quinta-feira, julho 23, 2020

CONCHA MÉNDEZ, VERA RUBIN, CHARLES SCHENK & CANTORA UNA



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: DO QUE FIZ, NEM DEIXEI DE FAZER - Sempre agi antes de pensar. Ágil, algumas vezes na mosca, de esperar o desfecho e só quando era dado por liquido e certo, aí sim, festejava uma ou outra, quando muito. Sempre desconfiei da sorte porque, na maioria das vezes, não era bem assim, era assado ou nem tanto, do jeito que nem dava para adivinhar – vá entender o capricho de quem manda. Afora minha condição sempre à deriva. Fazia de tudo para o êxito, inevitavelmente fracassava. Tinha sempre comigo a voz da Angela Davis: Você tem que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo. E fiz o tempo todo, nunca deixei de fazer. Talvez os prognósticos estivessem errados, não surtiam efeito algum, a não ser algumas calejadas feridas que nem lembro mesmo onde é que doía, ou se anestesiado pelos erros. Sei lá, voo aprumando a mira.

DUAS: O QUE FIZ, TAL SÍSIFO, NADA MAIS - Aos dez anos de idade, montado num bigode ralo e topetudo de nariz empinado, comecei a trabalhar depois de ter desafiado meu pai numa conversa, como se fosse, claro, de homem para homem – e eu ainda uma criança, avalie. Ele aquiesceu e me fez primeiro de carimbador, depois de copista, datilógrafo, serviçal recadista e por aí, aboletado num birô do cartório, sob a tutela mandonista de um tio que virou para mim pior que Uriah Heep de Dickens. Claro, escapulia, dava salto solto, virava e mexia. Ele lá, inexorável. Ansiava altos voos e, embora traumatizado e com um complexo de inferioridade aviltante, me redimia com Susanne Langer: Para termos novo conhecimento, precisamos adquirir um mundo inteiro de novas questões. De escriturário nunca passei disso, mas ousei que só. Aprendi desaprendendo e o que nem se ensinava. Assim fui, haja catabís, tantos percalços indeléveis. Mais fui, voo.

TRÊS: DAVA DE POETAR, NEM TANTO! - Enfim, de tudo um tanto incólume, quando não ao rés do chão, rasteiro escondido na poeira. Lá estava. Tanto me estrepei de findar estirado, dores até no retrato e lembranças repisadas. Hoje antes penso duas, três, até dez, cem, de novo, aí, lá pras tantas, caio na ação mais sem jeito. Cheguei até a poetar por isso, mas Sarah Kofman advertiu: Dialética e reflexão desempenham o mesmo papel para o filósofo e verso para o poeta. Poetar, então, não era, apenas versejador porque se a vida fosse um filme e rodasse para trás, nem assim seria diferente do que gorou, seria de novo outro fora e ficaria por isso mesmo. Nunca lamentei de nada nem perdido, já levantei pronto para outra, cada vez mais para o Tao: o coração da palavra, o poema no sexo: a vida! Até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: A ciência progride melhor quando as observações nos forçam a mudar nossas ideias preconcebidas. Pensamento da astrônoma estadunidense Vera Rubin (1928-2016), pioneira dos estudos sobre as curvas de rotação das galáxias espirais, que expressava: A ciência é competitiva, agressiva, exigente. Também é imaginativo, inspirador, edificante. Minhas conquistas na ciência vieram porque eu sabia o que queria fazer, e encontrei, como colegas de profissão, astrônomos gentis e prestativos. Nunca me senti desencorajada pelos que foram desencorajadores algumas vezes. Ao invés disso, insisti em trabalhar para solucionar problemas que estavam fora da astronomia ‘mainstream’ para que eu pudesse trabalhar no meu próprio ritmo, sem ser pressionada por temas mais populares. Não digo isso para servir de exemplo a vocês, mas só para mostrar que há diferentes abordagens possíveis para a ciência. Tem que haver. A ciência é competitiva, agressiva, exigente. Mas também é imaginativa, inspiradora, edificante. Vocês também podem.

O TEATRO DE CONCHA MÉNDEZ
Eu gostaria de ter vários sorrisos avulsos e um vasto repertório de maneiras de me expressar. Então, sozinha, você não me deixou, que eu estou comigo mesma e é o suficiente para mim, como sempre fui. E se eu olhar para a sombra onde a luz se dissolve, também tenho medo de dissolver e entre as sombras ficarei confusa para sempre. Como último retrato, nossos olhos impressos brilharão. A vida é um cervo irremediavelmente ferido, que flechas lhe dão veneno e asas.
CONCHA MÉNDEZ - A arte da poeta, dramaturga e roteirista espanhola Concha Méndez (1898-1986), que pertencia ao grupo Sinsombrero e autora de peças teataris como El ángel cartero (1929), El personaje presentido (1931), El pez engañado (1933), El carbón y la rosa (1935), Las barandillas del cielo (1938), El solitario (Amor) (1941), entre outras. Veja mais aqui.

A FOTOGRAFIA DE CHARLS SCHENK
A arte do fotógrafo estadunidense Charles Schenk. Veja mais aqui e aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
Espero que o extermínio da juventude negra, que não é só física, não caia sobre o meu trabalho, para que outras mulheres que venham depois acreditem e achem possível viver do que se gosta e do que se sabe fazer. É por elas que estou aqui.
A arte da cantora Una, que é filósofa de formação e se lançou em 2013 como Aninha Martins e lançou o seu primeiro álbum, Esquartejada (Independente, 2019), resultado de seis anos de pesquisas em um campo eclético, que vai da MPB ao punk rock, reflexões intimistas, uma pitada de niilismo e um humor sabido.
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O Bom Pastor: as histórias e os afetos, organizado por Karina Vasconcelos aqui.
Agruras da lata d’água, do poeta, compositor e intérprete Jessier Quirino aqui.
A música de Ozi dos Palmares aqui.
Sabedoria ou mediocridade? Diálogos no reino encantado das águias, do filósofo e historiador Reginaldo Oliveira aqui.
Água, Vida Água, do poeta e ativista cultural João de Castro aqui.
A mora de ferro aqui.
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O município de Caetés aqui & aqui.