PRECISO – A solidão e as
situações aversivas me fizeram ao recolhimento. As conversas, quando ocorrem,
são sempre de caráter negativo ou nada estimlantes, vez que se reduzem apenas à
necessidade de se expressar – parece mais que todos estão querendo desabafar
emitindo suas opiniões que invariavelmente nunca foi ouvida ou se quer
meritória de mínima atenção. Carencias potencializadas, insatisfações demais. Parece
mais que todo mundo está infeliz com a sua própria vida. Por outro lado, as situações
aversivas são recorrentes, nada dá certo. Na dá liga. Nada traz consequencias
exitosas ou para algo que desenrole evolutivamente, como se toda iniciativa
fosse dar um nó. Sim. Fracassos, decepções. Expectativas demais, satisfação de
menos. Deve ser porque estamos sempre querendo mais que o mérito, premios que
devem cair do céu como milagres do aqui e agora. Não há planeamento nem boa
vontade, ganhar por ganhar sb o signo de que todo mundo é filho de Deus,
independentemente do que se faça, deve-se ser automaticamente feliz, sem que se
precise fazer nada precedente, assim do nada. Solidão e situações aversivas se
conjugam em razão da potencialização do umbigo. Baixar a bola seria uma boa
opção. Nariz empinado leva pra onde? E se não sabe o que quer, então, pra onde
seguir. O que se sabe é nada perto do que se devia saber. Achar-se esperto não
é sinal de realmente seja. Fazer o que deve ser feito e não desenrolar. Se é
pra ser fato que se faça sem embromação. O que se sabe é nada; o que não se
sabe não se pode ser feito. Ou se aprende na vera, ou melhor partir pra outra. Então,
a minha precisão de escrever tem sido imensamente egoista: não é pro outro que
devo parecer escritor, mas convencer a mim mesmo e com a mais assertiva e
severa persuasão de que quero ser escritor, devo tornar-me verdadeiramente
escritor e não um impostor. A necessidade de escrever, por si só, não habilita
o escritor, apenas uma pessoa carente de parceria para conversas, então utilize
a escuta para soltar seus cachorros, demônios e fraquezas. O que se sente é o
mesmo de um ou outro, senão todos, sentimento defuso da mais funda profundidade.
Sentimento de um que é de todos. E tem a forma como se dizer e escrever. Sem vocabulário
ou repertório apenas se repetirá, o que qualquer um poderá dizer ou escrever. Riqueza
de emoções ou mediocridade darão o tamanho do escrito: se digno de difusão por
encontrar eco no íntimo e, consequentemente, na admiração dos outros; ou se será
visto apenas por educação ou gesto de hipocrisia. Esta a necessidade de
escrever, não de poetar. Quando escrever é poetar é ter o que dizer de forma
inspiradora e ubíqua, maior que a si próprio. Viver primeiro e muito, bastante
além se possível é que devo dizer pra mim mesmo e essa é a conversa que devo
ter de forma real: não é pro outro que tenho a dizer, mas a mim mesmo – tomar vergonha
na cara e partir pro real! A quem quero enganar? Aos outros, talvez seja fácil.
Mas enganar a si mesmo é loucura. A necessidade de escrever até agora,
honestamente, foi e tem sido apenas para fuga da solidão. Literatura é outra
coisa. Assim: se não há ninguém do lado, converso comigo mesmo, com as paredes,
com invasores indesejáveis (insetos, batráquios minúsculos, besouros, lagartixas,
baratas, bichos que me dão asco e que convivem comigo contra minha vontade e
causando-me maior ojeriza, foi o que sobrou da humanidade, meu... Os móveis
empoeirados e objetos inanimados que coisifico no meu desvario solitário). Até então
a minha necessidade de escrever tem sido tão apenasmente para que transborde do
que está cheio meu coração (tristezas, frustações), quando na vera preciso
definir-me se pela literatura propriamente dita, ou se pelo mero ato de
carburar minha mitomania de falar mais que o homem da cobra, ou ainda, satisfazer
o ego como se fora de fato um escritor – um descarado escritor, cara de pau
sujeito a óleo de peroba, que precisa andar, sofrer, estudar, errar e aprender
muito para poder ser um escritor. Esse meu desvario, meu pedido de socorro. Ah,
sabe do que estou precisando mesmo? De ajuda profissional, fui. Bom dia. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS - Possivelmente, quando envelhecermos
um pouco, isso não será mais o caso. Tudo, diz o sábio, tem seu tempo. E é verdade; Eu mesmo experimento isso...
Ouve-se de longe que o inverno é frio; mas quando a lua está cheia ela
brilha em todos os lugares... Porque nunca se sabe quando
a morte virá nos visitar, por isso é melhor estar sempre pronto...Pensamento
da escritora holandesa Aagje Deken (Agatha Pieters – 1741-1804).
ALGUÉM FALOU - As pessoas
mobilizadas têm muita força... Eles são tão assassinos quanto os soldados...
