terça-feira, setembro 17, 2019

WILLIAM CARLOS WILLIAMS, PERNIOLA, KINGSFORD, ANITA EKBERG, SIMÕES DE ALMEIDA, BELLINI & MADDALENA


CANÇÃO DO AMOR INFELIZ - Ao que o amor é capaz, gentil napolitana, entre muitos amores agitados e tormentosas paixões. Vi-lhe Maddalena, a sua morenice de filha única, sua graça adolescente, seu dom musical. Ah, como cantava, tocava cravo, dançava, poetava. Antes tímida, inocentemente encantadora, o primoroso refinamento com o realce dos seus atributos físicos no meu fascínio, a se mexer com jeito voluptuoso, as vestes elegantes, a renda sobre a pele, o mistério dos véus de seu perfume, o culto da perfeição: uma formosa mulher. Entre aulas e notas, eu me apaixonei pela sua meiguice; entre uma escala e outra, um trinado e uma pausa, as nossas mãos se tocaram, dedos entrelaçados, beijo rápido e amedrontado. Os seus versos e a minha música, nada mais que um para o outro: o céu ressoante de harmonia, a me fazer seu mestre, minha discípula; e seu êxtase raiava feito o dia no meu coração transbordante - a sua jovialidade esbelta de alvorada estival, a lisura de mármore da sua pele acetinada, a boca farta e úmida de todas as fontes e aromas, seus suntuosos vestidos contendo a respiração acelerada pelo fogo do seio inadvertidamente a descoberto, ao meu leve toque e o desejo devorador no calor do seu êxtase a se precipitar em meus braços, como uma tempestade turbulenta, ardendo aos beijos esgotados de luxúria. Abrasados, extravasamos no último arroubo apaixonado, agitados e febris, tentado a seduzi-la como animal faminto e sem recato, obcecado por sua companhia que cada vez mais me atraía com fervor, para venerar cada ato, cada gesto, toda para o afago arrepiado da excitação pela música invisível do seu ser de vigorosa sensualidade. Era o desmedido anseio de desfrutar do seu amor e beleza, uma verdadeira obra de arte que eu, tantalizado, traduzi com meus sentimentos por acordes e temas de canções infinitas. Tomei pé da situação, era chegada a hora do sonho no leito conjugal, e velando por sua castidade e reputação, tornar real todo o devaneio. Apesar do êxito de Adelson e Savini, pedi a sua mão: fui acusado de atrevido. Diziam: Não se enxerga! –, era uma rica e prendada herdeira. Fui repudiado. Não me dei por vencido e inspirado na eleita do meu coração, Branca e Fernando: o amor infeliz: prantos, desesperos, sofrimentos. Fui recusado pela segunda vez: sou apenas um pobre chocalho do piano. Inconsolável, taciturno, coração ferido. Muito mais: amargurado, deixei a Catania em busca da fortuna. Dolorida saudade. No meio dos dias um turbilhão de salas de estar e damas apaixonadas, capazes de qualquer subterfúgio para escapar ao controle de seus maridos, nenhuma delas e eu sucumbia entre as inflexíveis e inabaláveis negativas de seus pais. Ah, quantas vezes morri, não sei, perdi a conta. Você me dominava: ideias, vontades, desalentos. Fui aos extremos e desfaleci, não havia mais nada, mundo destruído. Respirei fundo e me refiz das cinzas: a vida é seguir adiante, mesmo para quem não saiba mesmo para onde ir. Reconstruí o céu desfeito, recomecei dos escombros e juntei o que sobrou, quase nada do que sou. Menti viver para mim e todos: um morto em busca da alma perdida. Passei a viver a mentira dos colossais castelos, o fausto do coração vazio. Prosperei na minha patética ilusão solitária, envolto por festanças fraudulentas de convivas sorridentes, nem davam conta da minha palidez soturna. Eu sobrevivia, entre males e desdém. Quando menos esperava, me oferecem a sua mão. Surpreso, restou-me revidar, contudo o coração falava aos gritos. Já era tarde, não desposaria mais ninguém. A lembrança fustigava no peito e vivia da música colhida do seu ser. Pobre Lena, bela flor, não era mais que um devaneio, mesmo que estivesse sob o triunfo de Bianca e Fernando no Carlo Felice, eu me esvaía nos boudoirs das damas da boa sociedade. Sofri muito mais ao saber do seu padecimento, eu também me enterrava. Hoje você não está mais aqui, tudo se dissipava enquanto eu me perdia na trama do I Puritani. Reacendia no meu coração a extinta chama: a musa inspiradora esvoaçante com a sua graça triste, não mais que uma imagem alimentada pela paixão impossível. A recordação era sua estatueta de Casta Diva. De que adiantava a vida: Se se morre de amor. Você vive em mim: A boa música nasce apenas do amor. Nada mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Na realidade há uma produção cada vez mais conspícua de mercadorias industriais, que são objeto de desejo de grande parte do mundo. É certo que esta produção ocorre segundo formas organizativas muito diferentes, de diferentes áreas geopolíticas e de uma diversa integração entre estado, mercado, intervenção global e welfare. De modo que se uma vez se dava a alternativa entre capitalismo e socialismo, e sucessivamente, entre duas formas de capitalismo (o anglo-americano e o alemão-japonês), agora os economistas distinguem pelo menos cinco formas de capitalismo. Seria necessário estudar caso por caso como se configura a relação entre a produção e a comunicação. [...]. Trecho extraído da entrevista concedida ao jornalista Massimo di Felice (Revista de Italistica, 2006), pelo filósofo italiano Mario Perniola (1941-2018). Veja mais aqui e aqui.

