quarta-feira, abril 29, 2015

BANDEIRA, KAWABATA, JOÃO CABRAL, BARAKA, VATSYAYANA, SOVERAL & ROSA, ABRAHAM, KIRSTEL & ARY BUARQUE.


DANÇA DOS MENINOS – Nitolino acordou cedo com a algazarra do SuperPontinho acordando a turminha dos Falanges – Mindinho, Seu Vizinho, Maior de Todos, Cata-Piolhos & Fura-Bolos -, que puxou o Cravo e arengou com a Rosa que estava com o Lobisomem Zonzo e o Gordim dando bundada no Jequim que futucava Maluquim que azucrinava Bichim que falava pra Nita que incentivava a Ísis pra falar com Vó Carma e levar Pai Lula pra contar uma história do Alvoradinha que queria cantar com Tia Nilda e dançar no Reino Encantado de Todas as Coisas a música Coração Civil de Milton Nascimento & Fernando Brant: Quero a utopia, quero tudo e mais / Quero a felicidade nos olhos de um pai / Quero a alegria muita gente feliz / Quero que a justiça reine em meu país / Quero a liberdade, quero o vinho e o pão / Quero ser amizade, quero amor, prazer / Quero nossa cidade sempre ensolarada / Os meninos e o povo no poder, eu quero ver / São José da Costa Rica, coração civil / Me inspire no meu sonho de amor Brasil / Se o poeta é o que sonha o que vai ser real / Bom sonhar coisas boas que o homem faz / E esperar pelos frutos no quintal [...] Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida Eu viver bem melhor / Doido pra ver o meu sonho teimoso,um dia se realizar. LEMBRETE: Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino, nos horários das 10hs e das 15hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação da garota Isis Corrêa Naves. Para conferir o programa online nos horárias das reprises, é só ligar o som e acessar aqui ou aqui.

Imagem: Dancing, do artista plástico estadunidense de origem cubana Jose Manuel Abraham.

Ouvindo o álbum duplo Pas de deux (1905-2008), dos compositores portugueses Isabel Soveral & António Chagas Rosa.

DANÇA, ALAGOAS – Conheci o professor e dançarino alagoano Ary Buarque quando ele lançou o primeiro site oficial de dança, o Dança Alagoas, disponibilizando informações, dicas e muitas coisas interessantes. A receptiva forma como Ary trata as pessoas, seja nos relacionamentos sociais, seja no trato com seus alunos e dançarinos, nos fez estreitar amizade para realizar parcerias, promover debates e estarmos sempre juntos na luta pela difusão e promoção da arte na escola, no convívio humano, nas relações entre as pessoas, enfim, arte todo dia e o dia todo. Isso faz algum tempo, depois soube da transformação para Centro de Dança Ary Buarque, onde ele passou a ministrar aulas e promover a dança no estado alagoano. Na época ele me concedeu uma entrevista a respeito do seu trabalho, suas propostas, projetos e objetivos. Confira aqui.

A DANÇARINA – Inspiradoras lições são encontradas num manual escrito séculos atrás, que já foi transformado em teatro e cinema, e que até hoje, ultrapassando a barreira do tempo, se mantém como material vivo para um melhor desenvolvimento humano. Exemplo disso, é o que se encontra no capítulo 1 – Sobre os adornos pessoais, sedução, corações e medicamentos tônicos -, da Parte VII – Sobre os modos de atrair os outros -, do mais que atemporal e fascinante livro Kama Sutra, de Vatsyayana, no qual, entre tantas lições imperdíveis, encontrei esse trecho que muito bem diz com relação ao dia de hoje : [...] O que foi dito sobre elas também pode ser aplicado às filhas de dançarinas, cujas mães devem dá-las somente a pessoas que possam tornar-se úteis para elas de diversas maneiras. Assim terminam as formas de fazer com que alguém se torne adorável sob os olhos de outros. Veja mais aqui.

