quinta-feira, junho 13, 2019

FERNANDO PESSOA, ARIANO SUASSUNA, ROGER GARAUDY, DOROTHEA LANGE & OPHLEIA ÚNICO AMOR!


OPHELIA, ÚNICO AMOR – Ah, Ophelia, geminiana Lisboa, minha criancinha que descobri datilógrafa da Baixa lisboeta, a Lídia de Reis e a vida passa à beira do rio, a Daise do soneto já antigo de Álvaro, a quem tudo é tão puro e doce e o seu sorriso na hora absurda do Cancioneiro, está comigo na floresta do alheiamento. A foto do seu sobrinho era, na verdade, para você. Era você que eu queria encontrar. E envio outra, autografada: “em flagrante delitro”, como as palavras de pórtico: criar é preciso, viver não é necessário. Ainda não é finda a vida, como na prece a alma é vil. Você é aquela que durmo como um cão corrido no caminho para todo o resto do Universo, quero ser sempre como a passagem das horas. Amo como o amor ama, porque todos os dias, quero que diga qualquer coisa para eu acordar de novo, pastor amoroso das ficções do interlúdio de Caieiro. Ah, musa da Lisbon Revisited, não quero nada, tenho o direito de ser doido de pedra, quero ser sozinho no céu azul da minha infância e vivo a sonhar irrequieto com o coração longínquo – meu coração é um balde despejado! -, serei sempre o que não nasceu para isso. (Se eu me casasse com a filha da minha lavadeira, ou com a boca bonita da filha do caseiro, talvez fosse feliz). Mas não, amanhã direi as palavras, ou depois de amanhã, minha alma partiu-se como um vaso vazio no desejo físico de se encontrar ali outra vez, meu amor. Grandes são os desertos e tudo é deserto, quem me dera ouvir de alguém a voz humana. Há um poeta em mim que Deus me disse na análise e autopsicografia. Você não devia ter ouvido o que dizia Álvaro, meu algoz, só o meu amor devia ser levado a sério. Da primeira vez o amor passou, meu destino pertencia a uma outra Lei de Mestres que não permitiam nem perdoavam. Nasci para ser sozinho, não mereço a sua companhia. Recebi todas as suas cartas, leio e releio, perturbado e dividido, Álvaro nos persegue. O que há em mim de pecaminoso e nocivo, nada mais que o meu estúpido amor por você, a única amada. Foi preciso quase uma década para reencontrá-la e ouvi-la ao telefone, sempre temi não fazê-la feliz, essa dor me corroi. Nunca diga que sou poeta, se muito faço versos, apenas. Tenho que escrever, é só o que faço. Acordo de noite e escrevo, a minha vida, a minha obra, mesmo que nada valha, se é que vale alguma coisa, sou eu: o maior alienado, morador onde Deus é servido conceder-me, em companhia da minha solidão com insetos e a escuridão. Existo e não me suicido antes do assunto, sei apenas escrever asneiras. Sei que todas as minhas cartas de amor são ridículas, todas as palavras esdrúxulas com sentimentos esdrúxulos. Mas saiba, de coração, únicamada, sou seu Nininho. Nininhoninhozinho, sempre e muito seu, jinhos, jinhos e mais jinhos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] o homem crê cada vez menos que a felicidade se identifica com a força e a possessão. [...] Seus sonhos ou seus projetos de felicidade estão cada vez mais ligados a uma arte de viver novas relações com a natureza, com os outros homens, com o futuro e a transcendência. Novas relações com a natureza que não sejam mais relações de conquistadores mas de namorados. [...] Novas relações com os outros homens que não sejam nem o individualismo da selva nem o golilha totalitário, mas relações de comunidade e de amor. Esta necessidade fraternal traduz-se pela constituição de múltiplas comunidades de base. [...] A felicidade é, antes de tudo, o amor. [...] Novas relações com o porvir e o transcendente, relações que já não seriam as da simples extrapolação quantitativa, tecnologia, meios, à maneira da “futurologia” positivista, mas invenção do futuro. A transcendência não é apenas ultrapassagem e ruptura, mas descoberta de possíveis novos, que procuro e crio por meio próprio esforço, ao mesmo tempo que a acolho como um dom. [...] A felicidade é esta criação, a participação na criação continuada de um homem sempre mais um, de um mundo sempre mais humano.
Trechos de A felicidade, extraído da obra Palavra de homem (Difel, 1975), do filósofo francês Roger Garaudy (1913-2012). Veja mais aqui e aqui.

O SANTO E A PORCA
[...] (Afastam-se todos. A cena deve dar ideia da solidão de Euricão, solidão que vai crescendo até o fim). EUDORO: Mas espere... EURICÃO: Afaste-se! Saia de junto de mim! EUDORO: Eurico, você guardou esse dinheiro muito tempo, não foi? EURICÃO: Guardei, toda a minha vida! Quase toda a minha vida! Desde que minha mulher me deixou! Agora, posso falar nisso, pois tudo perdeu a importância diante da porca! EUDORO: Eurico, o dinheiro não é tudo neste mundo. Você tem sua filha, tem a todos nós que agora somos sua família. Deixe de depositar toda a sua vida nesse dinheiro! Não dê importância ao que não vale nada! Porque... EURICÃO: Por que o quê? Que é que você quer dizer? Diga, termine! EUDORO: Será melhor dizer mesmo, Eurico! EURICÃO: Dizer o quê? Diga logo, é melhor do que me esconder alguma coisa grave. Que é? EUDORO: Esse dinheiro está todo recolhido, Eurico! Tudo o que você tem aí não vale nem um tostão! [...].
Trecho do terceiro ato da peça teatral O santo e a porca (Nova Fronteira, 2017), do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna (1927-2014). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

A ARTE DE DOROTHEA LANGE
Não é por acaso que o fotógrafo se torna um fotógrafo mais do que o domador de leões se torna um domador de leões. A câmera é um instrumento que ensina as pessoas a ver sem uma câmera. Deve-se realmente usar a câmera como se amanhã você ficasse cego. Viver uma vida visual é um empreendimento enorme, praticamente inatingível. Eu apenas toquei, apenas toquei. Embora haja talvez uma província em que a fotografia possa nos dizer nada mais do que vemos com nossos próprios olhos, há outra em que nos prova quão pouco nossos olhos nos permitem ver.
A arte da fotógrafa estadunidense Dorothea Lange (1895-1965). Veja mais aqui e aqui.

A OBRA DE FERNANDO PESSOA
A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.
A obra do poeta e filósofo português Fernando Pessoa (1888-1935) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.