terça-feira, janeiro 30, 2024

SUSAN GREENFIELD, GERTRUDE STEIN, MEG CABOT & MANUEL BANDEIRA

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do álbum É frevo, meu bem! (Aple Music, 2011), Esse é o meu carnaval (Tratore, 2007) e o DVD Pernambuco para o Mundo (Tratore, 2014), da cantora Nena Queiroga, considerada a Rainha do Carnaval pernambucano. Veja mais aqui.

 

RUBRICA DE CRONÓTOPO... – Se não tivesse o coração amando, eu não seria nada. Se não soubesse o dia o que seria a noite, não valeria a vida. Pensando bem, ainda há pouco era um menino da beira do rio e, já mal dobrara algumas poucas esquinas, nem via direito o tanto que passou. Era como se já fosse março e perdesse quantos dias e meses, se tudo o mais esqueci nas últimas três ou quatro décadas, quantos motivos teria senão a pilhéria pronta. Ontem mesmo pelas três da tarde ou sei lá se tanto, tivera um susto ao esbarrar com a Simone Weil: As soluções não são fáceis de conceber... Todos os pecados são tentativas de preencher vazios... Nem dois segundos sequer bastaram, quandei fé já passava das nove da noite e o cochilo. Foi então que pude ver os urubus como verdadeiros túmulos povoando o dia no meu momento crepuscular. Do outro lado, nada mais que esfaimados e furibundos na festa da minha febre noturna e quem morreu de espanto ninguém acreditava. É tão Brasil quanto imoral, que importa. Dizia-me Sarah Kane: Depois de ter percebido que a vida é muito cruel, a única resposta é viver com tanta humanidade, humor e liberdade que puder... Eles vão me amar por aquilo que me destrói... Não sei quantos milênios atravessei, se quadras percorri de A a Z e lá estava eu tão longe quanto o país das trinta e seis mil vontades, no cercado mágico de Maurois. Como quem não conseguia decorar O corvo e a raposa de La Fontaine, sabia lá se sonhos ou loucura, andava dez vezes mais. E parecia nem ter saído do lugar, como se arrastasse pelas areias que davam pro mar do Tempo Perdido, uma sujeira espessa com perfume de rosas. E, apesar disso, ali ainda não era março, mas foi onde apenas uma mulher não tinha nem nunca teve problema algum. Fui ver de perto e era a belíssima moira Aisa: Ô cabra andejo, para quieto! Ela, pra quem não sabe Átropos, inamovível, inflexiva, dizia ser uma das sobreviventes daquele voo 370 desaparecido da Malasya Air Line. Como podia? Nem atinava nada direito, azucrinava muito o cricrilar persistente de grilos machos, coisa mais chata! Então, virou-se pra mim informando ser ali o País do Presente de Poe – de Pym of Nantucket, na verdade - e esqueci quem era e o que fazer. Cá com meus botões: se não era o Triângulo das Bermudas, estava no meio do maior quebra-cabeça. Então me sussurrou Ada Negri: Não há momento que não pese sobre nós o poder de todos os tempos... Aí celebrei: abençoada seja pelos cotovelos no tumulto dos dias, terra de água acima, fogo de vento abaixo. Cada um a sua vida. Se sabia onde pisava, não poderia jamais esquecer das esquinas e pedras falsas. Tudo poderia acontecer. Então pisei devagar, os mortos agradeceram...’Ainda não era e deslembrei, assim mesmo, perdendo a raiz. Não precisava mais de ontem nem amanhã, vivia agora. Até mais ver.

 

QUATRO POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

UMA ROSA É UMA ROSA É UMA ROSA É UMA ROSA - Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa \ Encanto extremo. \ Botina extra. \ Encanto extremo. \ O mais doce sorvete. \ Páginas épocas página épocas página épocas.

ÍNFIMA VELHA ESTRELA - Ínfima velha estrela. \ Fluída sempre. \ Foste um triste percentual. \ Faz um dia de sol. \ Vigia ou água. \ Tão logo a lua ou um pesado velho assédio.

ENTRE - Entre um lugar e um uma bala de açúcar existe uma estreita trilha a pé que mostra mais subida que qualquer coisa, tão mais real que o significado de um chamado um travesseiro uma coisa completa como aquilo. Uma virgem uma completa virgem é julgada feita e assim entre curvas e esboços e estações reais e mais dos óculos e um perfeito arranjo sem precedente entre duas senhoras e leves resfriados não há bosque de cetim brilhando.

