terça-feira, outubro 31, 2017

KEATS, ANA PAULA TAVARES, ELIANE POTIGUARA, PINTANDO NA BIBLIOTECA & CANHOTINHO

CONTANDO HISTÓRIA – Um dia lá desses de tempos eleitorais, Zé Peiúdo armando das suas, resolveu partir com tudo pra cima de Zé-Corninho, numa campanha difamatória daquelas de arrasar a reputação, os antepassados, a vida pregressa e os álbuns de fotografias e das lembranças, não sobrando nadinha da dignidade nem fiapo que fosse do restinho de respeito, tudo melecado na maior das baixarias. Como diziam os desafetos: o cara arriou a lenha pra cima do gaiúdo de não deixar nem os cambitos em pé, enterrado e lascado de todo. Não satisfeito, o detrator deu de caprichar ainda mais nas diversas formas de difamação, angariando plateia só pra ver o estrupício meter a ripa nos costados do coitado. O negócio empenou quando o infame algoz contratou a peso de ouro um plumitivo metido a orador que sapecava uns textos para lá de rebuscados, descascando a moral do opositor, misturando dizeres com ofensas cabeludas daquelas de arrepiar até o capeta. Logo Zé Peiúdo se danava a decorar frases e sentenças, a ponto de na horagá misturar as bolas, os alhos, olhos e bugalhos, de se enrolar todo pra no final baixar o calão. Pronto. Quando não dava na maior embrulhada, findava dando mesmo pra risadagens. A cada discurso dava um nó na língua de quase não conseguir balbuciar mais nada. Foi aí que o tirocínio entrou em cena: melhor mesmo era botar o dito orador pra sapecar as ripadas pra valer, aí sim, ia valer no sério e vingar de vez. Assim foi. Babaovice na área, Zé Peiúdo exaltou-se e anunciou o testemunho que ia descascar a alma sebosa do Zé-Corninho, e num puxavanque trouxe a figura pra cena com o seu depoimento bombástico. No começo ele pegou leve com uns remoques bastantemente incisivos, caindo numa discurseira exaltada daquelas de estremecer até as estrelas do céu, ninguém entendendo nada: que língua é essa que o orador está falando, hem? Quem lá sabia! O cara aos autoelogios, informando uma a uma das suas titulações, pós-graduações, serviços prestados – Zé Peiúdo na dele só ruminando: Esse cara quer aparecer mais que eu, é? -, participação em academais, colegiados, clubes de serviços, associações literárias e científicas, quando Zé Peiúdo cutucou cochichando: Vamos aprumar a conversa nos safanões contra o sujeito! Mais virou-se na capota choca, saiu criticando a gestão pública, os chatos de galochas, os mata-burros, os catombos da estrada, os esgotos a céu aberto, o papagaio do pirata, a bosta do cavalo do bandido, os filhos-da-peste, os ingrizientos, os bajuladores e, quando não tinha mais de quem falar, meteu as catanas dos desaforos no próprio Zé Peiúdo: Está vendo esse homem, este aqui, este mesmo, o Zé Peiúdo, é o maior filho da puta da paríquia e quem for corno é que vota nele! Tenho dito! Aí o pau cantou, foi tabefe no maluvido até umas horas. Depois de muita munhecada na lata do sujeito, Zé Peiúdo virou-se pros presentes e gritou: Comigo é assim, cagou fora do caco ou abriu da vela, é corretivo no pé do maluvido pra aprender é pau pra lamber sabão e cacete pra saber que sabão não se lambe! Tenho dito. O resto vocês já sabem. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com a música da violinista Elisa Fukuda: Sonata para violino & piano Debussy, Sonata em sol maior Beethoven & Brandeburg Concert Bach; a arte musical do Duo Fênix – dos pianistas Cláudio Dauelsberg & Délia Fischer; Cuban Guitar 1 e 3 e de Bach aos Beatles; do violonista, compositor e regente da Orquestra de Cuba, Leo Brouwer; e o JazzWoche Burghausen com as canções Dindi de Jobim e Rio de Maio de Ivan Lins, da cantora estadunidense Jane Monheit, com participação de Johnny Mathis & Ivan Lins. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA - O único meio de fortalecer o intelecto é não ter uma opinião rígida sobre nada – deixar a mente ser uma estrada aberta a todos os pensamentos. Pensamento do poeta do Romantismo inglês John Keats (1795-1821). Veja mais aqui, aqui & aqui.

