segunda-feira, maio 26, 2025

CAN XUE, EVANGELINE GRAHAM, KANANDA ELLER & ARTE NA ESCOLA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Mémoire Vivante (Berimbau, 1995), La Trinidad (Buda, 2010) e Le Sens Des Sens (Buda, 2023), da premiada violeira e violonista francesa, Fabienne Magnant, que é professora do Conservatoire Départemental d’Evry Centre Essonne, em París, França.

 

Uma carta na dobra do antimeridiano... - Rodagem de Serro Azul de um anuário qualquer – pouco importava AEC, EC, ou AM, PM, ou mesmo outra sigla do efêmero, bastava o instante, o triz. E o céu mais anil carregado de esperanças. Às margens o festival da diversidade atlântica dos arvoredos, com fruteiras robustas ao alcance da mão, ornada pela sinfonia de gorjeios numa festa primordial. A brisa trazia o chamado do Pacífico porque seguia filho do Leste, a alma perdida nos passos transgressores pássaros varridos de pavores pelas léguas do medo quase treva, no tempo latejante das travessias inacabadas. Ouvi o meu nome, voz de mulher. Entre os galhos floridos, dois olhos acesos e a impressão de que fora finalmente fisgado por implacável Súcubus imprevisível ou oceânida errática que preferia atravessar meu caminho. Não, não era. Quedei-me sustando a respiração, mirei firme e a sua aura resplandecia doces olhos das coisas simples e intacta ternura. Em sua mão silenciosa nascia o dia como se me perdesse num vasto suspiro de porvires sobre os ossos da memória. Apontou-me a morte como uma bruxa nua consumida pelas chamas no patíbulo do outeiro. Ao lado do seu sacrifício uma pedra inventava os dias de Data, eclipses, arco-íris. Deu-me a impressão que jamais morresse de tão orvalhada com o cheiro de maresias, amanheceres e suores. Era dia já quase meio e foi preciso ali tão perto vespertino milagre. Seu nome? Iaravi, Selenita, ou outros nomes do afeto, da minha predileção ocasional. E logo anoitecia como num passe de mágica. Os meus versos eram perguntas sem respostas, apenas a revelação: ela dormia cúmplice dentro de mim parindo estrelas na satisfação inédita de correr ao encalço delas. E me lavou torrenciais chuvas cantantes irrigando o chão dos mortos e das desventuras vivas pelas correntes dos rios intermináveis. E me levou aos ventos seculares que varriam triunfos e derrocadas insulares por vastidões infindas. E aqueceu o meu ser afugentando o caos na vitalidade da Luz para a plenitude do Amor. Já era outro dia e ali eu era o que nunca fui. E ela, quem? Fazia pouco caso dos mortais que a tratavam por Deus há milênios, pretéritos equívocos. Só sei ali perto, entre sonhos aéreos, o arrebatado poema saltou da missiva para que a vida fosse uma canção renascida a cada dia. Quem escreveu a missiva, em mim, a vivência de leitor. Até mais ver.

 

Julia Ward Howe: É sempre legítimo desejar superar a si mesmo, nunca superar os outros... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Lea Goldberg: Sento-me horas sem nome / diante da árvore cujo nome eu sei. / Às vezes penso sem nome / naquele cujo nome eu não sei... Veja mais aqui e aqui.

Alfonsina Storni: Você, que abriu sóis em meu coração... Veja mais aqui.

 

PROBLEMA MITOCONDRIAL

Imagem: Acervo ArtLAM.

EU - Foi uma longa viagem até o Kansas para o homem / e seu cachorro, mas você tem que entender / Ele disse que ela não voa. / O que não me lembra de cagar no carro / latindo ou choramingando, mas um cão que escolhe / não fazê-lo, assim como todos os cães que voam / talvez o que eles estejam sonhando quando estão deitados no tapete ou na grama, / com galhos estendidos, prontos para levitar a qualquer momento / como aquela figura na pintura de Florine Stettheimer de um / piquenique de aniversário para Marcel Duchamp, um homem de terno que mente de bruços / - no gramado amarelo com a / determinação firme de quem está prestes a decolar.

