terça-feira, julho 15, 2014

MARIO PUZO, TEANO, FANNY DE BEAUHARNAIS & BRECHT

 


THEANO, THÉONE... - Olá, sou Théone! Disse-me impactando-me com seus olhos vivos dum negrume refulgente, quase encobertos pela cabeleira sedosa arredondada e repartida ao meio; um semi-sorriso nos salientes lábios realçados pelas barroquinhas nas bochechas, a pele duma brancura fulgurante, destacada pelo que se expunha no decote, pelos braços emergentes das alças da blusa e pela saia modelada sobre as coxas torneadas. Um espetáculo dos pés à cabeça. Ah, pensei logo comigo: seria o milagre de dar de cara com a ressurreição daquela de Crotona, Theano? Não. Não sou a matemática filósofa pitagórica, muito embora eu tenha me iniciado na senda órfica, mesmo asim não seria capaz de ter a honra de elaborar a doutrina do meio-termo, nem escrever sobre a piedade, ou delinear o teorema sobre a proporção áurea, contribuir com as teorias dos números, dos poliedros regulares, da cosmologia, de tantas outras ideias sobre o universo, a física, a medicina, a psicologia infantil, muito menos de conviver com Aristoclea. Não. Além do mais, ao contrário do que pensam, ela não era discípula do filósofo, mas sua mestre. Aquela que era uma verdadeira médica que foi exilada e perpertuou a alma do seu discípulo até os dias atuais. Diante dela não sabia mais nem o que fazer. Perguntou-me por um endereço e o apontei adiante. Ah, vamos lá. Acompanhei e ao divisarmos com a porta de entrada, era a casa da sua madrinha Fanny. Apresentou-me e adentramos o recinto. A madrinha estava aboletada numa poltrona imensa, levantou-se, beijou-nos e retomou o seu conformo. A sala era um tanto requintada e enveredamos por uma conversa explicando o tanto de antiguidade ali exposta, verdadeiras obras de arte. A anfitriã mandou servir a bebida e quitutes, contando-nos de vida: que perdeu a mãe ainda criança, quando seu pai administrava as finanças de Champagne. Por causa disso foi levada prum convento. Casou-se aos 15 anos com um conde, tornando-se a madrinha da futura rainha. Separou-se para se dedicar à escrita e ao salão. Disse mais que tudo isso aconteceu quando era bonita e participava de diversas academias, cortejada pela inteligência, como uma Cinderela que reinava nas festas da sobrinha. Afinal era uma condessa. Foi Voltaire que a tratava como uma ninfa pela divindade: Você tem talentos e graças modestos e com isso um coração ingênuo que não condena ninguém... Coloco aos pés da bela musa francesa a respeitosíssima homenagem, senhora, do velho doente... E lá estavam ao seu lado Rousseau, Buffon, até o esotérico Saint-Martin participava entre poetas e eruditos de suas festas, como a Olympe de Gourges e a Madame La Fayette: Mulheres que fazem algo de maneira independente e que sabem pensar. Defendia o estatuto das mulheres autoras e recitou versos e epístolas, com a ironia e leveza duma dama astuta. Mais contou: que foi vaiada na estreia de sua peça teatral Fausse inconstance. A seu outro espetáculo, a Falsa inconstância ao ser encenada foi interrompida no primeiro ato por calúnias de uma sociedade misógina. Haviam muitos invejosos e caluniadores desde aqueles tempos, seus detratores incansáveis fizeram-na uma salonière denegrida, uma mulher do mundo que foi uma órfã no convento de Jeanne de Chantal, educada de forma severa e humilhante. O primeiro poema aos dez anos de idade, foi confiscado e atirado ao fogo como uma heresia. Um casamento arranjado que trouxe filhos ilegítimos. Uma mulher libertada da poesia clandestina para feitura de epistolares romances, quando foi presa durante a votação pela nacionalização das propriedades do clero, tendo que emigrar e refugiar-se para escrever seu longo poema L'Isle de la Félicité. Agora arruinada, depois de retornar do convento, recebe hóspedes. Mantem-se ainda sedutora com maquiagem exagerada, a relembrar poesias fugitivas e prosas inconsequentes, contos filosóficos, como Volsidor e Zulménie, uma história para rir; Moral, se quiser, e filosófico, se necessário; uma anedota espanhola, amores mágicos, a nova louca da Inglaterra, cartas às mulheres, Os Nós Encantados ou a Estranheza do Destino, Ódio através do amor, A inconstância de La Falsse ou o Triunfo da Honestidade, Imitação de Safo, Para senhoras que não gostam de mim e Para um homem que gostaria de ser mulher. A conversa seguia bem quando o dia já raiava e ela pediu licença para se recolher aos aposentos. Olhamo-nos e dela um convite nos olhos. Vem. Levou-me para a L'ile de la Félicité envolvido por espirais da concha do Nautilus, como a dupla das flores do girassol, com etéreos intervalos de escalas musicais. Confesso que na viagem vi o Metaponto emergir do Suda e nem deu para ver direito, pois atravessávamos o Mediterrâneo e nos aproximávamos do arquipélago do mar Egeu, passando por Citera, Anticítera, Creta, Cárpato e Rodes. Quando uma espessa nuvem nos desvendou o chão, ornado pelos mais diversos obstáculos que se insinuavam das torrentes, corredeiras, precipícios. Ao longe o passeio de panteras e tigres selvagens, uma serpente com a cabeça empinada e língua de fora em cada rosa. Caminhávamos enquanto sentia o ar perfumado com bálsamo de âmbar, à beira de um riacho que refletia uma floração variada. Os pássaros nos saudavam com sussurros e, ao aproximarmos do palácio, ninfas belas contornavam as escadas e muros de ouro. Levado pela mão atravessamos o enorme salão, subimos extensa escada e findamos em seus aposentos. Aquela era uma alcova repleta duma magia indescritível. As ninfas retiraram nossas vestes e serviram um verdadeiro banquete, saindo em seguida. Ao ingrerir o primeiro gole na taça do vinho ouvi-la falar: esperei por este dia há mais de 2 mil anos, quando fui abandonada pelo homem que amava. Agora o reencontrei, sirvamo-nos da glória da vida, celebremos o amor e a eternidade! Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história. Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. Pensamento do dramaturgo, encenador e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: A mulher que vai para a cama com um homem deve tirar o pudor com a anágua e vesti-la novamente com a mesma. Se a alma não é imortal, então a vida é verdadeiramente uma festa para os malfeitores, os quais morrem depois de terem vivido suas vidas tão iniquamente. Eu aprendi que muitos dos gregos acreditam que Pitágoras disse que todas as coisas são geradas a partir do número. A própria afirmação coloca uma dificuldade: como coisas que não existem podem ser concebidas a gerar? Mas ele não disse que todas as coisas vêm a ser do número; antes, são de acordo com o número - com base no fato de que a ordem no sentido primário está no número e é pela participação que um primeiro, e um segundo e o resto são sequencialmente atribuídos a coisas que são contadas. Pensamento da filósofa e matemática grega Teano de Crotona (que viveu por volta do séc. VI AEC).

