O AMIGO INVISÍVEL - Jatobinha
era amigo de Dedo, carne e unha. Vizinhos, desde meninos: nasceram quase na
mesma hora, festa para compadres. Cresceram juntos: farinha do mesmo saco. Talho
no dedo, pacto de sangue: O que é meu é seu e vice-versa. Mormente, um tirou o
cabresto do outro, cavalo-mago mútuo. Abusaram de galinhas, cachorros,
bezerros, potros, afora uma jumenta que pastava nas imediações, e outras coisas
inimagináveis, como bichos, buracos, troncos de árvores, canos de escape,
orifícios inacreditáveis. Até as piniqueiras, tudo dividido, useiros e vezeiros:
impar ou par, só para ver quem comia pão-com-banha. Tudo acertado, satisfeitos.
Um dia lá, Jatobinha se apaixona por Dodinha e a primeira quebra de contrato.
Dedo nem quis saber: travou-se nela como sua posse – Ô bicha boa! Fungado,
umbigada, empurrou até o talo, ais e uis. O flagra se deu numa tarde com as
cores escuras do outono, prévia do inverno. Empurra-empurra, bofetes, safanões.
Na hora da briga, um raio! O instante de desgraça: Dedo, além de fulminado pelo
relâmpago, se esborracha todo numa coluna que desmorona sobre si. Um deus nos
acuda! Maior corre-corre. O velório, a maior tristeza. O fedor, já estava em
decomposição. Turvou o céu. Noite sem lua, nuvens ameaçadoras. Ao deitar-se
para dormir, Jatobinha aguçou as ouças: alguém chamava por ele. A voz do defunto.
Eis que Dedo reaparece cobrando o ajustado. A aparição, tamanha balbúrdia. Arquejante,
estava transtornado pelo infortúnio: inimigo insidioso na teia do destino. Suspeitava
de vingança. Agora era ele com um pé na cova, pensava. O fantasma exigia a
nução. Jatobinha com o coração na mão, enquanto o abantesma cínico, debochado,
conspirava: Vamos lá, tudo certo? Uma estranha criatura insólita, ele morria de
medo. A conversa foi longa, demoradamente. Obstinado, o avejão dissuadia a
manutenção da aliança, sempre persuasivo. Concordou soturno, derreado, pronto,
tudo certo. Foi isso e Dedo dissipou-se. Ufa! Estava livre. No outro dia, um
susto: o amigo deitado ao lado dele na cama. Vôte! Corra não, estamos
acertados. E a conversa voltou. Aos poucos, foi se acostumando com aquela
presença sórdida. Ao cabo de dias, deu confiança e aprendeu com o amigo
fantasmagórico a usar da eloquência aos salamaleques, todo arrojado a expugnar fortalezas
obstaculares, a lograr em jogos e apostas, auferir ganhos, engalobar os outros,
livrando-se sempre da carestia, banditismos e penitências. Todos: O cara acertava
tudo, meu! Enriqueceu, assim. Afortunados, já conversavam abertamente. Alguns
achavam: Será que está pinel? Onde já se viu! Esse cara endoidou depois da
morte do amigo. Era o preço exorbitante que pagava, ninguém via Dedo, só ele. Eis
que, para embananar tudo, aparece Dodinha toda serelepe, os dois se estranharam
como da vez anterior: É minha. Nada, é nossa. Aí, não. Aí, sim. Para lá! Nada
disso! E se atracaram. Ela atônita, não sabia do invisível. Os presentes: Oxe! Como
é que o cara luta sozinho, hem? Da pugna inenarrável, Jatobinha fenecia até evaporar
de vez. Ela fugiu dali, baixou hospício. Diziam: Acho que o defunto veio buscá-lo.
