segunda-feira, setembro 09, 2019

JAMES HILTON, JANE ADDAMS, JÚLIA TYGEL, NATHANIEL HAWTHORNE, NEUZA LADEIRA & BESTINHA


AS ARTES DE BESTINHA - Cansado das lorotas de Tolinho, Bestinha deu as caras para outra coisa: um curso de artes. E o bom que era pras bandas da casa dele, maior comodidade. Fez a inscrição, claro, era grátis e durante os finais de semana: Melhor que isso não tem. Para quem não sabia nada de nada, era esperança de tomar jeito de gente na vida: Vou ser artista, cara! E foi. A professora era uma bonitona, elegantíssima, jeitosa. Logo encheu seus olhos: não despregava a vista dela para nada. Para onde ela fosse, espiava cada detalhe: Uma potranca e tanto, ah eu nela, lavava a jega! –, pensava ele. Duas semanas depois, como o local do curso não dispunha de estrutura ideal, foi transferido para o ateliê da mestre, ambiente sofisticado, cheio de livros e de coisas que ele nunca tinha visto: A jumentuda é rica, meu! -, era ele arrotando solilóquio. Olhou pros lados, fez uma cara de enjoado, como quem comeu e não gostou. O jeito era tapiar, pegou o primeiro volume na biblioteca. Pronto. Ao dar uma folheada nas páginas: repletas de mulheres nuas, tudo dos grandes nomes artísticos. Eita! Ah, o negócio é bom, ainda morro disso! Nunca mais desgrudou deles, disfarçava leitura, foi o que chamou a atenção da educadora. Coitada, pensava ser ele o aluno aplicado ideal, tanto que deixou ficar todo final de semana, de sexta a domingo, café da manhã, almoço, janta, cama forrada, lanche e suco de tudo, conforto, parecia mais adotado pela preceptora. Achando pouco, ainda deu de se enciumar pelo privilégio de um jeitosão lá no maior paparicado dela, o namorado. Vingava-se trancado no banheiro, passando os fascículos de arte erótica. Tanto é que um domingo desse a educadora saiu com o pariceiro dela e, inadvertidamente, deixou ele lá, preso. Não fosse o caseiro, passaria a semana toda lá. Nem aí. Tolinho mesmo logo desconfiou: Por onde tem andado Bestinha? Rapaz, descobri uma mina. Onde? Uns livros cheios de mulher nua de todo jeito! Larga de ser besta, ver com o olho e lamber com a testa! Ah, deixa para lá. No último final de semana a educadora estava com cara de poucos amigos e ouviu ao telefone ela dizer algo que não dava para entender, só juntando uma coisa a outra, ao ver o bacana dela enchendo o tampo e roendo uma dor de corno, aos prantos da maior lamúria, sem entender patavina do que dizia, só conseguiu distinguir as palavras repetidas: hiato, passado e falo novo. E aí, quando volta? Ah, para ela só o Corvo de Poe: nunca mais. E disse para si: Esse povo sabichão tem cada uma, entendi nada. O homem estava mesmo arrasado. Deu de ombros, foi para escola e logo tudo se esclarecia: havia outro bonitão lá paparicado pela educadora, um novo namorado. Hem? Nos cantos a língua ferina comia no centro. Como é? Isso mesmo! A professora é fogo! Por quê? Ela mede o pau do apaixonado, manda o bilhete azul e passa na cara! Danou-se! Ela já vai nuns vinte casamentos desfeitos. É mesmo? Não deu conta, leva rasteira. Se fosse comigo não queria vê-la nem pintada! Mexer com a macheza dos outros é o fim! Danada, né? Solteirona macha, nariz empinado. Mas isso não é lá muito elegante. Sabe de nada! Muito indelicada, ora. Vai se catar! Nem bem ele ia entrando para a aula, foi dispensado. Ele e a turma toda por conta das fofocas, ao que parece. Um ano e quatro meses, um chute daquele de Mozart, acabou-se o que era doce. E Bestinha, nada mais nas mãos. Pior seria. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] E quem era o misterioso herói? Talvez seu nome seja encontrado nos assentamentos dessa terrível Corte de Justiça, quem dera uma sentença rigorosa demais para o seu tempo, mas gloriosa nos tempos futuros, por sua humilhante lição ao monarca e alto exemplo aos súditos. Escutei dizer que sempre que os descendentes dos Puritanos precisam mostrar o espirito dos seus antepassados, o velho aparece novamente. Quando já oitenta anos haviam transcorridos, ele andou outra vez por King Street. Cinco anos depois, na meia luz de uma manhã abril, ele estava na relva, ao lado da casa dos dissidentes, em Lexington, onde agora um obelisco de granito, com uma laje embutida, comemora a primeira derrota da Revolução. E quando nossos pais trabalhavam nos parapeitos de Bunker Hill, durante toda a noite o velho guerreiro percorreu os seus contornos. De longe em longe ele volta novamente. Sua hora é a da escuridão, da adversidade e do perigo. Mas se a tirana intestina nos oprime, ou o pé do invasor infesta nosso solo, ainda pode voltar o Heroi Misterioso, porque ele encarna o espírito hereditário [...]. Trecho do conto O herói misterioso (Ediouro, 2004), do escritor Nathaniel Hawthorne (1804-1864). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: O avanço social depende tanto de um aumento da sensibilidade moral quanto de um senso de dever... De todos os aspectos da miséria social, nada é tão comovente quanto o desemprego... Esperávamos com entusiasmo que pudéssemos arrancar da própria tragédia humana a consciência de um destino comum que deveria trazer sua própria cura, que extraíssemos dos infortúnios da vida um poder de cooperação que deveria ser eficaz contra eles. A vida não pode ser administrada por regras e regulamentos definidos; que a sabedoria para lidar com as dificuldades de um homem só vem através de algum conhecimento de sua vida e hábitos como um todo... Pensamento da socióloga, filósofa, assistente social e ativista feminista pacífica estadunidense, Jane Addams (1860-1935), considerada a mãe do trabalho social, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, em 1931. Veja mais aqui e aqui.

