quinta-feira, fevereiro 13, 2020

IBSEN, CAROLINA DE JESUS, EUGÈNE ATGET & TEREZA COSTA REGO


SIMBORA NO TEATRO DA VIDA – QUER UMA? LÁ VAI - Haja drama no enredo da vida, com suas curvas, percalços e catabis. A gente tenta acertar que só, só na volta do revertério. De chapa, eu tanto fiz de sofrer que nem sovaco de aleijado, só na minha, que nem Bukowski: Observava as pessoas à distância, como numa peça de teatro. Apenas eles estavam no palco e eu era plateia de um homem só. E TOME DUAS: CALIBÃ SABE QUEM É - Sempre gostei de fotografar, não de ser fotografado. Nada narcísico. Foi que entendi do riscado com Millôr: Basta um avião sacudir um pouquinho mais, e logo todos os passageiros ficam parecidos com a foto do passaporte. Ainda hoje tenho a foto da carteira de identidade que tirei em 1975, quando contava com apenas 15 anos de idade e emancipado por lei. Cada vez que exibo, me bate aquela do Andy Warhol: A melhor coisa sobre uma fotografia, é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam. Ah, mas se feiura matasse, eu era um natimorto, hehehehehe. UM, DOIS, TRÊS: A CULPA É DO CAPITALISMO, ORA! – É mesmo, ué. Quem mandou eu nascer baixim, buchudim, tronchim e bunitim! E ainda por cima nordestino, numa cidade onde o mundo todo está lá dentro para fazê-la o cu do planeta! Já dizia o meu filósofo favorito, Agostinho da Silva: A liberdade que há no capitalismo é a do cão preso de dia e solto à noite. E vamos aprumar a conversa. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Fui na casa de uma preta levar umas latas que ela havia pedido. Latas grandes para plantar flores. Fiquei conhecendo uma pretinha muito limpinha que falava muito bem. Disse ser costureira, mas que não gostava da profissão. E que admirava-me. Catar papel e cantar [...] Os lixeiros haviam jogado carne no lixo. E ele escolhia uns pedaços. Disse-me: Leva, Carolina. Dá para comer. Deu-me uns pedaços. Para não maguá-lo aceitei. Procurei convencê-lo a não comer aquela carne. Para comer os pães duros ruídos pelos ratos. Ele disse-me que não. Que há dois dias não comia. Acendeu o fogo e assou a carne. A fome era tanta que ele não poude deixar assar a carne. Esquentou-a e comeu. Para não presenciar aquele quadro, saí pensando: faz de conta que eu não presenciei esta cena. Isto não pode ser real num país fértil igual ao meu. Revoltei contra o tal Serviço Social que diz ter sido criado para reajustar os desajustados, mas não toma conhecimento da existência infausta dos marginais. Vendi os ferros no Zinho e voltei para o quintal de São Paulo, a favela. No outro dia encontraram o pretinho morto. [...] Não trazia documentos. Foi sepultado como um Zé qualquer. Ninguém procurou saber seu nome. Marginal não tem nome. … De quatro em quatro anos muda-se os políticos e não soluciona a fome, que tem sua matriz nas favelas […] Eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o sono começa a pensar nas misérias que nos rodeia [...] Deixei o leito para escrever. Enquanto escrevo vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes de brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as qualidades. [...] É preciso criar este ambiente de fantasia, para esquecer que estou na favela […] Uma senhora que fez compra gastou 43 cruzeiros. E o senhor Eduardo disse: - Nos gastos quase que vocês empataram. Eu disse: - Ela é branca. Tem direito de gastar mais. Ela disse-me: - A cor não influi. Então começamos a falar sobre o preconceito. Ela disse-me que nos Estados Unidos eles não querem negros na escola. Fico pensando: os norte-americanos são considerados os mais civilizados do mundo e ainda não convenceram que preterir o preto é o mesmo que preterir o sol. O homem não pode lutar com os produtos da Natureza. Deus criou todas as raças na mesma época. Se criasse os negros depois dos brancos, aí os brancos podia revoltar-se [...]. Trechos da obra Quarto de despejo: diário de uma favelada (Ática, 2015), da escritora brasileira Carolina de Jesus (1914-1977). Veja mais aqui.

UM INIMIGO DO POVO, HENRIK IBSEN
[...] HOVSTAD - Falo do pântano onde está apodrecendo toda a nossa cidade. [...] HOVSTAD - Todos os negócios da cidade passaram, pouco a pouco, para as mãos de um bando de políticos, altos funcionários do governo. [...] HOVSTAD - Mas dá no mesmo, pois quem não é funcionário público ou político é amigo ou partidário de funcionário. São esses ricos, que ostentam nomes tradicionais, os mesmos que nos governam. [...] ASLAKSEN - Não, não, não, Sr. Hovstad. Nada de ataques à autoridade. Nada de oposição àqueles de quem dependemos. Estou farto disso, e aliás, isso nunca deu resultado positivo. Mas não há nada de ofensivo no fato de um cidadão exprimir livremente algumas ideias sensatas. [...]
HENRIK IBSEN – Trechos extraídos da peça teatral Um inimigo do povo (En folkefiende - Globo, 1984), do dramaturgo do Realismo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), que tornou-se uma declaração de guerra do individualista à sociedade e que, apesar do pessimismo social, deixa antever, porém, uma vaga esperança da horia dos indivíduos e das instituições. Veja mais aqui e aqui.

A FOTOGRAFIA DE EUGÈNE ATGET
A arte do fotógrafo francês Eugène Atget (1857-1927) que revolucionou a fotografia com seu olhar desviado do ser humano, fotografando o vazio das ruas parisienes, objetos inusitados e mulheres nuas. Veja mais aqui.

A ARTE PERNAMBUCANA
A arte de Tereza Costa Rego aqui, aqui & aqui.
A música do violonista, maestro e compositor Antonio José Madureira aqui & aqui
A literatura de Graça Graúna aqui, aqui e aqui.
A poesia de Conceição Ramos aqui.
Baixio das Bestas aqui.
José Durán y Durán & As Noites da Cultura Palmarense aqui
Educação, Cidadania e Meio Ambiente – Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Mata Sul aqui & aqui
&
Noite do Recife aqui.