CANTOCONTO
RIMBAUD – Eis o cantoconto da raiz de minha
carnalma, de um morro escondido por trás dos quilombos ouvi a voz: a liberdade
é um sonho possível. Por isso cantoconto embaixo da ponte de varólio e mergulho
na profundeza do amor que transborda radículas em galhos frondosos, porque
cheguei a Nod como um raio de Sol e o brilho da Lua, carregando todas as culpas
no prazer de estar ali ou aqui ou ai, sem saber purificado diante do perfume
sagrado. Cantoconto rouquenho dentro da minha própria historia e me perco
noutra, nele me refaço com as vindas do vento que sopra detrás das pedras para
me ensinar as trilhas do outro mundo. Estou no meio do caminho e cresço nas
lembranças primitivas e na fome de Deus, entre os seres da névoa, para saber o
que é visto de dia e o que se esconde de noite, o que se vê de noite é invisível
de dia, quantos milagres. Cantoconto que é só o que é, permanente entre as
frestas e portões, perpétuo no trajeto de volta ao caos. Há muito tempo
proscrito, chamo e toco a porta, não importa a fumaça do instante nem as
pegadas do que escuto como se outra me contasse a minha nascente, como uma
conversa rotineira que se repete, o aprendizado da arte e a audição anímica em
eco. Não importa aonde eu vá, ouço o canto das matas, dos espíritos noturnos e
dos mortos ressuscitados de muitos nomes tudo no meu cantoconto, a minha voz. Sinto
na medula a prova da natureza que viceja e os fugazes vislumbres diante da
fogueira mística, o que está aqui e o que já se foi, e ver-me encurralado entre
o que brota e o que fenece, acossado na pilhagem dos detratores, o esmagamento
decisório de ir ou ficar, o risco de extinção na evanescência da vida. Há muitos
modos de saber como as coisas são ou devem ser, abro caminho entre enredos e
tramas, o fôlego na apojadura, as pegadas da dúvida pelos sete oceanos
universais e o numinoso na paisagem. Osso a osso, fio a fio de cabelo, o visceral
canto, o instersticial contar com a semente do mundo às mãos, rizomas no
passional êxtase da recolha dos ossos da criatura que fui um dia para poder
dançar com incorpóreos, se não o Sol não nascerá. Com a minha voz me torno na
revelação do ermo, faço e refaço minha alma e a minha oração iluminada para saber
se fico ou vou embora até o fim do mundo, o final do tempo, e mais o que vem
depois, o que deve viver, o que deve morrer: morte ao que deve morrer, vida ao
que deve viver. Cantoconto e voltei e colhi a única flor vermelha e segui todos
os quilômetros distantes do mundo-entre-mundo e do inefável na sétima abóbada
do sétimo céu. Cheguei diante da Roda de Ezequiel e comecei a cantocontar
transcendendo a obrigação moral de sobreviver. Bati à porta e não abriu, subi
até a caverna escura, atravessei a janela do sonho, peneirei o deserto e
encontrei meus ossos no desfile dos párias e na comédia dos vivos que não sabem
mortos. Senti todas as provações ao descer ao inferno pelos meandros de muitos
labirintos e por mais de mil anos. E eis-me, do alto da mais alta torre a cantocontar:
ah, que venha o dia em que os corações se amem! Eis a raiz de minha
carnalma. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
& aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] para enfrentar os
perigos que cercam o planeta e o gênero humano, faz-se necessário um novo
projeto que exija não só uma ampliação dos Direitos Humanos, mas uma
redefinição do Bem Comum da Humanidade (com base em novos paradigmas). [...] Será uma luta
política. Porém, valerá à pena iniciá-la, pois pode inserir-se como um dos
elementos simbólicos da revolução necessária para redefinir o paradigma
alternativo da vida coletiva da humanidade no planeta.Portanto, é importante
fazer a vinculação entre a defesa dos “bens comuns”, como a água e a
restauração da prioridade do “bem comum” e a visão de uma nova construção do
“Bem Comum da Humanidade”. Em primeiro lugar porque a visão holística que
subjaz nesse último conceito exige aplicações concretas, como as de “bens
comuns” para fugir do abstrato e traduzir-se em ações. Por outro lado, as lutas
particulares devem inserir-se em um conjunto, a fim de situar adequadamente o
papel que estão exercendo, não para compensar as deficiências de um sistema que
tenta prolongar sua própria existência; mas, para dar prosseguimento à sua
transformação em profundidade, exigindo a convergência de todas as forças de
mudança para estabelecer as bases para a sobrevivência da humanidade e do
planeta.
Trechos extraídos de Dos bens comuns ao
bem comum da humanidade (Fundação Rosa de
Luxemburgo – Bruxelas, novembro, 2011), do sociólogo belga François Houtart (1925-2017), para quem a defesa dos bens comuns é uma forte
reivindicação de muitos movimentos sociais, porque inclui elementos
indispensáveis à vida (água, semente), como serviços públicos, desmantelados
nos dias de hoje pelas políticas neoliberais, uma vez que representam a vida do
planeta e da humanidade. Para o autor a harmonia
com a natureza significa definir a relação, não como a exploração da
terra, enquanto fonte de recursos naturais, na forma de mercadorias, mas, como
fonte de toda a vida, em uma atitude de respeito à sua capacidade de
regeneração física e biológica, instaurando a interculturalidade que consiste
em dar a todos os saberes, culturas, filosofias e espiritualidades a
possibilidade de contribuir para o “Bem Comum da Humanidade”, implicando na
promoção igualitariamente de uma interculturalidade aberta, ou seja, de
culturas em diálogos, com possíveis intercâmbios. Veja mais aqui e aqui.
ESPÓLIO DA CIDADE
O documentário Espólio
da Cidade (The City's Legacy, 2017), dirigido
por Andre Turazzi & Paulo Murilo Fonseca, retrata a visão de seis pessoas
que têm suas vidas relacionadas a edifícios tombados em São Paulo, evidenciando
uma tensão entre memória e desenvolvimento urbano e a complexidade das questões
ligadas à preservação e a conservação do patrimônio arquitetônico da cidade. Com
isso, mapeia alguns patrimônios culturais da cidade de São Paulo com a
proposta de revelar as particularidades arquitetônicas e
históricas dos imóveis tombados, envolvendo questões de preservação e conservação dos patrimônios
importantes para constituir uma identidade urbana. O documentário pode ser
visto na Ecofalante que é uma ONG
que atua nas áreas de cultura, educação e sustentabilidade, produzindo filmes,
documentários e programas de televisão de caráter cultural, educativo e
socioambiental. Veja mais aqui.
A ESCULTURA DE ZELIA SALGADO
A arte da escultora, pintora, desenhista e professora Zelia Salgado (1904-2009), que
integrou a Comissão Nacional de Belas Artes entre 1962 e
1963, foi presidente da seção brasileira da Association Internacionale des Arts
Plastiques, filiada à Unesco e deu aulas no Museu de Arte Moderna (MAM/RJ), até
1959. Veja mais aqui.
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A OBRA DE TRISTAN TZARA
Olhe para mim bem! Sou um idiota, sou
falso, sou brincalhão. Eu sou como todos vocês!
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