sexta-feira, abril 10, 2020

BELLA AKHMADÚLINA, JUDITH ROSSNER, SOLANGE MAGALHÃES, SUSANNAH MARTIN, LIGIA MARLY GOMES & RACHEL CORRIE


COMO É MESMO, HEM? - UMA: LIÇÕES CATADAS EM TUDO QUANTO É CANTO & LUGAR – A cada vez de ida ou vinda, uma encruzilhada. Haja dicotomia no vaivém. Fui demais, voltei outras tantas. Não perdi a viagem, mesmo quando errei de lugar. Já fui bater no fim do mundo e foi aí que vi que, na verdade, era só outro começo. Nada de terminar. Quando não, tudo de novo. Quantos degraus, ladeiras, tantas reviravoltas, maiores que o beiço virado de tão longe que se chega ou vai. Nas quebradas era o meio da curva para contornar. Na passagem um verso de Cora Coralina: Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Era só um tiquinho, um taco de nada da vida, mas valiosíssima no cômputo geral. Desses poucos que me acrescenta. Aí me dava a vontade de cantar e seguir, ora se. Não sei se por teimosia ou por adivinhação, eu ia mesmo. E ela, outro fiapinho de sabedoria: O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher. Demorei a aprender. Oxe, quando caiu a ficha dei de falar com todo mundo. E ela: Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina. Oxe, num é que é essa mulher é sábia, nem sabia, mas ela adivinha até o que penso ou deveria. Ora, ora. DUAS: QUANTAS PÁGINAS, BOTE ESTRADA NA VIDA! - Em cada passada, uma virada de página. O que percorri, divaguei. Em cada trajeto, um capítulo. Em cada chegada, uma história vivida. Entre frases e catombos, me desloquei; entre versos, topadas e meio-fio, me movi; arrastado pelos parágrafos e esquinas, zarpei; a claudicar por narrativas e depoimentos, peregrinei; a baldear passagens e textos, atravessei. O tanto de quilômetros andados, nem lembro o quanto de folhas impressas se acumulavam, devaneei. Sei que assuntei demais, deveras; paisagens, paragens, leituras. Aliás, corro sempre. Mesmo quando acho às carreiras ou se nem saio do lugar, aboletado que seja, bote viração. Pelo que bordejei na vera, deu nem pra saber se avancei ou não. Sei que fui e voo, como François Rabelais: Vou em busca de um grande talvez. Tudo porque jamais parei quieto assim nas coisas e vida; ir além, saber mais e tentar ser maior que o meu próprio tamanho, tomara, pudera. Como eu disse: se avancei ou não, pouco importa. Dele sempre ouvi: No mundo existem muito mais tolos do que homens. A ignorância é a mãe de todos os males. Um tolo a mais eu sou, acho, voo aprendendo, então. TRÊS: PRA QUÊ TANTA CORRERIA, HEM? - O que aprendi da vida? Foi sempre no pé do ouvido: tome jeito e se endireite feito gente! Maior cantiga de grilo no juízo. Também que tinha que trabalhar e muito para ser alguém na vida - era o outro nome que davam para escravagismo, eufemismos tantos. E trabalhei ou servi, não sei direito, pilha toda, vesti e suei a camisa. E preguei os olhos nos livros, ressalvavam não endoidasse, era só para saber o devido. Ou melhor, que eu me moldasse. Aí quando saquei, ora, era Émile Zola: O homem vale tanto quanto o valor que dá a si próprio. Puxa, vida! Demorou, caiu a ficha. Só peguei no ar depois de pular num pé só que só todas as provas de fogo! Muito penei mesmo. E como fui imolado: bote sal na moleira, nó pelas costas, arrastado de mala e canseira nos cambitos. Nada não, ele apaziguou: O sofrimento é o melhor remédio para acordar o espírito. É. O que sofri fiz de lição e vou aprendendo: o futuro chegou agora e em preto e branco. O passado, hoje não mais. Vou aprumando a conversa. Vamos? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Devemos ser inspirados por pessoas... que mostram que os seres humanos podem ser gentis, corajosos, generosos, bonitos, fortes - mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Sou uma palavra boa e forte doadora, sou uma guarda ciumenta dos meus próprios segredos. A liberdade é a regra, estou com fome de algo bom que posso fazer. Eu acredito que a liberdade para a Palestina pode ser uma fonte incrível de esperança para as pessoas que lutam em todo o mundo. Eu acho que também poderia ser uma inspiração incrível para os árabes do Oriente Médio, que estão lutando sob regimes antidemocráticos, que os EUA apóiam. Eu realmente aprecio as palavras. Eu realmente tento ilustrar e deixar as pessoas tirarem suas próprias conclusões. Siga seus sonhos, acredite em si mesmo e não desista. Trecho do depoimento da estudante, voluntária e ativista estadunidense, Rachel Corrie (1979-2003), membro do International Solidarity Movement (ISM), que decidiu interromper seus estudos para passar um ano na Faixa de Gaza. Nesse periodo, reuniu-se com outros ativistas que tentavam impedir as demolições de casas de palestinos pelas forças de ocupação israelense. Por conta disso ela escreveu: Destroem as casas mesmo com gente dentro, não têm respeito por nada nem por ninguém. Durante a Intifada de Al-Aqsa, ela e seus companheiros tentavam impedir mais uma das demolições, na cidade Rafah, fronteira entre Gaza e o Egito, quando acabou morrendo esmagada por uma escavadeira das Forças Armadas de Israel. O Tzahal alegou que a sua morte foi acidental, apesar da contestação de todos os presentes ao incidente, além de todos terem sido acusados pelas Forças de Defesa de Israel de agirem de forma ilegal, irresponsável e perigosa. O exército do país foi isentado por um tribunal israelense de qualquer responsabilidade, por ter sido uma ação em tempo de guerra. A história está contada na publicação My name is Rachel Corrie (Theatre Communications Group, 2006), reunindo os textos da jovem vítima, numa edição organizada por Alan Rickman e Katharine Viner.