A DANÇARINA DE IZU – No livro de contos A dançarina de Izu (1926 – Cultrix, 1962), do escritor japonês prêmio Nobel de Literatura de 1968, Yasunari Kawabata (1899-1972), narra as experiências autobiográficas do autor durante a sua vida de estudante, fazendo uma viagem à península de Izu, Tóquio. Da obra destaco o trecho de A pequena dançarina de Isu – Izu no Odoriko: A hospedaria Koshuya ficava logo à entrada norte de Shimoda. Nas pegadas dos meus companheiros de viagem, subi para o primeiro andar da hospedaria, que mais parecia um sótão. [...] Os artistas trocavam algres cumprimentos com os fregueses da hospedaria, que eram também artistas ambulantes. O Porto de Shimoda devia ser o ninho dessas aves migratórias. Kaoru deu algumas moedas de cobre à filha do dono da hospedaria. Quando me despedi para sair, ela, arrumando-me o gueta, murmurou: - Leve-me hoje ao cinema, sim? Guiados por um homem de aparência duvidosa, eu e Eikiti fomo-nos instalar numa outra hospedaria, cujo dono se dizia ex-prefeito. Depois de banhar-nos, comemos peixe freco. – Peço-lhe que compre algumas flores para os sacrifícios de amanhã – disse eu ao meu companheiro de viagem, dando-lhe algum dinheiro. Eu tinha de voltar para Tóquio no dia segujnte. Meu dinheiro acabara, e como dissera aos artistas que minha volta era devida a obrigações escolares, não puderam prender-me com insistências. Jantei cedo, menos de três horas depois do almoço e, sozinho atravessei a ponte norte da cidade. Escalei o Fuji de Shimoda, e lá de cima fiquei a contemplar o porto. Na volta passei pela hospedaria Koshuya, e encontrei as artistas jantando um cozido de frango. Convidaram-me: - Não quer provar um pouco? Está sujo porque nós, mulheres, já pusemos o hashi dentro. Mas isso servirá, ao menos, como tema para anedotas de viagem. A senhora de meia idade tirou da mala uma xícara grande e hashi, e mandou Yurilo lavá-los. [...] Quando com a saída dos demais, ficaram na sala apenas Tiyoko e Yuriko, convidei-as para irem ao cinema. Tiyoko, apertando o ventre com as mãos e olhando-me com ar de abatimento, escusou-se: - Estou adoentada. Sinto-me enfraquecida por ter andado daquele jeito. Quando a Yukiro, endireitou o corpo e baixou a cabeça. A pequena dançarina estava no andar térreo brincando com a criança da hospedaria; tão logo me viu descer, começou a instar com a mãe para que a deixasse ir ao cinema. Em seguida, com ar desapontado, veio até mim e arrumou-me o gueta. – Que foi? Por que não vais sozinha com ele? – perguntou Eikiti. Ao que parece, a mãe negara consentimento a Kaoru. Eu não podia compreender por que não podia ela ir sozinha comigo. Quando saí para a varanda, a pequena dançarina estava acariciando a cabeça do cachorro. Mostrava-se tão indiferente que desisti de lhe dirigir a palavra. Fui só ao cinema. Narradora lia explicações à luz da lamparina, quando lá cheguei. Pouco me demorei: voltei logo para a minha hospedaria onde, com o cotovelo apoiado no rebordo da janela, fiquei longas horas a contemplar a cidade trevosa e noturna. Pareceu-me ouvir ao longe, ininterrupto, o leve tantã de um tambor. Não sei por que razão, as lágrimas começaram a rolar-me pela face, uma após outra [...]. Veja mais aqui e aqui.

