CONTANDO
HISTÓRIA – Um dia lá desses de tempos
eleitorais, Zé Peiúdo armando das suas, resolveu partir com tudo pra cima de Zé-Corninho,
numa campanha difamatória daquelas de arrasar a reputação, os antepassados, a
vida pregressa e os álbuns de fotografias e das lembranças, não sobrando
nadinha da dignidade nem fiapo que fosse do restinho de respeito, tudo melecado
na maior das baixarias. Como diziam os desafetos: o cara arriou a lenha pra
cima do gaiúdo de não deixar nem os cambitos em pé, enterrado e lascado de
todo. Não satisfeito, o detrator deu de caprichar ainda mais nas diversas
formas de difamação, angariando plateia só pra ver o estrupício meter a ripa
nos costados do coitado. O negócio empenou quando o infame algoz contratou a
peso de ouro um plumitivo metido a orador que sapecava uns textos para lá de
rebuscados, descascando a moral do opositor, misturando dizeres com ofensas
cabeludas daquelas de arrepiar até o capeta. Logo Zé Peiúdo se danava a decorar
frases e sentenças, a ponto de na horagá misturar as bolas, os alhos, olhos e bugalhos,
de se enrolar todo pra no final baixar o calão. Pronto. Quando não dava na
maior embrulhada, findava dando mesmo pra risadagens. A cada discurso dava um
nó na língua de quase não conseguir balbuciar mais nada. Foi aí que o tirocínio
entrou em cena: melhor mesmo era botar o dito orador pra sapecar as ripadas pra
valer, aí sim, ia valer no sério e vingar de vez. Assim foi. Babaovice na área,
Zé Peiúdo exaltou-se e anunciou o testemunho que ia descascar a alma sebosa do
Zé-Corninho, e num puxavanque trouxe a figura pra cena com o seu depoimento
bombástico. No começo ele pegou leve com uns remoques bastantemente incisivos,
caindo numa discurseira exaltada daquelas de estremecer até as estrelas do céu,
ninguém entendendo nada: que língua é essa que o orador está falando, hem? Quem
lá sabia! O cara aos autoelogios, informando uma a uma das suas titulações,
pós-graduações, serviços prestados – Zé Peiúdo na dele só ruminando: Esse cara
quer aparecer mais que eu, é? -, participação em academais, colegiados, clubes
de serviços, associações literárias e científicas, quando Zé Peiúdo cutucou
cochichando: Vamos aprumar a conversa nos safanões contra o sujeito! Mais
virou-se na capota choca, saiu criticando a gestão pública, os chatos de
galochas, os mata-burros, os catombos da estrada, os esgotos a céu aberto, o
papagaio do pirata, a bosta do cavalo do bandido, os filhos-da-peste, os
ingrizientos, os bajuladores e, quando não tinha mais de quem falar, meteu as
catanas dos desaforos no próprio Zé Peiúdo: Está vendo esse homem, este aqui,
este mesmo, o Zé Peiúdo, é o maior filho da puta da paríquia e quem for corno é
que vota nele! Tenho dito! Aí o pau cantou, foi tabefe no maluvido até umas
horas. Depois de muita munhecada na lata do sujeito, Zé Peiúdo virou-se pros
presentes e gritou: Comigo é assim, cagou fora do caco ou abriu da vela, é
corretivo no pé do maluvido pra aprender é pau pra lamber sabão e cacete pra
saber que sabão não se lambe! Tenho dito. O resto vocês já sabem. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com a música da violinista Elisa Fukuda: Sonata para violino & piano Debussy, Sonata em sol
maior Beethoven & Brandeburg Concert Bach; a arte musical do Duo Fênix – dos pianistas
Cláudio Dauelsberg & Délia Fischer; Cuban Guitar 1 e 3 e de Bach aos
Beatles; do violonista, compositor e regente da Orquestra de Cuba, Leo Brouwer; e o JazzWoche
Burghausen com as canções Dindi de Jobim e Rio de Maio de Ivan Lins, da cantora
estadunidense Jane
Monheit, com participação de Johnny Mathis & Ivan Lins. Para conferir é só ligar o som e
curtir.