II. - O cachorro da família já não está nada / bem há dez dias, nossa mãe menciona no chat do grupo. / As filhas dela estão em outros países e às vezes, / quando não há novas mensagens, ela posta uma foto do cachorro / cujo rosto está sempre triste. Nosso pai diz: Você tem que entender que / o cachorro tem um problema mitocondrial / é por isso que ele continua procurando corpos / d'água para se jogar nos observando tristemente por que ele não consegue trabalhar / mais do que um fio de urina, por que nossa mãe espera / por sua morte repentina. Nosso pai me diz / Você e eu não somos tão loucos quando se trata de animais / olhe para o resto desta família.

III. - Em cães e mulheres, etc., as mitocôndrias geram / energia para diferentes funções celulares: / uma espécie de ambição ou impulso de uma célula / transmitido pela linha feminina. Florine e as irmãs Ettie / Carrie, solteira, morava com a mãe, rica, uma de nove / irmãs, uma espécie de fortaleza / mitocondrial. No piquenique / Marcel chega em um carro esportivo vermelho-tijolo / como dois troncos de árvore, é seu trigésimo aniversário! Mais tarde na vida / Carrie usava tiaras e / coleiras de cachorro com joias. Por definição, DNA mitocondrial / é um ponto de diferença entre filha / e pai. O Sr. Stettheimer partiu para a Austrália.

IV - Ou talvez o motivo do cachorro estar doente: todo mundo está / alimentando ele secretamente. Nossa mãe diz que ele é tão popular / As pessoas / ligam para perguntar se ele quer dar uma volta. / Sinto muito, diz nossa mãe, ele está fora agora, mas acho que ele está livre / Amanhã. Até agora, só o nosso pai entrou na chamada em grupo. / Ele liga o vídeo para me mostrar o jardim ficando mais pixelado. / a cada passo, quando duas meninas tímidas entram no vídeo / e perguntam se podem pegar o cachorro emprestado. Duas irmãs: nosso pai / me contou tudo sobre elas, as meninas da rua, ele as chama de / maneiras adoráveis. Nossa mãe diz: "Você tem que entender uma / o vizinho compra xampu e calcinhas para as meninas e / todo mundo as alimenta secretamente.

V. - As meninas da rua gostariam de pegar o cachorro emprestado, mas / a irmã mais velha também se apresenta determinada / Encontramos este pássaro com a asa quebrada. Ela o segura / enrolado em uma folha de uva. Desculpe. / As meninas dizem ao meu pai que não podemos fazer nada. Então ele pergunta / como se só eu pudesse ouvi-lo. Será que fui muito duro? / Espere, eu digo, por que você não dá a eles uma caixa de sapatos / e água com açúcar em um conta-gotas como quando eu encontrei o bebê? / Tordo dentro do macrocarpa cortado, / sem mãe. Mas não morreu?, ele me pergunta. / Sim, eu disse. Morreu durante a noite. Mas / cuidei dele a tarde toda.

Poema da escritora, editora e artista neozelandesa Evangeline Riddiford Graham.

 