 

PODEROSO CHEFÃO – [...] Dom Corleone foi gentil, paciente. “Por que você teme me dedicar sua primeira lealdade?” ele disse. “Você vai aos tribunais e espera por meses. Você gasta dinheiro com advogados que sabem muito bem que você é para ser feito de tolo. Você aceita julgamento de um juiz que se vende como a pior prostituta nas ruas. Passados os anos, quando você precisou de dinheiro, você foi aos bancos e pagou juros ruinosos, esperou com o chapéu na mão como um pedinte, enquanto eles farejavam em volta, enfiavam os seus narizes no seu próprio traseiro para ter certeza de que você podia pagá-los.” O Dom fez uma pausa, sua voz tornou-se mais severa. “Mas se você houvesse vindo a mim, minha bolsa teria sido sua. Se você houvesse me procurado por justiça, aquela escória que arruinou a sua filha estaria chorando lágrimas amargas este dia. Se por algum infortúnio um homem honesto como você fizesse inimigos, eles se tornariam meus inimigos” — o Dom levantou o seu braço, o dedo apontando para Bonasera — “e então, acredite-me, eles o temeriam.” [...] Você teve a ideia errada sobre o meu pai e a família Corleone. [...] O meu pai é um homem de negócios tentando sustentar sua esposa e filhos e aqueles amigos de quem ele pode precisar algum dia em um tempo de encrenca. Ele não aceita as regras da sociedade na qual vivemos, porque essas regras o teriam condenado a uma vida não adequada a um homem como ele, umhomem de extraordinária força e caráter. O que você tem de entender é que ele se considera um igual em relação a todos aqueles grandes homens como Presidentes e Primeiros-Ministros e ministros da Suprema Corte e Governadores de Estados. Ele se recusa a viver pelas regras estabelecidas por outros, regras que o condenam a uma vida derrotada. Mas seu derradeiro fim é entrar na sociedade com um certo poder, uma vez que a sociedade não protege realmente os seus membros que não possuem o seu próprio poder individual. Nesse ínterim, ele opera sob um código de ética que ele considera de longe superior às estruturas legais da sociedade. [...]. Trechos extraídos da obra The Godfather (Fawcett, 1970), do escritor estadunidense Mario Puzo (1920-1999).

