terça-feira, janeiro 14, 2020

FEYERABEND, EMILY GREENE BALCH, VIRGINIA BARATA MORAES, TATUAGEM, BELIATO & A ARTE PERNAMBUCANA


A PARTILHA DO BELIATO - Pois bem, passou o natal e, no outro dia, quando Beliato botou a cara na porta para encher a rua de pernas, deu de cara com um estranho: Bença, pai! Mal se virou, outro: Pai, porra, me dá 10 pilas aí, vai! Passou um pito e nem se avexou direito, esbarrou a venta noutro: Qualé, pai, vamos nessa? Ih! Um passo que desse lá vinha uma enfieira de supostos filhos: Pai, peraí! Passou sebo nas canelas, escondeu-se. Nada: E aí, pai! Vixe! Que é que é isso? Mais: Que foi, pai? Danou-se. Saiu arretado: Vão todos pra puta que os pariu! Eita! Dá não, véi, mãe tá esperando a grana da feira. Que porcaria é essa? Desenrola aí, meu, assim não dá, pai, ou dá ou desce! Fodeu! Foi aí que Beliato teve um troço e findou numa maca hospitalar. Quando abriu o olho, o enfermeiro: Pode ficar de boa, pai, deixei os outros todos lá fora, quarando no sol quente. Hem? Aí o médico: Esquente não, pai, dou um jeito neles. Agoniou-se e fingiu de morto. Adiantou nada, o pesadelo uma algaravia: Pai! Ô pai! Sai dessa, pai! Entrou em coma. Um zoadeiro danado lá dentro dele não lhe deixava em paz. E o capeta apareceu: Pai, agora é o acerto de contas! Como? Ué, tá esquecido é? Oxe! De repente, abriu os olhos e questionou-se: Será? Estou frito. Estava mesmo. O tinhoso lá: Vamos logo, pai! Arreda! Levantou-se meio amalucado, saiu da enfermaria e foi ganhando a rua, deparou-se com uma multidão: É pai! Calma lá! E deitou um papo para todos que um dia teve um sonho que na parede da casa onde morava havia uma botija. No outro dia, ele derrubou a parede e ela estava lá. Hoje tenho mais nada, estou pobre de Jó. Quem acredita? Essa a versão dele de como se aprumou na vida. Todo mundo sabia de outra coisa: um golpe numa ricaça. Dela, dois filhos: a filha, com ela no exterior; o filho, o mais velho, morava com ele: a menina dos seus olhos, o preferido dele. Pra ele: o único que deu certo. Nem era lá ouro dezoito. Ô pai, conta a história direito! Tenho mais nada não, estou liso. Segura a onda, véi! Verdade. Um urué botou lenha na fogueira: Ou divide tudo com a gente, ou a gente vai fazer tudo na marra! Segura a peneira, bedegueba! Tais pensando o quê? E a munheca rolou no pé do maluvido: uns contra os outros, todos contra todos. E Beliato lá se fingindo de morto. O velho morreu! Correram, socorreram. Segura a urupema na cabeça, véi! Lá estava ele de volta aos cuidados médicos e com o aloprado do lado: Adianta correr não, dessa você não escapa. Pronto. Lá fora a multidão no maior tiroteio entre a filharada, cada um dando por legítimo, todos se tratando por bastardos. E ele lá pulando fogueira, morre mas num morre. Anteciparam o velório, como não podiam fazer quarto ao defunto, ficaram de sentinela. Pensaram em matar uns bichos em oferenda à alma dele, com cânticos religiosos, excelências, glorificando seus feitos, velando. Lá pras tantas, se arretaram e começaram uma serração do véio: os bens, as posses, o que fosse, tudo serrado e partilhado igualmente entre eles. Beliato mais que morria: Tanta luta, meu Deus, para acabar nisso. Para quem era bem quisto por todos, a serração botou os podres dele para fora. Queimaram geral o filme dele. E isso juntou mais gente. O cafuçu no pé dele: Melhor se ajeitar comigo, pai! Ora, deixa disso! Você não tem saída. Isso é tudo um mal-entendido. Você que pensa. Aí ele arregou e deu uma de doido mesmo: saiu nu gritando umas coisas que ninguém entendia pela rua afora. Lá ia ele na frente e a multidão atrás. A cidade em peso viu aquele espetáculo e toda população espera até agora o retorno dele a qualquer momento. Pelo menos a mundiça em sua perseguição deixou todos em paz. Por enquanto. Que será mesmo de Beliato, hem? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Para os que examinam o rico material fornecido pela história e não têm a intenção de empobrecê-lo a fim de agradar a seus baixos instintos, a seu anseio por segurança intelectual na forma de clareza, precisão, “objetividade” e “verdade”, ficará claro que há apenas um princípio que pode ser defendido em todas as circunstâncias e em todos os estágios do desenvolvimento humano. É o princípio de que tudo vale [...] Minha intenção não é substituir um conjunto de regras gerais por outro conjunto da mesma espécie: minha intenção, ao contrário, é convencer a leitora ou o leitor de que todas as metodologias, até mesmo as mais óbvias, têm seus limites. [...] O pluralismo de teorias e concepções metafísicas não é apenas importante para a metodologia; é, também, parte essencial de uma perspectiva humanitarista [...]. Trechos extraídos da obra Contra o método (UNESP, 2007), do filósofo e físico austríaco, Paul Feyerabend (1924-1994), considerando a partir da tese da incomensurabilidade que [...] Os professores que usam avaliações e o medo do fracasso moldam os cérebros dos jovens até que eles perdem toda a imaginação que algum dia poderiam ter. A minha intenção não é substituir um conjunto de regras gerais por outro conjunto semelhante. [...] O único princípio que não inibe o progresso é: tudo vale a pena. [...]. Veja mais aqui & aqui.

