sexta-feira, janeiro 31, 2020

GERMAINE GREER, ADA NEGRI, AL RIO, HANG FERRERO, JEGUE DE PAUL & COISAS DE PERNAMBUCO!



E O JEGUE DE PAUL VIROU PREFEITO! – Como? Ora. Uma tarde lá de não sei quando, o jegue andava cabisbaixo: nenhuma lavadeira na beira dos rios, nenhuma passante pela rodagem, chovia muito e ele estava entediado. Saiu ao léu por aí e deu de cara com um mata-burro, o que o fez irritar-se e sair contornando a cerca, praguejando ao seu modo, relinchado mudo, tropeçando umas das patas num bule tampado imprestável e todo enferrujado. Pronto, só faltava essa! Logo percebeu que ao dar topada no utensílio avariado, algo se mexeu dentro dele. Ficou brincando alisando a pata de ficar entretido com o chiado que emitia aquele objeto. Pensou do seu jeito: Que droga é nove, hem? Foi aí que resolveu dar uma patada para espragatá-lo. Bufe. Ouviu-se um grito, ele deu uns passos para traz e ficou assuntando o fumaceiro que cobriu tudo. Fez menção de correr, mas acovardou-se, imóvel. De dentro daquilo saiu um preto velho todo esbaforido: Eita, porra! E se limpava todo, se recompondo, ao conseguir se livrar da fumaça e sujeira, logo dele se aproximou com afetuosa falação. Alisando-o e falando coisa que ele sequer entendia. Teve uma hora que entendeu o velho perguntar se queria ser que nem o Bode Frederiko. Não lhe restava nada mais que balançar a cabeça. Foi aí que o preto velho estalou os dedos e ele ouvia, entendia e até falava, ouvindo a pergunta: Qual o seu primeiro desejo? Oxe! Logo assim? Bem, era falar, mas já que ganhei, quero ser que nem gente. Zás. Lá estava ele nu e assustado. Vamos, diga o segundo pedido! Quero ser que nem aqueles embecados cheios da grana e muitas posses. Trec! Diga o terceiro e último pedido! Ah, quero ser o mais importante da redondeza. Zilapt! Seja lá o que quiseres! Só tem uma coisa: se alguém lhe chamar de jegue, o encanto se desfaz, viu? E o preto velho depois dessas palavras, soltou um traque e se envultou. Eita! E agora? Como é o meu nome? Quem sou eu? Ah, serei que nem aquele Paladino, esse o meu nome e vou ganhar o mundo. Assim desceu ele do morro, todo abestalhado, deparou com um motorista todo nos trinques num automóvel luxuoso, que lhe abriu a porta e o levou em direção à cidade que tão bem conhecera. Agora era gente, ora, todo importante, impando, pabo. O chofer foi logo explicando tintim por tintim. Como? Que ele ia para um comício onde seria anunciado como prefeito da cidade! É? É. Gente como a praga. Logo o recepcionaram com festa e o empurraram para o palanque, onde uma comitiva o aplaudia e o mandavam falar no microfone. Ele não se esquivou, ajeitou-se todo, confiante da grande obra do mágico idoso e danou-se a dizer coisa com nada e peibufe etc e coisa e tal, aplaudido, ovacionado. O povo aos gritos: Já ganhou! Já ganhou! E saiu dali carregado por todos e direto para o Palácio das Urtigas, assumindo, imediatamente, a chefia do Executivo local. Só se ouvia o maior foguetório! E já foi despachando e decidindo coisas e mandos, assinando aqui, despachando ali, dinheiro praqui, ajeitado dali, isso sim, isso não, traga já, leve lá, tome e me dê, vá e volte, e virou a noite e dias seguidos, semanas inteiras sem pregar o olho no mês corrido e ouviu um zoadeiro do lado de fora. Era a população: Burro! Jumento! Muar! Fora! Ufa! E ele mandou arriar a lenha no povo e comprou briga com todo mundo,   que porra é essa? Ora, mas se! Vou arrombar com tudo! E lascou, mesmo. O tempo fechou, um ano atrás do outro, meteu as mãos pelas patas, quebrou galho e o enterro voltou, virou a casaca e se desenturmou, entupiu mal-entendidos, aumentou escaramuças, deu o creu e o negócio pocou, até que o motorista entrou de repente e às carreiras gritando: Ô jegue desgraçado, toma tento! Já era tarde! Voltou a ser, pura e simplesmente, o Jegue dePaul, nada mais, acabou-se o que era doce. Ele de si para consigo: Taí! Isso é uma porqueira, só poderia acontecer comigo mesmo, só podia... Era uma vez... © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] O homem exige, em sua arrogância, ser amado como é, e se recusa mesmo a impedir o desenvolvimento das mais tristes distorções do corpo humano que podem ofender a sensibilidade estética de sua mulher. A mulher, por outro lado, não pode se contentar com saúde e agilidade: precisa fazer exorbitantes esforços para parecer algo que nunca poderia existir sem uma diligente perversão da natureza. É demais pedir que seja poupada às mulheres a luta diária por uma beleza super-humana a fim de oferecê-la às carícias de um companheiro sub-humanamente feio? Considera-se que as mulheres nunca ficam enojadas. O triste fato é que ficam muitas vezes, mas não com os homens; seguindo a orientação dos homens, ficam na maioria das vezes enojadas consigo mesmas. [...]. Trecho extraído da obra A mulher eunuco (Artenova, 1987), da escritora australiana Germaine Greer, que em outra de sua obra, A mulher inteira (Record, 2001), expressou que: [...] As mulheres sempre fizeram o trabalho de merda; agora que o único trabalho que há é esse, os homens estão desempregados. O trabalho que não é de merda vai se tornar de merda se as mulheres passarem a fazê-lo. O prestígio e o poder esvaíram-se das profissões quando as mulheres ingressaram nelas. Ensinar já é quase extremamente inferior; a medicina está escorregando rápido para o fundo. [...]. Veja mais aqui.

