sexta-feira, janeiro 16, 2015

ANANDA DEVI, CASSANDRA CLARE, HILDE DOMIN, JOANA RASPALL & KATHE KOLLWITZ

 


A SOLIDÃO DE KÄTHENasceu em Königsberg, onde viveu até os vinte anos de idade, quando foi para Munique estudar desenho. Seguiu para Berlim pros estudos de gravura. Retornou à cidade natal para pesquisar figuras humanas pelos bares. Casou-se ainda na juventude para ser mãe e dona de casa comum, tempos difíceis. A sua arte registrou A Revolta dos Tecelões, pela qual o imperador negou-se a concessão de uma medalha só por ser mulher. Passou a lecionar na Escola de Artistas de Berlim. Os desenhos, as gravuras, as esculturas, as litografias, as xilogravuras: Concordo que minha arte tem um propósito. Quero trabalhar nesses tempos em que as pessoas estão tão desamparadas e precisam de ajuda... Foi numa exposição de Dresden que ganhou sua primeira Medalha de Ouro. Havia chegado a hora das gravuras de Guerra Camponesa. Viajou para Paris para se familiarizar com as esculturas. E desagradou outra vez os poderosos com seu cartaz para a exposição Trabalho doméstico na Alemanha, com a recusa da imperatriz de ir à exposição enquanto seu cartaz não fosse recolhido. Viajou para Florença e Roma, fez desenhos para o jornal satírico Simplicissimus, demonstrando cada vez mais seu comprometimento social e político, como denunciou a escassez de moradias na cidade de Berlim, e foi censurada e proibida. Foi então que participou da fundação da Associação de Arte da Mulher, tornando-se sua primeira presidente. Traumatizada com a perda de um de seus filhos na primeira guerra, o assombro da morte e do luto rondavam: Guerra nunca mais!... Engajada pacifista lidava com as catástrofes da vida: Os pais em luto... Estava obcecada pela situação dos oprimidos, perseguindo quais seriam as causas da paz e da justiça social. Foi então aceita pela Academia de Belas Artes da Prússia, sendo nomeada professora, porém, não foi possível assumir porque mulheres não podiam exercer cargos públicos. Foi mais uma vez proibida de lecionar e teve seu trabalho rotulado por degenerado pelos nazistas. Suas feridas expostas eram as dores de mãe autorretratadas. Refugiou-se no seu pesadelo, a guerra roubava-lhe toda esperança e saúde, razão pela qual em sua última carta: A guerra permanece comigo até o fim... Ela era um grito que ecoava pela vida. E agonizou sozinha em Moritzburg. Viva Kathe Kollwitz (1867-1945). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Tenho três apelos às pessoas. Apelo a cada indivíduo para não trair a humanidade. As pessoas de hoje precisam de três membros: A cabeça para a mente, O coração para a emoção, A coluna vertebral: Isto é para evitar rastejar na frente de qualquer um. Vi o quão pouco uma pessoa pode se contentar. Mas também vi que existe um limite. Vi também o limite onde uma pessoa deixa de ser humana quando não há ajuda das pessoas ao seu redor. Fiquei sabendo pobreza da forma mais dolorosa para mim. Um poema é um momento congelado, derretido por cada leitor para fluir o aqui e agora. Pensamento da escritora alemã Hilde Domin (Hilde Palm - 1909-2006). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: A vida é um livro e há mil páginas que ainda não li. Você suporta o que é insuportável e você suporta. Isso é tudo. Todas as histórias são verdadeiras. Pensamento da escritora estadunidense Cassandra Clare (pseudônimo de Judith Rumelt), que no seu livro Clockwork Angel (Margaret K. McElderry Books, 2011), expressou que: [...] Somente os muito fracos de espírito se recusam a ser influenciados pela literatura e pela poesia [...]. Já no seu livro City of Glass (Margaret K. McElderry Books, 2015), expressou que: […] Você poderia ter tido qualquer outra coisa no mundo, e você perguntou por mim. Ela sorriu para ele. Por mais imundo que estivesse, coberto de sangue e sujeira, ele era a coisa mais linda que ela já tinha visto. Mas eu não quero mais nada no mundo [...]. Veja mais aqui.

