sexta-feira, abril 19, 2019

EUGENIO MONTALE, MARITAIN, QORPO SANTO, AYSSA BASTOS & OS HEBREUS DE JOSEFO


OS HEBREUS DE JOSEFO - Às voltas com questões religiosas durante a adolescência, dei de cara com a coleção História dos Hebreus (Americas, 1956), do historiador e apologista judaico-romano Flávius Josephus (37-100), que forneceu importante panorama do judaísmo no sec. I, reunido em nove tomos que são divididos em três partes, compreendendo as Antiguidades judaicas, a Guerra dos judeus contra os romanos e o apêndiee com a resposta de Flávio Josefo a Ápio, o martírio dos macabeus e o relato de Filon. Ao iniciar a leitura pensei comigo: Ué, estou relendo a Bíblia cristã? Não, não era bem o Velho ou o Novo Testamento, era um relato histórico importante acerca do judaísmo. Tanto é que no primeiro volume estavam os quatro livros da primeira parte dedicada às Antiguidades judaicas, com a criação do mundo até a vitória dos hebreus sobre os madianitas, tornando-se senhores de todo o seu país, constituindo Moisés a Josué para ser o guia do povo, na construção das cidades e lugares de asilo. No segundo volume, o Livro Quarto sobre o discurso de Moisés ao povo e as leis que lhe dá, seguido do quinto ao sétimo livro, da passagem de Josué pelo Jordão com o exército por um milagre, até as últimas instruções de Davi no leito de morte ao seu filho Salomão, que o enterra com magnificência extraordinária. No terceiro volume, o oitavo livro das antiguidades judaicas, com a ordem de Salomão de mandar matar Adonias, Joab e Semeu, tirando a Abiatar o cargo de Grão-Santificador, desposando a filha do rei do Egito, seguindo-se até o livro décimo segundo, quando Tolomeu Filadelfo, rei do Egito, liberta cento e vinte mil judeus que estavam escravos no seu reino, mandando vir setenta e dois homens da Judeia para traduzir em grego as leis dos judeus e, ao mesmo tempo, mandar riquíssimos presentes ao templo para tratar os deputados da melhor maneira possível. No quarto volume começa a parte do décimo segundo livro das Antiguidades judaicas, com os favores recebidos pelos judeus dos reis da Ásia, até o décimo quinto livro,quando Herodes fala com tanta generosidade a Augusto que conquista a sua amizade, acompanhando-o ao Egito e o recebendo em Tolemaida. Já o quinto volume começa com o décimo quinto livro da primeira parte das referidas Antiguidades, com Mariana recebendo Herodes com frieza ao seu regresso da visita a Augusto, até o décimo nono livro com o imperador Claudio confirmando o reino a Agripa e acrescentando-lhe a Judeia e Samaria, dando o reino de Cálcida a Herodes, irmão de Agripa e promulgando éditos favoráveis aos judeus. O sexto volume compreende o décimo nono livro da primeira parte, quando o rei Agripa parte para seu reino e coloca na sacristia do templo de Jerusalem as cadeias que eram um sinal da sua prisão. Nesse volume dá-se inicio a segunda parte, compreendida como a História da guerra dos judeus contra os romanos, do livro primeiro com Antioco Epifanio, rei da Síria, tornando-se senhor de Jerusalem e suprimindo o serviço de Deus, até Herodes ter arrancado de si uma águia de ouro consagrada sobre a porta do templo, e a morte de Antipatro com os serviços funerais prestados por Arquelau. O sétimo volume conta com o livro segundo da segunda parte, compreendendo a ida de Arquelau ao templo, depois dos funerais do seu pai, Herodes; até o livro quarto, com revolta de Vindex nas Gálias contra o imperador Nero e tomada de direção de Vespasiano depois dos estragos na Judeia para invadir Jericó sem resistência. No oitavo volume, o quarto livro da segunda parte, a partir da descrição de Jericó sobre a fonte nos arredores do lago Asfaltite e dos espantosos restos do incêndio de Sodoma e Gomorra, até o sétimo livro, com a horrível maldade de Catulo, governador da Línia Pentapolitana, para se enriquecer com os bens dos judeus e a morte de Jônatas, queimado vivo por ordem de Vespasiano. O nono volume com a segunda parte da Guerra dos judeus contra os romanos, com a captura de sicários que se haviam refugiado nos arredores de Cirene, tendo a maior parte deles cometido suicídio. Como apêndice desse volume, a terceira parte que compreende a resposta de Flávio Josefo a Ápio, o martírio dos macabeus e o relato de Filon. O trabalho histórico deste autor registrou a destruição de Jerusalem, em 70dC, pelas tropas do imperador Vespasiano e entre as suas obras encontram-se ainda Contra Apião, sobre a religião e filosofia judaica, e a sua autobiografia. Trata-se de historiador bem instruído nas culturas judaica e grega, e que falava perfeitamente o latim e o grego. Filiou-se ainda jovem ao grupo religioso dos fariseus, quando a sua terra e o seu povo estiveram sob o domínio romano. Com a revolta dos judeus contra os romanos de 66 d.C, ele foi enviado para dirigir as operações contra