PENSAMENTO DO DIA - O único
meio de fortalecer o intelecto é não ter uma opinião rígida sobre nada – deixar
a mente ser uma estrada aberta a todos os pensamentos. Pensamento
do poeta do Romantismo inglês John Keats (1795-1821). Veja mais aqui, aqui &
aqui.
CANHOTINHO - Faixa situada na área de ação dos quilombos
palmarinos, Canhotinho teve seu povoamento retardado – datando, possivelmente,
de fins do séc. XVIII -, de formação assim, relativamente recente. Nada obstante,
porém, marcadas por este traço de quase contemporaneidade, são origens
nebulosas, dificultando o esforço esclarecedor dos analistas e pesquisadores,
ante a carência de dados capazes de fixar roteiros válidos que permitam
deslindar a meada. [...] quase infinitesimal da mesma sesmaria de
1671 [...] para ser explorada
diretamente e com exclusividade e daí ter o proprietário operado nos diástoles,
dividindo-a em vários sítios autônomos – Murici, Pestana, Limão, Palmeira,
Muquem, etc. – alienados a terceiros, ficando apenas, com o das Tabocas e o do
Canhoto, onde teria fixado, construindo, ali, como dos costumes, uma capelinha,
dedicada a São Sebastião. [...] Até
os meados de 1800, porém, o Canhoto – nome insistamos resultante do sitio que
atravessava a região ou, aceitando-se a tradição divulgada por Pereira da
Costa, do apelido do proprietário – seria simples “sítio! Ou fazenda – também vulgarmente
chamada Volta, em razão da curva da corrente fluvial, tributária do Mundaú, em
Alagoas, restando em abono deste ponto de vista, elemento comprobatório de
peso. [...] não falando mais em
sítio, mas em povoação da Volta, da Volta do Canhoto, e, nos fins do século,
Canhotinho. [...]. Trechos extraídos da obra Canhotinho: notas sobre suas origens e evolução política (CEHM,
1982), do advogado, jornalista, historiador e
político brasileiro Costa Porto
(1909-1984). Veja mais aqui e aqui.
METADE CARA, METADE MÁSCARA – [...] No dia que
eu conseguir abrir as páginas de minh’alma e contar essas linhas de meu
inconsciente coletivo – com alegrias ou dores, com prazeres ou
desprazeres, com amores ou ódios, no céu ou na terra – aí sim, aí sim, vou
soltar a minha voz num grito estrangulado, sufocado há cinco séculos.
Quinhentos anos, de pretenso reconhecimento de nossa cidadania, não pagam o
sangue derramado pelas bisavós, avós, mães e filhas indígenas deste país. Este
dia certamente chegará, mesmo que eu esteja em outros planos. [...] Trecho extraído da obra Metade cara, metade máscara (Global, 2004), da escritora,
professora, ativista e empreendedora indígena Eliane Potiguara. Veja mais aqui.
EX-VOTO - No meu altar de pedra / arde um fogo
antigo / estão dispostas por ordem / as oferendas / neste altar sagrado / o que
disponho / não é vinho nem pão / nem flores raras do deserto / neste altar o
que está exposto / é meu corpo de rapariga tatuado / neste altar de paus e de
pedras / que aquí vês vale como oferenda / meu corpo de tacula / meu melhor penteado de missangas. Poema extraído da obra O lago da lua
(Caminho, 1998), da poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares. Veja mais aqui.
LUCIAH LOPES & A RESISTÊNCIA DOS VERSOS
Com a poeta Luciah
Lopes no lançamento do livro A resistência dos versos de Zé Ripe. Veja mais
aqui.
Veja mais:
Zé Peiúdo & Zé Corninho aqui.
A poesia de Carlos Drummond de Andrade
aqui.
&
EXPOSIÇÃO
PINTANDO NA PRAÇA
Recepcionando a estudantada durante a exposição do projeto Pintando na
Praça, na Biblioteca Fenelon Barreto, com o poeta e artista plástico Paulo
Profeta. Veja mais aqui.