A MÚSICA DE JÚLIA TYGEL
Experimente muitas coisas, descubra o que te faz feliz. Você só vai descobrir fazendo. Se você tiver isso já claro, paute sua carreira por essa prioridade e não pelo que (você acha que / te dizem que) o mercado “espera”. Eu sempre gostei mais de compor que de tocar o repertório pianístico. A composição veio, por um lado, da busca por preencher esse lugar – eu queria fazer uma música que ainda não conhecia – e também porque sempre gostei muito mais de ficar “brincando” no piano do que ficar de fato estudando o repertório pianístico.
JÚLIA TYGEL – Curtindo a arte da pianista e compositora Júlia Tygel. Ela é doutora em musicologia pela USP e atualmente é Assessora Artística na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), tendo realizado parte do programa na City University of New York como bolsista CAPES-Fulbright, além de bacharel e mestre em música pela UNICAMP. Lançou em 2011 o álbum Entreameados e em 2012, O Delírio do Verbo: Manoel de Barros em Canções, com Tatiana Parra (voz) e participação de Neymar Dias (viola caipira), e e está preparando “Diálogo / Dialogue”, um projeto bilíngue francês-português com canções sobre poemas de seu avô belga Simon Tygel, com Tatiana Parra. Ela possui artigos publicados no Brasil e exterior, e é autora de notas de programa da Osesp. Veja mais aqui.

A ARTE DE NEUZA LADEIRA
À venda a ideologia morta já acariciada / Numa grande loja de brinquedos / No fogão a lenha reacende a fogueira / No coração desmaiado da mulher torta / Que tonta tenta desentortar a simplicidade da alma / Já tão fracionada / Mora no vento do mundo, mas come a bananinha um paladar bem tropical.
NEUZA LADEIRA – Poema A mulher torta, da poeta e artista plástica Neuza Ladeira, militante pelas liberdades democráticas, ela foi prisioneira política da ditadura militar nos anos 1964-1985. Veja mais aqui.

A OBRA DE JAMES HILTON
As pessoas cometem erros na vida crendo demais, mas elas se aborrecem demais se acreditam muito pouco.
A obra do escritor britânico James Hilton (1900-1954) aqui.
&
Outras do Bestinha aqui, aqui & aqui.