Será? Ninguém sabia, ninguém viu, só aconteceu. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] O esforço para reduzir a arte a uns poucos
elementos e princípios aplicáveis a toda arte de qualquer lugar, é exemplo
modernista tipicamente ocidental. [...]. Trecho extraído do estudo Cultura, sociedade, arte e educação num
mundo pós-moderno (Perspectiva, 2008), do professor estradunidense Arthur
Efland (1942-2009), que noutro estudo, A history of art education. intellectual and
social currents in teaching visual arts
(Teachers College Press, 1990), expressou que: [...] As maneiras pelas quais as artes visuais são ensinadas
hoje foram condicionadas pelas crenças e valores relativos à arte mantidos por
aqueles que defendiam seu ensino no passado. [...] Somente depois de estudarmos o ensino da
arte em épocas anteriores, podemos entender seu papel na educação hoje. [...].
E em outro ensaio, Problems confronting visual culture (Art Education, 2005), arremata que: [...] O movimento em direção aos estudos culturais visuais é um
passo na direção certa, identificando-o mais de perto com toda a vida social.
Mas é também um movimento que corre o risco de ficar cego por uma espécie de
miopia [...]. Veja mais aqui e
aqui.
ALGUÉM FALOU: [...] Nada temos a fazer no mundo a não ser nos
proporcionar sensações e sentimentos agradáveis. [...] Creio que, para ser feliz, é preciso desfazer-se dos preconceitos, ser
virtuoso, ter gostos e paixões, gozar de boa saúde e ser suscetível de ilusões,
pois devemos a maioria de nossos prazeres à ilusão, e infeliz de quem a perde.
Acredito também, para sermos felizes, temos que nos contentar com a nossa
situação, preocupando-nos mais com torná-la feliz do que com mudá-la. Um dos
segredos da felicidade é moderar os desejos e amar as coisas que se possui.
[...]. Trechos extraídos da obra Discurso sobre a felicidade (Martins,
2002), da física, filósofa e matemática francesa Émilie du Châtelet (1706-1749). Veja mais aqui.
O CINEMA DE GILDA
DE ABREU
GILDA DE ABREU – A
cineasta, atriz, cantora, escritora e radialista Gilda de Abreu (1904-1979), formou-se em canto lítico pelo
Instituto Nacional de Música, em 1927, no Rio de Janeiro. Estreou na opereta A canção brasileira, em 1933,
protagonizando, em seguida, várias obras de Viriato Corrêa. Casou-se com
Vicente Celestino, estreando no cinema em 1936, com Bonequinha de Seda, dirigido por Oduvaldo Vianna. Durante os anos
1930, atuou no teatro, com Mizú, de
Oduvaldo Vianna, passando a escrever o texto Olhos de veludo, em parceria com Luiz Iglesias e musicada por
Vicente Celestino. A partir dos anos 1940, ela participa de radionovelas,
escrevendo várias delas, como Mestiça, Aleluia, A cigana, Pinguinho de gente,
entre outras. Dirigiu O ébrio (1946),
seguindo-se Coração Materno (1951) e Pinguinho de gente (1949). Escreveu diversas
peças teatrais, como O anfitrião ou
Júpiter e Alemena (1947), Mestiça
(1944), A patativa (1950) e a
infantil A bonequinha de piche. Escreveu
vários livros, entre eles Mestiça (Minerva,
1966), Minha vida com Vicente Celestino
(2003), Coração Materno (Cupolo), Arca de Noé (Cupolo, 2006), entre
outros. Lançou o curta metragem Canção de
amor, homenagem ao marido falecido, em 1977; e fundou o Centro Cultural
Artístico Nícia Silva, em homenagem a sua mãe. Veja mais aqui e aqui.
A ARTE
DE NORMAN LINDSAY
A arte do escultor, escritor, gravador, artista,
tradutor e cartunista australiano Norman Lindsay
(1879-1969). Veja mais aqui e aqui.
A OBRA DE FERREIRA GULLAR
A arte
existe porque a vida não basta.
A obra do
premiado e aplaudidíssimo poeta, crítico de arte, tradutor e ensaísta
maranhense Ferreira Gullar (1930 – 2016) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,
aqui, aqui & aqui.