 

ILHA DA FELICIDADE (fragmento) – PRIMEIRA MÚSICA - Canto Anaxis, a aventura mágica. \ Ó você que roubou o cinturão de Vênus, \ Homero, ouça meus desejos! Empreste-me seus pincéis: \ Anaxis, como Aquiles, tinha coração de herói. \ E você cuja paleta gentil e encantadora, \ Com contos encantadores divertiu minha juventude, \ Sedutor Daulnoi, ainda querido pelas nove Irmãs, \ Empreste-me seu espírito, sua graça e suas cores; \ Assim como você, sou uma mulher e, como você, sou sensível. \ O sexo racional não vê nada impossível; \ Ele gostaria, acorrentando-me às suas leis austeras, \ doutrinar minha musa e apoiar minha voz. \ Prefiro associar a minha glória à sua, \ E seguir seus passos até o templo da memória. \ Mas temos que começar. Perdoem, orgulhosos censores, \ Gostamos de falar; conversar está em nossos costumes. \ Perdoar; Volto para o príncipe da Rússia. \ No trono aos vinte anos, pelo amor amolecido \ Sua alma não tinha esse orgulho duro \ Comum neste clima, habitado por ursos. \ Ele era gentil, corajoso e sensível; \ Especialmente nas batalhas ele era invencível. \ O Tanaïs, já testemunha das suas façanhas, \ Parecia orgulhar-se de afundar sob as suas leis \ Já o frio Volga o tinha visto nas suas planícies \ Dominar as tropas desumanas de Moscovo; \ E vitorioso em seus acampamentos, vitorioso nas florestas, \ O urso feroz expirou vinte vezes sob suas feições. Poema extraído da obra L'ile de la Félicité, ou Anaxis et Théone , poëme philosophique en trois chants ; précédé d'une Épitre aux femmes (1800-1801), da escritora francesa Fanny de Beauharnais (1737-1813), um poema filosófico composto por três canções e uma Epístola às mulheres. As suas obras, das quais reivindica simplicidade e leveza, revelam a postura filosófica e literária de uma mulher de letras que procura desafiar os clichês sexistas do seu tempo com a ajuda da fantasia e da sátira. Seu poema em três canções: A Ilha da Felicidade ou Anaxis e Théone, conta a história de Anaxis, príncipe da Rússia, que caiu sob o feitiço da deusa Théone que reina na Ilha da Felicidade. Desde os primeiros versos desta canção épica, a narradora diz que se inspira na Baronesa d'Aulnoy, que infundiu no gênero do conto maravilhoso um espírito subversivo ao misturar a sátira. Por sua vez, ela utiliza o registro satírico, dando a esse início do poema um tom muito particular. A singularidade desta canção épica também se encontra no retrato de Anaxis, contando da coragem e as suas façanhas bélicas lembram as características dos heróis homéricos, a autora afasta-se gradualmente desta herança milenar para propor uma nova forma de heroísmo, mais humana e sensível. Anaxis destaca-se assim do modelo heróico tradicional, fortemente criticado no sec. XVIII pela sua apologia às ações monstruosas e imorais.

