quarta-feira, setembro 18, 2019

STEVEN PINKER, NEILA TAVARES, ISADORA DUNCAN, RITA JOANA, GINÁSIO MUNICIPAL DOS PALMARES & RESSURREIÇÃO DO BARÃO


A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO DO BARÃO - Depois da perda trágica do segundogênito, teibei! E da fuga ruidosa de sua primogênita atrepada na cacunda dum robusto afrodescendente pintudo mundo afora - deu o créu! -, o Barão andou trocando as catracas do quengo e birutou assim sem mais nem meses. Foi. Arriou acamado trocando os olhos e fazendo bico, depois de um aluamento sem precedentes na terrinha boa de Alagoinhanduba. O homem virava a noite aos boticões, a dizer coisa sem nexo dia atrás de outro. Será que se cura, cochichavam. De repente, ele acordou mais endoidado do cabeção, às providências: Quero gemadas! Cadê a garrafada? Chamou o primeiro xeleleu que apareceu e despachou providência: Vá lá no armazém e traga isso aqui. O chaleira espiou a lista que não tinha mais fim: dez caixas de catuaba da boa, duas mil caçambas de ovos de codorna, duas toneladas de pimenta malagueta e por aí vai, tudo de revigorante e afrodisíaco. Tomou um bom bocado de talagadas vitamínicas, arrumou-se todo, pisou forte, bateu na caixa dos peitos e atravessou a ponte como quem vai ganhar o mundo. Chegava aonde fosse, à marra, distribuía picadas adoidadas no primeiro rabo de saia que encontrasse pela frente e não parou mais. Estava virado, impando nos cangotes cheirosos, com umbigadas de garanhão no cio. Não demorou muito, superpovoou o lugar de perder a conta do tanto da filharada: ora bastardos, enfurecido; ora afilhados, indiferente; fila enorme de bênção daqui, dali e dacolá: Deus te abençoe comboio de peste!. Lá pras tantas teve recaída de um malthusianismo escatológico, resolveu botar ordem nas coisas e dividiu a localidade em três partes: a do meio, direto da ponte morro acima e que separava tudo de um lado a outro, o Domatouro: simples, de lá de cima ele cagava raio, mandava capar maluvidos e adiantados, acabando com as raposas do harém, a jogar tudo ladeira abaixo, pro lado da Reicoa – o lado esquerdo da ponte, no qual instalou prestigiado prostíbulo em homenagem ao inferno, propício para as orgias e velórios, sepultamentos e missas de sétimo dia, templo construído em homenagem ao santo São Benedito, e, logo ao lado deste, um cemitério novinho em folha: Passou da conta, quebro o espinhaço e, se morreu, lascou. Já do lado direito da ponte, o Chocantão, esse mais arrumado - que dará cloro para o reduto das afilhadas do Barão, as melindrosas queridinhas exclusivas dele. No meio desse pastoril, eis que de uma das suas apadrinhadas, surgiu uma beldade reboculosa – paga de língua, filha dele. Pense numa formosura de menina que virou moça de quebrar pescoços e açodar defunto. Imagine o vexame! A adolescente tomou corpo de atiçar almas do Hades e esbugalhar olhos de anjos e arcanjos, um colosso de perdição. Nome dela? Repara só: Lili. O que ela tinha de belezura, tinha de jeitosice. Avalie o desmantelo. O que apareceu de piração na macharia, não está nem no gibi nem nas manchetes jornalísticas que sequer havia por ali. O Barão perdeu o siso e as estribeiras, partiu pro incesto e findou infartado numa maca hospitalar, vítima de priaprisma – dizem que comendo merda e rasgando dinheiro de tão pinel, gritando: Lili, é ela! Liliiiiiiiith! Lililili! A menina dava trabalho. O pior: bonitona e inteligentíssima. Cada vez que ela aparecia, um alvoroço se armava: tal Paulina de Viguière do sonho de Vera. Pois é, a Frineia alagoinhandubense mexia, sem querer, com vivos e mortos de todas as classes sociais, fosse