quinta-feira, setembro 19, 2019

PAULO FREIRE, LOUZEIRO, MARIA CECÍLIA MANSUR, SARAH HARVEY & A VIDA E O VIVER


A VIDA E O VIVER – A vida dá muitas voltas, feliz de quem entra na onda e consegue sair dela. O que hoje é tido no maior valor, amanhã poderá não ter a menor valia. Ou, o ínfimo de agora, fortuna amanhã. Nunca se sabe. Cada coisa possui razão de ser; de onde menos se espera, acontece. Como diz o escritor estadunidense John Gardner (1933-1982): “Por trás de todo problema existe uma oportunidade brilhantemente disfarçada”. Vale o olhar da descoberta e as lições advindas das experiências. Nada mais. O que virá depois, nunca se sabe, realmente. Algumas ideias chegam promissoras e, parecem, prontas pro sucesso; muitas – ou quase todas -, ao contrário, fadadas ao fracasso. Para alguns, êxito é pura sorte; para outros: resultados da determinação. Cada qual sua sina de Perseu diante da Medusa: ou prospera degolando a cabeça de todas as adversidades, ou se petrifica diante do primeiro obstáculo. Aos que venceram, louros; aos derrotados, o amargor da decepção. Todos seguem para novo desafio. Alguns compram na esquina, embora não saibam sequer ser e ter. Entretanto, a vida, na vera, é outra coisa. Talvez a coragem para arrebentar as redomas intransponíveis, tirar a corda do pescoço, livrar-se da espada de Dâmocles, arrancar as mordaças da resignação, abrir as vistas vendadas pelo sectarismo, sair daquela do sal se pisando, deixar de pagar pato indébito, saber ralar no trampo, sentir o gosto ruim das derrocadas. Quantas tempestades, mínimas bonanzas; quantos aperreios de arrancar os cabelos, quantas noites em claro, quantos trejeitos dos que são do contra suplantando os cacoetes dos que estavam a favor, quantas portas na cara, quantos planos abortados, quantas somas noves fora nada, quantas projeções invalidadas, quantos nocautes de última hora. Se não aprender, refazer a lição. O usual é: se há perigo iminente, abandonar do navio, o último que apague a luz - a covardia, ou esperteza, como expediente de fuga. Há outra coisa: é como a semente não saber da raiz; a raiz, o tronco; o tronco desconhecer dos galhos; os galhos não enxergarem folhas, flores e frutos. E, ao primeiro vendaval, sair fora – quem é doido para experimentar dos segredos dos abismos, da valia das quedas, o gosto da perda, a dor de aprender os mistérios do visinvisível ao nosso redor. Para quem persevera tudo é imprevisível; dar ou não certo, quem sabe; persistir segurando a primavera nos dentes, seja para o que for, saberá: uma esperança e o desconforto da dúvida. Todavia, quem desiste, nunca saberá o gosto de qualquer vitória. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Nada ou quase nada existe em nossa educação, que desenvolva no nosso estudante o gosto da pesquisa, da constatação, da revisão dos “achados” — o que implicaria no desenvolvimento da consciência transitivo-crítica. Pelo contrário, a sua perigosa superposição à realidade intensifica no nosso estudante a sua consciência ingênua. A própria posição da nossa escola, de modo geral acalentada ela mesma pela sonoridade da palavra, pela memorização dos trechos, pela desvinculação da realidade, pela tendência a reduzir os meios de aprendizagem às formas meramente nocionais, já é uma posição caracteristicamente ingênua. Cada vez mais nos convencemos, aliás, de se encontrarem na nossa inexperiência democrática, as raízes deste nosso gosto da palavra oca. Do verbo. Da ênfase nos discursos. Do torneio da frase. É que toda esta manifestação oratória, quase sempre também sem profundidade, revela, antes de tudo, uma atitude mental. Revela ausência de permeabilidade característica da consciência crítica. E é precisamente a criticidade a nota fundamental da mentalidade democrática. [...] A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa. [...] Trechos extraídos da obra Educação como prática da liberdade (Paz e Terra, 1967), do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: [...] Como fugir das pás do moinho? Como interromper a correnteza do rio? Era impossível. [...] Um dia na solitária, no descampado de silêncio, patas do cão sem nome arranhando as pedras, teve um desejo invadindo-lhe o corpo, dominando-o até atingir os olhos rasos de lágrimas. Gostaria de ser um cão, como esse, sem dono e sem companhia. Ir por aí. Pelos caminhos e gramados. Perder-se onde o sol tira faíscas da areia, derrama ouro na grama e as borboletas ganham o mel e as flores [...] Volta à cela, apaixonado com a ideia de tornar-se pintor [...] O ódio não termina nunca. E aqui é a vasilha onde todo o ódio do mundo se junta. Adeus traços suaves e inteligentes de Picasso, adeus formas angulosas e dramáticas de Portinari. Não serei pintor. Sou a própria pintura. O ser descomunal de Goya. [...]. Trechos extraídos da obra Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (Círculo do Livro, 1987), do escritor e roteirista José Louzeiro (1932-2017). Veja mais aqui e aqui.

GOSTÔSA & MARIA CECÍLIA MANSUR
Uma cybergirl subverte todas as mesmices reinventando a si mesma a partir do seu desejo. Na sua trajetória, emerge de um lugar de onde queriam que ela nunca tivesse saído.
MARIA CECÍLIA MANSUR – A arte da atriz Maria Cecília Mansur, que atua nas áreas de teatro, dança e cinema. Gostôsa (2017), um espetáculo baseado na obra Monólogo, de Simone Beauvoir, que se define como inspiração para o corpo erótico diverso, dotado de história, de individualidade, de experiências e contextos singulares, do universo feminino e suas questões, pretendendo desconstruir padrões estéticos e desvelar a experiência da mulher com o próprio corpo. O trabalho aponta para situações comuns a muitas mulheres e toca em temas tabus como: o prazer feminino, a submissão, a idealização da mulher, os padrões femininos de beleza, a maneira de sentir e se expressar em relação ao ser amado. A montagem propõe levantar as questões contextuais pertinentes, abrindo espaços compartilhados de comunicação e manifestação da voz feminina, ainda reprimida em muitos extratos da sociedade, uma vez que o modo como a mulher vê, percebe e sente a realidade é diferente dos homens. O intuito é revelar às mulheres como elas são e podem ser essencialmente gostosas, com todas as suas peculiaridades, ampliando possibilidades de discussões sobre o ser feminino, suas lutas diárias e sua diversidade. Além disso, permite que mulheres e homens tomem consciência do quão normatizado e padronizado é olhar de cada um, diante de questões como erotismo, sexualidade, nudez e libertação, ingredientes matizados com a interpretação e a discussão sobre as questões do universo feminino. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE SARAH HARVEY
Minhas pinturas de figuras flutuantes são predominantemente autorretratos. Eu pretendo criar pinturas que despertam uma sensação de bem-estar e prazer, enquanto simultaneamente sugiro noções de insegurança, fantasia e sexualidade. Inteiramente suspensas pela água, as formas humanas são fragmentadas pela ondulações e redemoinhos criados pela água, abstraindo-os e, muitas vezes, com resultados implausíveis, como o aparecimento de desfiguração ou distorção. Fico cada vez mais empolgada com os elementos abstratos desses trabalhos e com a interação entre luz, cor e água, padrões emergentes que estão se tornando mais aparentes e dominantes, chamando a atenção não apenas para o principal ponto focal da forma humana, mas também para as áreas circundantes, que têm igual significado
A arte da fotografa britânica Sarah Harvey. Veja mais aqui.