terça-feira, fevereiro 05, 2019

STEPHEN HAWKINS, CAROL CORREIA, NARCIS IBAÑEZ PALLARES & CARTA DE FEVEREIRO


CARTA DE FEVEREIRO – Por onde andei nenhum rastro, quase nem sei dali como fui: águas na areia familiar sem impressão digital. O chão esconde as dores na sola dos sapatos gastos, pés na terra, como se a punição apagasse fevereiro sem frevo nas chuvas de um céu incendiado. A culpa, não sei, o pingado da torneira, a sensação das cinzas de fogo apagado para desconhecer os nomes do parentesco, como se fosse roupas perdidas, cartas rasgadas, coisas urgentes esquecidas, consertos adiados, batalhas que sequer venci: nenhum caminho de volta e ter de fugir a toda hora para longe ir, não sei, andanças de quem chora e sofre entre extravios e fadigas. Quando por vezes regressei, mãos vazias pelas ruas escuras e desbotadas, havia escuridão e eu estava esgotado, todavia o que voga e conta, sem limites nem horas, nada mais porque cheguei disperso pelo que me consumia na desbaratada calamidade. Não que ouvisse quem me chamasse, coisas incompreensíveis e ninguém ali, porque sabia apenas necrológios e o que não se comprazia das fortunas embalsamadas, mumificados patrimônios, objetos de borracha e tecnologia de ponta, nada valia nada, decerto, apenas o repentino frio da solidão ao vento arrepiando a alma com as portas que se fechavam por si mesmas, as vozes das crianças, os muitos mortos nas entranhas abertas do meio dia. Não sou poeta porque revolvo cinzas um canto estropiado e não me digam das cigarras escondidas no ouvido tapado pelas mãos desesperadas, porque ninguém percebe que já fui embora há muito tempo, razão alguma pra voltar. O que se pode fazer diante de tudo isso, quem sabe, não fale com o motorista, não fale, não tenho passagem nem malas. Nem buzine em frente aos hospitais, por favor, os enfermos precisam de paz. Não liguem as máquinas barulhentas, elas roem minha paciência e inflamam o planeta. Não acionem os motores, não há pressa nem levam a lugar algum, poluem demais. Não usem o telefone, não me falem, não preciso de datas ou comemorações. Não acendam as lâmpadas, prefiro escurecer sozinho mesmo. Não façam nada, oh, não façam porque é preciso viver como se tivesse que correr o mundo inteiro depois de inúmeras quedas e cartas escritas, choradas, lacradas, laceradas, rasgadas, porque a noite é imensa e perdi o caminho quando as coisas não iam lá muito bem, assim me parece. Não me digam nada, nada mais vive fora daqui já que o estrondo dos tremores rasgam as tumbas e os astros, nada mais sustenta as palavras e os versos, a vontade e os gestos desenfreados. Não há mais terraços para recitar a música das preces mais verdadeiras. A canção restou amordaçada pelos negros anos e o silêncio infame faz da minha boca a flor murcha no peito, queimando o riso, a tormenta nos lábios ressecados, dos quais o derradeiro grito goteja sílabas de sangue, lama, feridas e o martírio da carne. Quem aquele que não veio a pele ao granizo, pelos açoitados, o corpo desnudo desconhece o frio da noite, desolado e só, eu voo sem precisar ter pra onde ir ou chegar. Apenas, simplesmente, sorriso tímido, olhar em qualquer direção, a vida passa e eu voo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS
[...] se descobrimos de fato uma teoria completa, ela deverá, ao longo do tempo, ser compreendida, grosso modo, por todos e não apenas por alguns poucos cientistas. Então, devemos todos, filósofos, cientistas, e mesmo leigos, ser capazes de fazer parte das discussões sobre a questão de por que nós e o universo existimos. Se encontrarmos a resposta para isto teremos o triunfo definitivo a razão humana; porque, então, teremos atingido o conhecimento da mente de Deus [...].
Trecho extraído da obra Uma breve história do tempo: do Big Bang aos buracos negros (Rocco, 2000), do físico e cosmólogo britânico Stephen Hawkins (1942-2018). Veja mais aqui.

MARIA & MUCUNÃ DE CAROL CORREIA
A cineasta Carol Correia dirigiu e fez o roteiro do premiado filme Maria (2015), contando a história de uma mulher que caminha pelas ruas de um passado de beleza e desventuras, ao sentar-se na calçada, acedendo um cigarro e desfrutando da sua habitual solidão. No elenco Marcélia Cartaxo e Karine Ordônio. Ela anuncia para breve o lançamento do seu novo filme Mucunã: A subsistência, a existência e a resistência. A Arte. A Revolução. Nada se apaga. Tudo se paga.  A gente se comove e sonha. Aí sente, senta, coloca no papel e luta. Só que sonho bom a gente divide com os outros e a realização plena dos sonhos só é possível através de um processo coletivo e horizontal. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE NARCIS IBAÑEZ PALLARES
A arte do artista espanhol Narcis Ibañez Pallares. Veja mais aqui e aqui.
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