quarta-feira, setembro 06, 2023

JILL BOLTE TAYLOR, JANE ADDAMS, ÁNGELA GARCÍA & CORBINIANO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do álbum Levantine Rhapsody (Analekta, 2020) e do concerto Continuum – Création pour kanum et quintette (27eth Bienalle Cinars, 2022), da compositora turca Didem Başar.

 

A SURPRESA DAS ESQUINAS... – Onde moro sou andejo e nem sempre é dia claro: depois das esquinas há sempre caminhos esturricados de lá e depois, cheio de antes, pouco ou muito às vezes e tão longe, poças e lembranças. As surpresas no apurado, tudo passa. O que me disse alguem antes de ontem quase esqueci, nem olvidei de todo. Posso dizer: quando menos se espera a vida acaba e cadê mais pra onde. Coisas de Jennifer Egan: Todos que perdemos, encontraremos. Ou eles vão nos encontrar... Ah, sim: festas de chegadas ou partidas, ali e acolá. Mais fui e digo: pé atrás pisada firme o chão e a ideia antes fosse. Nenhum temor às horas minguantes, parece, por enquanto. É melhor Grace Metalious: Pessoas mortas não podem te machucar. É com aqueles que estão vivos que você tem que tomar cuidado... Assuntar vale, nada vem de graça. Golpes não são bem vindos, pesa traição e covardia no peito aberto – a rua está cheia disso. Os olhos nem sempre dizem o que expressam, quantas vezes não foi Hilda Doolittle: O amor é uma roupa rasgada pela luz que sobe do Parnaso mostrando que a noite acabou... Renasço no amanhecer todo dia, vou em frente. Ainda bem curvas pra lá e pra cá, aclives pras coisas escondidas, declives pro frio na barriga. Melhor ainda ter ido, não só apenas pra garantir a vida ao vento, sequer daria conta das cataratas de sangue do Taylor, dos meteoros aurigídeas ou mesmo do que vem depois, nem pesar o que foi feito ou deixou de fazer: os dias passam e eu voo. Até mais ver.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

I - Aprendo da nudez para envolver-te, \ aprendo da nudez para descobrir-te, \ para nos movermos no tempo minúsculo \ e reconhecer o vértice do durável, \ com passos que não se apagarão \ na areia que vem. \ Não sou eu quem te ama, \ é minha filha primogênita \ a que gerei depois das despedidas. \ necessárias. \ Mas dela e minha é o mel \ depositado em teu umbigo, \ no vão do teu peito \ e o da tua axila. \ O que nos iguala em idade é o sorriso \ que não conhece calendários \ nem contabilidade, \ mas conhece o resplendor. \ Se cabem céu e cordilheira neste abraço, \ declaro-me guardiã \ de seus doces recantos sob as pedras, \ de suas duras encostas em cujos cumes \ a luz nos fala, nos inundando. \ É a missão que imponho ao corpo: \ Abraçar o que É!

II - Chego a ti para não me ter, \ para permitir que me tenhas. \ Assomando em mim, \ ajudas-me a ver \ o que voltará a mim \ quando eu me voltar a ter. \ Quando me tens, vejo-me \ a partir de ti, a outra. \ Uma parte do teu corpo.

Poemas da premiada poeta, tradutora e gestora cultural colombiana Ángela García.

 

VINTE ANOS - [...] No incessante fluxo e refluxo da justiça e da opressão, todos devemos cavar canais da melhor maneira possível, para que, no momento propício, parte da maré crescente possa ser conduzida para os lugares áridos da vida. [...] Talvez nada seja tão significativo como a mão humana, esta ferramenta mais antiga com a qual o homem escavou o seu caminho para sair da selvageria e com a qual está constantemente a avançar às apalpadelas. [...] Cada homem deve lutar à sua maneira, para que a lei moral não se torne uma abstração distante e totalmente separada de sua vida ativa [...] É fácil ser enganado por um propósito adiado, pela promessa que o futuro nunca poderá cumprir, e eu caí no pior tipo de autoengano ao me fazer acreditar que tudo isso era uma preparação para grandes coisas que estavam por vir. [...]. Trechos extraídos da obra Twenty Years at Hull House (CreateSpace, 2011), da escritora e ativista estadunidense Jane Addams (1860-1935). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

A JORNADA DO INSIGHT CEREBRAL - [...] Minha definição favorita de medo é “falsas expectativas que parecem reais”, e quando me permito lembrar que todos os meus pensamentos são apenas fisiologia passageira, sinto-me menos comovido quando meu contador de histórias fica descontrolado e meu circuito é acionado. Ao mesmo tempo, quando me lembro que estou em harmonia com o universo, o conceito de medo perde o seu poder. Para ajudar a me proteger de uma resposta de raiva ou medo desencadeada, assumo a responsabilidade pelos circuitos que exercito e estimulo propositalmente. Na tentativa de diminuir o poder da minha resposta ao medo/raiva, escolho intencionalmente não assistir a filmes de terror ou sair com pessoas cujos circuitos de raiva sejam facilmente acionados. Eu conscientemente faço escolhas que impactam diretamente meus circuitos. Como gosto de ser alegre, saio com pessoas que valorizam minha alegria [...] Através dos centros de linguagem do hemisfério esquerdo, a nossa mente fala connosco constantemente, um fenómeno a que me refiro como “tagarelice cerebral”. É aquela voz que lembra você de pegar bananas no caminho para casa e aquela inteligência calculista que sabe quando você precisa lavar a roupa. Existe uma grande variação individual na velocidade com que nossas mentes funcionam. Para alguns, nosso diálogo de conversa cerebral é tão rápido que mal conseguimos acompanhar o que estamos pensando. Outros de nós pensam na linguagem tão lentamente que leva muito tempo para compreendermos. Outros ainda têm problemas em manter o foco e a concentração por tempo suficiente para agir de acordo com nossos pensamentos. Essas variações no processamento normal remontam às nossas células cerebrais e à forma como cada cérebro está intrinsecamente conectado. [...] Acredito que quanto mais tempo passarmos a escolher gerir o circuito de paz interior profunda dos nossos hemisférios direitos, mais paz projetaremos no mundo e mais pacífico será o nosso planeta. [...] Felizmente, como escolhemos ser hoje não é predeterminado por como éramos ontem... Você e somente você escolhe momento a momento quem e como você quer ser no mundo. Eu encorajo você a prestar atenção ao que está acontecendo em seu cérebro. Assuma seu poder e apareça em sua vida. [...] Posso não estar no controle total do que acontece na minha vida, mas certamente estou no comando de como escolho perceber minha experiência. [...]. Trechos extraídos da obra My Stroke of Insight: A Brain Scientist's Personal Journey (Penguin, 2009), da neurocientista estadunidense Jill Bolte Taylor. Veja mais aqui e aqui.

 

CORBINIANO

Todas as mulheres estão ali, são várias mulheres em cada uma, não há um modelo...

Trecho extraído da obra Corbiniano Lins: um olhar sobre arte (Funcultura, 2006), de Weydson Barros, reunindo a arte do escultor José Corbiniano Lins (1924-2018). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.