sexta-feira, maio 03, 2019

ANA CRISTINA CÉSAR, NÉLIDA PIÑON, MILTON SANTOS, HELENA HAUSS & O NOME DE CADA UM


BILHETE EXTRAVIADO – Outono de ano, quase inverno na vida: preparo a caminhada na estrada infinita. Da primavera, fagueiras fantasias: um quintal que era tudo e quase sem fim. O verão chegou cedo: passei, nem vi direito. Apesar de tudo, aprendi da forma mais difícil, nem direito até: cavalos que se arvoravam soltos e indomáveis, bispos ariscos de banda, torres frágeis a se moverem solitárias e à deriva, rainha se antecipando ao rei imóvel no xeque mate, que seja Dia Internacional do Sol – para mim é todo dia, mesmo que chova canivetes ou o escambau! O que tenho para dizer são minhas mãos espalmadas, meus braços doloridos, meu corpo cansado de lutas vãs. Fiz o que pude até quase exaurir todas as minhas forças, esgotar os ânimos, liquidado pelas adversidades. Mas não perdi a ternura e o sorriso, suplantei limites e que seja Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, hoje outra coisa, matérias de interesses, anúncios de fachadas, manchetes da mentira sensacionalista: vendem tudo, até a alma. O que de mim restou por ambicionar direitos, trevas dissolveram sonhos arrebatados. Sou o mundo porque inexiste o tempo, volta e meia me desfiz em coisa vinda que não se sabe, amanhecendo esperanças, anoitecendo vigílias e que seja Dia Internacional do Parlamento, outros representantes de vícios, nada vale nessas ruas que não os meus prontos para serem enterrados pelos que ditam leis contra os que estão de fora da corriola. Por conta própria escolhi a solidão, no que logro ou ignoro por resolver um só problema e criar outros tantos improváveis e interinos, mesmo sem querer. Meço o trecho que me cabe para igualar o que não sei que é, porque infrigi a regra de ouro ao desatino, somente sou braços abertos a quem chegar. E me basto de nada, lições de partir e se perder, sou para a vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] o projeto apresentado em 1965 pelo deputado federal Áureo Melo destinado a “proibir registro de nomes ridículos ou humilhantes”. [...] O Congresso Nacional decreta: Art. 1º. Fica proibido em todo o território nacional, o registro, pelas autoridades, de nomes próprios que venham a se constituir, por serem ridículos ou humilhantes, motivo de prejuizo moral àqueles a quem forem dados. Art. 1ª. Ficam passíveis de multa, que será arbitrada em um mínimo de Cr$ 1.000,000 (hum milhão de cruzeiros), todos aqueles que infrigirem o disposto no artigo anterior. [...] Tal projeto era acompanhado por esta breve justificação: “Sandália de Oliveira Silva; Maria dos Prazeres Fortes; Sherlock Holmes da Silva; Adolf Hitler de Oliveira, etc. Tais são os nomes que tivemos ensejo de encontrar, legalizados e em pleno vigor, e com os quais arcam, como um verdadeiro estigma, oriundo da ignorância dos pais e escrivãos [...] Pode servir de exemplo o caso do desembargador Francisco Gonçalves de Campos, magistrado no Acre, que deu a seus filhos nomes extremamente curiosos, todos oriundos de suas propensões literárias. Ao primeiro nascido, deu o nome de Prólogo de Campos. O segundo recebeu o nome de Verso de Campos. Nasceu depois uma menina, que recebeu o nome de Estrofe. Veio, então, o quarto filho, que os pais supunham que seria o último, donde o seu nome: Epílogo de Campos. Mas, ao fim de algum tempo, imprevista gravidez da esposa do honrado desembargador anunciou novo aumento da prole. Nasceu uma menina que se chamou Poesia de Campos. E em seguida, veio ainda uma filha. Que fazer? Como batizá-la? Só ocorreu uma solução: ela se chamaria Errata de Campos! E assim foi feito, pois que a colocação da Poesia após o Epílogo estava mesmo pedindo Errata... (A relação foi fornecida pelo ex-deputado Epílogo de Campos, que confessa nunca ter tido qualquer dificuldade motivada por seu nome singularíssimo) [....].
Trechos extraídos da obra Como você se chama? Estudo sócio-psicológico de prenomes e cognomes (Documentário, 1974), do saudoso escritor, historiador, jornalista, escritor e teatrólogo Raimundo Magalhães Júnior (1907-1981). Veja mais aqui e aqui.

A POESIA DE ANA CRISTINA CESAR
NOITE DE NATAL: Noite de Natal. / Estou bonita que é um desperdício. / Não sinto nada / Não sinto nada, mamãe / Esqueci / Menti de dia / Antigamente eu sabia escrever / Hoje beijo os pacientes na entrada e na saída / com desvelo técnico. / Freud e eu brigamos muito. / Irene no céu desmente: deixou de / trepar aos 45 anos / Entretanto sou moça / estreando um bico fino que anda feio, / pisa mais que deve, / me leva indesejável pra perto das / botas pretas / pudera
CARTILHA DA CURA: As mulheres e as crianças são as primeiras que / desistem de afundar navios.
ANÔNIMO: Sou linda; gostosa; quando no cinema você roça o ombro em mim aquece, escorre, já não sei mais quem desejo, que me assaviva, comendo coalhada ou atenta ao buço deles, que ternura inspira aquele gordo aqui, aquele outro ali, no cinema é escuro e a tela não importa, só o lado, o quente lateral, o mínimo pavio. A portadora deste sabe onde me encontro até de olhos fechados; falo pouco; encontre; esquina de Concentração com Difusão, lado esquerdo de quem vem, jornal na mão, discreta.
MOCIDADE INDEPENDENTE: Pela primeira vez infringi a regra de ouro e voei pra cima sem medir mais as consequências. Por que recusamos ser proféticas? E que dialeto é esse para a pequena audiência de serão? Voei pra cima: é agora, coração, no carro em fogo pelos ares, sem uma graça atravessando o Estado de São Paulo, de madrugada, por você, e furiosa: é agora, nesta contramão.
Poemas da escritora e tradutora Ana Cristina César – Ana C. (1952-1983). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE HELENA HAUSS
A arte da artista visual, escultora e ilustradora francesa Helena Hauss. Veja mais aqui.
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A OBRA DE MILTON SANTOS
A clarividência é uma virtude que se adquire pela intuição, mas sobretudo pelo estudo e tentar ver a partir do presente o que se projeta no futuro.
A obra do geógrafo e professor Milton Santos (1926-2001) aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
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A OBRA DE NÉLIDA PIÑON
O escritor não deve apenas criar, mas deve também emprestar a sua consciência à consciência dos seus leitores, sobretudo num país como o Brasil. Se vive e se escreve sem rede de segurança. Eu não confio no Estado. Eu confio na vigilância da sociedade. Quando os direitos humanos são desrespeitados em casa, tornam-se públicos. Se a imaginação edifica enredos de amor, o corpo fatalmente sofre seus efeitos. O ser humano é um peregrino. É só na aparência que ele tem uma geografia. Só envelhece quem vive.
A obra da escritora Nélida Piñon aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.