distinto, pé-rapado, plenipotenciários, caboetas e quejandos: todos enlouquecidos de paixonite aguda por ela. Era uma multidão na porta de sua residência, de não ter mais tamanho, tudo esperando qualquer pontinha da sua aparição. E quando ela dava as caras, valha-me quem quer que seja, lá estava ela nem aí, faceira às leituras - diz-se dela airosa filósofa de coisas, ditos e fatos de ontens e amanhãs; que aprendeu sem se ensinar, sabia de tudo e sobre todas as coisas pretéritas, porvires e devires. Dizem mais: escreveu um tanto incalculável de obras, desde alfarrábios volumosos sobre as teorias da origem da vida e da morte, como opúsculos e fascículos sobre as ocorrências diárias das mais inusitadas temáticas, desde a receita de arroz doce saboroso à sobremesa, à explosão galáctica de não sei quantos milênios de anos-luz de distância. Só dizem. De mesmo, ninguém nunca viu nem capa de relance, muito menos encadernação que fosse dos seus valiosos escritos. Mas que era douta, era, batiam o pé. Para encurtar a história, ninguém sabe dizer ao certo se ela casou, morreu ou como foi que deu a vida dela de certo, só reprodução da memória repetida dos avós, bisavós e tataravós. Bote lonjura no tempo, lá para nem sei quando. Depois conto mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] A razão pela qual os especialistas têm dificuldade para se comunicar é que eles estão sujeitos à “maldição do conhecimento” – a dificuldade de entender como é não saber algo que eles sabem. Como resultado disso, autores usam abreviações e jargões ou falham em descrever o concreto, detalhes visuais de uma cena; eles pressupõem que seus leitores já sabem o que eles sabem e não se preocupam em explicar. Há inúmeras maneiras de evitar a maldição do conhecimento. A primeira é estar ciente dela, perguntar a si mesmo “o que meu leitor já sabe sobre o que eu estou escrevendo?”. Boa escrita requer empatia. A segunda coisa é colocar o texto de lado por um tempo e voltar para ele depois quando ele já não é familiar para você. Você se verá dizendo “o que eu quis dizer com isso?”. A melhor estratégia de todas é mostrar um rascunho para um leitor representativo e ver o que ele entende. Você se surpreenderá ao ver que o óbvio para você não é óbvio para todo mundo. [...] O erro é definido em relação às expectativas de determinado conjunto de leitores – um grupo de pessoas alfabetizadas que se importam com a escrita e esperam que determinadas convenções sejam seguidas. As línguas mudam, mas isso não acontece de terça para quarta-feira. Se sim, ninguém poderia compreender o outro e se você pegasse um jornal do ano anterior não entenderia nada [...] Os pensamentos ocorrem ao autor por meio de associações – uma ideia lembra outra que leva a uma terceira ideia. Em seguida, você se lembra que você quis dizer três coisas diferentes e que acabou omitindo-as. Aí você antecipa uma objeção e responde à essa objeção e assim por diante. Mas o fluxo da consciência de um autor não corresponde ao modo como o leitor consegue absorver uma informação. O mais importante princípio na hora de apresentar ideias é “dado, agora algo novo” – comece cada sentença com aquilo que o leitor já está pensando, então apresente a informação nova para o leitor no final da frase. Trechos de Boa escrita requer empatia (Carta Educação, 2016), entrevista do escritor, linguista e psicólogo canadense-americano Steven Pinker, concedida à jornalista Thais Paiva, sobre o lançamento da obra do autor, Guia de Escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância (Contexto, 2016). Veja mais aqui, aqui e aqui.