A POESIA DE ADA NEGRI
AQUELE QUE PASSA: O desconhecido que passa e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo, / Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio / Ainda resplendem teus olhos, ainda tem vinte anos a ligeira figura deslizante, / Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada, em plena e soberba delícia de amor, / E em ti não há membro nem ponta de carne ou átomo de alma que não tenha uma marca de amor. / Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava, / E nem que quisesses podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu. / Ele, ignaro, em ti já não bela, em ti já não jovem, saúda a graça do deus: / Respira, passando, em ti já não bela, em ti já não jovem, o aroma precioso do deus: / Só porque o levas contigo, doce relíquia à sombra de um sacrário.
ADA NEGRI - A poesia da poeta italiana Ada Negri (1870—1945) , que é lembrada por ser a primeira e única mulher a ser admitida na Accademia d’Itália.
&
DOIS POEMAS DE HANG FERRERO
ROCK BAR: sobre a superfície fria / as lágrimas brilhantes / dos motivos servidos à mesa / em ” prantos quentes ” / e pratos e ransos e odores / e menus superficiais / flambados ao álcool / maciçamente ” depreciados ” / pelas sensações do instante / do segundo instante / as fotos a estante / e o ar ao ” raro efeito ” / e a voz que diz : ” bem feito ” / ao plexo em stand by.
A LENDA DO AEDO: se nem classificado / como vivo, o era / e em post mortem / espelhou a ira, / que subiu a sua cara. / contando histórias / de segunda / e suando bicas / nos poemas, / relinchando e / crispando / a própria a crina. / canhestro! / ocre nas pupilas, / tato refutado, / sobrancelhas traiçoeiras, / cuspiu de canto o bardo. / até que à plateia; / a Morte / encontrou a Vida. / e foi assim, que / completou a frase / que há tanto procurara. / e ainda que gostasse / e castigasse como / um “vuduísta”, / a Morte encontrou / a Vida e; se perfumou. / bem vigarista!
HANG FERRERO – O poeta e produtor cultural Hang Ferrero é autor dos livros Aos Pés do Monte Mor(poesia,  2013) e  Código 1 - Crônicas de Plantão (2016). É co-fundador e coordenador do Grupo de Escritores Verbo e Maresia (2014), apresentador do Festival 6 Continentes (o maior Festival de Artes Integradas de Língua Lusófona do Mundo - 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019), fundador da Academia Mirim de Letras da ALBSC Seccional Itajaí/SC – 2017, membro Correspondente Internacional da Academia de Letras do Brasil/Suíça – 2018, membro Imortal da Academia de Letras de Balneário Camboriú – 2018, criador do projeto Casa de Ferrero, Espetos de Pau, que consiste em declamar poemas autorais com recursos do Spoken Word (poesia falada) e visuais, além da música conceitual (acompanhado por DJ). Veja mais aqui & aqui.

A ARTE DE AL RIO
A arte do desenhista e quadrinista Al Rio (Alvaro Araújo Lourenço do Rio - 1962-2012), que realizou trabalhos com personagens icônicos e tornou-se mais conhecido por desenhar personagens femininas sensuais, desde o seu primeiro trabalho Gen 13, até trabalhar com grandes nomes dos quadrinhos, como o aclamado Alan Moore na revista Voodoo. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE PERNAMBUCANA
A literatura do escritor, jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) aqui & aqui.
A música de Armando Lobo aqui.
A poesia de Jaci Bezerra aqui, aqui & aqui.
Tempo de Pernambuco – ensaios críticos, do advogado, crítico literário, tradutor e escritor Oscar Mendes (1902-1983) aqui.
A arte visual de Fernando Duarte aqui.
A imagem e seus labirintos: o cinema clandestino do Recife 1930-1964. de Paulo Carneiro da Cunha Filho aqui.
A Estação do bem do imaginauta Ghustavo Távora aqui.
&
A Serra do Quati, Capoeiras, aqui & aqui.