A CONQUISTA – No livro A conquista
(1899), do escritor e professor Coelho Neto (1864-1934), um romance de formação
e de vida boêmia, narra as aventuras e desventuras (e falta de dinheiro e às
vezes até de perspectivas de sucesso) de sua geração de poetas, teatrólogos,
jornalistas, intelectuais, boêmios na cidade do Rio de Janeiro nos anos do
final do século XIX, em que a campanha abolicionista e o movimento republicano estão
a pleno vapor e que culminam com a libertação dos escravos no Brasil. Da obra
destaco o trecho: [...] Imagina a minha
situação. Tenho um caso de amor, amor fino; o meu lunch de hoje vai ser um fruto
proibido. É uma dama da elite: loura, de olhos azuis, uma cabecinha de Bottielli.
Vive a bocejar entre os sessenta anos gelados e impertinentes do marido e a ferrenha
catadura do avô reumático, que enche a casa de gemidos quando a não abala com os
roncos. Esse lírio formoso espera-me hoje às 3 horas da tarde, enquanto o marido
discute no Senado uma prudente medida de salvação nacional e o avô toma o seu choque
elétrico. A ocasião é das mais favoráveis. Dá-se, porém, o caso grave de eu não
ter, no momento, calçado idôneo. As mulheres têm o olhar curioso e essa então, que é pudica, no primeiro instante
baixará os olhos e dará pelos meus sapatos, que começam a descambar em alpercatas.
Tenho ali um par de botinas, mas apertam-me como credores, e tu compreendes que
um homem que vai para tão arriscada fortuna deve ir preparado para todos os casos,
principalmente para correr. Imagina que morre um senador e suspendem a sessão ou
que, por excesso de umidade não funciona a máquina elétrica, como hei de eu, com
os pés entalados, fugir à cólera do marido ou à fúria do avô? Um é bravio na oposição,
deve ser tremendo em se tratando da honra doméstica; o avô foi revolucionário, viu
muito sangue, e feroz. Demais, as minhas botinas (falo-te como a um irmão) têm um
vício inveterado que me fazer perder um tempo precioso sempre que delas me sirvo.
Tenho os minutos contados, devo seguir diretamente, aladamente se possível for,
para Laranjeiras e, se eu as puser nos pés, sei que vou ter à secretaria de Agricultura. [...] Veja
mais aqui.
Imagem: The Temptation
of St. Hilarion (1894), do artista plástico Victor Karlovich Shtemberg (1863-1017).
LOGOTERAPIA – A logoterapia, segundo seu criador Viktor
Frankl, está baseada no confronto do paciente com o sentido de sua vida e o
reorienta para o mesmo, tendo em vista ser oriunda do termo grego Logos que significa "sentido",
sendo, com isso, "cuidar do sentido", sentido esse como significado
de meta ou finalidade e a principal força motivadora no ser humano. A
logoterapia possui dimensões denominada de noética,
que compreende as projeções das dimensões biológicas, psicológicas e sociais se
expressam em uma dimensão espiritual que se totaliza na existência. É somente
nessa dimensão que o indivíduo pode sair de suas condicionalidades e visualizar
o seu sentido. O termo Vontade de sentido
compreende a busca da pessoa por um sentido que se identifica como a motivação
primária em sua vida e que está na pessoa como mola impulsionadora de sua
existência. O sentido é único e específico para cada um e deve ser vivido
somente por aquele indivíduo. Ao tratar da frustração existencial e das neurose
noogênicas, o autor assevera que existem pessoas que ainda não encontraram o
sentido em suas vidas, tornando-se aflitas por um estado que chamado de frustação existencial. Essa frustação
pode culminar em uma espécie de neurose. Essas são as neuroses noogênicas ou
noógenas que são sempre de cunho espiritual e se baseiam em conflitos da
existência onde as frustrações existenciais desempenham um papel central. Outro
termo criado pelo autor é a noodinâmica
que é a tensão interna existente entre o que uma pessoa é e aquilo que ela
deveria ser de acordo com a sua realidade, seus valores e o seu sentido de
vida. Esse estado noodinâmico é aquele estado entre aquilo que se é e aquilo
que se deveria ser, sendo o mais adequado à normalidade do homem, superando
seus obstáculos, desde que aceite o desafio de seguir em frente sem o receio do
fracasso. Já o termo vazio existencial
compreende a verificação de quando as pessoas não encontraram o sentido para as
suas vidas. Este vazio se manifesta principalmente num estado de tédio, pelo
domínio da rotina, necessitando-se de um sentido para viver. Dessa forma, a
bovinidade do vazio existencial transparece sob as mais diversas máscaras como
forma compensadora, ou seja, pelo conformismo, submissão, obcessões por poder,
dinheiro ou sexo. Nesse sentido, o autor entende que o sentido da vida é único
e característico de cada pessoa, suas peculiaridades e particularidades da vida
de cada um, principalmente seus valores e tudo que definem o seu sentido da
vida. Para o autor "[...] não é o que a vida pode lhe proporcionar, mas o