os dominadores, na turbulenta Galileia. Nos embates logrou algumas vitórias, mas logo foi derrotado, rendendo-se ao exército romano. No final da guerra, foi conduzido à Roma, onde lhe conferiram a cidadania romana e também uma pensão do Estado, época em que lhe foi dado o nome romano de Flávio, lá vivendo até a morte. É considerado pelos judeus como um oportunista por suas ligações com os romanos, sendo sua obra preservada e divulgada pela igreja cristã, por conter minuciosas descrições de personagens dos Evangelhos e de Atos dos Apóstolos, com inúmeros pormenores do mundo greco-romano relatados, alcançando credibilidade destacada. Por conta disso, posso dizer que com a leitura da coleção pude ter uma visão mais ampla sobre o judaísmo e o cristianismo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] o ser humano está metido entre dois polos: um polo material, que não diz respeito na realidade, à pessoa verdadeira, mas antes à sombra da personalidade ou o que chamamos, no sentido estrito da palavra, a individualidade; e um polo espiritual, que diz respeito à personalidade verdadeira [...] O fim da sociedade é o bem da comunidade, o bem do corpo social. [...] O bem comum da cidade não é nem a simples coleção dos bens privados, nem o bem próprio de um todo(como a espécie, por exemplo, a respeito dos indivíduos, ou a colmeia a respeito das abelhas) que dirige só para si e sacrifica as partes. É a boa vida humana da multidão, duma multidão de pessoas; é a sua comunhão no bem viver; é, portanto comum ao todo e às partes, sobre as quais se derrama e que devem beneficiar dele; com risco de se desnaturar si mesmo, implica e exige o reconhecimento dos direitos fundamentais das pessoas [...] comporta como valor principal a mais alta acessão possível (isto é, compatível com o bem do todo) das pessoas à sua vida de pessoa e à sua liberdade de expansão, - e às comunicações de bondade que, por sua vez, daí procedem. [...] O que constitui o bem comum da sociedade política não é, pois, somente o conjunto dos bens ou serviços de utilidade pública ou de interesse nacional (estradas, portos, escolas, etc.) que supõe a organização da vida comum, nem as boas finanças do Estado, nem o seu poder militar, não é somente o conjunto de leis justas, de bons costumes e de instituições capazes que dão a sua estrutura à nação, nem a herança das suas grandes recordações históricas, dos seus símbolos e das suas glórias, das suas tradições vivas e dos seus tesouros de cultura. O bem comum compreende todas estas coisas, mas muito mais ainda, e mais profundo, mais concreto e mais humano [...] envolve a soma ou integração sociológica de tudo o que há de consciência cívica, de virtudes políticas e de sentido do direito e da liberdade, e de tudo o que há de atividade, de prosperidade material e de riquezas do espírito, de sabedoria hereditária inconscientemente posta em ação, de retidão moral, de justiça, de amizade, de felicidade e de virtude, e de heroísmo nas vidas individuais dos membros da comunidade, enquanto tudo isso é, numa certa medida, comunicável, e recai numa certa medida sobre cada um e auxilia assim cada um a completar a sua vida e a sua liberdade de pessoa. É tudo isso que faz a boa vida humana da multidão [...] O bem comum é coisa eticamente boa. E no próprio bem comum está incluído como elemento essencial o máximo de desenvolvimento possível hic et nunc das pessoas humanas, daquelas pessoas que constituem a multidão unida, para constituir um povo, segundo relações não somente de força, mas de justiça. [...].
Trechos extraídos da obra A pessoa e o bem comum (Morais, 1962), do filosofo francês Jacques Maritain (1882-1972). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A POESIA DE MONTALE
Se me afasto dois dias
os pombos que bicam
na minha sacada
começam a se agitar
seguindo as instruções corporativas.
Ao meu regresso a ordem se refaz
com suplemento de migalhas
e para desapontamento do melro que faz a naveta
entre o respeitado vizinho de frente e eu.
A tão pouco se reduziu minha família.
E há quem tenha uma ou duas, que esbanjamento meu Deus!
Solidão, poema do poeta, prosador, jornalista e tradutor italiano Eugenio Montale (1896-1981), Prêmio Nobel de 1975. Veja mais aquiaqui.

A ARTE DE AYSSA BASTOS
A arte da poeta, ilustradora, fotógrafa e designer Ayssa Bastos, autora do livro de poesia visual Aguardados (2012), que possui formação em cinema e desenho industrial e tem realizado exposições de artes plásticas, ilustrações, poesia visual. Veja mais aqui.
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A OBRA DE QORPO SANTO
Cruzes! Estou hoje tão científico que até pelos calcanhares sinto entrarem-me pensamentos, ideias e não sei que mais.
A obra do dramaturgo, escritor e jornalista José Joaquim de Campos Leão, mais conhecido como Qorpo Santo (1829-1883) aqui.