quinta-feira, agosto 31, 2023

LINDA KNAUSGARD, PATRICIA CHURCHLAND, ELEANOR HIBBERT & PERNAMBUCO POPULAR

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Molécula Azul (2020), A flor que gira (2019), Cósmico Samba (2011), A Hora do Meio-Dia: "ofuscante, tanta claridade oculta o mito e deseja a noite" (2002), O Bárbaro (s/d) e Disfarce (1999), da cantora, compositora, instrumentista, professora e escritora Luama Socio, que é formada em Letra pela UNESP, mestre em Teoria Literária e doutora em Filosofia pela USP, e editora da revista Katawixi.

 

VALER SEM UMA NEM DUAS, TODAS... - Daqui prali é quase nada: há sempre a sensação de que a colheita já passou do ponto. Mesmo assim aposto no imprevisível: ainda não achei a peça que falta no quebra-cabeça, olvidando da ampulheta no relógio que perdi. Sei de antemão: o que passou pegou atalho pro futuro – cada passante com a sua própria Caverna de Platão, coisa de quem estupora misturado no indevido. Estou pronto pro improviso, mas sei: há sempre o risco da queda. Ah, vou no tinindo, afinal quem não proseia, antes de chegar já se foi. Há quem vá no acordo ou não, e dessa passa pra outra, às vezes pra pior. Enquanto isso atento ao que disse Carolyn Janice Cherry: A ignorância matou o gato; a curiosidade foi enquadrada!... É perfeitamente normal escrever lixo - desde que você edite de maneira brilhante... Rio-me de quase tudo. E, apesar da manhã ensolarada, a correria dos que vão ou chegam parece mais a vida se acabando antes do tempo e pisoteando os que ficaram pelo caminho. Adivinho itinerário, ovelha desgarrada e o desassossego. Escapo de dementadores, afinal já me dizia Rebecca West: A conversa é uma ilusão. Há apenas monólogos que se cruzam... Você deve sempre acreditar que a vida é tão extraordinária quanto as músicas dizem. Confesso: ao meu redor tudo é tão inextricável quanto impreciso, enteléquia arruinada e o inevitável. Salutar ouvir Camilla Läckberg feito epitalâmio: Seria mais fácil não se importar, ir com a maré e se preocupar com um dia de cada vez... Nunca se deve considerar uma coisa como certa se for apenas quase certa... Porque se você não se permitir amar, você correrá o risco de perder tudo... A vida é sempre um mistério pendular, tempespaço entre dizeres e falácias. Mas digo: se a verdade for uma mulher nua e crua eu quero, senão prefiro uma mentira bem contada. Do contrário, lá vou eu como quem veio da Nebulosa do Anel para a galáxia do Sombreiro: um caminho para ir sozinho. E aos que perduram digo: até mais ver.

 