que você pode fazer pela vida". A logoterapia afirma que o fim da vida não
é a autorrealização, mas a autotranscendência, sendo, pois, aquela consequência
desta. No que tange ao sentido do amor, o autor menciona que o encontro com o
outro somente se dá quando dá-se abertura para aceitação da maneira que ele
realmente é. Ninguém consegue ter plena abertura para conhecer outro ser humano
se não amá-lo e, além disso, somente o amor o torna capaz de conscientizar o
ser amado daquilo que ela pode e deveria vir a ser. Já que concerne ao sentido
do sofrimento, expressa o autor que durante a vida o ser humano se defronta com
situações nas quais o sofrimento é inevitável, em que não há mais esperança ou
diante de uma fatalidade que não pode ser mudada, restando mudar a si mesmo,
enfrentando o sofrimento com dignidade e coragem. Já o supra sentido é aquele
que excede e ultrapassa toda e qualquer compreensão intelectual do ser humano,
podendo ser bem exemplificado na fé religiosa, onde as pessoas confiam naquilo
que não veem ou compreendem e esperam por um futuro do qual não tem provas que
possa existir. Esse princípio, muitas vezes, impulsiona e dá forças às pessoas
para superar as adversidades. A transitoriedade da vida confere ao fato da
finitude humana, principalmente a iminente, que tende a tirar o sentido da
vida. Para superar o sentimento de transitoriedade, o autor valoriza a
historicidade manifesta no passado do indivíduo. Entre as técnicas
logoterápicas estão a intenção paradoxal, baseada no fato de que o medo produz
aquilo que se tem medo, ou seja, a ansiedade antecipatória; e a desreflexão,
que se baseia no fato de que a intenção excessiva impossibilita aquilo que se
deseja. EM BUSCA DE SENTIDO – O
livro Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração,
de Vikton E. Frankl, traz um relatório de prisioneiro nos campos de
concentração nazista, a apatia, o escárnio, os sonhos dos prisioneiros, a fome,
a sexualidade, a ausência de sentimento, política e religião, a fuga para
dentro de si, Espinosa, sofrimento como realização e a psicologia do campo de
concentração, bem como após a libertação, os conceitos fundamentais da
logoterapia, a vontade de sentido, frustração existencial, neuroses noogênicas,
noodinâmica, o vazio existencial, o sentido da vida, a essência da existência,
o sentido do amor, o sentido do sofrimento, problemas metaclínicos, logodrama,
o supra-sentido, a transitoriedade da vida, a técnica logoterápica, a neurose
coletiva, critica do pandeterminismo, o credo psiquiátrico, o otimismo trágico
e reemanização da psiquiatria. A BUSCA
DO SIGNIFICADO – O livro A busca do significado: logoterapia e vida, de
Joseph B. Fabry, aborda temas como a descoberta pessoal, a dimensão humana,
qual o sentido da vida, o valor dos valores, nossa consciência intuitiva, a
essência da humanidade, a desintegração das tradições, o desafio da liberdade,
aplicações da logoterapia, a realidade da religião e um prefácio de Viktor E.
Frankl. Veja mais aqui e aqui.
REFERÊNCIAS
FABRY, Joseph. A busca do
significado: logoterapia e vida. São Paulo: EXE, 1984.
FRANKL, Viktor. Em busca do sentido: um psicólogo no campo
de concentração. São Leopoldo: Sinodal/Petrópolis: Vozes, 1991.
______. Psicoterapia:
uma casuística para médicos. São Paulo: E.P.U, 1976.
______. Fundamentos
antropológicos da psicoterapia. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
RODRIGUES, R. Fundamentos da logoterapia na clínica psiquiátrica e psicoterápica.
Petrópolis: Vozes, 1991.
XAUSA, I. A. M. O sentido dos sonhos na psicoterapia em Viktor Frankl. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
Veja mais sobre:
O cis, o efêmero & eu aqui.
E mais:
Wystan Hugh Auden, Stanislaw Ponte Preta, Anaïs
Nin, Maria de Medeiros, Alberti Leon
Battista, Francisco Manuel da Silva, Luli Coutinho & muito mais aqui.
Cancioneiro da imigração de Anna Maria Kieffer & Ecologia Social de Murray
Bookchin aqui.
A poesia de Sylvia Plath & a
Filosofia da Miséria de Proudhon aqui.
Antonio Gramsci & Blinded Beast de Yasuzo Masumura & Mako Midori aqui.
Mabel Collins & Jiddu Krishnamurti aqui.
Christiane Torloni & a Clínica de
Freud aqui.
Paulo Moura, Pedro Onofre, Gustavo Adolfo
Bécquer, Marcos Rey, Mihaly von Zick, Marta Moyano, Virna Teixeira aqui.
A irmã da noite aqui.
A obra de Tomás de Aquino &
Comunicação em prosa moderna de Othon M. Garcia aqui.
Essa menina é o amor aqui.
Uma gota de sangue de Demétrio Magnoli
& mais de 300 mil no YouTube aqui.
A filosofia & Psicologia Integral de
Ken Wilber & o Natal do Nitolino aqui.
Possessão do prazer aqui.
Roberto Damatta & o Seminário do
Desejo de Lacan aqui.
A febre do desejo aqui.
A nova paixão do Biritoaldo: quando o
cara erra a porta de entrada, a saída é que são elas aqui.
A ambição do prazer aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.