terça-feira, janeiro 27, 2015

ANA MENDIETA, CARMEN LAFORET, LYGIA CLARK & GÜLTEN AKIN CANKOÇAK

 


ANA & A ARTE INTERROMPIDA – De Havana para a casa de praia de Varadero foi a sua infância. Aos doze anos o exílio Peter Pan num orfanato dos Estados Unidos - um êxodo forçado clandestino pro orfanato de Dubuquet: Lá eu era um ser erótico (o mito da latina ardente), agressivo e de certa forma diabólico. Isso criou em mim uma atitude muito rebelde. Desterrada, a arte foi a sua salvação em Iowa. O abalo com o estupro e assassinato de uma sua colega, motivou performar com corpo coberto por sangue: Rape Scene - uma homenagem para Sara Ann Otten: uma festa em que ela debruçou-se imóvel sobre a mesa da cozinha, com as mãos amarradas e as calças arriadas, coberta por sangue. Depois Untitled (People Looking at Blood, Moffitt) e como as pessoas viam uma poça de sangue na calçada. Todos indagavam quem seria aquela corajosa jovem estudante cubana: estava muito à frente do seu tempo. Ao sair da faculdade, sem dinheiro nem contatos, foi tentar a sorte em New York depois de ter sido vítima de extremas experiências racistas e xenófobas. Sua arte pioneira e original na transcendência e singularidade experimental foi formada pelo dialeto pessoal na busca pela conexão com um passado não vivido, a ancestralidade. Integrou a A.I.R Gallery (Artists in Residence) – ampliando as experiências de imigrante excluída, desqualificada, hipersexualizada e à procura pelo pertencimento em um país avesso ao diverso: A população branca dos Estados Unidos, diversa, mas de origem europeia básica, exterminou a civilização indígena e deixou de lado as culturas negras e não-brancas para criar uma cultura homogênea dominada pelos homens acima da divergência interna... Como mulheres não brancas, nossas lutas são duplas... O contentamento com a carreira em andamento, pois havia se apaixonado, casou-se, sua arte crescia e o relacionamento se deteriorava. Demitiu-se diante de um desentendimento. Vídeos, fotografias, landart, bodyart, a recuperação do elo terra-corpo, a conexão e o envolvimento da escala humana no não-lugar e um corpo almejando abrigo imolando seus ícones: Tendo sido arrancada da minha terra natal durante a adolescência, estou oprimida pela sensação de ter sido expulsa do útero. Minha arte é a forma em que restabeleço os laços que me conectam ao universo... A transmutação e a transitoriedade levavam ao fascínio e assombro do seu labirinto expurgando, restaurando e perlaborando a sua experiência no mundo. Sentia-se arrancada do seu chão, expulsa do ventre, buscando restabelecer os laços que a uniam ao universo, por meio da sua geopolítica ecosófica e feminista. Foi pra cidade-ruína do Pueblo Viejo – Árvore Velha e seguiu para as tumbas e cavernas nas pedras vulcânicas de Yagul, em Oaxaca, México, para conceber a Silueta Series. Quando se decidiu pelo divórcio, despencou pela janela do 34º de um prédio em Greenwich Village. Ela tinha pânico de altura e muitas evidências e versões contraditórias. A sua arte e liberdade foram atacadas, interrompidas, excluída da história pelo protocolo do silêncio. Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Minha arte é a forma como restabeleço os laços que me unem ao universo. Minha arte é fundamentada na crença de uma energia universal que atravessa tudo: do inseto ao homem, do homem ao espectro, do espectro à planta, da planta à galáxia. Minhas obras são as veias de irrigação desse fluido universal. Por elas ascendem a seiva ancestral, as crenças originais, as acumulações primordiais, os pensamentos inconscientes que animam o mundo. Pensamento da pintora, escultora, performer e vídeo artista cubana Ana Mendieta (1948–1985). Veja mais aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Quantos seres sou eu para buscar sempre do outro ser que me habita as realidades das contradições? Quantas alegrias e dores meu corpo se abrindo como uma gigantesca couve-flor ofereceu ao outro ser que está secreto dentro de meu eu? Dentro de minha barriga mora um pássaro, dentro do meu peito, um leão. Este passeia pra lá e pra cá incessantemente. A ave grasna, esperneia e é sacrificada. O ovo continua a envolvê-la, como mortalha, mas já é o começo do outro pássaro que nasce imediatamente após a morte. Nem chega a haver intervalo. É o festim da vida e da morte entrelaçadas... Pássaros e leões nos habitam, são nosso corpo-bicho... Pensamento da pintora e escultora Lygia Clark (1920-1988). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