UM POEMA: A VIDA NÃO VIVIDA

Imagem: Acervo ArtLAM

Um palco ao ar livre, madrugada, \ Todos os movimentos seguem o ritmo, uma coreografia fixa, os bailarinos dançam balé \ Um homem segura um relógio, no final tudo o que ouvimos é o tique-taque do relógio \ (uma transição dos movimentos coreografados da dançarina para o simples tique-taque do relógio) \ Eu pedi para uma nova era começar \ Aqui entre nós \ Relâmpagos (se mostra) \ Você pode escolher um conhecimento para levar com você \ Apenas um \ Você pode escolher como achar melhor, a liberdade é sua, mas se as limitações são o que você deseja eles estão disponíveis \ (Dê corda no relógio) \ O que vai morrer vira começo, deixe tudo \ Minhas memórias? Sim, eles também. \ Lembrar não será possível. \ Você morre. Todos nós morremos \ Bem desse jeito? Sim, de certa forma, de certa forma não \ Você não poderá escolher quando \ Mas isso vai acontecer \ O que você sabe sobre a nova era? \ Você tem experiência. \ O que você vê na sua frente. \ Não adianta ter medo. \ Bom, bom, isso mesmo \ Cumprimente o novo com confiança, seja justo \ Quem é você, aquele que vai nos explicar tudo? \ Nunca, sem tais pensamentos, mude a melodia e ouça o que é quase inaudível \ E ainda assim cresce \ Os mortos: cresce, cresce, cresce \ Levante-se quando eu falo com você \ Você é um homem violento? \ Eu tenho ideias, pensamentos. \ Qual, se posso perguntar? \ Como você governa sem violência? \ Tudo depende de você acreditar em mim, em cada palavra minha \ Não pense nem por um momento que vou te revelar algo sobre mim \ Os mortos: Sobre mim, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu \ O homem que falou de uma nova era anda com o relógio fora do palco \ Lá vão eles, todos tolos \ Eles não vão voltar, estamos sozinhos aqui, estamos livres, e ainda assim não \ Eu não entendo nada, agora diga o que você quer dizer \ A vida passou, não vai voltar \ Agora todos devem se curar \ Já estamos mortos? \ O murmúrio dos mortos está por trás dele, embaixo dele, murmure livremente \ Quantos, dois ou três, cinquenta, cem mil, setecentos mil e trinta? \ Vá em frente, apenas deite-se ali. \ Ele aponta para os mortos, seu murmúrio \ Seu sono será sem sonhos \ Eu amo meus sonhos \ Então fique aí, aí você poderá sonhar \ É tão fácil assim, mas algumas palavras, ele ri \ Tudo começa de novo. \ Isaque, Ismael, o sacrifício e o deserto \ O murmúrio dos mortos: Isaque, Ismael, o sacrifício \ Trovões, relâmpagos, em seu clarão vemos o balé dos dançarinos \ Todos observam enquanto dançam, cada um em sua mente, pensamentos, se pudéssemos ouvi-los \ Aplausos \ Apenas olhe Isaque e Ismael se abraçam e riem \ Isaac: Veja o balé. \ Eles estão dançando Ismael: Me encanta ver isso, me encanta \ Isaac: Então você está seguro, só os seguros podem se deliciar assistindo a dança \ Ismael: Talvez \ Eles riem \ O homem do relógio entra. \ O Homem: O tempo está passando. \ Não se esqueça. \ Isaac: Nos encontramos e já devemos nos separar \ Ismael: Assim está escrito \ Ismael dá um beijo de despedida em seu irmão, deve ir imediatamente \ Sentiremos falta um do outro? \ Através dos milênios \ Até a próxima. \ Isaque e Ismael caem nos braços um do outro \ Assista ao balé novamente \ O balé novamente em plena luz do dia \ Ismael: O que vê-los dançar faz com você? \ Isaac: Isso me faz doer \ Isaac: Verdadeiramente, estou sofrendo, estou sofrendo \ Ismael: Esse é o anseio pela vida não vivida \ Uma eternidade depois \ Bem cumprido \ Isaque \ Ismael \ Ouça isso, não poupe detalhes, eles sussurram um para o outro, \ a paisagem de seus pensamentos é projetada atrás deles. \ Um pássaro voa pela paisagem e cai diante de Isaque e Ismael. \ É a morte, o condor, o orgulhoso emissário da morte. \ É apenas um pássaro. \ Um pássaro você diz, se fosse uma pomba já estaríamos comemorando, mas o condor, com asas para carregá-lo do inferno e voltar \ Tão rápido em separar pensamentos, \ Ismael, meu irmão \ O que você está pensando? \ Os prados pelos quais passei quando criança. \ Pensamentos, esperança talvez tão simples quanto isso \ Sim, esperança e saudade \ Aqueles que vivem muito. \ Só eles? \ Sim. \ Só eles.

Poema da escritora sueca Linda Bostrom Knausgard.

 

RAINHA DESTE REINO - [...] Vale a pena lutar pela liberdade; vale a pena pagar um preço alto por isso, porque morrer pela liberdade é deixar esta vida em um tumulto de glória que destrói nossas fraquezas passadas e nos torna um com os heróis. [...]. Trecho extraído da obra Queen of This Realm (Fawcett, 1986), da escritora Jean Plaidy, pseudônimo da escritora britânica Eleanor Hibbert (1906-1993), autora de frases lapidares tais como: Como os amantes podem ser estúpidos! Mas se não fossem, não haveria história... Um país ganha mais com um ano de paz do que com dez anos de guerra... Veja mais aqui.

