CANTADOR - Cantador viver por este chão. Cantando o mundo
que escorre aos seus pés. Cantando a vida a força que lhe deu a lida, outra
sorte ser sentida dentro do seu coração. Haja ventura ao seu filho ver nascer,
brotando a luz do seu trabalho, outra força pra viver, por outro novo amanhecer.
Cantador as nuvens lá no céu são outros sonhos que carregam por vingar, são
outras vidas, outros cantos, outras falas, e carregam suas malas proutro novo
amanhecer. Carregam ventres cheios de paixão e fé pra quando o dia amanhecer
ter outra força no seu pé, outro carinho pra mulher. Vem, começa tudo por aqui,
deixa o passado ficar lá para traz, que a vida seja assim daqui pra frente, que
o teu filho vem valente pra mudar este lugar. Esqueça tudo o que foi não vai
ser mais, veja que o dia vem contente para cantar esta canção. E bate forte o
coração. E cante forte esta canção. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. In: Canção de terra. Bagaço, 1985. Para ser cantada sobre A
música das nuvens e do chão, de Hermeto Pascoal. Veja mais Canção de
Terra aqui & aqui. E veja mais Hermeto aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,
aqui, aqui, aqui & aqui.
DITOS & DESDITOS - A unidade do homem e da natureza é o princípio
fundamental de uma sociedade saudável... O caráter de uma sociedade pode ser
medido pela maneira como ela trata seus membros mais vulneráveis... A
civilização é construída sobre a infelicidade dos outros... Os povos da
civilização vêem sua miséria aumentar em proporção direta ao avanço da
indústria... Na civilização, a pobreza nasce da própria superabundância... A
família é um grupo que precisa escapar de si mesmo... Os civilizados…
assassinam seus filhos ao produzirem muitos deles sem conseguirem prover seu
bem-estar. A moralidade ou teorias de falsa virtude os estimulam a fabricar
bucha de canhão, formigueiros de recrutas que são forçados a se vender para
sair da pobreza. Essa paternidade imprevidente é uma falsa virtude, o egoísmo
do prazer... Os filósofos dizem que as paixões são muito vivas, muito ardentes;
na verdade, são fracas e lânguidas. Ao redor, vê-se a massa de homens suportar
a perseguição de alguns senhores e o despotismo dos preconceitos sem oferecer a
menor resistência... suas paixões são fracas demais para lhes permitir extrair
audácia do desespero... Déspotas preferem a amizade do cão, que, injustamente
maltratado e humilhado, ainda ama e serve o homem que o injustiçou. Pensamento do socialista francês Charles
Fourier (François Marie Charles Fourier – 1772-1837), considerado um dos
criadores do cooperativismo.
BALADA DE SANTA MARIA EGIPCÍACA - Santa Maria
Egipcíaca seguia \ Em peregrinação à terra do Senhor. \ Caía o crepúsculo, e
era um triste sorriso de mártir. \ Santa Maria Egipcíaca chegou \ A beira de um
grande rio. \ Era tão longe a outra margem! \ E estava junto à ribanceira,\ Num
barco, \ Um homem de olhar duro. \ Santa Maria Egipcíaca rogou: \ – Leva-me ao
outro lado. Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe. \ O homem duro fitou-a sem
dó. \ Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir. \ – Não tenho
dinheiro. O Senhor te abençoe. \ Leva-me o outro lado. \ O homem duro
escarnece: – Não tem dinheiro, \ Mulher, mas tens teu corpo. Dá-me o teu corpo,
e vou \ levar-te. \ E fez um gesto. E a santa sorriu, \ Na graça divina, ao
gesto que ele fez. \ Santa Maria Egipcíaca despiu \ O manto, e entregou ao
barqueiro \ A santidade da sua nudez. Poema do poeta Manuel Bandeira (Manuel
Carneiro de Sousa Bandeira Filho – 1886-1968). Veja mais aqui, aqui, aqui,
aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
HEPTAMERON - […] A forma dos Círculos não é
sempre a mesma; mas costuma ser alterada de acordo com a ordem dos Espíritos
que serão chamados, seus lugares, tempos, dias e horas. Pois, ao fazer um
Círculo, deve-se considerar em que época do ano, em que dia e em que hora você
o faz; quais Espíritos você chamaria, a que Estrela e Região eles pertencem e
quais funções eles têm. Portanto, sejam feitos três Círculos de latitude de
nove pés, e que estejam distantes um do outro a uma largura de uma mão; e no
meio do Círculo, primeiro, escreva o nome da hora em que você faz o trabalho.
Em segundo lugar, escreva o nome do Anjo da hora. Em terceiro lugar, o Sigilo
do Anjo da hora. Em quarto lugar, o nome do Anjo que governa o dia em que você
faz o trabalho e os nomes de seus ministros. Em quinto lugar, o nome do tempo
presente. Em sexto lugar, o nome dos Espíritos que governam naquela parte do
tempo e seus Presidentes. Em sétimo lugar, o nome da cabeça do Signo que
governa naquela parte do tempo em que você trabalha. Em oitavo lugar, o nome da
Terra, de acordo com aquela parte do tempo em que você trabalha. Em nono lugar,
e para completar o Círculo do meio, escreva o nome do Sol e da Lua, de acordo
com a referida regra de tempo; pois, à medida que o tempo muda, os nomes devem
ser alterados. E no Círculo mais externo, que sejam desenhados nos quatro
Ângulos, os nomes dos Anjos presidenciais do Ar, naquele dia em que você faria
este trabalho; a saber, o nome do Rei e seus três Ministros. Fora do Círculo,
em quatro Ângulos, que sejam feitos Pentágonos . No Círculo interno, que sejam
escritos quatro nomes divinos com cruzes interpostas no meio do Círculo; a
saber, para o Leste, que seja escrito Alfa , e para o Oeste, que seja escrito Ômega
; e que uma cruz divida o meio do Círculo. Quando o Círculo estiver concluído,
de acordo com a regra escrita anteriormente, você deverá prosseguir. [...].
Trechos extraídos da obra Heptameron or Magical Elements: Of Peter de Abano
(CreateSpace Independent, 2015), do filósofo, astrologo e professor de medicina
em Pádua, Pietro d'Abano (Petrus de Apono, Petrus Aponensis or Peter of
Abano - c. 1257–1316). Ele ganhou fama escrevendo Conciliator Differentiarum,
quae inter Philosophos et Medicos Versantur e acabou sendo acusado de
heresia e ateísmo, antes da inquisição. Ele morreu na prisão em 1315 (algumas
fontes dizem 1316) antes do final de seu julgamento. O Heptameron (do
grego ηπτα "sete" e ημερα — "dia") é um guia conciso sobre
magia angelical, com raízes que remontam pelo menos à época medieval. Teve
grande influência na prática moderna, embora pouca atenção tenha sido dada às
fontes originais até recentemente. Teve prestígio suficiente para ser incluído
no Índice de Livros Proibidos já em 1581. Ele detalha as ferramentas e
os ritos para conjurar anjos durante os sete dias da semana. Os instrumentos
rituais incluem: sigilos dos 7 anjos primários, incensos, água benta, um novo
vaso de barro com carvão e fogo, vestimenta, pentagrama, o livro, uma espada e
um apito.