quinta-feira, março 07, 2013

LAURA RIDING, SARAH KANE, GREIMAS, FREESE, BROOKE, KATOUCHA, PARMÊNIDES, BANG, HANS JÆGER & LITERÓTICA

 

ENFRENTAMENTOS, SUPERAÇÕES & A VIDA – UMA: FAZER O MELHOR QUE PUDER – Estava eu nos altos e baixos da vida, tentando fazer o melhor que pudesse para superar tudo quanto passava em minha vida e, num determinado momento, me peguei lendo uma entrevista da física estadunidense, Katherine Freese, que desenvolvia um trabalho na área de cosmologia teórica com interface da astrofísica e física de partículas. A certa altura da entrevista me peguei com o que ela dizia: Sinto que há problemas de física que temos de responder, e podemos respondê-los neste universo, neste pedaço do universo em que vivemos. Acho que é nosso trabalho tentar fazer isso, e não é bom o suficiente para eu desistir e dizer, bom, tem que ter esse valor porque senão não poderíamos existir. Acho que podemos fazer melhor do que isso... Foi o estalo, me levantei peito estufado e segui em frente. DUAS: DOS VAIVEM DA VIDA – Lá estava eu me achando pronto pra vida e não estava tão firme assim. Bastou-me ler um trecho duma entrevista da atriz, roteirista e produtora estadunidense, Brooke Adams, para eu me dar conta disso. Dizia ela: Eu queria ser uma estrela de cinema e pensei que seria uma estrela de cinema desde muito pequena. Foi apenas algo que eu vi no meu futuro. Mas de alguma forma, quando aconteceu, eu não estava pronta para isso... Acontece. E não foi uma ou duas, nem três, muitas. TRÊS: REPASSANDO A VIDA – No meio dumas recaídas me peguei lendo Dans ma chair (Em minha carne - Michel Fafon, 2007), autobiografia da modelo e ativista guineense Katoucha Niane (1960-2008), na qual ela expressava um ditado africano: Tenho dedos compridos para pegar dinheiro e grandes espaços entre eles para deixá-lo cair... Mais adiante ela expressava o que diziam quando ela decidiu se tornar modelo: Eu seria famosa, seria uma grande estrela. Disseram que eu acabaria uma puta... Tive sorte, muita sorte... Eu incorporei o tipo de feminilidade mais arrogante e admirado, eu que deveria ser diminuída... Ela abandonou as passarelas para fundar campanha Katoucha Pour la Lutte Contre l'Excision, retornando ao Senegal para tentar persuadir as mulheres a abandonarem a prática da mutilação genital. Em 2007 publicou sua autobiografia, na qual trata a respeito do assunto como se realizasse um exorcismo de sua excisão, tentando entender o que sua mãe havia feito e a razão disso. Durante a campanha planejava estabelecer um lar para órfãos no Senegal. Os seus casamentos findaram em divórcios e ela estreou no cinema com uma adaptação do romance Ramata, do escritor senegalês Abbas Ndione, ocasião em que morava em uma casa flutuante no Sena, aparecendo, depois de 24 dias de buscas, boiando morta nas águas. E vamos aprumar a conversa!

 


DITOS & DESDITOS - Todos os dias, durante todos esses anos eternos, eu disse a mim mesmo em desespero: por que não morrer hoje e também amanhã?... É a vida, a vida como ela é, a vida em sua majestade nua, a vida em seu poder e plenitude, a vida, vivendo a vida real - é isso, e somente isso, que consegue arrebatar as pessoas... Pensamento do filósofo anarquista e ativista norueguês Hans Jæger (1854-1910), integrante do grupo autoproclamado os Boêmios de Cristiania.

 

ALGUÉM FALOU: Uma vez que você tenha percebido que a vida é muito cruel, a única resposta é viver com o máximo de humanidade, humor e liberdade que puder... Pensamento da dramaturga inglesa Sarah Kane (1971-1999). Veja mais aqui, aquiaqui.

