sexta-feira, março 20, 2015

SCHOLASTIQUE MUKASONGA, BELOSLAVA DIMITROVA, GÓGOL & ÂNGELA DINIZ

 


ÂNGELA, A LINDA VÍTIMA VILÃ - Ela era uma linda mineira escorpiana e chamava atenção por onde passasse. Era cobiçada por todos, a ponto de, com apenas 17 anos de idade, casar-se e ter filhos. Desquitou-se 9 anos depois, perdendo os filhos em troca de uma mansão em Belo Horizonte e uma pensão mensal. Mantinha-se livre, mantendo relacionamentos esporádicos. Sua vida começou a virar um pandemônio quando o caseiro foi assassinado com um tiro cravado na face. Ela assumiu legítima defesa, acobertando um terceiro, na verdade: circunstâncias jamais esclarecidas. Por isso afastou-se de Minas Gerais e mudou-se pro Rio de Janeiro, quando conheceu o Pantera de Minas, um colunista social afamado. Pouco tempo depois, aproximava-se o natal e foi visitar os filhos em Belo Horizonte. No seu retorno trouxe a filha sem avisar a família do ex-marido: foi acusada de sequestro e condenada a 6 meses de prisão. Os tumultos voltaram à tona quando foi surpreendida por uma denúncia anônima: foi presa sob acusação de esconder maconha na sua residência, admitindo ser viciada em drogas. Badalações, festas e muito glamour na inda para Armação dos Búzios. Findou com três tiros de Beretta no rosto e um na nuca, assassinada em sua casa na Praia dos Ossos. Morta tornou-se a vilã da história. Coisas do Brasil: mata-se em nome de ciúmes e cabeça quente. Assim a história de Ângela Diniz (Ângela Maria Fernandes Diniz – 1944-1976). Veja mais aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - A literatura me salvou. Se eu não pudesse escrever teria enlouquecido... Não me resta nada a não ser a lancinante recriminação de estar viva em meio a todos os meus mortos.... Pensamento da escritora tutsi Scholastique Mukasonga, sobrevivente dos massacres ocorridos na década de 1990 em Ruanda. No seu livro La femme aux pieds nus (Gallimard, 2008), ela narra: [...] Eles queriam dizer a nós, mulheres tutsis: 'Não dê mais à luz porque você dá à luz ao dar à luz. Vocês não são mais portadores de vida, mas portadores de morte. [...]. No seu livro Our Lady of the Nile (Archipelago, 2014), ela expressa: [...] Então você ainda quer fazer o que disse? 'Mais do que nunca! Agora que sou uma heroína, e você também, dirão que é mais uma de nossas façanhas e, acredite, será. — Você sabe muito bem que tudo se baseia nas suas mentiras. 'Não são mentiras, é política. […]. E no seu livro Cockroaches (Archipelago, 2006), ela narra: [...] Nenhum memorial foi construído em Rebero. Nada para comemorar os caídos, exceto pedregulhos e pedras brancas e vermelho-ferrugem. Procuro sinais na colina, cavo o chão. O sol está bem alto. Esta é a hora das miragens. Afasto as pequenas pedras, arranho o chão. Encontro um pedaço de pano esfarrapado meio enterrado na terra. Tento me convencer de que vem da camisa de Antoine. Hesito, então deixo aquela falsa relíquia onde está. Pego uma pedra com uma ponta afiada. Em memória. [...].

 