UMA SOMBRINHA DESFECHADA - Qual era a utilidade de não deixá-la lá onde ela ficaria pendurada qual era a utilidade se não havia chance de nunca tê-la visto aqui e mostrar que ela era bonita e certa a forma de mostra-la. A lição é ensinar que ela se mostra assim, que ela se mostra assim e que nada mais, que não há nada a mais, que não há mais que se fazer com ela e assim tanto quanto existe lá bastante motivo para se fazer uma troca.

Poemas da escritora e feminista estadunidense Gertrude Stein (1874-1946). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui,

 

ABANDONO - […] Na verdade, o termo “perdoar e esquecer” não faz sentido para mim. Perdoar nos permite parar de pensar em um problema, o que nem sempre é saudável. Mas se esquecermos, não aprendemos com nossos erros. E isso pode ser mortal [...]. Trecho da obra Abandon (Point, 2011), da escritora e roteirista estadunidense Meg Cabot, que na obra Ninth Key (Turtleback, 2004) expressa: […] Posso estar morto há cento e cinquenta anos, Susannah,... mas isso não significa que não sei como as pessoas dizem boa noite. E geralmente, quando as pessoas dizem boa noite, elas guardam a língua para si mesmas. [...]. E na obra Twilight (Avon, 2005) evidencia que: [...] O que é um mediador, você pergunta? Ah, uma pessoa que atua como elo de ligação entre os vivos e os mortos. Ei, espere um minuto... o que você está fazendo com essa camisa de força? [...], afora nos contemplar com frases lapidares: Escreva o tipo de história que você gostaria de ler. As pessoas lhe darão todo tipo de conselho sobre como escrever, mas se você não estiver escrevendo algo que goste, ninguém mais vai gostar. Você não é uma nota de cem dólares, nem todo mundo vai gostar de você. Se você ama alguma coisa, liberte-a. Se fosse para ser, ele voltará para você. Veja mais aqui e aqui.

 

A TECNOLOGIA É NOSSA ESCRAVA, NÃO NOSSA MESTRA - O ambiente digital está alterando nosso cérebro de forma inédita. O primeiro é o impacto das redes sociais na identidade e nos relacionamentos. O segundo é o impacto dos videogames na atenção, agressividade e dependência. E o terceiro é sobre o impacto dos programas de busca no modo como diferenciamos informação de conhecimento, como aprendemos de verdade. É claro que há muitos estudos que ainda precisam ser feitos, mas certamente há cada vez mais evidências sobre aspectos positivos e negativos. Agora, só porque vemos um aumento de QI em quem joga videogames não quer dizer que haja um aumento de criatividade ou capacidade de escrita. Também se sabe, por alguns estudos, e por exames de imagem, que os videogames aumentam áreas do cérebro que liberam dopamina. Também sabemos que, em casos extremos, nos quais as pessoas gastam até 10 horas por dia na frente da tela, existe uma forte correlação com anormalidades em exames cerebrais. Como costumamos dizer, uma andorinha só não faz verão. Então é importante fazer mais estudos. Isto não é definitivo, em se tratando de ciência nada é definitivo, por isso é importante começar a fazer pesquisa básica porque, até agora, está claro que coisas boas e coisas ruins estão acontecendo de um modo que não haviam acontecido em gerações passadas. É um desafio, mas o que temos que fazer é tentar pensar em maneiras, não tentar negar a tecnologia. Nós podemos, na nossa sociedade maravilhosa, com toda essa tecnologia, com todas as oportunidades que temos, dar aos nossos filhos um mundo tridimensional interessante para viver. A partir disso eu infiro que as pessoas estão construindo uma identidade no ciberespaço que em boa parte é formada pela visão das outras pessoas. Eu acho interessante essa tendência de que mesmo que você sinta-se muito importante, muito conectada, você se sente insegura, tenha baixa autoestima, sinta-se constantemente inadequada. Eu acho que precisamos olhar para as estatísticas em vez de apenas levar em conta as impressões pessoais ou os meios de comunicação. De acordo com as estatísticas, os chamados nativos digitais, gente que nasceu após 1990, apresentam níveis de uso alarmantes. Trechos extraídos da entrevista da revista Fronteiras (2018) concedida pela neurocientista britânica Susan Greenfield. Veja mais aqui.

 

LIBERTINAGEM & ESTRELA DA MANHÃ, DE MANUEL BANDEIRA

A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca. \ Eu tomo alegria!

Trecho do poema Não sei dançar, extraído da obra Libertinagem & Estrela da Manhã (Nova Fronteira, 2000), do poeta, tradutor, crítico literário e de arte, Manuel Bandeira (1886-1968). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

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