quinta-feira, abril 18, 2019

WALT WHITMAN, ENRIQUE DUSSEL, NELSON NUNES, THÉRÈSE PHILOSOPHE & (IN)JUSTIÇA DA CIA. HELIÓPOLIS


THÉRÈSE PHILOSOPHE – Quase uns trinta anos atrás me deparei com um volume impresso jogado no lixo, assim, sem as capas, folhas de rosto, nem sumário, algumas páginas soltas e outras arrancadas. Não dava para saber que livro era aquele, contudo, como sempre fui achegado às leituras, deu-me uma curiosidade para saber do que se tratava. Tive que organizar, pois, faltavam mesmo algumas páginas, o que dificultava a minha empreitada de recuperá-lo. Depois de muito trabalho, consegui identificar uma introdução, uma primeira parte denominada Thérèse philosophe; a segunda, Histoire de la Bois-Laurier; e a terceira, Suite de l’histoire de Thérèse philosophe. Havia entre as páginas, algumas delas ilustradas com gravuras eróticas. Isso aguçou ainda mais o meu interesse e, mais ou menos organizado, folheei. Ah, gostei do que vi, li e reli, pudera. Guardei-o entre outros alfarrábios esquecidos por trás das fileiras numa das minhas estantes. Só muito tempo depois soube que se tratava da obra Thérèse philosophe ou Mémoires pour servir à l’histoire du P. Dirrag et de Mlle Éradice, uma publicação de 1748, com ilustrações do gravador francês François-Rolland Elluin (1745-1810), e de autoria controversa. Explico: o jornalista, escritor e dramaturgo Charles Monselet (1825-1888), apelidado de O rei dos gastrônomos, foi quem, por volta de 1870, atribuiu ao Marquês de Sade (1740-1814), a narrativa libertina sobre a cortesã anafrodita ou a empregada libertina, anunciado como publicada em uma edição clandestina em Avignon, em 1787. Já segundo inscrição em uma das obras do próprio Sade, é dada a autoria como sendo do escritor e filósofo francês Jean-Baptiste de Boyer (1704-1771), o marquês d’Argens, como um romance libertino do século XVIII, que relata as cenas místicas de Mademoiselle Eradice com o reverendo Dirrag, contando com raciocínios metafísicos e lascivas conduções entre a Madame C e o abade T. Entre outras inscrições, uma delas dá conta de ser o escritor francês Louis-Charles Fougeret de Monbron (1706-1760) o verdadeiro autor, aumentando a controvérsia. Bem, o que consegui apurar de mesmo, foi que o livro em questão, foi inspirado no ruidoso julgamento do casal Marie-Catherine Cadière e Jean-Baptiste Girard, ocorrido de fato em 1731, no qual o pai de Boyer d'Argens foi Procurador Geral no Parlamento de Aix, tendo, assim, o suposto autor alterado o caso usando anagramas, como a troca das nomeações de Cadière para "Eradice" e Girard para "Dirrag". Na real, o caso se deu por conta da bela jovem Cadière, filha de um comerciante arruinado, protegida pela mãe e irmãos eclesiásticos, ter se envolvido com os sermões de sensibilidade mística excessiva do carisma espiritual do padre jesuíta Girard, apresentando-a como santa. Tal fato levou o religioso a constantes visitas, resultando por abusá-la sexualmente. Com as denúncias de corrupção contra o sacerdote Girard, ajuizadas pelo padre jansenista Nicolas, ela foi enclausurada no convento de Santa Claire d’Ollioules, em 1730, para ser julgada pelo Parlamento de Aix, transferida para o convento dos Visitandines, passando a ser defendida pelo advogado Chaudon e aos interesses jansenistas, por ser transformada no processo, ao mesmo tempo, acusadora da corrupção jesuítica e acusada de feiticeira. No primeiro veredicto foi condenada à forca. No segundo julgamento, foi inocentada. O pároco também foi absolvido, mas perdeu a reputação. Por sua vez, o romance traz como narradora a jovem Thérèse que descobre seu corpo e seus desejos, tornando-se zelosa penitente do padre Dirrag e em companhia da sua jovem amiga Eradice, também sua rival na busca pela santidade, quando é surpreendida com uma cena indecente de estupro entre a devotada amiga e o seu confessor, durante uma oração. O livro segue com discussões filosóficas e cenas extraordinárias de sexo e religião. A aura lendária do romance o fez tornar-se num clássico erótico proibido, de autor perdido, que ameaçava a tríplice ordem da religião, do Estado e do rei, a moral e a reputação das pessoas, levando à repressão policial. Trata-se, portanto, de uma sátira anticlerical de representação erótico-pornográfica com questionamentos religiosos e morais da realidade social e política da época. Desde então está entre os meus preferidos para releituras e indicações. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] O outro, como outro livre e que exige justiça, instaura uma história imprevisível. O outro como mistério é para onde, o mais além de meu mundo, que o movimento dialético não pretenderá compreender como totalidade totalizada, uma vez que, por sua estrutura finita, sabe que jamais conseguirá. A totalidade, como o visto feito sistema, opõe-se a infinitização (infinicion) de um movimento dialético histórico que se abre para ouvir a palavra do outro, que se revela a partir de um exterioridade insondável e imprevisível. [...] O outro para nós é a América Latina em relação à totalidade europeia; é o povo pobre e oprimido da América Latina em relação as oligarquias dominadoras e, contudo, dependentes. [...] A aceitação do outro como outro significa já uma opção ética, uma escolha e um compromisso moral. [...] O saber-ouvir é o momento constitutivo do próprio método. [...] A América Latina é o filho da mãe ameríndia dominada e do pai hispânico dominador. O filho, o outro, oprimido pela pedagogia dominadora da totalidade europeia, incluindo nela como bárbaro, o bom sauvage, o primitivo ou subdesenvolvido. O filho não respeitado como outro, mas negado enquanto conhecido. [...] A filosofia latino-americana é o pensar que sabe escutar discipularmente a palavra analética, analógica do oprimido, que sabe comprometer-se com o movimento ou com a mobilização da libertação e, no próprio caminhar, vai pensando a palavra reveladora que interpela à justiça; isto é, vai acendendo à interpretação precisa de seu significado futuro. A filosofia, o filósofo, desenvolve ao outro sua própria revelação como renovada e recriadora, crítica, interpretante. O pensar filosófico não aquieta a história expressando-a pensativamente para que possa ser arquivada nos museus. O pensar filosófico, como pedagogia analética da libertação latino-americana, é um grito, um clamor, é a exortação do mestre que faz reincindir sobre o discípulo a objeção que antes havia recebido; agora, como revelação reduplicadamente provocativa, criadora. [...] estrategicamente o que se deve alcançar é a libertação dos oprimidos em seu sentido forte e inequívoco; o que se deve buscar é a libertação das ‘classes trabalhadoras’, camponesas, operárias ou de qualquer outro tipo de trabalhador assalariado [...] O oprimido é o pobre na política (pessoa, classe, nação); a mulher na erótica machista; a criança, a juventude, o povo na pedagógica da dominação cultural. Todos os problemas e temas [...], assumem nova luz e novo sentido a partir do critério absoluto e contudo concreto (o contrário do universal), de ser a filosofia a arma de libertação dos oprimidos [...].
Trechos extraídos da obra Método para uma filosofia da libertação (Loyola, 1986), do filósofo argentino radicado no México, Enrique Dussel, para quem o Bem Comum da Humanidade visa assegurar a produção, a reprodução e o desenvolvimento de cada sujeito ético. Veja mais aqui.