 


A POESIA DE GUILLAUME APOLLINAIRE

A PONTE MIRABEAU

Sob esta ponte passa o rio Sena
e o nosso amor
lembrança tão pequena
sempre o prazer chegava após a pena
Chega a noite a hora soa
vão-se os dias vivo à toa
Mãos dadas nós fiquemos face a face
enquanto sob
a ponte dos braços passe
de eternas juras tédio que se enlace
Chega a noite a hora soa
vão-se os dias vivo à toa
E vai-se o amor como água corre atenta
e vai-se o amor
ai como a vida é tão lenta
e como só a esperança é violenta
Chega a noite a hora soa
vão-se os dias vivo à toa
Dias semanas passam à dezena
nem tempo volta
nem nosso amor nossa pena
sob esta ponte passa o rio Sena
Chega a noite a hora soa
vão-se os dias vivo à toa
(Tradução de Jorge de Sena)

HÉRCULES E ÔNFALE

O cu
Onfálico
(Vão cu!)
Cai rápido.
— Vês tu
Quão fálico?
— Taful!
Priápico!
Que sonho
Medonho!…
Segura!…
E a fura
O hercúleo
Acúleo.
(trad, José Paulo Paes)

A VASELINA

Praça da Ópera: por uma farmácia a dentro
Entra um senhor bem posto feito um pé-de-vento:
“estou com pressa”, diz. “Eu quero vaselina.”
Gentil, o boticário indaga do cliente
Impaciente
A que uso se destina
O graxo ingrediente:
“Se for para o rosto, é melhor levar da fina...
Qual?
Que tal
Este artigo
Que o senhor, sem perigo,
Pode no rosto usar?
Eu por mim recomendo sempre a boricada.”
E o cliente a bufar: “mas que papagaiada!
Pouco me importa qual, pois é para enrabar!”
(trad, José Paulo Paes)

EU NÃO SEI MAIS

Eu não sei mais se ainda lhe tenho amor
Nem se o inverno conhece o meu pecado
O céu é hoje um pesado cobertor
E meus amores por eu tê-los ocultado
Perecem dentro de mim mesmo de amor
(Trad. Paulo Azevedo Chaves)

TIVE A CORAGEM DE OLHAR
Tive a coragem de olhar para trás
Os cadáveres dos meus dias
Assinalam o meu caminho e eu choro-os
Uns apodrecendo nas igrejas italianas
Ou entre os limoeiros
Que dão ao mesmo tempo e em qualquer estação
A flor e o fruto
Outros dias choraram antes de morrerem nas tabernas
Fustigados por ardentes ramos
Sob o olhar duma mulata que inventava a poesia
E as rosas da electricidade abrem-se ainda
Nos jardins da minha memória.
(trad. Paulo Hecker Filho.)

O VIGIA MELANCÓLICO
E tu meu coração porque bates tão forte
Como um vigia melancólico
Perscruto a noite e a morte
(Trad. Jorge Sousa Braga)

GUI CANTA PARA LOU

Louzinha querida queria morrer num dia em que tivesses me amado
Queria ser bonito para que me amasses
Queria ser forte para que me amasses
Queria ser jovem jovem para que me amasses
Queria que a guerra começasse outra vez para que me amasses
Queria te agarrar para que me amasses
Queria te dar palmadas no traseiro para que me amasses
Queria te pisar para que me amasses
Queria que ficássemos sós num quarto de hotel em Grasse para que me amasses
Queria que fosses minha irmã para eu te amar incestuosamente
Queria que fosses minha prima que nos amássemos desde criança
Queria que fosses o meu cavalo para eu te montar muito muito tempo
Queria que fosses meu coração para eu te sentir sempre em mim
Queria que fosses o paraíso ou o inferno de acordo com o lugar onde eu vá
Queria que fosses um menino e eu o teu preceptor
Queria que fosses a noite para nos amarmos no escuro
Queria que fosses a minha vida para eu existir só por ti
Queria que fosses um obus boche para me matar de súbito amor
(Trad. Paulo Hecker Filho).