Pensamento da ativista argentina Hebe de Bonafini (1928-2022), uma das
fundadoras da associação Mães da Praça de Mayo.
A ARTE DA FICÇÃO - [...] Incrivelmente, há pessoas – pessoas
inteligentes – que pensam que um desdém afetado pelo drama é de alguma forma um
sinal de “bom gosto”. Na maioria das vezes acontece o
contrário: uma lamentável insensibilidade à essência da arte, um fracasso em
“compreendê-la” no nível mais essencial. Na maioria das vezes, não é um sinal
de bom gosto, mas de insegurança artística. Sem saber até onde ir, o escritor não
vai a lugar nenhum. A falta de vida não é uma forma de
elegância que você deva buscar [...] A maneira – a única maneira
– de “encontrar” sua história é contá-la. Ninguém no mundo inteiro jamais
contou a história que você está prestes a contar. Você mesmo nunca contou isso a
ninguém, nem mesmo a si mesmo. Você pode ter muitas intuições sobre
como será a história e pode até ter uma espécie de visão geral resumida dela. Estas são coisas boas e úteis para
se ter; eles são ótimos lugares para começar. Eles não são suficientes. Até que você realmente conte a
história, toda a história, não será nada além de fumaça. Além disso, você provavelmente não
contará a história exatamente da maneira certa na primeira vez que tentar. Você fará curvas erradas, usará a
chave errada ou usará a chave certa na porta errada. Afinal, você não tem ninguém para
guiá-lo. Se você for como a maioria das
pessoas, terá que contar essa história mais de uma vez – talvez até várias
vezes – antes de realmente entendê-la. [...] Quando eu ensinava redação
criativa, dizia aos alunos para fazerem seus personagens quererem alguma coisa
imediatamente - mesmo que fosse apenas um copo d'água. Personagens paralisados pela falta
de sentido da vida moderna ainda precisam beber água de vez em quando. [...] Use
todos os erros. As partes inarticuladas apontam para
onde você deve fazer com que as palavras digam exatamente o que você quer dizer. As partes irregulares indicam o que
você deve polir. Os buracos dizem o que precisa ser
preenchido. As partes cegas dizem infalivelmente
o que deve ser cortado. Os espaços em branco mostram
exatamente o que você deve sair e encontrar. Esses são guias infalíveis e, embora
falem duramente, são seus amigos. [...] o que realmente contribui
para a legibilidade não é a clareza, mas a atitude: a atitude de sua prosa em
relação ao nosso esquivo amigo, o Leitor, e o papel que você inventa para esse
ser inventado em seu mundo inventado. [...] O
cinema e a televisão convenceram muitos escritores de que muitos diálogos
tornam os romances mais parecidos com filmes e, portanto, bons. Esta é uma fantasia de amador e
induziu alguns escritores a abrir mão das poucas vantagens que têm sobre a
narrativa cinematográfica. O cineasta está preso ao que a
câmera pode ver e o microfone pode ouvir. Você tem mais liberdade. Você pode resumir situações. Você pode nos contar diretamente as
histórias das pessoas. Você pode concentrar dez anos em dez
palavras. Você pode se mover para qualquer
lugar que desejar, fora do tempo real. Você pode nos dizer – apenas nos
dizer – o que as pessoas estão pensando e sentindo. Sim, um diálogo abundante pode
iluminar uma história, torná-la mais legível e brilhar com maravilhas. Mas é lamentavelmente inadequado diante
daquilo que não é adequado para fazer. [...] É precisamente nessa relação com o Leitor que você
encontrará a maioria das falhas clássicas de estilo: pretensão,
condescendência, servilismo, obscurantismo, grandiosidade, vulgaridade e coisas
do gênero – até mesmo academicismo. É por isso que a maioria dos defeitos de
estilo pode ser descrita em linguagem relevante para as relações humanas. O seu
estilo é franco e aberto... tem alguma agenda discreta... pretende provar algo
que não admite ou não pode admitir... está tentando impressionar... exibir...
está bajulando ... rastejando... talvez apenas um pouco passivo-agressivo, com
uma voz murmurante e meio audível que não está disposta a explicar... está
tentando convencer... oprimir... ajudar... seduzir... dar prazer... infligir
dor... Não há área do trabalho do escritor que seja mais sensível à psicologia
da conexão humana do que o estilo [...] Como você não tem escolha a não ser começar na incerteza,
você deve aprender a tolerar a incerteza e, se possível, transformá-la em
excitação.
[...] A produtividade é o único caminho para a confiança.
[...] E como você percorre o seu caminho do começo ao fim? Você pode ser guiado a cada passo
por apenas uma intuição: seu próprio senso de justiça. Mas a sensação de que está certo só
pode surgir depois de você ter sido guiado para longe de dez mil caminhos
errados pelo seu senso do que está errado. O sentido do que está certo e o
sentido do que está errado não têm existência independente: cada um é o reverso
do outro. A maioria das boas histórias morre
antes de nascer simplesmente porque seus autores não conseguem compreender isso. Aquela pequena voz interior lhes
diz: “Isso está errado, totalmente errado”, e eles entram em pânico, pensam que
falharam e desistem. Eles acham que aquela voz interior
está errada; isso está errado – é um motivo para
parar. Na verdade, é o melhor amigo da sua
arte, a outra voz da justiça. Você deve ouvir ambos, confiando que
seu intelecto é capaz de responder às suas sugestões e discernir pelo menos
muitos dos seus significados mudos. Eles estarão em jogo a cada hora que
você passar em sua mesa e somente eles poderão guiá-lo em seu caminho da
perplexidade, complexidade e conflito até o inevitável. Esse movimento do improvável ao
inevitável é o curso mais verdadeiro de uma história e define o seu caminho. [...] A
correção das coisas geralmente é revelada em retrospecto, e é improvável que
você saiba de antemão o que é certo e o que é errado em uma história que ainda
não foi escrita. [...] O choque do reconhecimento é
um momento de excitação que abala a alma. Pode ser difícil de descrever, mas
como outras formas de amor, você saberá quando sentir. [...] Inspiração,
confiança, convicção, habilidade e conhecimento não são o que tornam a escrita
possível. É exatamente o contrário. Escrever os torna possíveis
[...] Mas” – você pode dizer – “eu ainda nem conheço minha
história”. Minha resposta é: “Claro que você ainda não conhece sua história”. Você
é a primeira pessoa a contar essa história, em qualquer lugar do mundo, e não
pode conhecer uma história até que ela seja contada. Primeiro você conta; então
você sabe disso. Não é o contrário. Isso pode parecer ilógico, mas para a mente
narradora é a própria lógica. As histórias se tornam conhecidas, elas se
revelam – até mesmo para quem as conta – apenas quando são contadas. Você pode
perguntar como é possível contar uma história antes de percebê-la. Você faz
isso deixando a história emergente contar-se através de você. Ao contar, você
deixa a história lhe dar dicas sobre o próximo passo. No início, você deve
sentir o seu caminho, deixando-o ser o seu guia. [...] Cultive
tudo o que for útil à sua persistência. [...] A única maneira de
começar é começar, e começar agora mesmo. Se quiser, comece assim que terminar
de ler este parágrafo. Com certeza, comece antes de
terminar de ler este livro. Não tenho dúvidas de que chegará o
dia em que você será mais sábio, mais bem informado ou mais qualificado do que
é agora, mas nunca estará mais pronto para começar a escrever do que neste
minuto. A hora chegou. [...].
Trechos extraídos da obra The
Modern Library Writer's Workshop: A Guide to the Craft of Fiction (Pbk, 2003), do escritor, historiador e professor estadunidense Stephen Koch. Veja mais
aqui, aqui e aqui.
NÃO ESTOU COM SONO, NÃO VOU PRA CAMA – [...] Aí eu
digo: “Vamos escovar os dentes”. Então Lola disse: “Mas Charlie, não
posso escovar os dentes porque alguém está usando meu dente”. "Mas quem usaria sua escova de
dente?" Eu pergunto. Lola diz: "Acho aquele leão. Vi
um leão com minha escova de dente e agora ele está escovando os dentes com ela." "Mas esta não é a sua escova de
dente, Lola?" “Oh”, diz Lola, “ele
deve estar usando o seu. [...].
Trecho da obra I Am Not Sleepy and I Will Not Go to Bed (Candlewick, 2005), da escritora britânica Lauren
Child, que também se expressa: Recebemos: Duas mãos para segurar. Duas pernas para andar. Dois olhos para ver. Dois ouvidos para ouvir. Mas por que apenas um coração? Porque o outro foi dado a outra
pessoa. Para nós encontrarmos... Veja mais
aqui e aqui.
BRINCAR COM PAIXÕES – I - Diga, eu te peço. \ E deixe-me ficar de pé e ser meu toque \ O gelo do vale: há prazer nisso. \ Sim, quando o sangue frio corre por todas as veias; \ Quando cada poro da minha pele encolhida \ Uma colina nodosa se torna, e aos meus ouvidos \ Sons internos estranhos despertam, e aos meus olhos \ Apresse as lágrimas de estranhos, há alegria no medo.
II - Este encanto é desperdiçado na terra e no céu, \ Diga-lhes, querido, que se os olhos fossem feitos para ver, \ Então a beleza é a sua própria desculpa para o Ser; \ Por que você estava lá, ó rival da rosa! Poemas da compositora e poeta
escocesa Grizel Baillie (1665- 1746), que na obra Plays on the Passions (Broadview, 2001),
expressou: [...] Entre as muitas provações a que a mente humana está sujeita, a de manter
relações, reais ou imaginárias, com o mundo dos espíritos: de se encontrar a
sós com um ser terrível e terrível, cuja natureza e poder são desconhecidos,
foi justamente considerada a mais grave. [...]. Veja mais aqui.