CANHOTINHO - Faixa situada na área de ação dos quilombos palmarinos, Canhotinho teve seu povoamento retardado – datando, possivelmente, de fins do séc. XVIII -, de formação assim, relativamente recente. Nada obstante, porém, marcadas por este traço de quase contemporaneidade, são origens nebulosas, dificultando o esforço esclarecedor dos analistas e pesquisadores, ante a carência de dados capazes de fixar roteiros válidos que permitam deslindar a meada. [...] quase infinitesimal da mesma sesmaria de 1671 [...] para ser explorada diretamente e com exclusividade e daí ter o proprietário operado nos diástoles, dividindo-a em vários sítios autônomos – Murici, Pestana, Limão, Palmeira, Muquem, etc. – alienados a terceiros, ficando apenas, com o das Tabocas e o do Canhoto, onde teria fixado, construindo, ali, como dos costumes, uma capelinha, dedicada a São Sebastião. [...] Até os meados de 1800, porém, o Canhoto – nome insistamos resultante do sitio que atravessava a região ou, aceitando-se a tradição divulgada por Pereira da Costa, do apelido do proprietário – seria simples “sítio! Ou fazenda – também vulgarmente chamada Volta, em razão da curva da corrente fluvial, tributária do Mundaú, em Alagoas, restando em abono deste ponto de vista, elemento comprobatório de peso. [...] não falando mais em sítio, mas em povoação da Volta, da Volta do Canhoto, e, nos fins do século, Canhotinho. [...]. Trechos extraídos da obra Canhotinho: notas sobre suas origens e evolução política (CEHM, 1982), do advogado, jornalista, historiador e político brasileiro Costa Porto (1909-1984). Veja mais aqui e aqui.

METADE CARA, METADE MÁSCARA – [...] No dia que eu conseguir abrir as páginas de minh’alma e contar essas linhas de meu inconsciente coletivo – com alegrias ou dores, com prazeres ou desprazeres, com amores ou ódios, no céu ou na terra – aí sim, aí sim, vou soltar a minha voz num grito estrangulado, sufocado há cinco séculos. Quinhentos anos, de pretenso reconhecimento de nossa cidadania, não pagam o sangue derramado pelas bisavós, avós, mães e filhas indígenas deste país. Este dia certamente chegará, mesmo que eu esteja em outros planos. [...] Trecho extraído da obra Metade cara, metade máscara (Global, 2004), da escritora, professora, ativista e empreendedora indígena Eliane Potiguara. Veja mais aqui.

EX-VOTO - No meu altar de pedra / arde um fogo antigo / estão dispostas por ordem / as oferendas / neste altar sagrado / o que disponho / não é vinho nem pão / nem flores raras do deserto / neste altar o que está exposto / é meu corpo de rapariga tatuado / neste altar de paus e de pedras / que aquí vês vale como oferenda / meu corpo de tacula / meu melhor penteado de missangas. Poema extraído da obra O lago da lua (Caminho, 1998), da poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares. Veja mais aqui.

LUCIAH LOPES & A RESISTÊNCIA DOS VERSOS
Com a poeta Luciah Lopes no lançamento do livro A resistência dos versos de Zé Ripe. Veja mais aqui.

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EXPOSIÇÃO PINTANDO NA PRAÇA
Recepcionando a estudantada durante a exposição do projeto Pintando na Praça, na Biblioteca Fenelon Barreto, com o poeta e artista plástico Paulo Profeta. Veja mais aqui.