EMILY GREENE BALCH - Devemos aprender a conectar nossos ideais e deles, devemos aprender a trabalhem em conjunto com eles pela justiça, pelas condições humanas de vida, pela beleza e por verdade, não apenas liberdade formal. Clubes e aulas, bibliotecas e escolas, assentamentos e, sobretudo, movimentos em que diferentes classes de cidadãos se juntam para trazer melhorias específicas no governo ou nas condições de vida, são de valor infinito, pois conduzem a esse nível unidade, na qual podemos preservar toda diferença a que os homens se apegam com eles por justiça, por condições humanas de vida, por beleza e por verdade, não meramente liberdade formal. Uma proporção muito grande da paz a qualquer preço ou simpatizantes, indubitavelmente covardes físicos, e igualmente sem dúvida uma grande proporção de ultrapacifistas de hoje que defendem visões como as descritas no jornal, em defender a paz sem levar em conta à justiça, são realmente mais influenciados pela covardia física. Eles temem morte ou dor ou desconforto além de qualquer outra coisa e gostaria de esconder seu medo por trás palavras que soam altas. É natural tentar entender o tempo em que vivemos, encontrar e analisar as forças que o movem. A industrialização baseada em máquinas, como é referida como uma característica do nosso tempo, nada mais é do que um aspecto da revolução que está sendo forjada pela tecnologia. Na enumeração dessas tendências que formam um mundo novo, não devemos esquecer a evolução do pensamento religioso ou espiritual e o sentimento da humanidade, onde também sentimos uma forte tendência unificadora. Pensamento da socióloga, escritora, pacifista e sindicalista estadunidense Emily Greene Balch (1867-1961), que foi agraciada com o Nobel da Paz de 1946. Veja mais aqui.

TATUAGEM, DE HILTON LACERDA
As praxes do improvável, junto da epifania da desordem. Eles são iniciados pela insatisfação da domesticação do trabalho, do amor, e do capital simbólico.
TATUAGEM – O premiado drama Tatuagem (2013), com direção de Hilton Lacerda, conta uma história que se passa no ano de 1978, quando um grupo de artistas provoca a moral e os bons costumes pregado pela ditadura militar, ainda atuante mas demonstrando sinais de esgotamento. Num teatro/cabaré localizado entre duas cidades nordestinas, aconteciam os espetáculos da trupe, conhecida como Chão de Estrelas. A trupe apresenta os seus espetáculos de resistência politica com muito deboche, anarquia e subversão. É neste cenário que Paulete, a estrela do grupo, recebe a visita de seu cunhado militar, o jovem Fininha. É neste encontro de mundos, o militar com a ditadura, rigidez e atrocidades, e o mundo do cabaré e da arte do Chão de Estrelas, com sua subversão, alegria e homossexualidade, é no choque entre o encontro que cria uma marca que nos lança no futuro, como uma tatuagem. O filme serve para mostrar o quanto ainda persiste certa imaturidade intelectual nas discussões sociais e políticas travadas hoje em dia. Veja mais aqui.

A ARTE VIRGINIA BARATA MORAES
A Arte é a minha paixão
VIRGINIA BARATA MORAES – A arte da escultora, artesã, artista visual e restauradora de artes sacras, Maria Virginia Barata Moraes, reunindo seu acervo no seu espaço Art’Vivi Artes, Esculturas e Restauros, trabalhando com biscuit, cabaça, cestas, luminárias em PVC, oratórios, vasos, entre outras. Veja mais aqui.

A ARTE PERNAMBUCANA
A música de Marlos Nobre aqui, aqui & aqui.
A poesia de Joaquim Cardozo aqui, aqui & aqui.
A literatura de Gilvan Lemos aqui, aqui & aqui.
A arte de J. Borges aqui, aqui & aqui.
As amizades & Assuntos pernambucanos de Barbosa Lima Sobrinho aqui e aqui.
Memória da cena teatral pernambucana aqui.
A arte da artista plástica Irene Duarte aqui.
O canavial e as Ligas Camponesas aqui & aqui.