TRÍPTICO DQP: Uataçara uatá rame uataçába... (Imagem: AcervoLAM) - Ao som dos álbuns For
Organ and Brass (Subtext Recordings, 2017) e Chords (Subtext Recordings, 2019), de Ellen Arkbro. – Despertei asfixiado por uma bomba de gás lacrimogêneo.
Meu nome era outro e morria de tarde sacudido de cabeça pra baixo num buraco
bem fundo, só as pernas de fora... Quem me reconheceria assim jamais. O que era
de mim na grande indignação com as emboscadas dos nativos nas veredas da
floresta, o meu povo morria comigo a cada instante. Por isso ressurreto entre
claroscuros e quase nada ao entardecer na pele de ninguém autá, como se dizia
na modinha popular de lá dos setecentos do Vocabulário de Pereira da Costa: Caranguejo anda ao atá / procurando sua estrada / vem
seu mestre titio / faz dos caranguejos cambada... Outras eram as chuvas e
trovoadas antes dos invernos das burundangas e, por incrível que pareça, me
apareceu Gayle Forman para avisar que: Há uma diferença entre perder algo que
você sabia que tinha e perder algo que você descobriu que você tinha. Um é uma
decepção. O outro parece perder um pedaço de si mesmo. Era mesmo eu e meus
muitos pedaços, um deles Barbara Pym: As pequenas
coisas da vida eram muitas vezes muito maiores do que as grandes coisas. Era
só o meu poente e antes que anoitecesse na pele de Reynaldo Arenas: Sempre considerei desprezível
rastejar como se a vida fosse um favor. Se você não pode viver do jeito que você quer, não há
sentido em viver... O que meu país se tornou, ah, o que sempre foi: um palmo
a menos, um passo a menos na vida de cada dia. O caminheiro segue errante...
A trinitita da tragédia... - E se mortovivo era ou nem tanto, quase, algo me ofuscava:
o caleidoscópio das tragédias no brilho atomsita achado no deserto de Trinity.
E me assombrava com o vidro de alamogordo que não era nada mais que um resíduo
vítreo que me deram de Hiroshima ou Nagasaki, e com os plastigomerados de
Corcoran&Moore&Jazvac. Mas de repente, no meio de tanta incandescência,
era ela que eu nem sabia para me dizer da Lemúria
de Cervé: Na verdade, nem todos se perderam e jamais se perderão porque a
continuidade da vida lhes veio em socorro e salvou para eles um remanescente da
maior e mais nobre das raças que já existiram... Quem era? Só sei que se
parecia com o Sol de tão brilhante, impressionantemente corpulenta e pele
bronzeada, cabelos pretos, traços refinados, olhos castanhos claros e grandes,
penetrantes e agudos escondidos num véu de fibra vegetal a proteger-lhes a
face. Retirou o véu e pude ver a sua beleza realçada numa pequena protuberância
no centro da fronte: ela fechava os olhos. Achegava-se acesa e fez uma incisão carinhosa
no dedo indicador da minha mão direita e na dela, e atou-nos, mãos juntas, para
que seu sangue fluísse no meu e nos tornássemos um só. E me ensinou ali a Lei
do Sagrado Quatro e as lições do Livro de Dzyan. Foi preciso algum tempo para
que eu tomasse pé da situação, ao sabê-la uma chumash, Gu Oficial, feita rainha
Califa que governava ilha distante e queria que eu visse os escritos nas
cataratas de Klamath e fôssemos para o cone do vulcão extinto do monte Shasta
para encontrar os maias do Iucatão. Aí como se fosse a dramaturgatriz poeta
teuto-americana Judith Malina
(1926-2015) confidenciou: Não deixar esquecer, não contemporizar com o que não pode e não deve ser
atenuado pelo passar dos anos... Nada entendia e ela rodopiava no ar e já era
a escritora estadunidense Marion Zimmer
Bradley (1930-1999): Nunca foi nem nunca será fácil trabalhar! Mas a estrada que está
construída sobre a esperança é mais prazerosa ao viajante do que a estrada
construída sobre o desespero, mesmo que ambas levem à mesma destruição... E
cada vez mais rodopiava e mais e não me deixava esquecer o passado que queimava
dentro do meu peito e mente como uma ferida aberta e sangue jorrando dos meus
poros. As pedras estranhas luziam como uma ameaça pronta para me destruir. Ao
que me fora dado, apenas segurei a mão dela com força, precisava me salvar. Ela
virou-se para mim e mergulhei na sua imensidão.
