segunda-feira, outubro 28, 2024

CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame, 2007) e Dreams (GSP, 2011), da violonista, compositora, professora e pesquisadora musical Cristina Azuma. Veja mais aqui & aqui.

 

A foto do bode pelo voo do que não era Foolyk... - Naquela hora Bodinho passava aos esculachos de bronca! Pela rua apertada arengava com a invisível matrona Branca, chamando na grande os Cabeças de Touro, desafetos que azedavam o seu angu. Quase todo dia ouvia os passos trôpegos dele elucubrando as galhadas carburantes das ideias tresloucadas, as quais viviam imersas com galos cantando no juízo, calombos na testa, pescoço troncho pelo peso da tonta cachola insegurável, um quengo pra lá de injuriado com pilhérias e pulhas na ponta da língua. Era ele, todo santo dia. Sim, é que ele vivia às voltas com a marvada Teibei e, nessa noite, parece, assim soube, ele inventou de misturar com a cachaça Maria Joyce. Aí deu o créu! Testemunhou-se que ele se dizia ali na hora podre de rico, sacando dos bolsos para quem quisesse ver um punhado de pó de kyawthuite. Vôte! Ninguém levou a sério, nunca levava. E não demorou muito e lá se viu ele pelos ares, aos berros segurando no rabo duma nuvem para nunca mais. Foi ser prefeito lá no céu, dizem. A cena levou-me à biblioteca – local em que se juntava todo tipo de personagem saído das páginas dos livros, afora todo tipo de biruta que resolvia dar as caras assim do nada. Sim e foi lá mesmo que pude numa manhã para lá de festiva reviver os Retalhos em Detalhes, do memorável amigo Mendes Givanilton – sujeito da mais profunda estima e doutras tantas dos pileques na mangação pelo malogro do teatro de Fenelon, das tardes domingueiras no Clube dos Ferroviários com a Escolinha do Professor Língua de Trapo, dos tropicões nos anseios inglórios, das viradas de noite por altos papos sem bater pestana nem piscar o olho, das muitas e tantas até o dia depois da maior viagem dum show de Hermeto Pascoal, com a notícia de que ele tinha ido sem um mínimo aceno de adeus. Quarentanos se passaram e tudo isso só pra vê-lo ressurreto no ensolarado meio dia de sábado do Pintando na Praça. Era como se estivesse numa das viagens de Gulliver – muitas hestórias pra contar, mas aqui nunca foi Foolyk do Desfontaines, nem nunca será. Essas coisas mexem com o coração nesses tempos loucos: o que de sonho se fez real, o que de chão no voo da vida. Até mais ver.

 

Sylvia Plath: Comigo, o presente é para sempre, e o para sempre está sempre mudando, fluindo, derretendo. Este segundo é a vida. E quando ele se vai, ele morre. Mas você não pode recomeçar a cada novo segundo. Você tem que julgar pelo que está morto... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Denise Levertov: O que ouvi foi todo o meu ser dizendo e cantando o que sabia: eu posso... Veja mais aqui.

Delmira Agustini: Às vezes eu tremia com o horror do meu abismo... Veja mais aqui & aqui.

 

DESPEDIDA

Imagem: Acervo ArtLAM.

O tempo estava agradável \ O dia estava ensolarado \ As esquadras passavam \ Homens e mulheres com mochilas e \ roupas camufladas \ Primeiro meu marido saiu com um grupo \ Depois deixei a menina com a esquadra seguinte \ Uma jovem virou-se e disse-me para não me preocupar, que eu iria cuidar dela \ Então fui em direção à coluna do meu grupo \ Pensei em como avisar meu marido para não voltar \ Bom já tínhamos todos ido embora \ Alguns amigos ficaram \ Atrás na calçada esperando seus esquadrões \ Era hora de paz \ Não houve guerra \ Os pássaros cantavam nas copas das árvores \ O dia ensolarado.