 

QUANDO A NOITE CONSENTE FALAR COMIGO - [...] As religiões isentam você de ouvir a Deus. [...] Na poesia, como entre os seres, o que vale a pena vivenciar muitas vezes começa com uma emoção. [...] Prova de que a poesia é realmente boa, como escreve o escritor romancista das Maurícias, um presente de a vida, um “milagre, a antítese das certezas” [...] Uma mulher revela sua misteriosa evidência, sem que as palavras percam seus significados ocultos. Exploram o secreto e o íntimo, perscrutam o mundo visível e invisível, provocando as emoções que sugerem. E isto mesmo quando o autor evoca o desejo de poesia, a vida esmagada de uma criança-soldado ou de uma jovem prostituta, a violência das relações de dominação, o destino das mulheres, a sempre ardente questão da alteridade. Entre a doçura e a incandescência, o desejo e a solidão [...] ela nos dá a escrita na pele das paixões e das coceiras humanas. Fino e profundo, como ela, sempre ouvindo a promessa obscura do mundo [...] Álcool, cigarro, comida, drogas, sexo, são os excessos que nos emocionam, que nos fascinam. Sem eles, somos pálidas efígies fingindo viver. Sem eles, passaríamos do nascimento à morte como sombras que nunca conheceriam a felicidade dos prazeres proibidos. Somos a contradição viva dos nossos ideais de santidade e saúde. Não fomos feitos para o jejum ou a abstinência, exceto como forma de punição e autoflagelação. [...]. Trechos extraídos da obra Quand la nuit consent à me parler (Editions Bruno Doucey, 2011), da escritora mauriciana Ananda Devi (Ananda Devi Nirsimloo-Anenden).

 

VOCÊ PODERIA - Se você nasceu\ em outra terra,\ você poderia ser branco,\ você poderia ser negro...\ Outro país\ seria sua casa,\ e você diria “sim”\ em outro idioma. \ Você teria sido criado\ de forma diferente. \ Melhor, talvez. \ Talvez pior. \Você teria mais sorte\ ou talvez mais sorte...\ Você teria amigos\ e jogos de um tipo diferente;\ você usaria \ vestidos\ de serapilheira ou seda\ sapatos de couro\ ou alpercatas ásperas,\ ou andaria nua\ e perdida na selva.\ Você poderia ler\histórias e poemas,\ou não ter livros \ou não saber escrever.\ Você pode comer\ coisas doces\ ou apenas \ croutons secos de pão preto.\ Você poderia... você poderia...\ Por tudo isso ele acha\ importante estar\ de mãos abertas\ e ajudar aqueles que vêm\ fugindo da guerra,\ fugindo da dor\ e da pobreza.\ Se você nasceu \ na terra dele,\ a tristeza dele\ poderia ser sua. Poema da escritora, lexicóloga e bibliotecária catalã Joana Raspall i Juanola (1913-2013)

 

SACADOUTRAS

 

UMA QUESTÃO EMBARAÇOSA – Tratando acerca da Filosofia, Literatura e revolução, o filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), em seu livro A ilha deserta e outros textos, considera que: [...] Toda vez que se escreve, a gente faz com que algum outro fale. E em primeiro lugar, a gente faz com que fale uma certa forma. [...] A espontaneidade de hoje talvez escape ao indivíduo, assim como à pessoa; não simplesmente por causa de potências anônimas. Mantiveram-nos durante muito tempo na alternativa: ou sereis indivíduos e pessoas, ou vos reunireis a um fundo anônimo indiferenciado. Nós descobrimos, todavia, um mundo de singularidades pré-individuais, impessoais. Elas não se reduzem aos indivíduos e nem às pessoas, e nem a um fundo sem diferença. São singularidades móveis, ladras e voadoras, que passam de um a outro, que arrombam, que formam anarquias coroadas, que habitam um espaço nômade. Há uma grande diferença entre repartir um espaço fixo entre indivíduos sedentários, segundo demarcações e cercados, e repartir singularidades num espaço aberto sem cercados e nem propriedade. [...] Não sei, é uma questão embaraçosa. Em primeiro lugar, há relações de amizade ou de amor que não esperam a revolução, que não a prefiguram, embora sejam revolucionárias a seu modo: elas têm em si uma força de contestação própria à vida, como os beatniks. Neste caso, há mais budismo zen do que marxismo, mas há muitas coisas eficazes e explosivas no zen. Quanto às relações sociais, supomos que a filosofia, em tal ou qual época, tenha por tarefa fazer com que fale uma tal instância: o indivíduo no mundo clássico, a pessoa no mundo romântico, ou então as singularidades no mundo moderno. A filosofia não faz com que essas instâncias existam, ela faz com que elas falem. Mas elas existem e são produzidas em uma história, elas próprias dependem de relações sociais. Então, vamos lá! A revolução seria a transformação dessas relações, correspondendo ao desenvolvimento de tal ou qual instância (como a do indivíduo burguês na revolução “clássica” de 1789). O problema atual da revolução, de uma revolução sem burocracia seria o das novas relações sociais em que entram as singularidades, minorias ativas, no espaço nômade sem propriedade e nem cercados. Veja mais aqui, aquiaqui.

Imagem: Nu, do artista plástico brasileiro Washington Maguetas. Veja mais aqui.