 

SEMIÓTICA - [...] o sentido enquanto forma do sentido, pode ser definido então como a possibilidade de transformação do sentido [...] Ao lado de uma semântica interpretativa, cujo direito de existência não é mais contestado, a possibilidade de uma semiótica formal, que procuraria dar conta apenas das articulações das manipulações de quaisquer conteúdos, define-se cada vez mais. Determinar as múltiplas formas da presença do sentido e os modos de sua existência, interpretá-los como instâncias horizontais e níveis verticais da significação, descrever os percursos das transposições e transformações de conteúdos, são tarefas que, hoje em dia, já não parecem utópicas. Só uma semiótica de formas como esta poderá surgir, num futuro previsível, como a linguagem que permite falar do sentido. Porque a forma semiótica é exatamente o sentido do sentido. [...]. Trechos extraídos da obra Sobre o sentido – ensaios semióticos (Vozes, 1975), do linguista lituano Algirdas Greimas (1917-1992), que na obra Maupassant - La sémiotique du texte: exercices pratiques (Du Seuil, 1976), assinala que: [...] Se existe um campo em que as pesquisas semióticas parecem ter conquistado um lugar próprio, é sem dúvida o da organização sintagmática da significação. Evidentemente, não se trata nem de um saber indiscutível, nem de aquisições definitivas, e sim de uma maneira de abordar o texto, dos procedimentos de sua segmentação, do reconhecimento de certas regularidades e, sobretudo, de modelos de previsibilidade da organização narrativa, modelos aplicáveis, em princípio, a todo tipo de textos e até mesmo, a partir de extrapolações justificáveis, a sequências, mais estereotipadas ou menos, de comportamentos humanos [...]. Já na obra Semiótica e ciências sociais (Cultrix, 1981), expressa que: [...] Para abordar o problema dos textos que possuem uma certa organização transfrástica, existem duas atitudes que correspondem, grosso modo, às tendências atuais da linguística. A abordagem gerativa consiste teoricamente em partir do que se considera como estruturas elementares e profundas do texto, para remontar, através das diferentes articulações da significação – e procurando explicitar suas regras – até a manifestação que aparece como texto redigido numa língua natural qualquer. A abordagem interpretativa, que lhe é paralela, leva em consideração o texto manifestado e procura dar conta dele através dos processos de descrição que visam à construção dos modelos e das metalinguagens, isto é, que procuram atingir definitivamente os níveis de abstração ou de profundidade cada vez mais afastados do texto, para encontrar nele as estruturas elementares que o comandam. [...] Existem, de fato, duas segmentações possíveis: por um lado, a segmentação do texto como ele aparece em língua natural, a segmentação do discurso em suas partes constitutivas, e, por outro, a segmentação, também possível, do texto considerado como uma narrativa, em suas unidades narrativas. Veja mais aqui.

 

PELA ESTRADA - [...] você entra e vê todas as porcelanas e copos, que são polidos e polidos e colocados sobre a mesa. -Bobagem, minha menina, ele diz. Besteira - eu disse isso... -Você só fica aí deitado [...] foi para frente e para trás. Acendeu uma luz na cozinha e brincou com as rosas do quarto em cima da cama. Katinka sentou-se silenciosamente em seu canto e ouviu apenas o nome dele, que não parava de voltar. [...] Eles viram o Ottetoget partir. Um único fazendeiro apareceu na plataforma e os cumprimentou ao passar e voltar para casa. Então eles desceram para o Jardim. As cerejeiras estavam em flor. As folhas brancas deslizaram como uma chuva brilhante e brilhante através do ar de verão para o gramado. Sentaram-se em silêncio e olharam para as árvores brancas. Era como se o silêncio da noite sobre a planície envolvesse tudo. Na cidade, ouviu-se um portão sendo fechado. O gado cantou nos campos. Katinka falou sobre sua casa. Sobre os amigos e os irmãos e a velha fazenda cheia de pombos. -E então—no novo apartamento—com Mo'er—quando Fa'er morreu... - Sim, foi uma época feliz…. - Mas então eu me casei. A casa olhava para a neve macia das flores das frutas, que caíam tão levemente A grama. -Thora Berg, onde ela estava alegre... À noite, quando ela veio da companhia—com toda a guarnição em seu encalço e jogou areia em todas as janelas da cidade.— Katinka ficou sentada por um tempo. - Ela está casada com a gente agora [...]. Trechos extraídos da obra Ved Vejen (CreateSpace, 2013), do escritor dinamarquês Herman Bang (1857-1912).