ALGUÉM FALOU: (Foto: Bárbara Nunes) - [...] Fico muitas vezes abismada com o desconhecimento geral das novas gerações de brasileiros (e nem sempre tão novas assim, já que isto inclui pessoas de 40, 50 anos de idade) de parte relevante de nossa História recente, relativa aos anos de ferro da Ditadura Militar no Brasil e América Latina. Saber daqueles dias é tão necessário para que se conheça a identidade de nosso povo e de nosso país e continente, de forma coletiva, como para que se entenda cada um de nós, pais e avós dos que chegam hoje à idade madura, que trazemos inevitavelmente no corpo e na alma as marcas e cicatrizes dos dias negros que vivemos. [...]. Trechos de Ditadura, esqueceu?, extraído do blog Geleia Geral, da atriz, escritora, jornalista e apresentadora de televisão, Neila Tavares. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

RITA JOANA DE SOUSA, FILÓSOFA BRASILEIRA
[...] Tão inacreditável, contudo, é o fato, que os historiadores de nossa cultura tacham-na de lenda literária, muito embora a filósofa houvesse existido em carne e osso, lenda sendo apenas a sua filosofia ao que parece. E mais extraordinário que tudo, a filósofa brasileira foi uma dessas frutificações tropicalmente precoces. Fruta temporã, bem cedo amadureceu e bem cedo caiu do galho, como a camélia do samba. Aos vinte e dois anos de idade, finou-se, não deixando versos de amor à posteridade, em que chorasse a tristeza da morte prematura que antevia, ou as decepções amorosas da juventude, mas tratados de filosofia natural e memórias histórias. [...] D. Rita Joana de Sousa, única filósofa brasileira, de que se tem noticia quase cinco séculos de vida do Brasil [...] era uma flor, era uma rosa, pela beleza, pelo encanto, pelos dotes e prendas. Não somente se perdia em complicados raciocínios filosóficos, mas também pintava, dizendo seus biógrafos que deixou quadros dignos de louvor e, além de tudo, a filósofa era bonita. [...] Era dotada de imensa erudição, dizem os que a ela se referem, adquirida em tão poucos anos de vida não sabemos como. Atribuem-lhe contudo a autoria de memórias históricas e até mesmo um tratado de filosofia natural [...] A formosa filósofa olindense continua como um dos tantos mistérios de nossa história literária. Nem um retrato, nem um verso, nem um livro dessa que foi um fenômeno de precocidade na vida do Brasil colonial. [...].
RITA JOANA DE SOUSA - Trechos de Uma filósofa brasileira, extraído da obra Vamos conversar sobre... (Itatiaia, 1972), do advogado, crítico literário, tradutor e escritor Oscar Mendes (1902-1983), sobre a filósofa, pintora, poeta e historiadora Rita Joana de Souza que, segundo o autor, nasceu em Olinda –PE, no dia 12 de maio de 1696 e faleceu em abril de 1718, enquanto são registradas as datas de 1595-1618 em diversas outras publicações. Ela tornou-se conhecida torna-se conhecida em 1902, quando no Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro divulgou-se o livro, até então inédito, Desagravos do Brasil e Glórias de Pernambuco, de Domingos do Loureto Couto, beneditino pernambucano. Segundo o crítico José Roberto Teixeira Leite, o monge dedicou à pintora um dos 17 capítulos de sua obra, cujo tema são as mulheres famosas de Pernambuco. Essa artista é tida como a primeira mulher pintora que trabalhou no Brasil, tendo se dedicado também as letras e a filosofia. Todos os seus manuscritos e obras artísticas desapareceram. Outras referências dão conta com o nome dela surgiu por conta da obra do padre Manuel Tavares, sob o pseudônimo de Diogo Manuel de Azevedo, publicada em 1734, em Lisboa, dando conta de sua grandeza. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE ISADORA DUNCAN
Dançar é sentir, sentir é sofrer, sofrer é amar... Tu amas, sofres e sentes. Dança! O corpo do bailarino é simplesmente a manifestação luminosa da alma. A arte não é, de modo nenhum, necessária. Tudo o que é preciso para tornarmos o mundo mais habitável é o amor.
A arte da bailarina estadunidense Isadora Duncan (1878-1927). Veja mais aqui.

GINÁSIO MUNICIPAL DOS PALMARES
Nesta terça-feira, dia 17 de setembro, foi dia de visita, juntamente com o parceiramigo Carlos Calheiros, ao Ginásio Municipal dos Palmares, ocasião que apresentamos à diretora da instituição educacional, professora Gelza Graça Barreto da Fonseca Assis, o projeto piloto do Festival TTTTT de Arte Estudantil, uma parceria deste blog com a SEMED/Biblioteca Fenelon Barreto. Veja mais aqui.
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Outras do Barão aqui & O sonho de Vera aqui.