NÃO SEI DANÇAR – No livro Libertinagem (Pongetti, 1930), do poeta, tradutor, critico literário e de arte, Manuel Bandeira (1886-1968), consta o belíssimo poema Não sei dançar: Uns tomam éter, outros cocaína. / Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria. / Tenho todos os motivos menos um de ser triste; / Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria... / abaixo Amiel! / E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff. / Sim, já perdi, pai, mãe, irmãos. / Perdi a saúde também. / É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band. / Uns tomam éter, outros cocaína. / Eu tomo alegria. / Eis por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda. / Mistura muito excelente de chás... / Esta foi açafata.../ - Não, foi arrumadeira. / E está dançando com o ex-prefeito municipal. / Tão Brasil! / De fato este salão de sangues misturadoas parece o Brasil.../ Há até a fração incipiente amarela / na figura de um japonês. / O japonês também dança maxixe: / Acugêlê banzai! / A filha do usineiro de Campos / olha com repugnância / para a crioula imoral. / No entanto o que faz a indecência da moça / é aquele cair de ombros.../ Mas ela não sabe... / Tão Brasil! / Ninguém se lembra de política... / Nem dos oito mil quilômetros de costa... / O algodão do Seridó é o melhor do mundo? Que me importa? / Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos. / A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca. / Eu tomo alegria! Veja mais aqui.

A DANÇA – O poema A dança (Quingumbo, 1980), do poeta, dramaturgo, ensaíta e militante negro estadunidente da Geração Beat, LeRoi Jones – Amiri Baraka (1934-2014), na tradução de Italo Moriconi Junior: (explicado / por um homem mais velho. Me disse como. Me / mostrou. Não eram passos, mas / a instância do músculo. Uma posição / para mim mesmo: mover-se. / Duncan / dizia da dança. Seus poemas / cheios do que há tanto queríamos / que fosses. Uma / dança. E todas as suas palavras / saiam dali. Que havia / alguma elegância brilhante / que a carne triste do corpo / fazia. Algum gesto, que / se nos tornássemos, por um instante intenso / nos transformaria / em criaturas de ritmo. / quero ser cantado. Quero / minha carne e todos os meus ossos murmurados / contra o flutuante céu / espesso do inverno. / me quero / dança. Como sou se / tenho amor ou tempo ou espaço / para me sentir. / O tempo do pensamento. O espaço / do movimento real. (Para onde eles / alçaram o mar e me têm / contra minha vontade). Eu disse, também, / ama, sendo mais velho ou mais jovem / que teu mundo. Estou inclinado / a me deitar, amar, te convidar / agora, inclinado a sentir as coias / que só eu creio. / E que eu possa uma vez criar-me / a mim mesmo. E que tu, seja quem for / sentado agora respirando minhas palavras, / possa criar um ser somente teu. Que / vai me amar. Veja mais aqui.

BAILARINA – A poesia de João Cabral é indispensável, faz parte das minhas leituras diárias de aprendizado poético. A sua forma de expressar o poema é uma das mais admiráveis demonstrações do fazer poético. Dele retiro lições diárias, procurando aprimorar sempre e, ao mesmo tempo sabendo, que a caminhada desse aprendizado é longa e com experiências inenarráveis. No livro Poesia Completa (Glaciar, 2011), do poeta e diplomata de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), encontrei o poema Bailarina: A bailarina feita / de borracha e pássaro / dança no pavimento / anterior do sonho. / A três horas de sono, / mais além dos sonhos, / nas secretas câmaras / que a morte revela. / Entre monstros feitos / a tinta de escrever, / a bailarina feita / de borracha e pássaro. / Da diária e lenta / borracha que mastigo / Do inseto ou pássaro / que não sei caçar. Veja mais aqui, aqui e aqui.

PAS DE DEUX – A animação e curta de dança Pas de Deux (Duo, National Film Board of Canada - Columbia Pictures, 1968) – ganhador de 17 prêmios e o Oscar de Melhor Filme de Animação em 1969, com roteiro escrito por Norma McLaren, fotografia e cinematografia conduzida por Jacques Fogel, mostrando dois bailarinos interpretam uma dança muito surreal, interpretado pela dupla Margaret Mercier e Vincent Warren. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Pas de deux - Nude Photography -, do fotógrafo estadunidense M. Richard Kirstel (1950-1996)



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Migrante entre equívocos, A tragédia da cultura de Georg Simmel, Santuário de William Faulkner, Cibercultura de André Lemos, a música de Ivan Lins & Sá & Guarabira, a pintura de James McNeill Whistler, o cinema de Tony Richardson & Lee Ann Remick, a arte de Lanoo & Yosuke Onishi aqui.
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