 

ABRIR DE OLHOS - Pensamento dando para pensamento \ Faz de alguém um olho. \ Um é a mente cega-de-si, \ O outro é pensamento ido \ Para ser visto de longe e não sabido. \ Assim se faz um universo brevemente. \ A suposição imensa nada em círculos, \ E cabeças ficam mais sábias \ Enquanto notam a grandeza, \ E a dimensão imbecil \ Espaça a Natureza, \ E ouvidos reportam primeiro os ecos, \ Depois os sons, distinguem palavras \ Cujos sentidos chegam por último ─\ Vocabulários jorram das bocas \ Como por encanto. \ E assim falsos horizontes se ufanam em ser \ Distância na cabeça \ Que a cabeça concebe lá fora. \ O maravilhar-se, que escapa dos olhos, \ Regressa a cada lição. \ O tudo, antes segredo, \ Agora é o conhecível, \ A vista da carne, a grandeza da mente. \ Mas e quanto ao sigilo,\ Pensamento individido, pensando \ Um todo simples de ver? \ Essa mente morre sempre instantaneamente\ Ao prever em si, de repente demais,\ A visão evidente demais,\ Enquanto lábios sem boca se abrem\ Mundamente atônitos para ensaiar\ O verso simples e impronunciável. Poema da poeta estadunidense Laura Riding (Laura Reichenthal – 1901-1991). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS & UM DEPOIMENTO ERÓTICOPLENITUDE - Enquanto nos desnudamos, \ Afogueados em profundo desejo,\ Tuas mãos a acariciar-me,\ Minhas mãos a te procurarem,\ O abraço aconchegante e prazeroso,\ O beijo que encontra nossas bocas\ A se desejarem em agonia,\ Meus lábios úmidos colados aos teus, \ Nossas línguas ansiosas a se falarem,\ Já nem temos noção do que nos cerca.\ Enquanto nos tornamos único ser,\ Almas sonhando os mesmos sonhos,\ Corações a bater em uníssono\ Corpos a se fundirem em alucinação,\ Coxas a se entrelaçarem em ânsia,\ Músculos tensos de tanto desejo,\ Procurando o supremo prazer,\ Só pensamos no nosso amor.\ Enquanto saciamos a sede mútua,\ Nesse amor louco e estonteante, \ Oferta inexplicável e maravilhosa, \ Querendo expulsar tanta saudade,\ Vamos adentrando os caminhos,\ Devagar e misteriosamente,\ Encontrando nessa completa fusão,\ O paraíso , gemendo de paixão,\ A concretizar o sonho em plenitude. INEBRIANTE PRAZER – Não conseguia conter a excitação que me transtornava ao vê-lo ali a poucos passos e nem me apercebia do que acontecia ao meu lado acima ou abaixo. Meu corpo todo fremia numa espécie de ardido a um tempo vibrante e ansioso. Minhas pernas tremiam e meus olhos estavam fixados neles como em êxtase. Não conseguimos nos conter e sem falar uma palavra aproximamo-nos sentindo um frêmito aterrador e maravilhoso. O beijo foi longo, nossas línguas queimavam de desejo reprimido e ele me arrancou o vestidinho leve de verão enquanto eu tentava vorazmente desabotoar sua camisa. A música leve fazia-me ainda mais vibrante e a calcinha de renda negra, que deixava entrever minhas feiticeiras nádegas, eu tirava devagarzinho ao ritmo eletrizante e dançando até voltar aos seus braços. Ele permanecia em rigidez absoluta completamente dominado pelo frêmito de meu corpo que se encostava ao dele intensamente molhado de suor e escaldando de desejo. E pude beijar seu pênis com alucinação, lambendo-o e com a língua a fazer evoluções espontâneas e ele então alcançou a fonte úmida e latejante onde explorou de todas as maneiras alcançando as superfícies mais sensíveis e bebeu tentando matar a sede insaciável. Eu gemia num estertor de prazer. Sua boca viajava pelo meu corpo deixando-me alucinada, sempre pedindo mais, quase implorando que ele não parasse nem por um instante. E lambi seu corpo todo vibrando em cada segundo depois da espera longa e inclemente. Já quase mortos de prazer, após a penetração