ALGUÉM FALOU: Todos os dias me dou a chance de nascer de novo... Eu não fujo, prefiro deixar as coisas que não preciso. Não acredito na fuga como um ato... Tenho dentro de mim uma casa, um lugar de onde observo o mundo e onde me sinto confortável... Pensamento da poeta e jornalista búlgara Beloslava Dimitrova, autora do poema Uma pessoa: pois - \ estou a 2.130 metros acima do nível do mar, \ em outras palavras, estou sentado no fim do mundo, \tudo está coberto de vulcões e gêiseres \ expelindo vapor e água saturada de enxofre, \ lembro-me de perguntar novamente como chegamos aqui \ . rock over apontar \ você mostra a banheira cheia de bactérias \ quente e rasa o meio é idêntico \ Espero que desta vez permaneça inalterado \ sem complicações acúmulos modificações \ para finalmente fechar \ as nadadeiras do peixe \ para que eles não se transformará \ em membros \ para que os répteis não rastejem para fora \ e alguns não criem penas \ para que o milagre da evolução não aconteça \ e as pessoas não apareçam \ para que você não apareça de novo \ e muito menos eu. Dela também o poema Antidepressivos: tudo pode ser feito\ desde que você não esteja com\ as pernas cruzadas\ grudadas em mim\ o travesseiro enrolado\ como se fosse seu corpo\ abraçado com dois braços\ não penso e não sonho\ com o passado como prometi\ só recito os dos outros poesia\ cumpro todas as recomendações\ desejo opiniões comigo mesmo\ e não vou escrever\ esse poema\ para não te machucar.

 

DIA INTERNACIONAL DA FELICIDADE – A Organização das Nações Unidas (ONU) consagrou o dia de hoje como o Dia Internacional da Felicidade. A propósito, trago um trecho do livro Felicidade: diálogos sobre o bem-estar na civilização (Companhia das Letras, 2002), do economista, sociólogo e professor Eduardo Giannetti: [...] Discutir a felicidade significa refletir sobre o que é importante na vida. Significa ponderar os méritos relativos de diferentes caminhos e pôr em relevo a extensão do hiato que nos separa, individual e coletivamente, da melhor vida ao nosso alcance. O que havia de errado e o que permanece vivo no projeto iluminista de conquista da felicidade por meio do progresso científico e material? Até que ponto as nossas escolhas têm conduzido à criação de condições adequadas para vidas mais livres e dignas de serem vividas? Que lições tirar das conquistas e desacertos das nações que lideram o processo civilizatório? A civilização entristece o animal humano? Qual deveria ser o peso do prazer na busca da felicidade e qual deveria ser o ligar da felicidade na melhor vida? O conhecer modifica o conhecido, o viver modifica o vivido. As questões da filosofia estão sempre voltando ao ponto de partida. Elas nunca se rendem, elas jamais se esgotam; só o que acaba é o nosso fôlego e a nossa capacidade de enfrenta-las. A humanidade não se coloca apenas os problemas que é capaz de resolver. A fome não garante a existência do alimento capaz de saciá-la. Encaradas de um ponto de vista sóbrio, sob a luz fria e clinica da razão, nossas aspirações de realização e transcendência estão fadadas ao desapontamento. O tamanho da distância entre a mais alta felicidade e a mais funda infelicidade de um homem é produto da nossa fantasia. “A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver”. No fundo do coração humano, entretanto, algo surdo e obstinado resiste; algo indomado protesta a nos dizer que há alguma coisa indefinível pela qual existimos e aspiramos, algo por que vale a pena viver e sofrer. A imaginação selvagem que nos habita em segredo insinua esperanças e inspira sonhos que a razão desautoriza. Os dois lados do embate têm suas armas, têm o seu apelo, têm o seu direito. O grande equívoco é supor que um deles precise ou deva sair vitorioso. A qualidade da tensão é o essencial [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aquiaqui, aqui e aqui.

DIANA/ÁRTEMIS - Imagem: Diana - marble (1776), do escultor francês Jean Antoine Houdon (1741-1828) – Gulbekian Foudation, Lisboa - Portugal. - Na mitologia romana, Diana é a deusa da lua, da caça e dos animais selvagens. Muito poderosa e forte, era considerada a deusa pura, filha de Júpiter e de Latona. A sua mais famosa aventura foi transformar o caçador Acteão em um cervo porque a viu nua durante o banho. Não quis se casar e manteve-se casta. É a triformis dea – a deusa das três formas, a Lua: Ártemis, Selene (lua) e Hécate (Trívia), ou seja, a trindade da Lua. A deusa grega Ártemis, filha de Zeus e Leto, é a divindade da caça que traz entre as mãos um arco dourado e um coldre de setas nos ombros, trajando uma túnica de tamanho curto, sendo considerada uma prostituta sagrada e uma virgem responsável pelos partos, associada, portanto, à dupla faceta feminina que, ao mesmo tempo, protege e destrói, concebe e mata. Era irmã gêmea de Apolo e seu desejo desde criança foi pedir a Zeus para circular livremente pelas matas, dispensada da obrigação de casar. As festas em sua homenagem eram dedicadas as danças sensuais em louvor da lua. Ela é o símbolo maior do feminino, da sua autonomia e liberdade. Veja mais aqui, aqui, aquiaqui.

