A COISA NO
VENTILADOR – O desaparecimento do município de Alagoinhanduba,
como se diz de fato e de direito, não ficará de graça. Pelo que se sabe, apenas
ocorreu o sumiço do mapa de toda população e mais nada. Absolutamente nada. Ou melhor,
como se nada tivesse acontecido. Porém, lá nos cafundós de não sei quantas
léguas de distância, a coisa volta à tona depois de não sei quanto tempo
depois. É que a comunidade científica mundial, ao dar por falta das impreteríveis
e sucessivas contribuições inestimáveis do megaerudito Dr. Zé Gulu, residente
estabelecido voluntariamente na localidade que, confidencialmente, tencionava
instalar ali a Universidade Planetária, resolveu reunir uma equipe
multiprofissional de arqueólogos, antropólogos e outros doutos Ph.Ds nas mais
diversas áreas acadêmicas e de todas as nacionalidades, para desvendar o
mistério. O grupo internacional de pesquisadores conta com o apoio do Padre
Bidião que está capitaneando outros tantos e de todas as galáxias, objetivando
deixar às claras a verdade sobre o ocorrido. Trocando em miúdos: o que se
apurou até agora é que há, de fato, uma má-vontade no esclarecimento disso, carecendo
de uma decisão que bote tudo preto no branco com os pingos nos iis e
tataritaritatá. Como cada futucada levanta uma lebre, a coisa tomou ares de
complexidade irresolúvel. É que tanto o Executivo como o Judiciário e o
Legislativo em todas as esferas da Federação, não se manifestam a respeito, sob
a alegação de que não é da responsabilidade de nenhum desses poderes, nem de
ninguém. Ou seja, tirou cada qual o seu da reta e o dos outros, também. E de
quem seria? Como não se sabe ao certo, a coisa fica meio que bosta na água, ou
do tipo batata quente que ninguém quer nem assoprar. Acontece que, por debaixo
do pano ou das encobertas, ninguém sabe, um pesquisador internacional aventou o
encobrimento legal sobre a instalação há mais de sessenta anos naquele
território, de uma secreta empresa industrial, denominada de Alagoinhanduba
Corporation, que seria supostamente a responsável pelo cataclisma. O resultado
das investigações infindáveis, correm em segredo de não se sabe quem, entretanto,
já dá sinais de que, a exemplo da Cerro de Pasco do Scorza, a transnacional em
questão, sigilosamente abrigou-se para funcionamento reservado na exploração de
um minério raro reputado como de outro planeta ou galáxia, e só encontrado
naquele subsolo. A averiguação parece aprofundada e constatou lá nas
escondidas, que a comuflada organização dada por inexistente em todos os
cadastros de pessoa jurídica nacional e internacional, comportava no seu quadro
funcional toda a população alagoinhandubense que desconhecia tanto o vínculo
empregatício, como a exploração de um fictício molibdênio. O empreendimento
utilizava clandestinamente sondas invisíveis que exploravam profundidades no
subsolo para extração do incógnito mineral, retirando de lá grandes quantidades
transferidas furtivamente para ignorados depósitos sabe-se lá onde. Os excogitadores
alegam que as escavações alcançaram profundidades subterrâneas jamais
imaginadas, atravessando o solo, marga, argila, areia e cascalho, lençóis freáticos
e aquíferos, além dos mantos até os núcleos externo e interno. A retirada do raro
mineral levou a perfurações que promoveram o desabamento de toda dimensão do
território municipal, com a comunidade soterrada pelo desmoronamento, tudo em
conluio com autoridades e asseclas. Ecologistas envolvidos nas investigações
acreditam que ações judiciais que tramitaram em segredo de justiça, absolveram
a Alagoinhanduba Corporation de qualquer responsabilidade sobre o sucedido,
isentando quem quer que seja de qualquer dano ou punição. Por conta disso, o
movimento tenta levar aos tribunais e instâncias jurídicas possíveis, para o
esclarecimento e a responsabilização sobre o fato. Tentativas de entrevistas
realizadas por jornalistas e interessados no caso, resultou numa unânime
expressão monossilábica de pessoas das cidades vizinhas: Qual? Quem? Como?
Quando muito se ouviu: Sei disso não! Pode um negócio deste? Sei não. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS
[...] a arte provoca, instiga e estimula nossos
sentidos, descondicionando-os, isto é, retirando-os de uma ordem
preestabelecida e sugerindo ampliadas possibilidades de viver e de se organizar
no mundo [...] A arte ensina
justamente a desaprender os princípios das obviedades que são até juntas aos
objetos, às coisas. Ela parece esmiuçar o funcionamento dos processos da vida,
desafiando-os, criando para novas possibilidades. A arte pede um olhar curioso,
livre de “pre-conceitos”, mas repleto de atenção [...].
Trechos
extraídos da obra Corpo, identidade e
erotismo (Martins Fontes, 2009), da escritora e crítica de arte, PhD em
artes interdisciplinares pela UNY e professora Katia Canton. Veja mais aqui.
A ARTE DE MICHELINE TORRES
A arte
da bailarina, coreógrafa, atriz, performer e professora Micheline Torres. Ela nasceu em Sertãozinho, na Paraiba, e é
formada em Balé e em Dança Contemporânea, depois de ter estudado Filosofia e
Artes Cênicas. O seu trabalho é desenvolvido a partir de pesquisas sobre dança,
performance e artes plásticas, o que a levou a se apresentar em países como Portugal, França, Inglaterra, Canadá, Suiça e
Alemanha. Veja mais aqui.