laboriosa, lenta e sedutora, e gozos intercalados de beijos sedentos e cultivados com paixão extrema, a excitação contida há longo tempo voltou ainda mais forte. E no extremo do ardor incontido, pleno e, em ânsias a transbordar insinuantes e sensuais desejei que penetrasse o espaço mais aconchegante de meu corpo em delírios. Fascinantemente virei-me enquanto ambicionava desfrutar o desconhecido afrodisíaco e ele gritava em deslumbramento, o rosto transtornado de prazer, o pênis inchado e soberbo a procurar o caminho da fantasia real e paradisíaca. E ali no extremo do prazer só sentimos o escuro dourado e inconsciente do gozo indescritível a se manifestar e esparramar no fluido líquido e viscoso que eu aspirava inebriada. DEPONDO - Eu rastejo como uma fera no cio sim, porque estou mesmo como uma fera no cio. É assim que estou me sentindo e rastejo com vontade, com prazer enlouquecida, por seu amor e pelo pênis rijo dele que é meu. Louca de paixão Nem penso nem me interesso por humilhação. Isso não existe para mim em relação a ele. Faço tudo que quiser para reconquistá-lo. Sofri demais com sua ausência, você não sabe , mas sofri de verdade. Sabe por que? Porque não entendo a vida sem você e “o que é meu” e como já disse um dia será meu para sempre. Lembra quando nos encontramos naqueles dias maravilhosos? Você estava dormindo ainda quando acordei louca pelo “que é meu”. Isso não mudou, todas as horas dos dias penso nisso e morro de desejo de pegá-lo carinhosamente, colocá-lo suavemente na minha boca e lambê-lo, beijá-lo muito, passar a língua e depois de beijar e adorar, chupá-lo e todo o seu corpo tê-lo dentro de mim com você me penetrando lá no fundo de minhas entranhas. Mesmo longe sinto “o que é meu” em mim. Quero deitar de bruços para que ele sinta o gozo delirante em meu ânus e em todas as partes do meu corpo. Preciso disso porque sou inteiramente sua. E é através dele que sentirá quanto lhe desejo, quero que ele passe por todo o meu corpo enquanto você anseia a minha fonte entregue para você e para ele em delícias alucinantes. É isso que quero do “que é meu”. Agora, nesse momento em que escrevo estou sentindo “o que é meu”, porque um dia ele será só meu para sempre. E inundará meu corpo de prazer jamais conhecido por você. O meu amor por ele e por você é paixão-loucura, capaz de tudo para sua conquista completa. Eu rastejo, podemos sentir tudo isso na cama e em todas os cômodos da casa. E muito mais. Não sabe como estou excitada e tremendo agora só de pensar nisso tudo. Posso ajoelhar no chão e lamber e chupar ele todo com angustiante desejo que ele ficará para sempre em mim. Você é tudo na minha vida. Não consigo deixar de pensar em você, em nós, quero seu colo, quero “o que é meu”, quero você. E de uma forma tão intensa que até eu me assusto. Desesperadamente. Nunca pensei amar com tanta intensidade, desejando tudo, corpo e alma. E sentindo você muito meu e para sempre. Se estou acordada estou pensando em você, se estou dormindo meus sonhos eróticos com você são tão intensos, que acordo trêmula e latejante. E esses dias que estávamos afastados quase enlouqueci. Não é uma metáfora, é realmente uma paixão que parece um vulcão me conduzindo. Meu coração bate descompassado, meu corpo treme e sinto arrepios da cabeça aos pés. Nem nos meus sonhos mais loucos senti a dimensão dessa paixão avassaladora. Quero você, meu amor. Mas quero demais, demais, demais! Beijo você todinho. Ah, como anseio beijar seus lábios sentindo sua língua e devorando tudo em você, meu amor. Poemas e textos da escritora Vânia Moreira Diniz. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 