(IN)JUSTIÇA DA CIA. HELIÓPOLIS
A peça teatral (In)Justiça, texto coletivo da Companhia de Teatro Heliópolis, dirigida pelo fundador do grupo, Miguel Rocha. A TRAMA: Trata-se da história de Cerol que é exímio empinador de pipas e vive com sua avó, pois a mãe morreu no parto e o pai, assassinado. Depois de uma briga por conta do alto volume da música na vizinhança, Cerol foge e acaba disparando involuntariamente um tiro em uma mulher, que morre em seguida. Ele acaba preso e é submetido ao julgamento da lei e da sociedade. A encenação reflete sobre a justiça brasileira ao narrar a história de um jovem que comete um crime involuntariamente: o que os veredictos não revelam? A partir desse questionamento surgem diversas concepções sobre o que é justiça, seja a praticada pelo Poder Judiciário ou aquela sentenciada pela sociedade. Permeado por imagens-sínteses e explorando a performance corporal, o espetáculo coloca em cena a complexidade da justiça no país, deixando a plateia na posição de júri em um tribunal. O embate entre os dois lados da justiça – da vítima e do criminoso – se estabelece em um jogo contundente que expõe com originalidade a crua realidade dos jovens pobres e negros. Veja mais aqui, aqui e aqui.

LIMIAR DE NELSON GOMES
A série Limiar, arte do fotógrafo, pintor, professor, designer gráfico e artista visual português Nelson Nunes. Ele foi coordenador do projeto de teatro Ar(e)s D’ensaio, tendo sido integrante do grupo de artistas plásticos que criaram o “Atelier 16” – Coimbra 1997/2001 e do terceiro ciclo de exposições no Museu do Vinho Bairrada – Anadia em 2006, com o projeto de pintura e instalação “Visões de um Milésimo de Segundo”. Já realizou as exposições O ritmo dos dias (2012), a premiada 10 anos Olhares (2013) e Estradas de Portugal – um outro olhar (2013), entre outras. Veja mais aqui.
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A OBRA DE WALT WHITMAN
Contradigo a mim mesmo porque sou vasto.
Eu sou contraditório, eu sou imenso. Há multidões dentro de mim.
A obra do poeta, ensaísta e jornalista estadunidense Walt Whitman (1819-1892) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui.