A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO DO BARÃO - Depois da perda trágica do segundogênito, teibei! E da fuga ruidosa de
sua primogênita atrepada na cacunda dum robusto afrodescendente pintudo mundo
afora - deu o créu! -, o Barão andou trocando as catracas do quengo e birutou
assim sem mais nem meses. Foi. Arriou acamado trocando os olhos e fazendo bico,
depois de um aluamento sem precedentes na terrinha boa de Alagoinhanduba. O
homem virava a noite aos boticões, a dizer coisa sem nexo dia atrás de outro. Será
que se cura, cochichavam. De repente, ele acordou mais endoidado do cabeção, às
providências: Quero gemadas! Cadê a garrafada? Chamou o primeiro xeleleu que
apareceu e despachou providência: Vá lá no armazém e traga isso aqui. O chaleira
espiou a lista que não tinha mais fim: dez caixas de catuaba da boa, duas mil
caçambas de ovos de codorna, duas toneladas de pimenta malagueta e por aí vai,
tudo de revigorante e afrodisíaco. Tomou um bom bocado de talagadas
vitamínicas, arrumou-se todo, pisou forte, bateu na caixa dos peitos e atravessou
a ponte como quem vai ganhar o mundo. Chegava aonde fosse, à marra, distribuía picadas
adoidadas no primeiro rabo de saia que encontrasse pela frente e não parou mais.
Estava virado, impando nos cangotes cheirosos, com umbigadas de garanhão no
cio. Não demorou muito, superpovoou o lugar de perder a conta do tanto da
filharada: ora bastardos, enfurecido; ora afilhados, indiferente; fila enorme
de bênção daqui, dali e dacolá: Deus te abençoe comboio de peste!. Lá pras
tantas teve recaída de um malthusianismo escatológico, resolveu botar ordem nas
coisas e dividiu a localidade em três partes: a do meio, direto da ponte morro
acima e que separava tudo de um lado a outro, o Domatouro: simples, de lá de
cima ele cagava raio, mandava capar maluvidos e adiantados, acabando com as
raposas do harém, a jogar tudo ladeira abaixo, pro lado da Reicoa – o lado
esquerdo da ponte, no qual instalou prestigiado prostíbulo em homenagem ao
inferno, propício para as orgias e velórios, sepultamentos e missas de sétimo
dia, templo construído em homenagem ao santo São Benedito, e, logo ao lado deste,
um cemitério novinho em folha: Passou da conta, quebro o espinhaço e, se morreu,
lascou. Já do lado direito da ponte, o Chocantão, esse mais arrumado - que dará
cloro para o reduto das afilhadas do Barão, as melindrosas queridinhas
exclusivas dele. No meio desse pastoril, eis que de uma das suas apadrinhadas, surgiu
uma beldade reboculosa – paga de língua, filha dele. Pense numa formosura de
menina que virou moça de quebrar pescoços e açodar defunto. Imagine o vexame! A
adolescente tomou corpo de atiçar almas do Hades e esbugalhar olhos de anjos e
arcanjos, um colosso de perdição. Nome dela? Repara só: Lili. O que ela tinha
de belezura, tinha de jeitosice. Avalie o desmantelo. O que apareceu de piração
na macharia, não está nem no gibi nem nas manchetes jornalísticas que sequer
havia por ali. O Barão perdeu o siso e as estribeiras, partiu pro incesto e
findou infartado numa maca hospitalar, vítima de priaprisma – dizem que comendo
merda e rasgando dinheiro de tão pinel, gritando: Lili, é ela! Liliiiiiiiith!