OS ELEATAS: PARMÊNIDES DE ELÉIA – Filósofo pré-socrático, matemático e poeta grego, natural de Eléia, hoje Vélia, na Magna Grécia, sul da Itália, entre o pontal Licosa e o cabo Palinuro, que inaugurou o pensamento metafísico que, sistematizado no platonismo, entende como ilusório o mundo dos sentidos. Reconhecido já na antiguidade como um sábio importante, a maior figura da escola a que pertenceu, talvez o mais profundo de todos pressocráticos. Sabe-se que como legislador em Eléia, deu leis aos seus concidadãos, o que significa haver ocupado posição de destaque em sua cidade, uma então recente fundação dos jônios. Lá teria também fundado uma escola semelhante aos institutos pitagóricos, para o ensino da dialética, foi discípulo do pitagórico Amínias e seguidor de Xenófanesde Cólofon. Seus seguidores, os eleáticos, entre os quais o mais famoso foi Zenão (também escrito Zeno ou Zenon) de Elea, opunham-se às idéias numéricas dos pitagóricos, ao mobilismo de Heráclito e à toda a filosofia jônica, atacando os conceitos de multiplicidade e divisibilidade, defendendo, em oposição, a unidade e a permanência do ser. Admirado por Aristóteles e por Platão, que deu seu nome a um dos Diálogos e em O Sofista o denominou de O Grande Parmênides. Formulou pela primeira vez o princípio de identidade, segundo ele o que está fora do ser não é ser, o não-ser é nada, portanto o ser é um. Sua principal e única obra conhecida e da qual ainda restam fragmentos, é um longo poema filosófico em duas partes e 150 versos, Da natureza ou Sobre a verdade, onde dois terços se referem à metafísica e um terço à física. Defendia a forma esférica da Terra. É a doutrina mais profunda de todo o pensamento socrático, mas tambem a mais difícil interpretação. O poema divide-se: o prólogo, o caminho da verdade e o caminho da opinião. Parmênides afirma que a única coisa eterna é o ser; as mudanças são ilusórias. Não haveria, por conseguinte, mudanças nas coisas. Para conhecer o conteúdo verdadeiro e objetivo das coisas é necessário pensar. Conhecer o ser é conhecer a verdade. Parmênides combateu Heráclito que diz que tudo flui. Para Parmênides é absurdo e impensável considerar que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo. Parmênides considera que o movimento existe apenas no mundo sensível, e no mundo inteligível o ser é imóvel. Aceita o ser uno e imutável de Xenofanes, despojando-o, porém, dos atributos divinos e religiosos, que em Xenófanes ainda tinha, de sorte que fica um puro principio metafísico e cosmológico. Parmênides distingue a ciência, que nos dá a verdade, a saber, o ser como sendo uno e imutável, e é construída mediante a razão, da opinião, de que provem o erro, a saber, o ser como sendo múltiplo e mutável, depende do sentido. A substancia, o principio primordial das coisas, é, portanto, segundo Parmenides, o ser, uno, idêntico, imutável, eterno, limitado, concebido como uma esfera finita: finito não no sentido de contraposto à perfeição do infinito, mas a imperfeição do indeterminado.
Sendo um filósofo da escola eleática, da região de Eléia, hoje Vília, Itália, Parmênides conheceu a filosofia de sua época, sucedendo a Heráclito. Escreveu um poema, cujo preâmbulo tem duas partes, a primeira trata da verdade, a segunda da opinião. Suas conclusões são contrárias às de Heráclito, seu contemporâneo. Na primeira parte do poema proclama a razão absoluta, que é o discurso de uma deusa. Para se chegar à verdade não podemos confiar nos dados empíricos, temos de recorrer à razão. Desta forma nada pode mudar, só existe o ser, imutável, eterno e único, em oposição ao não ser. Teve como discípulo Zenão, também de Eléia.