NADA - [...] Quem poderá compreender os mil fios que unem as almas dos homens e o alcance das suas palavras? [...] Parece-me que não adianta correr se temos que seguir sempre o mesmo caminho fechado da nossa personalidade. Alguns seres nascem para viver, outros para trabalhar e outros para olhar a vida. Tive um papel pequeno e mesquinho como espectador. Impossível sair disso. Impossível me libertar. Uma angústia tremenda era a única coisa real para mim naqueles momentos [...] Não procuro gentileza nem mesmo bons modos nas pessoas..., embora acredite que estes últimos sejam essenciais para conviver com eles. Gosto de pessoas que veem a vida com olhos diferentes dos outros, que consideram as coisas de forma diferente da maioria... Talvez isso aconteça comigo porque sempre convivi com seres muito normais e satisfeitos consigo mesmos... [...] Talvez o sentido da vida para uma mulher consista apenas em ser descoberta assim, olhada de uma forma que a faça sentir-se radiante de luz.[...]. Trechos extraídos da obra Nada (Alfaguara, 2008), da escritora espanhola Carmen Laforet (1921-2004).

 

TRES POEMASPOEMA - A poesia é nossa velha cúmplice. \ Tudo o que cometemos, cometemos com ela. AREIA - Tive um amante que me mandou a areia da cidade em que morava. E sempre me \ perguntei sobre o vento daquele lugar\ É bem comportado ou louco É permanente?\ céu? O que\ tirou do chão\ Tínhamos cidades que partilhávamos Então\ o vento era mestre, eu era novato\ Ele soprou e passou com pressa\ A areia encheu meus olhos. A PRÓXIMA VEZ - Quando as coisas não acontecem do seu jeito\ Você está passando pela próxima vez\ Uma estrela cai no mundo\ De repente a terra treme\ Crianças com olhos mortos\ Esperando o sol que não nasce Tanta neve e vento\ nas montanhas O narciso esquecido Até florescer. Poema da escritora turca Gülten Akın Cankoçak (1933- 2015).

 

SACADOUTRAS

 

O SÍMBOLO DA LUTA PELOS DIREITOS – “- Por que você nos importuna”, perguntou ao policial que a abordava dentro do ônibus. – Eu não sei, mas lei é lei e você está presa!”. Esta é a abertura da narrativa do capítulo Triunfo do multiculturalismo, escrito por Demétrio Magnoli em seu Uma gosta de sangue: história do pensamento racial (Contexto, 2009). Esse caso traz a luta da costureira negra estadunidense, Rosa Parks, oficialmente Rosa Louise McCauley (1913-2005), que se tornou o símbolo do movimento dos direitos civis. A prisão ocorreu em 1955 quando ela se recusou a ceder seu lugar num ônibus para os brancos, marcando o estopim do preconceito racial que irá deflagrar o Boicote aos Autocarros de Montgomery, no Alabama. Por causa disso, por 381 dias, atendendo o chamado da Associação pelo Progresso de Montgomery, conhecida pelas iniciais MIA, a população negra da cidade parou de utilizar ônibus. Caminhando, pedalando, pegando carona ou usando táxis que, em solidariedade, cobravam o mesmo preço das tarifas dos ônibus, eles atraíram as atenções de todo país. Ativistas negros sofreram atentados e todo tipo de violência, inclusive, Luther King passou duas semanas na cadeia por conta deste evento. Uma Corte Federal do distrito julgou inconstitucional a segregação nos ônibus do Alabama e, no final de 1956, a Corte Suprema pronunciou um veredicto contra a apelação e o movimento alcançou uma vitória histórica. Depois de se aposentar, ela escreveu sua autobiografia e perseguiu seus últimos dias marcados pelo Mal de Alzheimer. Veja mais aquiaqui.

PROGRAMA TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá que vai ao ar todas terças, a partir das 21 (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação desta terça aquiLogo mais, a partir das 21hs (horário de Brasília), acontecerá mais uma edição do programa Tataritaritatá com muita festa e a apresentação da querida Meimei Corrêa. E com as seguintes atrações na programação: Mozart, Heitor Villa-Lobos, Quarteto Radamés Gnattali, Waldir Azevedo, Lenine, Rildo Hora, Geraldo Azevedo, Moraes Moreira, Milton Nascimento, Leila Pinheiro, Chico Buarque, Maria Rita, Sonia Mello, Wilson Monteiro, Milane Hora, Jan Cláudio, Eliste Retter, Monsyerrá Batista, Júlio Uçá, Ricardo Machado, Marcio Celli, Mazinho, Marisa Serrano, um especial de aniversário do Djavan & muito mais! Veja mais aqui.