Lililili! A menina dava trabalho. O pior: bonitona e inteligentíssima. Cada vez
que ela aparecia, um alvoroço se armava: tal Paulina de Viguière do sonho de Vera. Pois é, a Frineia alagoinhandubense mexia, sem querer, com vivos e mortos
de todas as classes sociais, fosse distinto, pé-rapado, plenipotenciários,
caboetas e quejandos: todos enlouquecidos de paixonite aguda por ela. Era uma
multidão na porta de sua residência, de não ter mais tamanho, tudo esperando
qualquer pontinha da sua aparição. E quando ela dava as caras, valha-me quem
quer que seja, lá estava ela nem aí, faceira às leituras - diz-se dela airosa filósofa
de coisas, ditos e fatos de ontens e amanhãs; que aprendeu sem se ensinar,
sabia de tudo e sobre todas as coisas pretéritas, porvires e devires. Dizem
mais: escreveu um tanto incalculável de obras, desde alfarrábios volumosos
sobre as teorias da origem da vida e da morte, como opúsculos e fascículos
sobre as ocorrências diárias das mais inusitadas temáticas, desde a receita de
arroz doce saboroso à sobremesa, à explosão galáctica de não sei quantos
milênios de anos-luz de distância. Só dizem. De mesmo, ninguém nunca viu nem
capa de relance, muito menos encadernação que fosse dos seus valiosos escritos.
Mas que era douta, era, batiam o pé. Para encurtar a história, ninguém sabe
dizer ao certo se ela casou, morreu ou como foi que deu a vida dela de certo,
só reprodução da memória repetida dos avós, bisavós e tataravós. Bote lonjura
no tempo, lá para nem sei quando. Depois conto mais. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] A razão
pela qual os especialistas têm dificuldade para se comunicar é que eles estão
sujeitos à “maldição do conhecimento” – a dificuldade de entender como é não
saber algo que eles sabem. Como resultado disso, autores usam abreviações e
jargões ou falham em descrever o concreto, detalhes visuais de uma cena; eles
pressupõem que seus leitores já sabem o que eles sabem e não se preocupam em
explicar. Há inúmeras maneiras de evitar a maldição do conhecimento. A primeira
é estar ciente dela, perguntar a si mesmo “o que meu leitor já sabe sobre o que
eu estou escrevendo?”. Boa escrita requer empatia. A segunda coisa é colocar o
texto de lado por um tempo e voltar para ele depois quando ele já não é
familiar para você. Você se verá dizendo “o que eu quis dizer com isso?”. A
melhor estratégia de todas é mostrar um rascunho para um leitor representativo
e ver o que ele entende. Você se surpreenderá ao ver que o óbvio para você não
é óbvio para todo mundo. [...] O
erro é definido em relação às expectativas de determinado conjunto de leitores
– um grupo de pessoas alfabetizadas que se importam com a escrita e esperam que
determinadas convenções sejam seguidas. As línguas mudam, mas isso não acontece
de terça para quarta-feira. Se sim, ninguém poderia compreender o outro e se
você pegasse um jornal do ano anterior não entenderia nada [...] Os pensamentos ocorrem ao autor por meio de
associações – uma ideia lembra outra que leva a uma terceira ideia. Em seguida,
você se lembra que você quis dizer três coisas diferentes e que acabou omitindo-as.
Aí você antecipa uma objeção e responde à essa objeção e assim por diante. Mas
o fluxo da consciência de um autor não corresponde ao modo como o leitor
consegue absorver uma informação. O mais importante princípio na hora de
apresentar ideias é “dado, agora algo novo” – comece cada sentença com aquilo
que o leitor já está pensando, então apresente a informação nova para o leitor
no final da frase. Trechos de Boa escrita requer empatia (Carta Educação, 2016), entrevista do escritor, linguista e psicólogo canadense-americano Steven Pinker, concedida à jornalista Thais
Paiva, sobre o lançamento da obra do autor, Guia
de Escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância (Contexto,
2016). Veja mais aqui, aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: (Foto: Bárbara Nunes) - [...] Fico muitas vezes abismada com o
desconhecimento geral das novas gerações de brasileiros (e nem sempre tão novas
assim, já que isto inclui pessoas de 40, 50 anos de idade) de parte relevante
de nossa História recente, relativa aos anos de ferro da Ditadura Militar no
Brasil e América Latina. Saber daqueles dias é tão necessário para que se
conheça a identidade de nosso povo e de nosso país e continente, de forma
coletiva, como para que se entenda cada um de nós, pais e avós dos que chegam
hoje à idade madura, que trazemos inevitavelmente no corpo e na alma as marcas
e cicatrizes dos dias negros que vivemos. [...]. Trechos de Ditadura,
esqueceu?, extraído do blog Geleia Geral, da atriz, escritora, jornalista e apresentadora de
televisão, Neila Tavares. Veja mais aqui, aqui,
aqui & aqui.