ALGUÉM FALOU: [...] Nenhum homem que pretenda tornar sua vida um todo harmonioso, puro, completo e inofensivo para os outros, pode suportar satisfazer um apetite à custa do sofrimento diário e do derramamento de sangue de seus inferiores em grau, e da degradação moral de sua autoria. Não sei o que mais me impressiona na ética dessa questão: a injustiça, a crueldade ou a maldade de comer carne. A injustiça é para os açougueiros, a crueldade é para os animais, a maldade diz respeito ao consumidor. Em relação a este último em particular, eu me pergunto muito que pessoas refinadas - sim, até decentes - não se sentem insultadas por receberem, como é óbvio, porções de cadáveres como alimento! Esses comestíveis podem ser tolerados durante cercos, ou em épocas de outras privações de meios adequados em circunstâncias excepcionais, mas no meio de uma comunidade civilizada capaz de comandar uma profusão de alimentos saudáveis e deliciosos, deveria ser considerado uma afronta a morte: carne diante de um hóspede. [...]. Trecho extraído de Addresses and essays on vegetarianism (1912), da médica, escritora e mística britânica Anna Kingsford (1846-1888), ativista feminista do vegetarianismo e combatente contra vivissecção de animais.

A ARTE DE ANITA EKBERG
Fui eu quem fez Fellini famoso, e não o contrário.
A coisa mais importante para um bom casamento é aprender a argumentar pacificamente.
ANITA EKBERG - A arte a atriz, miss, modelo e cultuada sex symbol sueca Anita Ekberg (1931-2015), que iniciou sua carreira profissional na adolescência, como modelo para revista de moda. Em 1950, venceu o concurso de Miss Malmo, sua cidade natal, sendo depois eleita Miss Suécia, em 1951. Ao ficar entre as finalistas de Miss Universo, nos Estados Unidos, tornou-se uma prestigiada e afamada pin-up nos 1950. Casou-se duas vezes e teve uma vida amorosa bastante agitada. Entre seus filmes, destaco inicialmente Back fron Eternity (1956). Dirigido por John Farrow, contando a história sobre a queda de um avião que cai na América do Sul, em território de caçadores de cabeças. O western Valerie (1957), de Gerd Oswald, conta a história dos ferimentos da uma esposa de respeitado herói de guerra, que teve seus filhos assassinados, e ela é acusada de infidelidade durante os depoimentos. Já o drama noir, Screaming Mimi (1958), dirigido por Gerd Oswald, adaptado do romance homônimo de Fredric Brown, conta da história de uma bela jovem na praia da California, aparece um louco que apunhala seu cachorro, a ataca e é morto por seu irmão, com um tiro de rifle, o que a leva a ser internada num sanatório, perseguida por um serial killer, e o médico psiquiatra se apaixona por ela. Por fim, o premiado drama italiano La Dolce Vita (1960), dirigido por Federico Fellini, contando a história de um jornalista que escreve para revistas de fofocas, durante sete dias e noites em sua jornada pela "doce vida" de Roma em uma busca infrutífera por amor e felicidade. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE JOSÉ SIMÕES DE ALMEIDA
A arte do escultor português José Simões de Almeida (Sobrinho) (1880-1950), que esculpiu bustos e monumentos. Veja mais aqui.

A OBRA DE WILLIAM CARLOS WILLIAMS
O trabalho do poeta é usar a linguagem de maneira eficaz, sua própria língua, a única língua que lhe é autêntica.
A obra do poeta e dramaturgo William Carlos Williams (1883-1963) aqui e aqui.
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A OBRA DE VINCENZO BELLINI
A obra do compositor operista italiano Vincenzo Bellini (1801-1835) aqui e aqui.
PS: O grande amor da vida de Bellini foi a cantora, pianista, poeta e dançarina napolitana Maddalena Fumaroli (1802-1834), filha única de um severo e abastado magistrado, a qual o compositor deu aulas de música e se apaixonou. Ao ser recusado duas vezes pelos pais de contrair núpcias com a beldade, ele definitivamente optou pela música. A história de amor infeliz do casal foi para o cinema por duas vezes: Diva Casta: uma biografia romantizada de Bellini (1935-1954), dirigido por Carmine Gallone; e também para o romance: I due grandi amori di Vincenzo Bellin : Maddalena Fumaroli e Giuditta Cantù (Il Convivio, 2009), de Ivan Tavear; também registrada na A Enciclopédia de Músicos e Bandas em Filme (Rowman & Littlefield, 2016), de Melissa UD Goldsmith, Paige A. Willson e Anthony J. Fonseca; no livro The Sin of Norma: o romance histórico sobre a vida de Vincenzo Bellini (Treves, 1937), de Marcello Arduino; Da Vita amorosa de Vincenzo Bellini (Aurora, 1935), romance de Giannina Ammirata; no thriller Fleuve Noir Bellini ou la mort d 'Orphée, e Roxane Azimi; a novela Bellini 2008, de Alvise Spadaro; e a Vida amorosa de Bellini (Atena, 1950), de António Aniante.