DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE
AQUELA... UMA ENTRE OUTRAS FACES DO HORROR - Ninguém
sabe de nada, calendário incerto, vida de um olho a outro no horizonte e a mortandade
em ascensão, rondando e escapulo, quantos sucumbem desde as previsões da Johns
Hopkins e o simpósio Evento 201, em outubro. Tem horas chego arrepiar, porque
trouxe à tona o terror de The eyes of
darkness (1981), de Dean
Koontz, com o primeiro caso que
estourou janeiro em Macau, quando em Pequim passaram a usar máscara na estação
de trem e durante as buscas no mercado atacadista de Wuhan, enquanto a
contaminação já avançava na Malásia e ganhava o mundo se espalhando
rapidamente. No Brasil, tudo aqui em férias, só se falava de carnaval como
sempre depois da virada do ano, todo mundo nem aí e Koots era o gatilho para as
teorias da conspiração, já que o surto pandêmico grassava e saiu varrendo o
mundo. Quando passou a folia, foi que a gente tomou pé da situação e ninguém
mais soube de nada daí em diante, nem a do Eric
Toner atuando desde 1980 na preparação da saúde para eventos
catastróficos, gripe pandêmica e resposta médica ao bioterrorismo, autor de
inúmeros artigos a respeito, inventou de organizar várias reuniões com líderes
mundiais e grandes corporações, visando a preparação de hospitais para
enfrentamento da crise pandêmica, resultando, mesmo com a antecedência dos
anúncios da Hopkings, em pleno fracasso. A iniciativa antecipada do capitalismo
de combater a pandemia malogrou e, como no passado, tudo é encoberto e os dados
manipulados. E daí uma coisa apenas é certa: mesmo com subnotificação, ausência
de testes e má vontade política, milhares diariamente vão desaparecendo para
nossa real consternação e incerteza. Essa uma das faces do horror, respirar
está ficando cada vez mais difícil.
DUAS PRAS SETE - Vi As sete faces do doutor Lao (1964), o premiado
circo itinerante de George Pal, a despertar curiosidades e constrangimentos. Vi
uma a uma delas, cada uma, e me impressionei. Baseado na obra homônima do
professor, abolicionista e avivalista estadunidense, Charles G. Finney (1792-1875), uma metáfora sobre o poder e os
desejos mais ocultos e obscuros de cada um. A mim me parecia cada uma delas
aquilo que fui e sou. Vi e era Apollonius, Merlin, Pã, a serpente gigante, a
Medusa, o homem das neves, afora me tornar o magnata Stark e, ao mesmo tempo, o
seu opositor Cunningham para a realização dos sonhos da bibliotecária viúva, Angela,
tendo tempo ainda de sonhar com a excitação sensual da Kate Lindquist na cena com Pã, nada mais real para a minha criativa
solidão. Aí a falta de energia me deixou fora do ar. Nessa hora Nietzsche soou humano, demasiado humano:
Por falta de repouso nossa civilização
caminha para a barbárie. É o que confirma na Topologia da violência (Vozes, 2017), o filósofo Byung-Chul Han:
Hoje o indivíduo se explora e
acredita que isso é realização. Sem descanso e insone a gente vai
persistindo, perseverando, impossível dormir e acordar do sonho, nefelibata e somítico
até não aguentar mais. Esta a nossa guerra diária, o lamentável expediente da guerra.
TRÊS IDEIAS E É POSSÍVEL SONHAR: AINDA HÁ ESPERANÇA... (Imagem:
Sun Tunnels: Sunset, 1976, da
escultora e artista conceitual estadunidense Nancy Holt (1938-2014) – O Sol nasce no horizonte e a esperança me
leva outra vez para vida. É maravilhoso viver. Ouço a voz de Nancy Holt na sua performance do Boomerang (1974): Sim, posso ouvir meu eco! Na sua voz, alimento
minhas utopias, são tantas, assim vivo. Em apoio, Josué Montello: O que caracteriza a utopia é constituir
uma aspiração que ultrapassa o indivíduo que a formulou, e o tempo imediato,
para ser uma aspiração de muitos, e para muitos, num tempo futuro. Pode-se
dizer, sem receio de erro, que a utopia é consubstancial à condição humana.
Ninguém realiza sem sonhar. Para realizar eis a minha
esperança: o poder de sonhar cada vez mais e sempre é o que me faz viver
plenamente. Até mais ver.
O MASSACRE DA GRANJA SÃO BENTO
Houve um tempo no Brasil, não muito distante, de criminalização do
pensamento. O pensar diferente que exerciam o poder pela força das armas levou
milhares de pessoas às masmorras da ditadura, ao sofrimento físico e moral das
torturas, do banimento, à clandestinidade, e às famílias as dores da morte e
angústia sem fim do cruel desaparecimento. A repressão política agiu sempre ao
arrepio de todos os princípios jurídicos reconhecidos pela Ordem Internacional
para assegurar os direitos humanos e as garantias individuais, com desrespeito
aos tratados e até mesmo às próprias normas internas impostas no período ditatorial
que buscavam simular um estado democrático de direito. Nesse quadro, diversos
foram os acontecidos a marcar a brutal violência imposta aos militantes da
oposição pelos agentes do Estado a serviço dos que exerciam com mão de ferro o
poder expresso pelo uso da força. [...].
Trecho do
prefácio do advogado Humberto Vieira de Mello, para o livro O massacre da
granja São Bento: a história de como um traidor e um torturador se aliaram em
um dos crimes mais brutais da ditadura militar no Brasil (CEPE, 2017), do
jornalista Luiz Felipe Campos, um apelo contra o esquecimento sobre o
assassinato de quatro homens e duas mulheres militantes contra a ditadura
militar, em um sítio da região metropolitana do Recife, em 1973. Veja mais
aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.