Segundo Nietzsche, foi em um estado de espírito que Parmênides encontrou a teoria do ser, considerando o vir a ser. Pensou: algo que não é pode vir a ser? Não. - Temos de ignorar os sentidos e examinar as coisas com a força do pensamento. O que está fora do ser não é o ser, é nada, o ser é um. Ao colocar como "imperativo categórico" o ser, e com ele a verdade que se chega na razão, Parmênides inaugura uma manifestação humana de conseqüências funestas. A refutação dos dados empíricos, em favor do que pode ser comprovado com a razão age sobre o resultado final dos mesmos. Assim, com o possível de ser explicado em primeiro plano, deixamos de lado um aspecto da percepção: a mudança, pois mudar é deixar de ser. O devir, nesses parâmetros é uma ilusão, o fluxo da natureza também e o que é confiável é aquilo que é assimilado e compreendido. Põe se barreiras na percepção pura, que provêm da mente aberta, para usar um termo de Aldous Huxley.
Parmênides dizia que a realidade só podia ser entendida através do pensamento. Para ele, a realidade era uma enorme bola invisível. É o primeiro pensador a discutir questões relativas ao Ser, e a partir do seu poema intitulado Sobre a Natureza, ele nos traz as possibilidades de conhecê-lo, tendo em relação a ele um conhecimento verdadeiro e universal, e para chegarmos a este conhecimento, torna-se necessário o desvencilhamento dos sentidos, pois o verdadeiro não pode ser percebido pelo nosso campo sensorial e sim pensado, inteligido por nossa razão.
O Eleata nos apresenta, então, que a nossa frente encontramos dois caminhos: o primeiro que é a via da verdade e o segundo, a via da opinião. O segundo caminho, nos diz Parmênides, temos que nos afastar, pois é o caminho do não-ser, do nada, do que não existe, do inominável, do impensado e do indizível. O não ser, é o que captamos pelo nosso campo sensorial, e os sentidos só nos trazem o ilusório, o que não existe; a percepção, é o campo da doxa, a opinião é o não-ser, o nada. A alétheia é o Ser, o Ser é o verdadeiro, e é na vida da verdade que nós temos que caminhar, e pela razão atingirmos o Ser que é Uno, indivisível, imutável, intemporal. O ser é pensado, se ele é pensado, ele existe, pois só podemos pensar sobre algo que tem existência, portanto, ele pode ser nomeado, pois só podemos dar nomes a coisas existentes; tendo nome ele pode ser dito, sendo tido podemos utilizar a persuasão para afastar os homens mortais do falso, da segunda via, da opinião. "O Ser é, e o não ser não é" É na máxima elaborada por Parmênides: O Ser é e o não-ser não é, norteará todas as discussões ulteriores sobre o Ser, as respostas variadas serão dadas para defender ou refutar a tese parmenediana do Ser Uno e imutável.
A teoria de Parmênides, de que só existe o que pode ser pensado, que o Ser é, e o não ser não é, foi o que mais me atraiu nele, pois minha idéia é a de que tudo o que existe é reflexo da nossa mente, a mente é o criador de todas as coisas, e somente existe o que é verdadeiro, e o que é verdadeiro não deixa de existir, ou seja, o Ser é eterno e imutável, eu posso mudar, minhas idéias podem evoluir, mas na verdade nada muda, o que ocorre é que o ser é perfeito, nos possuímos uma capacidade infinita no nosso interior, só que muitas vezes o ser perfeito e imutável esta encoberto, e quando mudamos, na verdade, não estamos mudando estamos exteriorizando o ser perfeito e absoluto que antes estava adormecido. O não-ser não existe porque é falsidade, os opostos "presença" / "ausência", "falsidade" / "realidade", "treva/luz", "morte / vida" e ilusão / realidade" não são opostos verdadeiros. O que faz crer que sejam opostos é o modo de pensar distorcido do homem. Embora se diga que a "presença" (o ser) se opõem à "ausência" (o não ser), não há como isto acontecer, pois uma dela é ausência, portanto, na verdade, a presença (o ser) é existência única, é existência absoluta. Da mesma maneira, treva (ausência de luz), morte (ausência de vida) é ilusão (ausência de sabedoria) nada mais são que sinônimos do nada.
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FONTES:
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2002.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luis. Historia da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
PESSANHA, José Américo Motta (Org). Os pré-socraticos. São Paulo: Abril, 1978.
SOUZA, José Cavalcante. Os pré-socrático. São Paulo: Abril, 1978.



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