 

BRAINTRUST: O QUE A NEUROCIÊNCIA NOS DIZ SOBRE A MORALIDADE - [...] A ciência é o grande antídoto para o veneno do entusiasmo e da superstição. [...]. Trecho extraído da obra Braintrust: What Neuroscience Tells Us about Morality (Princeton University Press, 2012), da filósofa canadense Patricia Smith Churchland, que noutra de suas obras, Conscience: The Origins of Moral Intuition (W. W. Norton & Company, 2019) expressa que: [...] A certeza é inimiga do conhecimento. [...] Em geral, aqueles que se anunciam como tendo um julgamento moral superior ou um acesso único à verdade moral precisam ser olhados com desconfiança. Não é raro que haja grandes vantagens – em dinheiro, sexo, poder e auto-estima – em estabelecer-se como uma autoridade moral. O resto de nós pode ser facilmente explorado quando concordamos com essas afirmações oficiais. Muitos golpistas se proclamam gurus morais, dispostos a dizer ao resto de nós como nossa consciência deve se comportar. Eles podem parecer autoritários porque são especialmente carismáticos ou especialmente espirituais ou especialmente firmes em suas convicções. [...] É tentador acreditar que a nossa consciência pode ser aproveitada para transmitir verdades morais universais e que, enquanto prestarmos atenção à nossa consciência, a nossa escolha será de fato a escolha moralmente correta. O facto desconfortável que tem de ser levado em conta, no entanto, é este: as pessoas conscienciosas divergem frequentemente sobre o que a sua consciência lhes ordena fazer e, portanto, diferem nas suas [...] A convicção sincera não é, infelizmente, uma garantia de decência moral. [...] Posso ansiar pela certeza, mas tenho que viver fazendo o melhor que posso. [...] A própria ciência não julga valores morais. Quando todos os fatos disponíveis estiverem disponíveis, ainda poderemos enfrentar as perguntas “O que devemos fazer? [...] A certeza sobre a postura moral de alguém pode ser reconfortante, mas tende a nos alertar para os danos que estamos prestes a causar. [...] Viver em comunidade normalmente aumenta as chances de sobrevivência e prosperidade. Podemos compartilhar comida e nos aconchegar contra o frio; podemos nos organizar para atacar as presas ou para nos defendermos uns dos outros contra invasores. [...] Se a nossa sociabilidade motiva o cuidado com os outros, também é verdade que somos dados ao ódio. Nós, humanos, regularmente temos prazer em odiar aqueles que consideramos estranhos. Tendemos a achar o ódio energizante. [...] O primeiro e mais básico ponto evolutivo é que os principais alvos e beneficiários da sociabilidade são os descendentes. Por que? Porque os bebês mamíferos são imaturos ao nascer e certamente morrerão sem cuidados. As tartarugas bebés, depois de eclodirem dos ovos, imediatamente escavam para sair da areia, descem para a água e começam a procurar comida. Nenhum pai está por perto, nem é necessário [...] Por mais confuso que seja, o melhor conselho talvez seja permitir-se uma ampla experiência de vida e exposição à condição humana em toda a sua beleza e horror. Faça o seu melhor, mas mesmo assim você cometerá erros [...] Se eu fosse uma criatura solitária como uma salamandra, nada disso me incomodaria. Eu não teria conflitos morais, nem consciência social. Eu alimentaria, acasalaria e botaria meus ovos. Eu não me preocuparia com outras salamandras, nem mesmo com aquelas que eclodem dos meus próprios ovos. Eu cuidaria de minhas próprias necessidades e não me importaria nem um pouco com os outros. Mas sou um mamífero e, como outros mamíferos, tenho um cérebro social. Estou programado para me preocupar, especialmente com aqueles a quem estou apegado. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

PERNAMBUCO POPULAR

O dom de comover lhe pertence, pois seu toque esbarra na emoção do outro...

Extraído da obra Pernambuco popular: um toque de mestre (Relicário Produções, 2005), de Raul Lody, fotografia de Fred Jordão e Roberta Guimarães, reunindo a obra de Ana das Carrancas, J. Borges, Mestre Salú, entre outros grandes mestres da arte popular de Pernambuco. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.