Ouvindo Brasileirança (Kuarup, 2002) do cantor, compositor e violeiro Xangai - Eugênio Avelino. Veja mais aqui e aqui.

AMORES & A ARS AMATÓRIA – O livro Amores & arte de amar (Companhia das Letras, 2011), do poeta e autor teatral romano Publius Ovidus Nasso, conhecido como Ovídio (42aC – 17aC), faz parte das três grandes coleções de poesias eróticas. Ele é considerado o mestre do dístico elegíaco e o último dos elegistas amorosos latinos canônicos, escrevendo sobre amor, sedução, exílio e mitologia. Dessa obra destaco o poema 3 do Livro , na tradução de Carlos Ascenso André: É justo o que peço: que a moça que ainda há pouco me cativou / ou tenha amor por mim ou faça com que tenha eu amor por ela. / Ah, foi demasiado o meu desejo! Que apenas consinta em ser amada, / e já Citereia terá ouvido todas as minhas súplicas. / Aceita quem há de servir-te por longos anos, / aceita quem saberá amar com candura e lealdade. / se não tenho a abonar-me grandes nomes de velhos / avós, se quem me deu o sangue é um cavaleiro / e meus campos não são revolvidos por arados sem conta, / se têm de poupar nas despesas ambos os meus pais, / ao menos, tenho a meu lado Febo e as suas nove companheiras / e o inventor da vinha; / ao menos, tenho aquele que a ti me entrega, o Amor; / ao menos, tenho fidelidade, que a nenhuma outra há de ceder, / e um caráter sem mácula / e uma simplicidade pura e um pudor que me faz corar; / não são mil as que me agradam, não sou um saltitante do amor. / Tu, se alguma fidelidade existe, hás de ter o meu cuidado para sempre; / contigo, quantos anos me concederem os fios tecidos pelas Irmãs, / esses me caiba em sorte vivê-los, e, perante a tua dor, morrer. / Mostra que és feliz por seres assunto de meus poemas, / e meus poemas hão de surgir, dignos de quem os inspirou; / é graças à poesia que têm nome Io, apavorada com seus chifres, / e aquela que um amante enganou, em forma de ave dos rios, / e aquela que sobre os mares foi trazida por um touro a fingir / e com mãos de donzela se agarrou aos chifres recurvos. / Também eu hei de ser cantado, do mesmo modo, no mundo inteiro, / e o meu nome para sempre ficará ligado ao teu. Veja mais aqui, aqui, aqui, aquiaqui e aqui.

Ovide and Corine, his lover from the Amores, painted by Agostino Carracci (1557 - 1602). Veja mais aqui e aqui