Poema da poeta, tradutora e cantora de câmara búlgara Christina Vassileva.

 

MINHA JORNADA NOTÁVEL - […] Fiquei perplexo que tantos alunos não gostassem de matemática e tivessem dificuldades com ela. Imaginei que eles tinham um pai que não gostava de matemática e dizia que era difícil ou um professor que não tinha paixão ou paciência para tornar a matemática relevante para suas vidas. Em casa, nunca deixei minhas meninas me dizerem que matemática ou qualquer outra matéria era difícil. Desde que eram bem pequenas, sempre tentei incorporar o aprendizado, fosse matemática, ortografia ou atividades criativas, como costurar e montar quebra-cabeças, em suas vidas. Tentei mostrar a elas como o que estavam aprendendo na escola se conectava às nossas vidas fora da escola. Claro, eu as fazia contar tudo — as estrelas no céu, os degraus do fundo ao topo da mansão Carson ou as pessoas na igreja em qualquer domingo. Em viagens de carro, eu as fazia somar os números nas placas dos carros que passavam na nossa frente. Ou eu as fazia cobrir os olhos e soletrar o estado. Se eles estivessem ajudando na cozinha, eu poderia escrever uma receita, entregá-la a eles e pedir que calculassem quanta quantidade de cada ingrediente precisaríamos se eu quisesse fazer metade daquele lote de biscoitos ou bolachas. [...]. Trechos extraídos da obra My Remarkable Journey: A Memoir (Amistad Press, 2021), da matemática, física e cientista espacial estadunidense Katherine Johnson (Katherine Coleman Goble Johnson 1918-2020), uma das primeiras afro-americanas a trabalhar como cientista na NASA, expressando-se: Eu ficava animada com algo novo, sempre gostei de coisas novas, mas dou crédito a todos que ajudaram. As meninas são capazes de fazer tudo o que os homens são capazes de fazer. Às vezes, elas têm mais imaginação do que os homens. Precisávamos ser assertivas como mulheres naqueles dias – assertivas e agressivas – e o grau em que tínhamos que ser assim dependia de onde você estava. Eu tinha que ser. Você perde a curiosidade quando para de aprender. Goste do que faz e então fará o seu melhor.

 

LIBERTAÇÃO PELA PSICOLOGIA – [...] não é uma questão de intencionalidade: colocar uma ciência fundamentada em termos individualistas e viciados a serviço da comunidade, só resultaria na reintrodução ou manutenção das necessidades e vivências do homem "capitalista". A questão é transformar os próprios esquemas de compreensão e de trabalho a partir da perspectiva do povo salvadorenho. Dito de outra maneira, devemos redefinir os próprios fundamentos da ciência psicológica. [...]. Quem deve, então, determinar as necessidades "verdadeiras" e "falsas"? A quem cabe diferenciar o que há de autêntico e o que há de alienante no interior da consciência popular? Por acaso, deverá o psicólogo social se converter em "intérprete" das necessidades populares? Problema que não é de fácil solução, nem mesmo para aqueles que, surgidos do próprio povo, se convertem em sua vanguarda política, mas que, ao chegarem nesse lugar, frequentemente, perdem o contato existencial com suas bases e tendem a assumir como voz do povo o que não é mais do que a sua própria voz. [...]. Trechos do estudo O psicólogo no processo revolucionário (Vozes, 1980), do psicólogo e filósofo Ignacio Martín-Baró (1942-1989). Veja mais aqui.

 

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

O sertanejo fala pouco: as palavras de pedra ulceram a boca e no idioma pedra se fala doloroso; o natural desse idioma fala à força... Escrever é estar no extremo de si mesmo...

A obra do poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

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O II Seminário A Presença Indígena na Zona da Mata de Pernambuco ocorrerá na Biblioteca Pública Municipal Felenon Barreto, em Palmares-PE, no dia 09 de novembro. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

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