SERVIÇO:
O que? Programa Tataritaritatá Especial de Ano Novo
Quando? Hoje, terça, 27 de janeiro, a partir das 21hs (horário de Brasília)
Onde? No MCLAM - blog do Programa Domingo Romântico
Apresentação: Meimei Corrêa

O programa de hoje é dedicado à memória do poetamigo Jaorish Gomes Telles.

Imagem: Mulher nua de costas, da pintora portuguesa Paula Rego. Veja mais aqui.

Ouvindo: Não é azul mas é mar (1987) de Djavan. Veja mais aqui.

PORQUE CANTAR JÁ NÃO MUDA EM MANHÃ – Quando tive o prazer e a honra de musicar este poema de Fernando Fábio Fiorese Furtado, o fiz inserir no meu show Tataritaritatá. É que o poema diz muito do que eu quero dizer no palco e na vida, e a música surgiu tão logo comecei a lê-lo. Na verdade, a música já existia no poema, eu apenas a descobri. Confira aqui e aqui.


A DIVINA COMÉDIA – O filósofo alemão Friedrich Schelling (1775-1854), entre os seus estudos desenvolvidos, tratou a respeito da obra A divina comédia, o poema sagrado do poeta e político italiano, Dante Alighieri (1265-1321), em um ensaio que expressa que: “[...] tão longínquo monumento da filosofia ligada com a poesia como são as obras de Dante, há muito recobertas pela santidade da antiguidade. [...] A admirável grandeza do poema, que refulge na interpenetração de todos os elementos da poesia e da arte, chega inteiramente, desse modo, à aparição exterior. Essa obra divina não é plástica, nem pitoresca, nem musical, mas estudo isso ao mesmo tempo e em concordante harmonia: não é dramática, nem épica, nem lírica, mas também deste gêneros uma mistura inteiramente própria, única, sem exemplo. Acredito ter mostrado, ao mesmo tempo, que ele é profético, exemplar, para toda a poesia moderna. Capta em si todas as suas determinações e sobressai-se à sua maestria, ainda multiplamente misturada, como a primeira planta que se espraia sobre a terra e para o céu, o primeiro fruto da transfiguração. Aqueles que querem conhecer a poesia do tempo mais tardio, não segundo conceitos superficiais, mas em sua fonte, que frequentem este grande e rigoroso espírito, para saber por que meios a totalidade do tempo moderno é abrangida – e que não é tão fácil de atar o elo que a unifique. Aqueles que não estão destinados a isso, que desde já apliquem a si mesmo as palavras do inicio da primeira parte: deixai partir toda esperança, ó vós que entrais!”. A obra é inquestionavelmente um clássico da literatura universal, dividido em três partes: inferno, purgatório e paraíso, descrevendo a viagem do poeta na busca pela sua musa Beatriz, num cenário de riqueza de alegorias para um relato atemporal.Veja mais aqui, aquiaqui.

JAGUADARTE – O cultuado e traduzidíssimo poema nonsense de Lewis Carroll, pseudônimo do escritor, matemático, desenhista, fotógrafo e reverendo anglicano britânico Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), Jaguadarte (em inglês Jabberwocky), tem sido apreciado pelos mais renomados críticos e estudiosos pela fusão e disposição espacial das palavras ao longo do poema, precursor da poesia de vanguarda. Eis o poema numa tradução de Augusto de Campos: Era briluz. As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os momirratos davam grilvos. "Foge do Jaguadarte, o que não morre! Garra que agarra, bocarra que urra! Foge da ave Fefel, meu filho, e corre Do frumioso Babassura!" Ele arrancou sua espada vorpal e foi atras do inimigo do Homundo. Na árvore Tamtam ele afinal Parou, um dia, sonilundo. E enquanto estava em sussustada sesta, Chegou o Jaguadarte, olho de fogo, Sorrelfiflando atraves da floresta, E borbulia um riso louco! Um dois! Um, dois! Sua espada mavorta Vai-vem, vem-vai, para tras, para diante! Cabeca fere, corta e, fera morta, Ei-lo que volta galunfante. "Pois entao tu mataste o Jaguadarte! Vem aos meus braços, homenino meu! Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!" Ele se ria jubileu. Era briluz. As lesmolisas touvas roldavam e relviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os momirratos davam grilvos. Veja mais aqui.
E como todo dia é dia da mulher, hoje é dia de homenagear a linda atriz Carrie-Anne Moss. Veja mais aqui.


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Paul Feyerabend, Gilberto Mendes, Brian de Palma, Sandra Scarr, Chaim Soutine, Penelope Ann Miller & Programa Tataritaritatá aqui.
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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