DE BAR EM BAR, À PROCURA – [...] era alto e muito magro, com cabelo encaracolado preto-grisalho, um jeito suavemente sarcástico e belos olhos tristes, nos quais só reparava quando ele tirava os óculos e passava a mão pelo rosto. Era poeta e editara, por conta própria, um livro de poesia, conforme ela soube mais tarde através de duas colegas de classe, Carol e Rhoda, que também estavam apaixonadas pelo professor. [...] Quase todos os alunos ficaram calados, sentindo-se vagamente colocados em seus lugares, mas sem saber precisamente que lugares eram esses. Carol e Rhoda pareciam aniquiladas. Deviam escrever, na primeira pessoa, uma breve descrição de uma experiência desagradável. Não deveriam enfeitá-la com bobagens, como essas franjas de papel prateado que se põem nas coxas dos perus. A adjetivação, quando exigida por motivo de clareza, deveria ser simples e direta: bonito, feio, verde, roxo, etc. As portas seriam abertas ou fechadas, não escancaradas. Não haveria luar derramando-se por entre venezianas; derramamentos, só líquidos. Estavam entendidos? Aproximou-se da janela e olhou para o pátio. O sol derramava-se pela janela escancarada e fulgia na aliança dele. [...]. Trechos extraídos da obra De bar em bar (Record, 1975), da escritora estadunidense Judith Rossner (1935-2005), que conta a história verifica de um assassinado que é considerado o retrato fiel de um meio social comum nas grandes cidades. Foi levado para o cinema, Looking for Mr. Goodbar (À procura de Mr. Goodbar, 1977), drama dirigido por Richard Brooks.