RITA JOANA DE
SOUSA, FILÓSOFA BRASILEIRA
[...] Tão inacreditável, contudo, é o fato, que os
historiadores de nossa cultura tacham-na de lenda literária, muito embora a
filósofa houvesse existido em carne e osso, lenda sendo apenas a sua filosofia
ao que parece. E mais extraordinário que tudo, a filósofa brasileira foi uma
dessas frutificações tropicalmente precoces. Fruta temporã, bem cedo amadureceu
e bem cedo caiu do galho, como a camélia do samba. Aos vinte e dois anos de
idade, finou-se, não deixando versos de amor à posteridade, em que chorasse a
tristeza da morte prematura que antevia, ou as decepções amorosas da juventude,
mas tratados de filosofia natural e memórias histórias. [...] D. Rita Joana de Sousa, única filósofa
brasileira, de que se tem noticia quase cinco séculos de vida do Brasil
[...] era uma flor, era uma rosa, pela
beleza, pelo encanto, pelos dotes e prendas. Não somente se perdia em
complicados raciocínios filosóficos, mas também pintava, dizendo seus biógrafos
que deixou quadros dignos de louvor e, além de tudo, a filósofa era bonita.
[...] Era dotada de imensa erudição,
dizem os que a ela se referem, adquirida em tão poucos anos de vida não sabemos
como. Atribuem-lhe contudo a autoria de memórias históricas e até mesmo um
tratado de filosofia natural [...] A
formosa filósofa olindense continua como um dos tantos mistérios de nossa
história literária. Nem um retrato, nem um verso, nem um livro dessa que foi um
fenômeno de precocidade na vida do Brasil colonial. [...].
RITA JOANA DE
SOUSA - Trechos de Uma
filósofa brasileira, extraído da obra Vamos
conversar sobre... (Itatiaia, 1972), do advogado, crítico literário,
tradutor e escritor Oscar Mendes
(1902-1983), sobre a filósofa, pintora, poeta e historiadora Rita Joana de Souza que, segundo o
autor, nasceu em Olinda –PE, no dia 12 de maio de 1696 e faleceu em abril de
1718, enquanto são registradas as datas de 1595-1618 em diversas outras
publicações. Ela tornou-se conhecida torna-se conhecida em 1902, quando no
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro divulgou-se o livro, até então
inédito, Desagravos do Brasil e Glórias
de Pernambuco, de Domingos do Loureto Couto, beneditino pernambucano.
Segundo o crítico José Roberto Teixeira Leite, o monge dedicou à pintora um dos
17 capítulos de sua obra, cujo tema são as mulheres famosas de Pernambuco. Essa
artista é tida como a primeira mulher pintora que trabalhou no Brasil, tendo se
dedicado também as letras e a filosofia. Todos os seus manuscritos e obras artísticas
desapareceram. Outras referências dão conta com o nome dela surgiu por conta da
obra do padre Manuel Tavares, sob o pseudônimo de Diogo Manuel de Azevedo,
publicada em 1734, em Lisboa, dando conta de sua grandeza. Veja mais aqui e
aqui.
A ARTE DE ISADORA DUNCAN
Dançar é sentir, sentir é sofrer, sofrer é
amar... Tu amas, sofres e sentes. Dança! O corpo do bailarino é simplesmente a
manifestação luminosa da alma. A arte não é, de modo nenhum, necessária. Tudo o
que é preciso para tornarmos o mundo mais habitável é o amor.
A arte da bailarina estadunidense Isadora
Duncan (1878-1927). Veja mais aqui.
GINÁSIO MUNICIPAL DOS PALMARES
Nesta
terça-feira, dia 17 de setembro, foi dia de visita, juntamente com o
parceiramigo Carlos Calheiros, ao Ginásio
Municipal dos Palmares, ocasião que apresentamos à diretora da instituição
educacional, professora Gelza Graça Barreto
da Fonseca Assis, o projeto piloto do Festival
TTTTT de Arte Estudantil, uma parceria deste blog com a SEMED/Biblioteca Fenelon Barreto. Veja
mais aqui.
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