FILOSOFIA DO PEIDO, DE J. BORGES
Vários poetas escreveram / o valor que o
peido tem / eu achei muito engraçado / o peido é feito um trem / tanto apita
como ronca / na hora que o peido vem
O peido se forma em gases / no centro do
intestino / que de acordo a pressão / ele faz o eco fino / em qualquer um ser
humano / por mais que seja granfino
Peida o homem e a mulher / o pobre e o potentado
/ peida a moça bonita / o ceho e o alejado / e o peido mais fedorento / é o
peido de milho assado
Tem peido que fede tanto / que é de pedir
socorro / numa sala com muita gente / quando ele fumaça o forro / e sempre quem
leva a culpa / é um menino ou um cachorro
Num ônibus cheio de gente / quando ele sai
fedorento / sai quente e se espalha / com o calor do assento / se o ônibus for
fechado / a catinga é cem por cento
Tem peido que fala fino / outro faz furututu
/ tem uns que a pressão é tanta / que rasga as pregas do cu / existe peido
calado / e o peido que faz fufu
Tem gente mal educada / que peida em qualquer
lugar / não escolhe o ambiente / no almoço ou no jantar / e o padre também
peida / até no pé do altar
Tem gente que come muito / e a noite vai para
missa / e no salão da igreja / quando ali se espreguiça / o peido sai apertado
/ fedendo feito carniça
O peido é um desabafo / para quem está
empachado / alivia o intestivo / deixa o cara aliviado / mas pra quem recebe
ele / fica mais que enjoado
O peido que enjoa mais / é o peido de jaca
dura / de crustacio e de buchada / milho assado e tanajura / peido de sarapatel
/ este já é bosta pura
Peido é muito necessário / na saúde de um
vivente / tem gente que solta peido / sem olhar o ambiente / falyando com o
respeito / a qualquer classe de gente
O peido incomoda mais / num ambiente fechado
/ com muita gente suada / o calor muito abafado / e sempre é de costume /
soltando um peido calado
O peido dentro da água / num poço ou numa
picina / forma bolhas e vai à tona / ninguém sente a fedentina / fica a água
poluída / mas ninguém sente ruina
O velho Valfrido em Escada / já tinha ouvido
falar / que o peido incendiava / ele procurou provar / na luz de um candeeiro /
se preparou pra peidar
Tirou a calça e encostou / o cu ao candeeiro
/ e quando o peido saiu / o incêndio foi ligeiro / deixando o velho Valfrido /
num completo desespero
Queimou todos os cabelos / que na região
havia / ele com a bunda ardendo / e gritando vem cá Maria / abanar a minha
bunda / e lavar com água fria
A mulher dele contou / que passou a noite
abanando / a bunda branca do velho / e ele deitado fungando / e depois com uma
pomada / foi que a bunda foi sarando
O peido é inflamável / por ser gas intestinal
/ se ele não sair fora / a pessoa se sente mal / com gases no intestino / vai
parar no hospital
Pessoas que prende peido / respeitando o
ambiente / o intestino dá retorno / todo organismo sente / e se repetir várias
vezes / poucas horas está doente
O peido é oportunista / sempre sai numa
risada / num espirro ou num tosse / ou numa força puxada / num salto ou numa
cócega / sempre ele vem na parada
O peido mais perdoável / é o peido na dormida
/ quando o cara está deitado / junto a mulher querida / o peido sai abafado / é
um cabar de vida
O homem reclama menos / a mulher reclama mais
/ mas devido a amizade / não fica ninguém voraz / balança o lençol ligeiro / a
catinga se desfaz
O peido é mundial / sai do rico sai do pobre
/ das pessoas mais humildes / e do pessoal mais nobre / e ninguém pode dizer /
que o peido não lhe cobre
Peida o papa de Roma / peida o rei e a rainha
/ o ministro o presidente / até o chefe da marinha / e o das forças armadas / a
mulher dele e a minha
Ninguem está isento / todos temos que peidar
/ o peido é muito comum / e sai para aliviar / o intestino da gente / nunca
temos que negar
Tem madames coloridas / cheias de uso
granfino / mas por debaixo do luxo / o peido grita bem fino / se for no meio de
gente / ela diz foi o menino
O político também peida / quando ele vai
discursar / que faz força na garganta / para bel alto falar / e cada impulso na
voz / é um peido que ele dá
As coisas melhores do mundo / primeira é
cagar fumando / o velho Raul me disse / a segunda é mijar peidando / e pra
terminar a pergunta / a terceira é meter mamando
A filosofia do peido / é um escrito profundo
/ o peido é muito restrito / se acaba ao sair do fundo / e por isso poucas
histórias / do peido existe no mundo
Já escrevi muito versos / batendo na poesia /
onde fiz vários assuntos / restava-me escrever um dia / gastei mais de uma hora
/ e do peido escrevi agora / sua nobre filosofia (Bezerros, 14 de março de
2002)
Extraído
da obra Memórias e contos de J. Borges (Gráfica Borges, s/d), do artista
cordelista J. Borges (José Francisco Borges). Veja mais aqui.
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Estudos e
pesquisas sobre flatulências, a Tocha Humana e coisas horrorosas a respeito
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