INSCRIÇÃO PARA A SEPULTURA DO PINTOR HENRI ROUSSEAU ADUANEIRO

Gentil Rousseau que nos escutas
Nós te saudamos
Delaunay a sua mulher o senhor Queval e eu
Deixa passar sem pagar direitos as nossas bagagens pelas portas do céu
Levar-te-emos pincéis tintas e telas
Para que os teus ócios sagrados ali na luz real
Os possas consagrar a pintar como quando fizeste o meu retrato
O rosto das estrelas
( Trad. Jorge Sousa Braga)

SIGNO

Fui submetido à Regência do Signo de Outono
Portanto amo as frutas e detesto as flores
Lamento todos os beijos de que fui dono
Igual à nogueira colhida diz ao vento suas dores
Meu outono eterno ó minha estação mental
Mãos dos amantes de outrora em teu solo agarradas
Uma esposa me segue, é minha sombra fatal
As pombas à tarde batem suas últimas asas
(Tradução: André Dick)

O CANTO DO AMOR

Eis de que é feito o canto sinfónico do amor
Há o canto do amor de outrora
O ruído dos beijos perdidos dos amantes ilustres
Os gritos de amor das mortais violadas pelos deuses
As virilidades dos heróis fabulosos erguidas como peças antiaéreas
O uivo precioso de Jasão
O canto mortal do cisne
O hino vitorioso que os primeiros raios de sol fizeram cantar a Mémnon o imóvel)
Há o grito das Sabinas ao serem raptadas
Há ainda os gritos de amor dos felinos nas selvas
O rumor surdo da seiva trepando pelas plantas
O troçar das artilharias que coroa o terrível amor dos povos
As ondas do mar onde nasce a vida e a beleza
O canto de todo o amor do mundo
(Trad. Jorge Sousa Braga)

ANNIE

Na costa do Texas
Há entre Mobile e Galveston
Um imenso jardim cheio de rosas
E no interior desse jardim uma villa
Que é uma grande rosa
Uma mulher passeia-se amiúde
Sozinha no jardim
E quando eu passo em frente na estrada bordada de tílias
Olhamo-nos longamente
Como esta mulher é menonita
As suas roseiras e os seus vestidos não têm um só botão
Faltam dois no meu casaco
É como se essa mulher e eu seguíssemos a
mesma religião
(Trad. Jorge Sousa Braga)

LAÇOS

Cordas feitas de gritos
Sons de sinos através da Europa
Séculos enforcados
Carris que amarrais nações
Não somos mais que dois ou três homens
Livres de todas as peias
Vamos dar-nos as mãos
Violenta chuva que penteia os fumos
Cordas
Cordas tecidas
Cabos submarinos
Torres de Babel transformadas em pontes
Aranhas-Pontífices
Todos os apaixonados que um só laço enlaçou
Outros laços mais firmes
Brancas estrias de luz
Cordas e Concórdia
Escrevo apenas para vos celebrar
Ó sentido ó sentidos caros
Inimigos do recordar
Inimigos do desejar
Inimigos da saudade
Inimigos das lágrimas
Inimigos de tudo o que eu amo ainda
(Tradução de Jorge de Sena)

APOLLINAIRE - Wilhelm Apollinaris de Kostrovitsky, que usava o pseudônimo de Guillaume Apollinaire (1880 – 1918) nasceu na Itália e se tornou um dos maiores poetas franceses, que defendia a arte dos fauves, apoia o cubismo de Picasso e Braque e mantem-se em contacto com Marinetti e os futuristas italianos. Em 1914, envolve-se na Primeira Grande Guerra e em 1916 é ferido na cabeça. Em 1913 publica Alcools. A força das suas imagens leva-o aos limiares do surrealismo. Apollinaire morre em Paris vítima de uma epidemia de gripe aos trinta e oito anos. Tornou-se um dos maiores poetas franceses ao escrever Zone, uma dolorosa fantasia romântica que figura até hoje entre os clássicos franceses. Os autores modernistas, entre os quais figurava Apollinaire, viviam à sombra do movimento cubista, que tinha sua origem nas artes plásticas. Faltava à literatura esse status de originalidade. Eles foram buscá-lo nos transgressores franceses, aqueles que o "sistema" cultural não havia absorvido até então (e que não assumiu até hoje). Entre os primeiros da fila de espera estavam o Marquês de Sade (cuja apresentação pode ser encontrada neste mesmo link) e Sacher-Masoch. Inspirando-se neles, Apollinaire escreveu As onze mil varas. Apolinnaire morreu jovem, aos 38 anos, durante o surto mundial da gripe espanhola que devastou a humanidade, e chegou inclusive no Brasil. Seus livros libertários e eróticos foram publicados com pseudônimo, mas seu estilo refinado o denunciou. Foi perseguido na França e obrigado a negar seu trabalho. Seus perseguidores perderam-se no tempo. Ele é reconhecidamente um dos maiores autores de todos os tempos. Veja mais aqui.

