OS PANTINS & SUMIÇO DO BIRITOALDO – O Biritoaldo não toma mesmo jeito. Não bastou ser escorraçado com um
bocado de chifres embelezando o quengo e presenteado gentil e diligentemente pela
Munga; de ter sido defenestrado com um chutaço nos glúteos pela Xica Doida, de
ficar se arrastando de quatro, todo desconjuntado por um bocado de dia – A
mulher tem uma patada atômica ineivada à la Rivelino, meu! -; de ter variado mundo
afora numa paixonite descabelada por uma foto desbotada – era da Amy Winehouse
antes do sucesso, lascou-se ao saber que ela tinha morrido fazia tempo -; de
ter sido barrado depois de uma recaída sentimental das brabas – era pela Rebel Wilson - Ué, esse cabra devia se agarrar com a santa Rita de Cássia, vai gostar
de causas impossíveis assim lá no raio que o parta, meu! -; e depois de tanta
dor de corno, enfiou o dente com força nas biritas de perder o carnaval e a noção do tempo; e de sair
se vingando de formigueiro, ih,
danou-se! Parece que agora ele emborcou de vez e ganhou a simpatia da galera:
Aê, Birito, já vai, né? Vai pra porra, fresco! E aí Birito? Vai te lascar,
viado! Birito, vem cá, conta uma pra gente, vai! Só se rolar uma meiota! Desce
aí uma lapada boa pro Birito, meu! Qual é a nova? Ah, não te conto. E arriava
peta maior que as aldrabices dos mitômanos. Bote patranha cabeluda, sempre
levando a maior. É mesmo, rapaz? Todos se arregalavam na maior das gaitadas.
Desce outra carraspana aqui pro Birito, meu! E de gole em engulhos, ele
debulhava suas pinoias, cada gazopa maior que a outra, inventando acontecidos
de seu próprio heroísmo e macheza. Comigo é assim! Faziam que davam fé só para
ver até onde ele ia. Tome corda, dele sair todo pabo, trocando as pernas de tão
zarolho dos quequeos, tropicando às topadas, até se arranchar num cantinho duma
igreja que fosse; isso, quando não, meio lá e meio cá, arremedar o ofício do
pároco - ou pastor, por engano: Estou só me agarrando com Santo Expedito, ora! Não
adiantava coroinha que fosse para expulsá-lo, logo voltava. Queria falar com o
sacerdote de qualquer jeito. Insistia: Não está ou não pode, saiu, ou sai para
lá, pinguço! Até o padre perder a paciência e saber o que ele queria. Diga! Seu
padre, como é que se pega doença? Assim: vagabundeando, fazendo coisas erradas,
irresponsável todo malabanhado, fedendo, aperreando a família, bebendo feito
satanás com sede e atrapalhando a vida dos outros. Calma, cidadão, calma aí, eu
só estou preocupado porque soube que o papa estava doente, por isso que vim
saber do senhor. Bota esse sujeito para fora, já! E saíam aos empurrões para
jogá-lo no meio da rua: Isso é lá coisa que se faça com um sujeito católico que
nem eu, seus merdas! Vou virar uma teibei agora! Ninguém sabe como, ele se apossava aprumado de uma garrafa do aperitivo escalafobético,
de findar cantarolando no maior berreiro a sua cornice desmedida, aos goles,
peidos e soluços. Embeiçava a carraspana de se envultar por dias, só
desenvultando dessa vez, por conta dos assopros de um fuleiro tocador dum pife de
Hamelim, puxando uma enfieira de ratos que infestaram Alagoinhanduba, feito praga do maior aperreio para a população. Lá
foi ele dançando aos tombos, acompanhando o séquito de guabirus para nunca mais
dar sinal de vida. Eita! Alguém viu o Birito por aí? É, nunca mais deu as
caras. Por onde é que anda aquele estroina cornudo, hem? Rapaz, faz tempo que
deu o maior sumiço. Soube que ele foi enfeitiçado pelo pifeiro da ratoeira e se
picou. Ah, ele tá roendo a dor de corno dele, deixa para lá. Um dia aparece.
Ah, sim. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] A arte só ganha o noticiário hoje quando uma
obra é roubada de um museu ou uma pintura de um artista famoso é vendida por um
preço absurdamente alto em um leilão. A arte se transformou em investimento
para os super-ricos, em nada diferente de diamantes ou imóveis. Essa ostentação
e esse excesso distorceram a percepção popular da arte, que toma a aparência de
um jogo narcisista e ganancioso dos poderosos para a maior parte das pessoas.
[...] A comunidade artística falhou em
reconhecer ameaças à sua existência. Por isso escrevi esse livro (Imagens
cintilantes), para tentar demonstrar a complexidade e a dimensão espiritual da
arte, que não pode ser totalmente emulada por iPhone. [...] O mercado de arte hoje é um espetáculo
grotesco de pretensão e ganância. Obras de arte são tratadas como objetos frios
de investimento financeiro, exatamente como diamantes, mansões ou carros
esportivos. Artistas de destaque do passado e do presente se tornaram marcas,
sendo promovidos como empresas comerciais lucrativas. [...].
Trechos
extraídos de Como viver juntos – Libreto
(Fronteiras do Pensamento, 2015), da
escritora, professora e crítica social estadunidense Camille Paglia.
Veja mais aqui.
BAIXIO DAS BESTAS
O
premiado drama Baixio das Bestas (2006),
dirigido por Claudio Assis, aborda sobre a condição da mulher desprotegida numa
dramática situação de prostituição ilegal e exploração sexual de menores. Conta
a história da jovem Auxiliadora que é explorada por seu avô moralista, que
expõe a neta nua por dinheiro em posto de parada de caminhões na região dos
canaviais pernambucanos. Na cidade, um estudante de família classe média, se
envolve no final de semana com álcool, drogas e orgias sadomasoquistas com as
prostitutas de uma cafetina afamada. A história se complica com o cruzamento
dos personagens, envolvendo paixões, desejos e intrigas. Veja mais aqui.
A ESCULTURA
DE JACQUES LIPCHITZ
Para mim, escultura é divindade. Esta
é a única resposta que eu poderia encontrar para mim mesmo. A arte é o modo distintamente humano de lutar contra a morte. Através da arte, o homem alcança a imortalidade e nesta imortalidade
encontramos Deus.
A arte do escultor lituano Jacques Lipchitz (1891-
1973). Veja mais aqui.