A POESIA DE BELLA AKHMADÚLINA
SEPARAÇÃO: Hoje nos separamos para sempre / e isso faz o mundo transformar-se. / Tudo nele anuncia a traição: / os rios vão se afastando das margens, / as nuvens vão se afastando do céu, / a mão direita olha para a esquerda / e arrogante diz: “Vou embora, adeus!” / Abril não mais prepara o mês de maio, / mês de maio que nunca mais verás, / e as flores se desfolham, feitas pó. /É a derrota do azul para o amarelo! / Já as últimas flores se esturricam, / comprimento e largura não há mais, / o branco, em estertor, já agoniza, / deixando um arco-íris de orfãzinhas. / A natureza afoga em sua tristeza, / a maré baixa sobe pela margem, / calam-se os sons e isso porque nós, / você e eu, pra sempre nos deixamos.
OUTRA COISA: Que me acontece que não posso já, / Desde há um ano inteiro, sem demora / Fazer meus versos? Sim... porque será / Que tal mudez meus lábios sela agora? / Dir-me-ão alguns: mas já tem aqui, / Letra após letra, já fez um versinho. / Mas não. Há muito o hábito adquiri / De com letras fazer um fiozinho. / A mão fá-lo sozinha, sem querer... / Não falo disso. Outrora, o que ocorria? / Não sentia a estrofe aparecer, / Mas outra coisa. Sim, o que seria? / Saberia essa coisa o que é temor, / Quando o seu verbo se elevava ousado, / Ria como de risos portador / E, se queria, soluçava irado?
BELLA AKHMADÚLINA - A escritora e tradutora russa Bella Akhmadulina (Izabella Akhatovna Akhmadulina – 1937-2010), que fez parte do movimento literário New Wave, escreveu muitas obras e teve vários casamentos com Yevgene Yevtushenko, Yuri Nagibin, Eldar Kuliev e Boris Messerer. Alguns dos seus livros são Lições de música (1969), Versos (1975), Vela e Tempestade de neve (do mesmo ano, 1977), Sonhos com a Geórgia (1979), Segredo (1983), O jardim (1987), O escrínio e a chave (1994), O ruído do silêncio e Cadeia de pedras (1995). Veja mais aqui.

A ARTE DE SUSANNAH MARTIN
É a ascensão do mundo virtual que permitiu aos artistas ignorar qualquer mandato de plausibilidade na pintura representacional. Se o homem agora pode aparecer como um androide intergaláctico envolvido em batalha com uma espécie alienígena, ele também pode tomar banho em um riacho local. É realismo, se aceitarmos que o realismo agora inclui realismo virtual, ou seja, ele incorpora um alto grau de improbabilidade, um realismo hiperbólico. O homem pode voltar mais uma vez à sua paisagem original, seu lar eterno, tudo desta vez como turista, um turista primordial. Eu sou do realismo figurativo.
SUSANNAH MARTIN - A arte da artista visual alemã nascida nos Estados Unidos, Susannah Martin.
&
LIGIA MARLY GOMES
A arte da artista plástica Ligia Marly Gomes. Veja mais aqui.

CULTUR’ARTES PERNAMBUCARRETADAS!!!
Na vida a gente acaba fazendo o que a gente é. Constato, na verdade, que o ser humano é feito de coisas antagônicas.
A ARTE DE SOLANGE MAGALHÃES
A arte da pintora francesa radicada no Brasil, Solange Magalhães, apaixonada por temas nordestinos e pernambucanos.
A imagem e seus labirintos: o cinema clandestino do Recife 1930-1964, de Paulo Carneiro da Cunha Filho aqui.
A arte de Paulo Bruscky aqui e aqui.
A música de Nando Lauria aqui e aqui.
A literatura de Frederico Spencer aqui, aqui & aqui.
A poesia de Natanael Lima aqui, aqui & aqui.
A literatura infantil de Abigail Souza aqui & aqui.
Ximênia, a prinspa do Coité aqui.
Literatura Pernambucana aqui.
&
OFICINAS ABI – 2º SEMESTRE 2020
Veja detalhes das oficinas da ABI aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.