terça-feira, maio 12, 2020

SÉRGIO SANT'ANNA, TAKIS, JULIA LEMOS & HYPERNORMALISATION DE ADAM CURTIS


SEJA COMO FOR, VAMOS VIVENDO! – UMA: DAS ÚLTIMAS PRO QUE SERÁ AMANHÃ – Mais um dia e vou escapando das emboscadas da peste e dos furores dos insensatos e importunos com suas invectivas e tolices. O país vai de mal a pior com tanta sandice, quanta impostura, pedantes a dar com pau e parasitas aduladores aos montes e nada razoáveis, tornando o nosso tempo nem tão divertido assim, tudo tão penoso, eloquente decadência. Escapar é preciso, principalmente para mim que tenho meus talentos todos esmagados. Vou naquela do Carlos Lyra: Não tenho talento para me vender nem engulo sapos. Não é todo mundo que pode dar uma de Bidu Sayão: Minha carreira foi um milagre de determinação, de força de vontade e de desejo de vencer. Mas vou, persisto, quem sabe eu aprenda se já não for demasiado tarde, hem? Vamos nessa. DUAS: VIVENDO E APRENDENDO – Cada dia que se passa mais constato o tamanho da mudança irreversível que vem se processando nas últimas décadas. Nada mesmo será como antes. Cada vez mais estão ruindo as sólidas estruturas seculares dos equívocos. Novos surgirão. Aprender a discernir é fundamental. Até as confissões inconfessáveis de Salvador Dali ganham relevo: Não há possibilidade de trapacear. Ou é bom ou é ruim. Verdade. E ele ainda chama na grande: Um dia terá que ser admitido oficialmente que o que batizamos de realidade é uma ilusão até maior do que o mundo dos sonhos. Eu que o diga, vivo no mundo da Lua, os pés no chão e sonhando com os olhos bem abertos. TRÊS: ALGUMA COISA TEM QUE SER FEITA – Lembro bem na escuridão dos anos de adolescência, quando li de Herman Hesse: Quem quiser nascer tem que destruir um mundo; destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a consequente dolorosa busca da própria razão do existir: ser é ousar ser. Era apenas um adolescente que não sabia o que seria do meu país e do meu povo. Dedilhava as cordas do violão intuindo uma canção, rabiscava versos no papel em branco esboçando um poema qualquer das tripas coração, e nada mais fiz além disso: entoar os cantos das minhas dores, como se enfrentasse as minhas batalhas diárias. Nunca desisti, nenhum heroísmo em cumprir a palavra, era tudo tão nada demais. Talvez levado pelo que dizia Florence Nightingale: Eu atribuo o meu sucesso a isto: eu nunca desisto ou dou alguma desculpa. Acho que os sentimentos se perdem nas palavras. Todos deveriam ser transformados em ações, em ações que tragam resultados. Talvez meus fracassos tenham sido por não saber agir, um estúpido tem sempre a catinga do estouro. Hoje ainda dedilhando acordes, solfejando glosas de motes, enquanto a peste devasta as cidades do meu coração.© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Estou com 75 anos e andei sentindo um grande impulso de mergulhar no meu passado, de certa forma tornando este passado uma nova realidade. É um privilégio, sendo um escritor, poder fazer isso. Gostei também de tirar do baú o golpe militar, que me pegou em pleno ativismo político de esquerda. Felizmente, não fui preso ou torturado, como vários de meus amigos, o que me deixa entristecido até hoje. Mas fui processado num inquérito policial-militar e demitido de meu emprego. Porém, acho a situação política brasileira, apesar de tenebrosa (em 2017), com a corrupção instalada nos mais alto escalões, nem de longe mostra a violência da ditadura militar. Mas estão abusando da paciência do povo; só espero que a verdadeira direita não venha a lucrar com isso [...] Fico chateado com gente pedindo a volta da ditadura. A maior parte das pessoas que estão aí pedindo não viveram aquilo. Foi barra muito pesada. O que se vive no Brasil hoje perto daquilo não é nada. Embora haja muita coisa condenável, naquela época era uma impotência total. Os jornais eram censurados. Quem advoga ditadura, se for com honestidade, está cometendo um tremendo equívoco [...] Meus queridos e minhas queridas, não quero assustar ninguém, mas acho a peste que nos assola simplesmente aterrorizante. Não encontro outro modo de reagir se não escrevendo. Trechos das expressões do escritor, advogado e professor Sérgio Sant'Anna (1940-2020), como também outras das suas tiradas: A mudança é inevitável, mas nem sempre agradável. Não mude por ninguém, mude por você mesmo. Essa é a essência da mudança. Mudar porque queremos progredir e não porque queremos impressionar.

HYPERNORMALISATION DE ADAM CURTIS
O poder e como ele funciona na sociedade. O sistema é para sempre até acabar.
HYPERNORMALISATION DE ADAM CURTIS - O documentário HyperNormalisation (2016), do documentarista britânico Adam Curtis, mostra como, desde a década de 1970 até os dias atuais, a cúpula do poder mundial abandonou o mundo real, complexo demais, e criou um outro mundo administrado pelas corporações financeiras e pelas redes da internet. A Hipernormalização é um termo cunhado pelo antropólogo e professor russo Alexei Yurchak, no contexto da decadente para definir o discurso que sustenta esse estado de coisas que parece descrever o que vivemos hoje no Brasil e no mundo. Ou seja, uma realidade em que todos sabem que a versão da realidade presente nas declarações de altos burocratas e mostrada pela mídia é completamente falsa e todos fingem que é real, os governantes sabem que o povo sabe que mentem e, como a mentira está em toda parte, aceita-se como normal. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

A ESCULTURA DE TAKIS
A arte do escultor e artista grego Panayiotis Vassilakis, também conhecido como Takis. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
Não é uma história / é um corpo de palavras, / um ponto onde chego / após cruzar vários ângulos. / Não é uma história / e sim, uma sucessão de estradas / em que posso demarcar um começo: / jamais um fio. / Mas como não devo deixar / tudo pelos entantos, / busco o acento tônico / desejo o pesar das cores / e as palavras juntas em arco, / - para dizer do indizível.
Exercício para eleição de uma palavra, poema da escritora e atriz Julia Lemos, que é graduada em Comunicação Social e Jornalismo pela UFPE, mestre em Estudos Brasileiros pela Universidade de Lisboa - Portugal. Como atriz integrou o elenco do Teatro Hermilo Borba Filho e da Companhia Práxis Dramática. Veja mais aqui.
Um livro aceso e nove canções sombrias, do poeta, dramaturgo, engenheiro civil, desenhista, professor e editor Joaquim Cardozo (1897-1978) aqui.
Folclore pernambucano, de Francisco Augusto Pereira da Costa (1851-1923) aqui.
Domésticas (1997), de Fernando Meirelles e Nando Olival aqui.
A arte das esculturas de Mozart Guerra aqui.
A arte da artista visual e jornalista Dani Acioli aqui.
A música da cantora e compositora Adryana BB aqui.
Teibei, a batida aqui.