Ouvindo João canta Sade, álbum com a belíssima interpretação do cantoramigo João Pinheiro dos grandes sucessos da cantora e compositora anglo-nigeriana Sade Adu (Helen Folasade Adu, cantora da banda inglesa Sade).

 

SER OU NÃO CHARLIE? – O Padre Bidião anda no mundo da lua - ele e os seus outros quase nove clones que estão pintando um rolé adoidado por aí, literalmente. Desde a última botada da desgraçada indústria sucroalcooleira que ele não dava as caras. Ontem foi que ele resolveu dar o ar da graça, ao estacionar o seu disco voador invisível no quintal lá de casa e entrar todo vexado a me perguntar sobre algo que o incomodava: - Por que tá todo mundo me perguntando se sou Charlie ou não? Expliquei amiudado do que se tratava e ele com espanto logo sentenciou: - Ah, por isso que o Boff disse que não era Charlie!?! Pois bem, vou dizer a você o que eu sou: se é a favor da liberdade de expressão, sou Charlie; se é a favor do respeito às diferenças e todas as religiões, não sou Charlie; e se não ficar satisfeito, vá você o Charlie para a puta que pariu, entendeu?! Tendi. Veja mais aqui, aquiaqui.

A MORTE NA DEFESA DOS GORILAS – Conhecida mundialmente por seu trabalho científico dedicado à conservação dos gorilas das montanhas Virunga, em Ruanda e no Congo, a zoóloga estadunidense Dian Fossey (1932-1985) inspirada nos escritos do naturalista George B. Schaller e levada pelas instruções da especialista Jane Goodall, criou o Centro de Pesquisa Karisoke. Ao ter conhecimento da morte do seu gorila favorito, Digit, que teve suas mãos arrancadas para fazer cinzeiros, com o qual passou a denunciar as atrocidades angariando antipatia dos caçados e dos corruptos do exército de Ruanda. Por conta disso, ela foi assassinada! Em sua memória foi realizado o filme Gorillas in the Mist: The Story de Dian Fossey, em 1988 (no Brasil recebeu o título de Nas Montanhas dos Gorilas), dirigido por Michael Apted, estrelado por Sigourney Weaver e vencedor o Globo de Ouro (1999, EUA), como a melhor atriz de cinema na categoria drama e melhor trilha sonora de Maurice Jarre. Também em sua homenagem foi criada a organização The Dian Fossey Gorilla Fund International. Veja mais aquiaqui.

OS DIÁRIOS DE SUSAN SONTAG - A premiada Susan Sontag, pseudônimo da escritora, crítica de arte e ativista estadunidense Susan Rosenblatt (1933-2004), desenvolveu suas atividades na defesa dos direitos humanos, denunciando que "a história recordará a Guerra do Iraque pelas fotografias e vídeos das torturas cometidas pelos soldados americanos na prisão de Abu Ghraib”. Desde o início da sua adolescência ele tomou consciência de sua atração por mulheres ao escrever os seus diários aos quinze anos de idade: “então agora eu sinto que tenho tendências lésbicas (como relutantemente eu escrevo este)”. Contudo, casou-se com Philip Rieff, tendo um filho e mantendo o matrimonio por oito anos. Com o divórcio, a partir da década de 1970 assumiu vários romances com atrizes, fotógrafas, coreógrafas e escritoras. No seu diário encontramos: “eu acredito: que não existe nenhum deus pessoal nem vida após a morte; que a coisa mais desejável do mundo é a liberdade de ser verdadeiro para si mesmo, ou seja, Honestidade; que a única diferença entre os seres humanos é a inteligência; que o único critério para uma ação é a felicidade ou a infelicidade individual que em última instância ela produz; que é errado privar qualquer homem da vida [...] acredito, além disso, que um Estado ideal (além do que está em “g”) deveria ser um Estado forte e centralizado, com o controle governamental dos serviços públicos, bancos, minas, + transporte e subsídios às artes, um salário mínimo confortável, apoio aos incapacitados e idosos.Atendimento público para mulheres grávidas, sem distinção de filhos legítimos e ilegítimos. E mais adiante ela expressa que: ...Poesia tem de ser: exata, intensa, concreta, relevante, rítmica, formal, complexa... A arte, portanto, está sempre lutando para ser independente da mera inteligência... A língua não é só um instrumento, mas um fim em si mesma... Por meio da lucidez imensa e precisamente direcionada de sua mente, Gerard Hopkins lavrou em palavras um mundo de imagens arrasadas e exultantes. Graças a sua lucidez implacável, protegendo-se dos excessos de gordura mediante a rigorosa espiritualização da sua vida e da sua arte, ele ainda por cima criou uma obra, dentro do seu âmbito limitado, de um frescor sem paralelo. Sob o problema angustiado da sua alma... Veja mais aqui, aquiaqui.


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