DOUTOR DESCALÇO - [...] Este jovem era meditativo, indeciso e cheio de remorso. Naquela época, Gray trabalhava no jardim de ervas da Sra. Ti e lia alguns livros de medicina nas horas vagas. Mas ainda não havia decidido se tornaria um médico descalço. Gostava de ervas, medicina chinesa, acupuntura e do cheiro forte da farmácia. Mas não gostava de pacientes e achava que as pessoas doentes tinham falhas de caráter. Acreditava que eram as falhas de caráter que deixavam as pessoas fisicamente doentes [...] A Sra. Yi lentamente descobriu o que causava a doença nos aldeões: algumas pessoas adoeciam devido a dificuldades na vida. Faltava-lhes tempo e condições adequadas para proteger a saúde. Mas a maioria não tinha vidas particularmente difíceis. Adoeciam porque ansiavam por algo. Muitas vezes, queriam alcançar um certo nível de sucesso em seus empreendimentos. Embora não conseguissem explicar o que era sucesso, todos o entendiam. A comunicação entre si estimulava todos a exigir mais de si mesmos. O que quer que estivessem fazendo — agricultura, fabricação de tofu, cabeleireiro ou construção de casas — os aldeões trabalhavam tanto dia e noite que sua saúde se deteriorava gradualmente. Foi somente depois de envelhecerem que começaram a se preocupar com a saúde [...]. Trechos extraídos da obra Barefoot Doctor (Yale, 2022), da escritora chinesa Can Xue (Deng Xiaohua), que no livro Love in the New Millennium (Yale, 2018), ela expressou que: [...] Não o mundo inteiro, estou sempre vagando por perto. [...] Os vasos... cabem pombas. O vaso parece pequeno quando, na verdade, é enorme por dentro — enorme a um ponto que não podemos imaginar, então precisamos de um avaliador de tesouros como você para medi-lo [...] Eles não têm a nossa sorte, ainda não viraram história. É preciso sofrimento e espera. [...]. Ela também é autora das obras Os Sapatos Bordados: Histórias (2015), Vertical Motion (2011), Frontier (2008) e Blue Light in the Sky & Other Stories (2006). Veja mais aqui.

 

DEUSA CIENTISTA - [...] a ciência é uma ferramenta social que busca se aproximar e descrever a realidade – e não tem como fazer isso sem estar próximo a ela. É muito importante que esta realidade também esteja próxima do que a ciência produz, ou seja, é uma via de mão dupla. [...] A divulgação científica é uma área muito generosa da ciência, mas ainda muito julgada pela própria academia, que se coloca em um pedestal de distanciamento da população. [...] Neste sentido, a divulgação científica tem o papel fundamental de incentivar pessoas, trazer autoestima, mostrar como é atuar na ciência. Até porque as pessoas ainda têm uma visão um pouco irreal do que é produzir conhecimento científico. [...] Acredito que a gente pode aproximar as pessoas da ciência, e facilita muito se for feito um trabalho conjunto, da sociedade, usando bem meios como a televisão, que ainda atinge um grande público. [...] Sempre gostei muito de estudar, mas sou movida também pela transformação social, e as discussões ambientais sempre mexeram muito comigo. Sempre estive em escolas associadas a projetos de transformação ambiental, de impacto positivo na natureza, e de trazer resoluções para o meio ambiente. [...]. Trechos da entrevista Kananda Eller: divulgar ciência para transformar o mundo (ScienceArena, 2024), concedida pela química e cientista ambiental Kananda Eller (Kananda Eller Souza da Paixão), mais conhecida como Deusa Cientista.

 

A ARTE DE MAURÍCIO MELO JÚNIOR

[...] Foi na primeira infância, em Palmares. Não sei precisar o momento exato, quando me dei conta já tinha me tornado um leitor compulsivo. E lia tudo que me chegava: gibis, poesia, romances, tudo de interessante que encontrava nas prateleiras da banca de revistas de seu Odilo e na Biblioteca Fenelon Barreto, sob a tutela de dona Jessiva. Gostava de dizer que comecei a ler por ser péssimo jogador de futebol. Enquanto os meninos da rua iam jogar, eu ficava em casa lendo [...].

Trecho da entrevista concedida pelo escritor, jornalista e crítico literário Maurício Melo Júnior. Veja mais aqui, aqui & aqui.

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ARTE NA ESCOLA – LER BEM

Esta edição é dedicada aos professores Fátima Portela, Luciana Girlan & Wellington Batista da Silva. Confira aqui, aqui & aqui.

 

ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

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