreza como temas recorrentes. Veja mais aqui.
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A ARTE DE REGINA CARVALHO
Meus pés / E seus sapatos vermelhos / Vão em frente / Mesmo sem saída / Porque na nossa estrada / Não há volta / Só há ida.
REGINA CARVALHO - A arte da artista visual, poeta, professora e ilustradora Regina Carvalho, que é forma em Artes Plásticas pela UFPE, com especialidade em Arte Contemporânea e já participou de salões e de várias exposições individuais e coletivas. Ela foi integrante da Brigada Henfil, é autora de seis livros de poemas publicados, alguns livros de artista e um de desenho. Ela também participa do laboratório de Morfotaxonomia da UFPE e do grupo de gravura Gráfica Lenta no atelier Mau Mau. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
tua carne arde / e já sinto o sabor lunar dos atravessamentos / o tempero dos ventos de ontem / quilômetros de desejos
A arte da premiada poeta slammer Bell Puã, que é graduada e tem mestrado em História pela UFPE e é autora das obras É que dei o perdido na razão (Castanha Mecânica, 2018), Lutar é crime (Letramento, 2019), No entanto: dissonâncias (Antologia - Castanha Mecânica, 2019), do Ninguém solta a mão de ninguém - manifesto afetivo de resistência e pelas liberdades (Antologia – Claraboia, 2019) e Querem nos calar - poemas para serem lidos em voz alta (Antologia – Planeta, 2019).
A literatura de Xico Sá aqui, aqui & aqui.
A música de Nando Lauria aqui.
A arte do Mestre Vitalino aqui.
Pernambuco nos séculos XVI ao XIX aqui e aqui.
A arte de Rollandry Silvério aqui, aqui, aqui & aqui.
O lamentável expediente da guerra aqui.