TARAS BULBA – O romance histórico Taras Bulba (Alianza, 2010), do escritor ucraniano Nikolai Gógol (1809-1852) conta a história de um velho cossaco e seus dois filhos na guerra contra a Polônia. Ele mata um dos seus filhos: - Eu te dei a luz, eu te matarei!”. O seu outro filho é capturado pelos polacos e é executado: - Pai, estás a me ouvir? Taras, escondido dentro da multidão responde: Sim. E foge depois. Por fim, Taras é capturado em combate e queimado vivo. A história foi transformada em filme estadunidense, em 1962, pouquíssimo baseado na obra, dirigido J. Lee Thompson. Do livro destaco este trecho: [...] Os historiadores descreveram a contento essa campanha. Sabe-se que, na terra russa, a guerra é feita em nome da fé. Uma fé terrível, sem piedade, semelhante a um rochedo inabalável no meio de um mar sempre agitado. A massa rochosa eleva-se das profundezas do oceano, e desgraçado do navio que se chocar com ela! O seu casco será reduzido a pedaços, tudo voará pelos ares e os lamentos de terror dos infelizes marinheiros encherão os ares. A história conta como fugiam as guarnições polonesas das cidades que iam sendo libertadas, como foram enforcados os desalmados arrendatários judeus, a inferioridade revelada pelo oficial da coroa polonesa, Nikolai Pototski, e seu numeroso exercito, perante a cavalgada vitoriosa dos cossacos. Esse general foi completamente batido e metade de seu exercito afogado no rio. Encurralado na região de Poloniel pelos cossacos, Pototski jurou solenemente que faria conceder aos cossacos, da parte do rei e do governo da Polonia, todas as liberdades e restituir-lhes os antigos privilégios. Os cossacos, porém, conheciam o valor dessas promessas. Potorski não teria mais oportunidade de desfilar com seu cavalo puro-sangue na frente das damas, nem poderia mais oferecer festas suntuosas aos senadores da dieta, se o clero russo de Poloniel não o tivesse salvo. Quando todos os popes, com suas casulas bordadas a ouro, com ícones e cruzes nas mãos, e levando à frente seu bispo com mitra e báculo, saíram ao encontro do exército vencedor, os cossacos descobriram e inclinaram a cabeça. Nenhum poder humano, nem mesmo o rei, teria sido capaz de submetê-los, mas inclinavam-se perante os popes. O atamã resolveu com seus coronéis deixar partir Pototski, depois de esse ter jurado que as igrejas seriam respeitadas e que o exercito cossaco tomaria posse de seus antigos direitos. Só um coronel não concordou com aquela paz: Taras Bulba. Arrancando um punhado de cabelo da cabeça, gritou: - Ei, atamã, coronéis! Não façam esses arranjos de mulheres! Não creiam nos poloneses, pois eles nos trairão! E, quando o escrivão principal leu o texto do tratado e o comandante o assinou, Bulba ergueu seu sabre de aço damasquino e o quebrou pela metade, como quem quebra uma vara e, jogando longe os pedaços, exclamou: - Adeus! Assim como os dois pedaços deste sabre não voltarão a ser uma só arma, também nós, camaradas, não voltaremos a nos ver neste mundo [...]. Veja mais aqui, aquiaqui.



BLACK WIDOW – O suspense Black Widow (O mistério da viúva negra, 1987), dirigido por Bob Rafelson, conta a história de uma rica e bela mulher, Catherine Petersen que tem sua forma elevada cada vez que se casa e mata seus maridos ricos. Após receber a herança, ela desaparece e assume nova identidade para se preparar para um novo golpe. O destaque do filme vai para a linda atriz estadunidense Theresa Russel. Veja mais aqui.

 


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Dia de São Nunca: tem dia pra tudo, até pro que eu não sei, A mulher fenícia & os fenícios, Uso e abuso histórico de Moses Finley, A era do globalismo de Octavio Ianni, A grande transformação de Karl Polanyi, a literatura de Antonio Tabuchi, o teatro de Sarah Kane, Béjart Ballet Lausanne, o cinema de Eliane Caffé, a música de Clara Sandroni, a entrevista de Mano Melo, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a arte de Sueli Finoto, a pintura de Shahla Rosa & Arthur Hunter-Blair aqui.
De perto ninguém é mesmo normal, O coração do homem de Erich Fromm, A civilização asteca de Jean Marcilly, a literatura de Edgar Allan Poe & Euclides da Cunha, a música de Maya Beiser, a escultura de Auguste Clésinger, o teatro de José Celso Martinez Corrêa, o cinema de Peter Greenaway & Federico Fellini, a entrevista de Geraldo Carneiro, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a pintura de Jean-Paul Riopelle & Beatriz Milhazes, a dança de Martha Graham, a fotografia de Luiz Garrido, a arte de Paul-Albert Besnard & As mil faces do disfarce aqui.
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