FONTE:
PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.


AS TETAS DE TIRÉSIAS – A peça teatral Les mamelles de Tirésias (As tetas de Tirésias) é encenada e, em 26 de novembro, ele profere a conferência L'esprit nouveau et les poètes (O espírito novo e os poetas), no Vieux Colombier, na qual discursa sobre esse espírito novo proclamado pelas artes vanguardistas. Para o autor, a criação surrealista representa uma “verdade” em relação à natureza, muito mais contundente que sua mera reprodução por mais “fidedigna” que seja. As mamas de Tirésias é uma peça fantástica na qual a personagem principal, Thérèse, muda de sexo e se transforma em Tirésias, com um enorme peito que flutua como balão de brinquedo. Tudo para realizar uma obsessão de Apollinaire no sentido de que a devastação da primeira guerra mundial deve ser compensada por um árduo empenho em repovoar a França. Para isso, Tirésias gera nada menos que 40 049 filhos. Veja mais aqui e aqui.


 Imagem: Danae (1636), Oel auf Leinwand, 185 x 203, do pintor e gravador holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606 0 1669). Veja mais aqui.

Ouvindo Quarteto Negro (1987), do compositor, arranjador e músico Paulo Moura (1932-2010). Veja mais aqui.

PROGRAMA TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá que vai ao ar todas terças, a partir das 21 (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação desta terça aquiLogo mais, a partir das 21hs, acontecerá mais uma edição do programa Tataritaritatá, com apresentação de Meimei Corrêa e com as seguintes atrações na programação: Paulo Moura, Carl Orff, Joan Baez & Mercedes Sosa, Mestre Vitalino, Quinteto Violado, João Bosco, Chico Buarque, Banda de Pau e Corda, James Levine & The Chicago Symphony Orchestra and Chorus, Marianna Leporace, Fecamepa, Folia Caeté, Rubão, Wilson Monteiro, Joana Ramos, Danny Calixto & muito mais! SERVIÇO: O que? Programa Tataritaritatá Quando? Hoje, terça, 15 de julho, a partir das 21hs Onde? Aqui no blog do Programa Domingo Romântico Apresentação: Meimei Corrêa. Confira aqui


WALTER BENJAMIM – No seu livro A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução, o filósofo, sociólogo, ensaísta e crítico literário alemão Walter Benjamim (1892-1940), observa que: “[...] Na época de Homero, a humanidade oferecia-se, em espetáculo, aos deuses do Olimpo; agora, ela fez de si mesma o seu próprio espetáculo. Tornou-se suficientemente estranha a si mesma, a fim de conseguir viver a sua própria destruição, como um gozo estético de primeira ordem. Essa é a estetização da política, tal como a prática do fascismo. A resposta do comunismo é politizar a arte”. Veja mais aqui, aquiaqui.


EFIGENIA COUTINHO – Conheci a poetamiga carioca radicada em Santa Catarina, Efigênia Coutinho, quando estive alguns anos atrás em Blumenau, participando do Congresso Lusófono do Portal CEN, atendendo convite dos amigos Luiz Eduardo Caminha & Tchello d´Barros. Foram dias que trocamos muitas ideias, conversamos e desfrutamos da beleza catarinense. Até hoje essa poetamiga tem sempre marcado presença participando e prestigiando nossas atividades. Hoje é o aniversário dela e nada melhor que homenageá-la neste momento de festa. Confira as homenagens aqui e aqui.


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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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