O nome da maldição... - Imagem do artista argentino Luciano Garbati. - Quando dei por mim estava
num imenso salão vazio. Ouvi passos e fiquei atento. Apareceu-me irresistível Eve Babitz como quem vinha pronta para o icônico xadrez de Duchamp: inebriante e gloriosa com balouçantes
seios orgulhosos de festeirescritora nua que não tinha a mínima vergonha da
luxúria e o sexo como uma forma de arte nos seus livros. Sentou-se à mesa feita
Mathilde Reumaux – O
alsaciano está morto, viva o alsaciano! A
Alsácia mudou, a elasticidade deve mudar com ela -, no jogo de Arrabal: …o xadrez levou
séculos para atingir as alturas da inteligência humana. E em
apenas quatro horas mexendo as peças, seguindo as jogadas dela passei da
ignorância absoluta ao domínio do jogo. Não sabia como, ela me enfeitiçava e o
feitiço me ensinava. Era ela, disse-me: simplesmente, Medusa da Silva, órfã de nascença que havia vivido
com a madrinha e fora, ainda jovem e bela, estuprada pelo tio desalmado. Por
conta disso fora expulsa: a vaidade é um veneno. Nem a culpa sabia, maculou o
nome da família e fora amaldiçoada. Nada entendia e a vida tornou-se uma balsa insuportável. Na sarjeta fora recolhida
por Hesíodo que lhe restituiu a dignidade para ser louvada em
frente ao Tribunal no Collect
Pond Park. Foi nessa hora que inflou o peito para me dizer Hélène Cixous: Basta olhar diretamente para a Medusa para vê-la. E ela não é mortal. Ela é linda e está
rindo... Os homens cometeram o maior crime contra as mulheres. Insidiosamente,
violentamente, eles os levaram a odiar as mulheres, a serem seus próprios
inimigos, a mobilizar sua imensa força contra si mesmos, a serem os executores
de suas necessidades viris. Disse-me entre lágrimas. Era certo que havia
dado a volta por cima e se tornado a ginasta campeã risonha Katelyn Ohashi para me contar nua Marie NDiaye: Parecia-me que meu
talento estava gradualmente enfraquecendo. Por que eu não poderia ser uma bruxa decente?, eu me
perguntava em tais ocasiões. Faltava-lhe vontade, entusiasmo, coragem? Era ela ali e a nudez da alma entre a
alvorada e o crepúsculo o meio dia, tarde e meia, alta noite, madrugada: ontem
nunca será amanhã. Eu sentia: era a minha cabeça que ela segurava. Se ela sempre
fora a vítima de toda farsa, eu também inocente carregando culpas que jamais
soubera. Simplesmente culpados por viver. Outrora soubesse a vida que se foi, se
não sei claro qual escuro, já era tarde demais. Até mais ver.
A primeira regra de
descoberta é ter cérebros e boa sorte. A segunda regra de descoberta é
sentar-se apertado e esperar até conseguir uma ideia brilhante... Onde devo
começar? Comece a partir da declaração do problema. ... O que posso fazer?
Visualize o problema como um todo o mais claramente e tão vividamente quanto
puder. ... O que posso ganhar fazendo... Para ensinar efetivamente um professor
deve desenvolver um sentimento por seu assunto. Ele não pode fazer seus alunos
sentirem sua vitalidade se ele não sentir isso sozinho. Ele não pode
compartilhar seu entusiasmo quando ele não tem entusiasmo para compartilhar.
Como ele faz o seu ponto pode ser tão importante quanto o ponto que ele faz:
ele deve sentir-se pessoalmente para ser importante.
Pensamento do professor e matemático húngaro George Pólya (1887-1985). Veja mais Educação & Livroterapia aqui e aqui.